Espacios. Vol. 37 (Nº 18) Año 2016. Pág. 1

Análise da concentração das indústrias da carne bovina para exportação no brasil em relação ao número de abates no ano de 2013

Analysis of the concentration of beef for export industries in Brazil in relation to the number of slaughterings in the year 2013

Gustavo de Souza MATIAS 1; Fernando Henrique LERMEN 2; Guilherme Fernando RIBEIRO 3; Rubya Vieira de Mello CAMPOS 4; Dieter Randolf LUDEWIG 5

Recibido: 27/02/16 • Aprobado: 12/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Referencial teórico

3. Análise de concentração regional das indústrias

4. Considerações finais

Referências Bibliográficas


RESUMO:

O Brasil se destaca na produção de carnes, com algumas das maiores empresas produtoras de carnes, o que lhe concede o título de um dos grandes exportadores mundiais de carne bovina, um produto no qual a indústria como qualquer outra possui suas peculiaridades. Sendo assim, este estudo propôs analisar a concentração nos estados brasileiros e nas principais empresas produtoras de carne bovina, no abate de bovinos. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica do cenário das exportações de carne bovina, então foram calculados os índices de concentração CRk e Hirschuman-Herfindahl, com dados para de abates bovinos. Os resultados mostraram que há uma concentração regional nos abates para a exportação, pois apenas quatro estados brasileiros apresentam um índice de concentração superior a 50% nos abates de bovinos para exportação e uma única empresa detém a maior partes das plantas industriais.
Palavras Chaves: Abate de bovinos; Exportação; Produção de carnes.

ABSTRACT:

Brazil stands out in the production of meat, with some of the largest producers of meat, which gives him the title of one of the world exporters of beef, a product in which the industry like any other has its peculiarities. Thus, this study aimed to analyze the concentration in the Brazilian states and major producers of beef, the beef slaughter. a literature search of the scene took place in exports of beef, and then were calculated CRK concentration ratios and Hirschuman-Herfindahl with data for cattle slaughter. The results showed that there is a regional concentration in slaughter for export, because only four Brazilian states have an index of concentration higher than 50% in cattle slaughter for export and a single company holds the largest share of industrial plants.
Key-words: Slaughter of cattle; Export; meat production

1. Introdução

Atualmente, é tendência no mercado internacional o aumento da demanda por alimentos e outros produtos agrícolas, assim como da produção dos mesmos. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO (2009) o consumo de carne dobrou nos últimos dez anos e a pressão exercida por dessa demanda naturalmente é sentida na cadeia produtiva.

De acordo com a Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade - INVESTE (2013), o Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina, e tem o maior rebanho comercial do mundo, cerca de 200 milhões de cabeças, porém, o país que tem mais gados é a Índia, mas não são abatidos devido às restrições religiosas.

Cerca de 70% da carne bovina do Brasil é comercializada internamente e os outros 30% são exportados, principalmente para a Europa, pois os Estados Unidos restringem a importação da carne bovina brasileira por causa de diferenças na vacinação contra febre aftosa (INVESTE, 2013).

No ano de 2011, o Portal de Negócios da Agropecuária (DBO) afirma que os dois maiores frigoríficos brasileiros (JBS-Friboi e Marfrig) vêm ocupando posições mais predominantes em pontos estratégicos do país, sendo a JBS quem domina o estado do Mato Grosso, onde se concentra o maior rebanho bovino, sendo responsável por cerca de 45% do total de abates no Estado, porém, em contrapartida, não há nenhuma unidade do JBS no Rio Grande do Sul, Estado onde quem domina o mercado é a Marfrig, com seis plantas de abate em operação, a maioria delas destinada ao Mercosul.

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a concentração no abate de bovinos no Brasil por meios do cálculo de índices de concentração como o Grau de Concentração do Mercado CRk e o índice sumario Hirschman-Herfindahl (HH).

Os índices de concentração foram calculados por meio de informação obtidas do site do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SISGIF).

O estudo foi dividido em quatro seções. A primeira seção apresenta uma breve introdução ao assunto, objetivo, e metodologia. O referencial teórico, na segunda seção, abrange uma explicação dos tópicos utilizados no trabalho. Os resultados e discussões estão apresentados na terceira seção denominada Análise de Concentração Regional das Indústrias, e, por fim, na quarta seção são apresentadas as considerações finais referentes ao artigo.

2. Referencial teórico

As indústrias apresentam formas diferentes de distribuição geográfica, que pode ser caracterizada pela concentração em determinadas regiões, quanto formas diferentes de estrutura de mercado, e tem impacto sobre produtores e consumidores.

2.1. Estrutura de mercado

Os mercados são formados por conjuntos de vendedores e compradores. Cada mercado possui uma estrutura diferente em relação a compra e venda, devido a diferenças entre oferta e demanda, dessa forma os mercados apresentam dinâmicas concorrenciais distintas que podem ser classificadas como: concorrência perfeita, concorrência imperfeita ou monopolística, oligopólio e monopólio (BOARATI, 2006).

 Nos modelos de concorrência perfeita os produtores oferecem um produto homogêneo e competem em quantidades. Em indústrias perfeitamente competitivas, cada produtor, presume que toda variação na sua oferta não altera significativamente o preço do produto no mercado, ou seja, se um produtor entrar ou sair do mercado, aumentar ou diminuir sua oferta não haverá impacto sobre o mercado, não acarretando alteração no preço dos produtos (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002).

A concorrência monopolística é semelhante a concorrência perfeita, porém na concorrência monopolística o produto é diferenciado, nesse tipo de concorrência, as empresas apresentam seu produto diferenciados dos concorrentes e, essas características podem ser qualidade e aparência. Sendo assim, na concorrência monopolística o poder de mercado das empresas está na capacidade de diferenciação de seu produto sobre seus concorrentes. Se a empresa for bem sucedida nesta área, ela poderá cobrar um preço superior e aumentar seus lucros. Nos mercados sobre concorrência perfeita e concorrência monopolista o equilíbrio ocorrerá quando, as empresas estão fazendo o melhor que podem e não tem razão para modificar seus preços ou produtos (NASCIMENTO e ALMEIDA NETO, 2002). 

O oligopólio é o tipo de estrutura de mercado em que coexistem poucas empresas no mercado, sendo estas dominantes, pois são responsáveis por toda a produção. Este fato ocorre pela existência de barreiras no mercado que impedem a entrada de novos competidores, as empresas de mercados oligopolizados geralmente apresentam lucros mais altos, sendo que nestes mercados os preços de venda geralmente são muito mais altos que os preços de custo. Nos oligopólios a formação de preços é feita a partir de decisões estratégicas, dessa maneira quando uma empresa resolver mudar o preço de seus bens e serviços ela levará em conta a forma como as outras empresas serão afetadas e como elas irão reagir (NASCIMENTO e ALMEIDA NETO, 2002). 

Sempre que as estruturas de mercados são regidas por uma única empresa, não existem bens ou serviços substitutos próximos e o mercado possui barreiras para a entrada de novas empresas, a estrutura é caracterizada como um monopólio (VASCONCELLOS, 2006).

No Quadro 1 apresenta as características das estruturas de mercado, a partir das considerações de Nascimento e Almeida Neto (2002).

Quadro 1 – Características das Estruturas de Mercado.

Estrutura\ Características

Número de

Empresas

Influência sobre o Preço

Acesso ao Mercado

Característica do Produto

Concorrência Perfeita

Grande número de empresas

Nenhuma influência

Livre

Homogêneo

Concorrência Monopolística

Um número considerável de empresas

Depende do sucesso na diferenciação do produto

Acessível

Diferenciado

Oligopólio

Algumas poucas empresas

Depende da interação entre as empresas

Obstruído

Homogêneo ou

Diferenciado

Monopólio

Apenas uma empresa

Máxima influência possível

Nenhum

Único

Fonte: Nascimento e Almeida Neto (2002).

As estruturas de mercado apresentam diferenças relativas ao número de empresas no mercado. Exercem influência sobre os preços do mercado e a diferenciação de seus produtos. Assim em diferentes tipos de estruturas de mercado, estas empresas trabalham suas estratégias de formas diferentes, para atingir seu objetivo principal, o lucro (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002).

Uma das formas de analisar a estrutura de mercado de uma indústria, é por meio de análise de concentração. O valor dos índices de concentração serve como parâmetro para caracterizar o poder de mercado das empresas.

2.1.1 Concentração industrial

O conceito de estrutura de mercado tem um papel importante na quantificação da estrutura de mercado em termos de medidas sintéticas e ainda encontra ampla utilização em Economia Industrial. Estudos de concentração industrial tem a função de detectar de que maneira os agentes econômicos formam um comportamento dominante em seus mercados, como por exemplo, a participação de vendas de uma empresa em determinado setor (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002).

O termo concentração industrial é muito usado nas pesquisas sobre organização industrial, devido ao fato do mesmo ser um dos elementos mais importantes usados para descrever estruturas de mercado. Assim a concentração torna-se um indicador fundamental para a classificação de um mercado como monopolista, oligopolista ou concorrencial (LEITE e SANTANA, 1998).

"As medidas de Contração são indicadores que podem ser usados para indicar preliminarmente os setores em que se espera que o poder de mercado seja significativo. Porém existem três situações em que estes indicadores não são tão efetivos para isso" (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002, p.73):

  1. Se a entrada em um mercado for fácil, nenhuma empresa poderá exercer poder de mercado, não importando o qual ampla seja sua participação neste mercado;
  2. Uma empresa pode ter uma parcela de mercado elevada não decorrente de poder de mercado mais advinda de custos reduzidos ou de produtos de qualidade superior e;
  3. Os cálculos de medidas de concentração pressupõem a delimitação de mercado e implica ignorar a disciplina exercida por substitutos próximos, comercializados em outros mercados.

Para a análise da concentração do mercado alguns dos principais índices usados são o Grau de concentração do mercado CRk e o Índice Sumario o Hirschman-Herfindahl (HH), ambos são calculados com as parcelas de mercado das maiores empresas.

2.1.1.1 Grau de concentração (CRk) do mercado

A análise do índice da concentração do mercado é indispensável para medir a concentração industrial e geralmente é realizada por dois tipos de indicadores: as taxas de concentração e os índices sumários. Por meio das taxas de concentração é possível indicar a concorrência existente em determinados mercados, quanto maior o valor de uma taxa de concentração, menos concorrido é o mercado entre empresas e mais concentrado está o poder da indústria (SANTOS, 2011). 

Para saber o grau de concentração de um mercado é necessário conhecer as parcelas de mercado de cada uma das n maiores empresas, supondo a existência de unidades de medidas comuns as várias empresas do mercado, como por exemplo, toneladas para quantidades ou ainda reais ou dólares para o valor monetário, assim sendo conhecendo valor de cada empresa e quantidade total desses valores no mercado é possível calcular a parcela de mercado pela Equação 1 (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002):

                                         (1)

 

Em que  Xi = é a quantidade de unidades de determinada e empresa e X é o total do mercado.

"Conhecendo a parcela de mercado das empresas é possível calcular o grau de concentração do mercado das 4 maiores empresas CR4, por meio da Equação 2, quanto maior o índice maior o poder de mercado das 4 maiores firmas" (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002, p.73).

                                         (2)

 

Em que  é a parcela de mercado da enésima indústria.

O valor do índice de concentração pode variar de zero a um (0 – 1), em que zero indica ausência de concentração e um indica controle total do mercado, ou seja, indica a existência de monopólio (JAZYNSKY, KOVALESKY e BETIM, 2013, p.6).

2.1.1.2 Índice de Hirschuman-Herfindahl

Entre os índices sumários o mais utilizado é o Hirschman-Herfindahl (HH), este índice é calculado pela soma das parcelas de mercado das principais empresas, sendo dado pela Equação 3 (SANTOS, 2011).

                                          (3)

 

Em que si é a parcela de mercado da enésima firma.

Quanto mais firmas ocupam o mercado, menor tende a ser o HH. No caso de n firmas do mesmo tipo, o HH é dado por 1/n, aproximando-se de zero à medida que o número de firmas aumenta (SANTOS, 2011). Apesar de o número de firmas no mercado ser inversamente proporcional ao valor do índice HH, a entrada de uma empresa no mercado nem sempre implica em redução do HH, também pode haver aumento, caso esta apresenta um domínio de mercado maior que 1/n (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002).

O HH é semelhante ao CRk, a diferença está no fato de que no HH, cada parcela de mercado das empresas ser elevada ao quadrado a fim de atribuir um peso maior às empresas com parcelas maiores. Assim, um índice HH maior compreende um grau de concentração mais elevada e, portanto, uma concorrência menor e um índice menor compreende uma situação em concorrência perfeita. O índice HH possui uma variação entre 1/n e 1, quando todas as empresas tem o mesmo tamanho ( (KUPFER e HASSENCLEVER, 2002).

2.2 Inovação na indústria

Schumpeter (1975) apud Barbiere (2004), aborda o conceito de inovação como sendo composto de mudanças no sistema econômico, e a via de regra é introduzido pelos produtores, os quais incentivam os consumidores a procurarem coisas novas. O conceito de inovação pode englobar cinco situações diferentes: introdução de um novo bem, introdução de um novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de uma nova fonte de matéria prima ou bens semimanufaturados e estabelecimento de uma nova organização para os negócios.

Schumpeter (1975) apud Barbiere (2004), ainda enfatiza que, inovação não é sinônimo de invenção, pois é imaterial se uma inovação é proveniente de uma invenção ou não, a invenção em si, não produz nenhum efeito importante para a economia, mesmo quando a inovação resulta em invenção as duas coisas são distintas.

Nas industrias em que há uma ampla difusão dos processos produtivos, e o processo de inovação caracteriza-se continuamente por inovações incrementais, as quais sempre são continuadas e significativas para a evolução do processo técnico, os esforções de capacitação técnica nas estratégias das empresas tendem a ter sua importância subestimada (CAMPOS, 1994).

As mudanças tecnológicas na indústria têm aumentado e os principais catalisadores dessas mudanças são o aumento da concorrência, os preços relativos, a globalização, as melhorias em infraestrutura logística, a exigência por certificação de qualidade e a necessidade de produtos diferenciados. Nos últimos anos a evolução na produção animal tem ocorrido com efetividade em cruzamentos, engenharia genética, nutrição animal e prática de produção integrada. Essas inovações apresentam resultados como a obtenção de animais com peso ideal em um menor período de tempo e um maior número de animais e um espaço menor, impactando em redução de custos e preços dos produtos (BAILEY, 2007).

Devido a pressões de redes varejistas a empresas produtoras de carne foram obrigadas a implantar sistemas de monitoramento de estoques. Assim, a tecnologia da informação ganhou importância no setor, interligando e automatizando em tempo real as transações de compra e o controle de estoques entre os produtores, fornecedores e pontos de venda. Com a maior troca de informações com os supermercados foi possível estabelecer com maior vantagem as escalas de produção e os fluxos de entrega, dessa forma pode-se dizer que essa tecnologia resultou em lucro para as empresas (ABID, 2010).

O aumento da concentração das industrias responsáveis por processamento resulta em ganhos de economia de escala e mudança nas tecnologias usais. A rentabilidade das industrias foi alcançada devido ao fato de essas capturarem as economias de escala e introduzirem novas tecnologias em seus processos aumentando a eficiência e produtividade de suas operações (HARKIN, 2004).

As empresas no setor inovam por utilizar equipamentos para melhorar seus processos produtivos ou fabricar produtos que antes não faziam parte de seus portfólios ou até para melhorar os produtos que já fabricavam. A agregação de valor e diferenciação dos produtos tem sido usada como vantagem competitiva no mercado interno. Como exemplo, tem-se o uso de embalagens diferenciadas, como embalagens a vácuo para cortes padronizados, produtos que vem nas embalagens já temperados ou até mesmo carne processada. Estas são estratégias das maiores empresas do mercado como JBS, Marfrig e BR Foods, que apesar de obterem sucesso no mercado interno, são estratégias usadas para se distanciar das empresas sob controle de inspeção como as do Sistemas de Inspeção Estadual e Municipal, que muitas vezes são menos rígidos que o Sistema de Inspeção Federal (SIF). Esta estratégia não funciona no mercado externo, pois existe a dificuldade de chegar diretamente no consumidor sem passar por tradings, neste caso só resta atuar no mercado interno vendendo cortes para serem particionados ou embalados pelos compradores no caso as redes varejistas (ABID, 2010).

2.3 Sistemas regulamentadores do comércio de carnes

No dia 3 de dezembro de 1971 foi criada a lei de federalização da inspeção, Lei n. 5.760 que estabeleceu que todos os frigoríficos deveriam passar por inspeção federal, dessa maneira muitas empresas voltadas para a comercialização municipal e interestadual tiveram suas atividades encerradas por não atenderem as exigências federais.  Porém com a Lei n. 7.889 de 1989, este cenário foi revertido, pois a partir desta lei o sistema de inspeção sanitária no Brasil passou a integrar três níveis de acordo com a abrangência regional do comercio, sendo eles: Sistema de Inspeção Municipal (SIM), Sistema de Inspeção Estadual (SIE) e Sistema de Inspeção Federal (SIF) (ZUCCHI e CAIXETA FILHO, 2010).

Os sistemas de inspeção nos três níveis apresentam diferentes características, vantagens e desvantagens para os produtores, devido a essa divisão dos sistemas de inspeção, houve um aumento da clandestinidade, isso prejudica a imagem do comercio de carnes brasileiro. O SIF é caracterizado pelos altos custos burocráticos e um grande envolvimento fiscal e de mão de obra especializada em saúde animal. Algumas plantas não aprovadas pelo SIF são aprovadas pelo SIE, no SIE os agentes responsáveis pela fiscalização de carcaças não são agentes do governo mais sim agentes contratados por frigoríficos. Sendo assim, isto pode implicar na não condenação de algumas carcaças quando necessário, pois os funcionários contratados pelos frigoríficos provavelmente atenderão a interesses de seus empregadores (BÁNKUTI, 2002). O Quadro 2 traz uma síntese das vantagens e desvantagem dos três sistemas de inspeção e também da ausência de inspeção.

Quadro 2 - Sistemas de inspeção sanitária para carnes no Brasil, a partir de 1989.

Sistema de Inspeção

Vantagem

Desvantagem

SIF

Maior credibilidade no mercado interno Maiores custos de implantação e burocracia

Maiores custos de implantação e burocracia

SIE

Menores custos de implantação em relação ao SIF e aumento da credibilidade (No caso do SISP)

Impossibilidade de exploração do mercado Internacional e de outros Estados. Descrédito por parte de alguns segmentos de mercado

SIM

Alternativa para pequenos e/ou produtores locais

Vinculação aos poderes políticos locais e associação com práticas clandestinas de abate

Abate clandestino

 

Preço aproximadamente 30% inferior aos praticados nos abates legais

Diversos problemas de ordem social (saúde) e econômico (sonegação). Não existe padronização e qualidade do produto

Fonte: Adaptado de Azevedo do trabalho de Bánkuti (2002).

Conforme aumenta a influência dos consumidores sobre o mercado das carnes, os produtos têm se tornado mais diversificados, a fim de atender as exigências destes consumidores. O processamento dos produtos na indústria das carnes é puxada pelas necessidades e preferencias de seus consumidores. Açougues e pequenos varejistas tem cada vez mais dificuldades em competir contra os grandes varejistas, embora ainda possam competir localmente a tendência é que sejam substituídos por grandes cadeias de supermercados. De maneira geral a indústria da carne no Brasil está organizada para atender as exigências do consumidor externo, porém a medida que o consumidor interno aumenta as suas exigências a indústria preocupa-se em satisfaze-lo apesar de a consciência deste consumidor e seus níveis de exigência ainda serem mais baixo. E, de forma geral, a medida que os problemas logísticos e sanitários da indústria da carne no brasil vão sendo resolvidos a indústria torna-se mais competitiva (ZUCCHI e CAIXETA FILHO, 2010).

3. Análise de concentração regional das indústrias

De acordo com a FAO (2013), o Brasil no ano de 2013 teve uma produção de 9.500 mil toneladas de carne bovina, sendo que deste total 1.550 mil toneladas foram exportadas e 8.010 mil toneladas de carne bovina foram consumidas internamente. No mundo todo foram produzidas 68.140 mil de toneladas de carne bovina, destas 67.824 mil toneladas foram consumidas.

 O Brasil é o país responsável pelo maior número de exportações mundiais de carne, possui o maior rebanho comercial do mundo e é o segundo maior produtor mundial de carne. Três das empresas consideradas maiores produtoras de carne do mundo em 2009, são brasileiras, tais como JBS S.A., BR Foods e a Marfrig Alimentos S.A. O mercado interno brasileiro desde e o seu início é o seu principal consumidor de carne bovina, com um consumo per capta de carne de 87,8 kg/ano e uma quantidade de carne bovina consumida de 37,2 kg/ano (ABID, 2011). 

Das 10 maiores empresas produtoras de carne bovina do mundo, três estão sediadas no Brasil isso pode ser um dos fatores que contribui para as exportações de carne bovina. Na Tabela 1 apresenta o faturamento das maiores empresas produtoras de carne bovina do mundo no ano de 2009.

Tabela 1: Maiores empresas globais produtoras de carne fresca em 2009.

 

Vendas (Milhões de Dólares)

País de Origem

Ano Fiscal Relatório

JBS S.A.

30.874,35

Brasil

Ano encerrado em set./2009

Tyson Foods, Inc.

26.584,57

Estados Unidos

Ano encerrado em dez./2009

Smithfield Foods, Inc.*

12.432,15

Estados Unidos

Ano encerrado em abr./2009

Smithfield Foods, Inc*.

12.083,26

Holanda

Ano encerrado em dez./2009

Brasil Foods S.A.

11.705,35

Brasil

Ano encerrado em dez./2009

Vion Foods Group

10.203,69

Japão

Ano encerrado em mar./2009

Nippon Meat Packers

8.037,38

Dinamarca

Ano encerrado em set./2009

Hormel Foods Corporation

6.504,77

Estados Unidos

Ano encerrado em out./2009

Marfrig Alimentos S.A.

5.376,06

Brasil

Ano encerrado em dez./2009

Maple Leaf Foods inc.

5.104,77

Canadá

Ano encerrado em dez./2009

Fonte: Nippon Meat Packers (2010) apud ABID (2011).

A JBS S.A é a empresa que aparece na primeira posição considerada a maior produtora de carnes de 2009. Ao comparar suas vendas com as vendas da empresa BRF segunda maior produtora de carnes do Brasil e quinto maior produtora em escala mundial, nota-se que o faturamento da JBS S.A. é relativamente maior, pois, com um faturamento de US$ 30.874,35 contra um faturamento de US$ 11.705,35, sendo o faturamento da JBS 62,09% maior que o da BR Foods.

Por meio de informações fornecidas pela ABIEC (2014), é possível identificar as plantas indústrias dos seus Associados no mapa do Brasil. Essas empresas representam as principais empresas do mercado brasileiro e a distribuição de suas plantas aparece na Figura 1.

Figura 1 – Distribuição dos principais exportadores de carne do brasil. Fonte (ABIEC, 2014).

Observa-se na Figura 1 que há uma grande concentração de plantas indústrias na região Centro Oeste do Brasil expandindo para parte da região Sudeste. O Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SISGIF) é o sistema que controla todos os estabelecimentos que tem o registro SIF e exportadores para o Brasil e tem como função a geração de relatórios sobre produção e exportação no Brasil.

Dispondo de dados de SISGIF (2014), foi possível encontrar a quantidade de abates realizados no país por estado no ano de 2013 como pode-se observar na Tabela 2.

Tabela 2: Abates bovinos realizados no ano de 2013 por estado brasileiro.

Estado

Abates

-

Estado

Abates

Acre

252.883

Paraná

1.033.525

Alagoas

0

Paraíba

0

Amazonas

54.447

Pernambuco

0

Amapá

0

Piauí

0

Bahia

485.596

Rio de Janeiro

0

Ceará

0

Rio Grande do Norte

0

Distrito Federal

0

Rio Grande do Sul

730.877

Espírito Santo

196.338

Rondônia

2.349.135

Goiás

3.196.126

Roraima

52.455

Maranhão

350.650

Santa Catarina

97.982

Mato Grosso

5.652.652

São Paulo

3.148.038

Mato Grosso do Sul

3.867.153

Sergipe

45.966

Minas Gerais

2.361.143

Tocantins

1.139.339

Pará

1.717.185

 

 Total   26.731.490

Fonte: Adaptado de SISGIF (2014).

Por meio das informações de SISGIF (2014), foi possível calcular a parcela de mercado (Si) e a parcela de mercado ao quadrado (Si2) dos quatro estados com mais abates registrados, o Índice de Concentração Regional CR4 e o índice sumario HH para abates estaduais no ano de 2013, como pode-se observar na Tabela 3.

Tabela 3: Parcela de mercado (Si) e parcela de mercado ao quadrado (Si2)
dos quatro estados com mais abates, Índice de Concentração Regional CR4
e índice sumario HH para abates estaduais no  ano de 2013.

Fonte: Autoria própria Adaptado de SISGIF (2014).

Com cálculo do CR4 observou-se que os abates bovinos estão concentrados nos 4 estados com maior número de abates pois o CR4 destes apresentou um valor de 0,59 isso quer dizer que 59% dos abates registrados pelo SISGIF estão concentrados nestes estados. Isso condiz com o que se observa na Figura 1, pois nota-se que o número de plantas Associadas à Associação Brasileira de Importação e Exportação de Carne se concentra na região Centro Oeste, pegando uma parte da região Sudeste, no caso o estado de São Paulo que é o quarto estado a ter o maior número de abates registrado no SIGF representando a região sudeste.

O menor valor que os índices poderiam assumir seria 1/27 ao se realizar o cálculo para os 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal, apesar de apenas 18 estados terem produzido carne bovina no ano de 2013.

Considerando o menor valor que o índice poderia ter assumido como sendo 0,037, o equivalente a 1/27, pois apesar de apenas 18 estados serem cadastrados pelo SISGIF, o Brasil possui 26 estados, mais o Distrito Federal como unidades federativas. Sendo assim, como no caso do CR4 o HH para estes 4 estados, também apresentou uma certa concentração, pois possui um valor de 0,08 que é 110,52% maior que 0,037 o equivalente a 1/27. Apesar da concentração dos quatro estados não ser absoluta, pois tanto o índice CR4 quanto o HH são menores que 1, é possível afirmar que existe sim uma concentração na produção de carne bovina.

Com o objetivo de analisar o poder de mercado das empresas nos quatro estados com maior número de abates para a exportação, foi construído a Tabela 4 que relaciona o número de plantas das empresas presentes nestes estados.

Tabela 4: Número de plantas indústrias das empresas nos 4 estados com número maior de exportações.

Empresa\Estado

Número de Plantas Industriais

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

Goiás

São Paulo

 Total

JBS S/A

17

5

3

4

29

BRF S.A.

2

0

0

0

2

MARFRIG S/A

2

3

4

2

11

MINERVA S.A.

0

1

2

2

5

MATA BOI S/A

1

1

1

1

4

RODOPA LTDA.

1

0

1

4

6

VALE GRANDE S/A

2

1

0

0

3

MONDELLI LTDA

0

0

0

1

1

FRIGOL S.A.

0

0

0

1

1

Total

25

11

11

15

62

Fonte: (ABIEC, 2014).

Observa-se que a JBS, possui a maior parte das plantas industriais concentradas nos quatro estados da Tabela 4, possuindo 29 plantas industriais, apenas nesses quatro estados existem 62 plantas industriais de exportação de carne bovina, as quais representam 59% do total de plantas exportadores de carne bovina do Brasil. Conforme ABIEC (2014) existem 105 plantas industriais para essa finalidade no país. A quantidade de abates e o número de plantas industriais são proporcionais, pois os abates nas quatro regiões representaram 59% assim como o número de plantas industriais nesta região dos quatro estados citados na Tabela 4 representam 59%, isso leva a crer que as empresas exportadoras trabalham com uma mesma produtividade média em suas plantas.

A Tabela 5 mostra o número de plantas exportadoras de carne bovina por empresa.

Tabela 5: Número de plantas industriais exportadoras, por empresa no Brasil.

EMPRESA

NÚMERO DE PLANTAS INDUSTRIAIS

JBS S/A

51

BRF S.A.

2

MARFRIG S/A

22

MINERVA S.A.

8

MATA BOI S/A

5

RODOPA LTDA.

6

VALE GRANDE S/A

4

MONDELLI LTDA

1

FRIGOL S.A.

2

FRISA S.A.

3

COOPERFRIGUL

1

TOTAL

105

Fonte: ABIEC (2014).

Apesar de a JBS possuir uma grande parcela de mercado, por ter domínio de 48,6% das plantas exportadoras, seguida pela MARFRIG que possui 20,6% do total de plantas exportadoras. A MINERVA terceira empresa com mais plantas exportadoras, possui apenas 7,6% do total de plantas exportadoras. Portanto, pode-se dizer que a estrutura do mercado de carne bovina para exportação caracteriza-se em um oligopólio, pois mais de 50% ou seja 77,14% do total estão concentradas nas três empresas concorrentes. Nota-se que a Brasil Foods S.A (BRF), possui apenas 2 plantas industrias para exportação apesar de ser uma das maiores empresas do mundo no segmento.

A ideia de que o mercado das carnes é oligopolista também é apresentada por Rodovalho (2010). O mesmo afirma que os frigoríficos no Brasil, possuem forças monopolísticas como o oligopólio, trazendo reflexo para os criadores de gado e consumidores, e a entrada de novos frigoríficos é difícil devido as barreiras impostas pelo mercado. Assim para melhorar o preço de venda para os criadores seria necessário um aumento das exportações de carne, mais para que ocorra esse aumento há uma necessidade de trabalhar políticas cambiais com vista a estabilização de preços e controle inflacionário. 

Parte das barreiras, tanto para as o comercio interno quanto para as exportações é oferecida pelos sistemas de inspeção, no caso das exportações essas barreiras são maiores ainda, pois como apresentado, o SIF é um dos sistemas com maiores exigências sanitárias, impactando em gastos maiores para o atendimento dos requisitos de exportação.

4. Considerações finais

Com a realização do estudo, conclui-se que a maior parte dos abates para exportação estão concentrados em 4 estados brasileiros, sendo estes Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, poisos mesmos apresentam um índice de concentração de 0,59 ou seja maior que 50% nos abates para exportação.

Também observou-se que, as plantas industriais para exportação de carne bovina em todos os estados, trabalham com capacidade média muito próxima, pois o percentual do número de abates bovinos nos 4 estados com maior número de abate para a exportação é o mesmo da concentração de plantas industriais nesses estados, apresento um valor de 59%.

Por fim, constatou-se que a empresa com maior quantidade de plantas industriais para exportação de carne bovina no Brasil é a JBS, com um total de 51 plantas industriais, e que três empresas somadas, possuem 77,14% de plantas industriais do mesmo tipo, o que caracteriza um mercado oligopolista.

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1. Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campo Mourão – Paraná – Brasil. gusmatias@gmail.com
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil. fernando-lermen@hotmail.com
3. Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Ponta Grossa – Paraná – Brasil. guilherme.ribeiro91@hotmail.com

4. Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá – Paraná – Brasil. rubyadmc@hotmail.com

5. Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campo Mourão – Paraná – Brasil dludewig@fecilcam.br


Revista Espacios. ISSN 0798 1015
Vol. 37 (Nº 18) Año 2016

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