Espacios. Vol. 37 (Nº 17) Año 2016. Pág. E-2

Mostra de Ciências: a Contextualização e o Estímulo a Investigação

Science shows: contextualization and stimulating research

Guilherme dos Anjos CAMARGO 1; Janice Caroline HARDT 2; Camila Thomaz DOS SANTOS 3; Luciana de Boer Pinheiro DE SOUZA 4; Silvio Luiz Rutz DA SILVA 5

Recibido: 22/02/16 • Aprobado: 15/03/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Objetivos

3. Materiais e Métodos

4. Resultados e Discussão

5. Conclusão

Referências


RESUMO:

Este trabalho trata da realização da oficina intitulada "Mostra de Ciências", com o intuito de aproximar os alunos dos processos relacionados as ciências, por meio de atividades experimentais voltadas à área da química, criando problemas reais que permitiram a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação. A oficina foi realizada em três colégios de Ibaiti - PR atingindo cerca de 260 alunos, durante a Operação Rondon UEPG, que é um projeto de integração social com a participação de universitários voluntários. Observou-se que a experimentação motivou os participantes, que perceberam que atividades simples do cotidiano estão relacionadas com a Ciência.
Palavras-chave: Multiprofissionalidade, Interdisciplinaridade, Ciência, Contextualização, Investigação.

ABSTRACT:

This work deals with the workshop entitled "Science show", with the aim of bringing students of science-related processes, by means of experimental activities related to the field of chemistry, creating real problems that allowed the contextualization and the stimulation of research questions. The workshop was held in three colleges of Ibaiti-PR reaching about 260 students, during Operation Rondon UEPG, which is a social integration project with the participation of volunteer college students. It was observed that the trial motivated participants, who realized that simple activities of daily life are related to science.
Keywords Multi-professionalism, Interdisciplinary, Science, Context, Research.

1. Introdução

A atuação multiprofissional consiste em uma modalidade de trabalho onde o coletivo é a principal característica, ou seja, baseia-se na reciprocidade e na interação dos profissionais, buscando intervenções múltiplas individuais ou coletivas. A comunicação verbal é o centro para ocorrer o trabalho multiprofissional, onde se compartilham conhecimentos com interação mútua no momento de planejar e colocar em prática as ações multiprofissionais de promoção à saúde e de prevenção contra doenças e agravos (PEDUZZI, 2001).

A interdisciplinaridade vem sido discutida há algum tempo, mas segundo relatos não é possível obter um conceito específico para tal. A ciência está subdivida em três grandes áreas: humanas, sociais e exatas, caracterizando a disciplinaridade. Há a possibilidade de um diálogo interdisciplinar que aproxime os saberes específicos, vindos das diversas áreas do conhecimento, de modo que seja compreensível a todos os envolvidos (JAPIASSU, 1976; LANGOSKI et al., 2015).

O trabalho interdisciplinar em saúde é essencial como uma prática dentro do enfoque filosófico multiprofissional, pois a ciência não é exclusiva para uma área em específico. O paciente, os conhecimentos compartilhados e o impacto das ações também devem ser considerados assuntos relevantes à equipe multiprofissional. Este grupo de profissionais diferenciados terão diferentes pontos de vista, favorecendo a prática científica.

A construção dessa prática acontece quando pensamos juntos, agimos em equipe, colaboramos para que todas as ideias e experiências sejam expostas e associadas às vivências de cada profissional. Não se limita à metodologia de ser somente uma ciência. Há a busca de diversos fragmentos que se concentram em um único conhecimento, pelo compartilhamento de saberes e vivências (ALVES, E. D., 2010; JAPIASSU, 1976).

Durante a Operação Rondon UEPG os conceitos de acidez e basicidade de produtos do nosso cotidiano foi trabalhado de forma interdisciplinar. A Operação Rondon UEPG é um projeto de integração social, que envolve universitários voluntários com o objetivo de buscar soluções para o desenvolvimento sustentável em comunidades do estado do Paraná. A Operação ocorreu em seis municípios paranaenses, no período de 19 a 29 de julho de 2015.

Os conceitos de acidez e basicidade podem ser trabalhados por diversas áreas do conhecimento, não apenas pela Química, tratada neste trabalho também pela Farmácia e Odontologia. Algumas observações que são feitas pela maioria das pessoas por meio do senso comum já foram utilizadas pelos químicos para classificar as substâncias como ácidos e bases, conforme Bruice (2006):

Inicialmente os químicos chamavam qualquer substância de que tinha gosto azedo de ácido (do latim acidus, azedo). Alguns ácidos eram familiares, como ácido cítrico (encontrado no limão e em outras frutas cítricas), ácido acético (encontrado no vinagre) e ácido hidroclórico (presente no estômago ácido – o gosto azedo associado ao vômito). Substâncias que neutralizam ácidos, como cinza de madeira e outras cinzas de plantas, eram chamadas de bases, ou substâncias alcalinas (cinzas, em árabe, é al kalai). Limpadores de vidros e soluções designadas a desentupir esgotos são soluções alcalinas (BRUICE, 2006, p. 39).

Este é um relato de experiência de estudantes dos cursos de Química Licenciatura (UNIOESTE), Farmácia (UEPG) e Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso – Cirurgiã Dentista (HURCG - UEPG), participantes da Operação Rondon UEPG no município de Ibaiti – PR, da oficina intitulada "Mostra de Ciências", o qual foi apresentado durante a Mostra Científica da XI Jornada Acadêmica e Mostra Científica de Farmácia – UEPG (XI JAMCF-UEPG, 2105).

 

2. Objetivos

A oficina "Mostra de Ciências" teve por objetivo aproximar os alunos dos processos relacionados as ciências, com atividades experimentais voltadas à área da química utilizando materiais que a maioria dos alunos tem em casa e assim criar problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação.

3. Materiais e Métodos

A Oficina foi realizada em três colégios de Ibaiti: Colégio Estadual Aldo Dallago, Colégio Estadual Martins de Mello e Centro Estadual de Educação Profissional. Houve a participação total de cerca de 260 alunos do Ensino Fundamental ao Médio.

A Mostra de Ciências teve como foco principal relacionar os conceitos de acidez e basicidade com o cotidiano dos alunos e orientá-los sobre os perigos de utilizar essas substâncias sem cuidados prévios. Para isso, verificou-se os conhecimentos dos estudantes em relação a esses conceitos de ácido e base, a partir de alguns produtos utilizados de forma rotineira (Figura 1 – vinagre, suco de limão, água sanitária, solução de bicarbonato de sódio e sabão em pó) e em seguida, questionamentos foram realizados sobre as propriedades destes produtos:

"Qual desses produtos é ácido e qual é básico?"

"Vocês sabem nos dizer a diferença entre ácido e base?"

"Qual o gosto de uma substância ácida? E de uma substância básica?"

 

Figura 1 – Produtos utilizados para a Mostra de Ciências

Na sequência, testou-se a acidez e basicidade destes produtos utilizando um indicador ácido-base caseiro de beterraba (Figura 2) e discutiu-se os conceitos químicos envolvidos.

 

Figura 2 – Indicador caseiro (confeccionado com extrato de beterraba)

Após a experimentação, os participantes foram novamente questionados em relação a outras substâncias de seu cotididiano.

"Conhecem alguém próximo a vocês que faz sabão em casa?"

"O que eles utilizam para realizar o sabão?"

"É uma substância ácida ou básica?"

"Quem ajuda a mãe a lavar o banheiro?"

"O que ela utiliza de produtos para limpeza?"

"Ela fecha a porta no momento da limpeza do banheiro?" 

Depois de todas as orientações realizadas ao final das perguntas, passou-se para o último experimento: bexiga na garrafa (Figura 3). Neste experimento, ocorre uma reação ácido-base, por existir uma quantidade de vinagre (ácido acético) dentro da garrafa e bicarbonato de sódio (base) no interior da bexiga, que ao entrarem em contato, reagem e tem como um de seus produtos um gás, o dióxido de carbono (CO2), o qual irá encher a bexiga. A equação química (01) que representa esta reação esta apresentada a seguir:

NaHCO3(s) + CH3COOH(aq) → CH3COONa(aq) + H2O(l) + CO2(g)    (01)

Assim, pode-se explicar de forma mais simples as perguntas anteriormente realizadas.

 

Figura 3 – Experimento da Bexiga na Garrafa (reação ácido-base: pelo contato
entre o vinagre e o bicarbonato de sódio, formando um gás)

Para finalizar os experimentos na Mostra de Ciências, realizaram-se outros questionamentos.

"Quais outras substâncias que vocês conhecem que são ácidas ou básicas?"

"E o refrigerante?"

Após as devidas respostas, foi realizada orientação sobre a ingestão em excesso de refrigerante, partindo dos princípios da existência de ácido fosfórico elevado e pH baixo, finalizando com as consequências que essas substâncias podem causar ao organismo.

 

4. Resultados e Discussão

Após o questionamento sobre quais seriam as substâncias ácidas e básicas, sem uma orientação prévia sobre os conceitos, percebeu-se que a maioria dos participantes sabiam responder quais eram as substâncias ácidas – limão e vinagre –, porém havia certa dificuldade de entenderem o que seria uma substância considerada básica. Considerando essa constatação esclareceu-se as diferenças entre as duas características, com o auxílio de uma tabela de orientação de pH que uma substância ácida possui pH menor que 7,0 e uma básica pH maior que 7,0. Em seguida, utilizou-se o indicador caseiro em todas os produtos. Nas substâncias ácidas, a coloração violeta da beterraba ficava mais intensa, e nas substâncias básicas – sabão, água sanitária e bicarbonato de sódio – permanecia incolor ou não alterava a intensidade da coloração.

Em relação ao questionamento do sabão, a maioria dos participantes relataram que conheciam algum familiar que produzia sabão caseiro a base de soda cáustica (NaOH). Ao serem indagados, todos os alunos responderam que NaOH (hidróxido de sódio) era um ácido, pois é uma substância perigosa e que provoca queimaduras na pele. Explicou-se, então, que não são somente os ácidos são perigosos e responsáveis por causarem queimaduras na pele, mas que as substâncias básicas, como o NaOH, também podem ser extremamente prejudiciais ao organismo.

Quanto a limpeza do banheiro, a maioria dos participantes relataram que eles ou seus familiares, na maioria dos casos as mães, misturam diferentes produtos de limpeza e fecham a porta do banheiro para lavar o mesmo. Orientou-se, então, quanto aos perigos de se misturar os produtos de limpeza e de manter o ambiente fechado durante a limpeza. Pode-se exemplificar os perigos com o mesmo princípio do experimento da bexiga na garrafa, pois vários dos componentes misturados podem reagir e liberar gases tóxicos para aqueles que os aspirarem, mesmo que o gás que foi produzido na bexiga não era tóxico. Ainda mais porque quando misturam as substâncias, a maioria dos alunos e seus familiares não conseguem saber se há formação de produtos tóxicos. Cinco crianças (das diferentes escolas) relataram que a intoxicação já aconteceu com algum familiar e que precisou de atendimento médico hospitalar.

Em relação a ingestão de produtos ácidos, orientou-se sobre a ingestão de refrigerante, sendo que cada Rondonista relatou experiências químicas realizadas em laboratório para comprovar as possibilidades de risco a saúde das substâncias que compõem os refrigerantes. A rondonista acadêmica de Química explicou sobre a quantidade de ácido fosfórico isolada de um refrigerante e esclareceu sobre o risco que altas quantidades do mesmo podem causar, como por exemplo a descalcificação óssea. O rondonista acadêmico de Farmácia relatou sobre o experimento da determinação do pH do mesmo refrigerante (pH 2,3) e explicou que pacientes com quadro clínico de gastrite e úlcera gástrica devem evitar o consumo já que estão debilitados e, portanto, a ingestão da substância pode agravar o problema. Por sua vez a rondonista da Odontologia esclareceu ainda que o pH baixo da substância, acidifica o pH da saliva e com isso a pessoa que ingere o refrigerante (ou outro alimento qualquer) fica mais suscetível a formação de doenças bucais, como a cárie, demonstrando a importância da higiene bucal (responsável por manter o pH da saliva dentro da neutralidade). Portanto, durante a realização da Mostra de Ciências foi possível relacionar a Química com as áreas da saúde como Farmácia e Odontologia, favorecendo o trabalho multiprofissional.

5. Conclusão

Observou-se que a experimentação proporcionou o interesse dos alunos, que puderam perceber que atividades simples do cotidiano estão relacionadas com a ciência. Para os Rondonistas, a experiência da oficina foi de suma importância visto que estes conseguiram compartilhar e construir conhecimentos, relacionando as áreas da Química, Farmácia e Odontologia. A Operação Rondon UEPG foi um projeto de extensão essencial para a formação profissional destes estudantes que puderam aprender sobre o conceito de trabalho multiprofissional e sua aplicabilidade.

Referências

ALVES, E. D. Curativos, estomias e dermatologia: uma abordagem multiprofissional. Malagutti, W.

Kakihara, C. T. (orgs.) São Paulo: Martinari, ISBN 978.85.89788.62-5 2010, 544p.

BRUICE, P. Y. Química Orgânica. 4. ed. v. 1. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, p.01-220, 1976.

LANGOSKI, J. L., SANTOS, C. T., RODRIGUES, A. L. Atividades lúdico interativas a um grupo de idosos: relato de experiência de residentes multiprofissionais. Anais VI Congresso Ibero-Americano de Programas Universitários para Adultos Maiores – Eixo: Saúde, Nutrição e Qualidade de Vida – Comunicação Oral. Ponta Grossa: RIPUAM, v.1, p. 1-19, 2015.

PEDUZZI, M. Atualização - Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev Saúde Pública, v.35, n.1, p.103-109, 2001.

XI JAMCF-UEPG - Jornada Acadêmica e Mostra Científica de Farmácia - UEPG. 11., 2015, Ponta Grossa.  Livro de Resumos da Mostra Científica de Farmácia.Ponta Grossa, 2015. 135 p.


1. Acadêmico de Farmácia Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa – Paraná – Brasil e-mail: guicamargo.gc@gmail.com
2. Acadêmica de Licenciatura em Química Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Toledo Toledo – Paraná – Brasil e-mail: janice.hardt@hotmail.com
3. Cirurgiã Dentista, Especialista em Saúde do Idoso Hospital Universitário Regional da Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa – Paraná – Brasil e-mail: camithomazs@hotmail.com

4. Bacharel e Licenciada em Química, Mestre e Doutor em Química Orgânica Professora do Departamento de Química da Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa – Paraná – Brasil e-mail: lucianaboer@gmail.com

5. Licenciado em Ciências, Mestre em Engenharia de Materiais, Doutor em Ciência dos Materiais Professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa – Paraná – Brasil e-mail: slrutz@gmail.com


 

Vol. 37 (Nº 17) Año 2016

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