Espacios. Vol. 37 (Nº 13) Año 2016. Pág. 5

O Futuro das Cidades: razões e limites para discuti-lo

The Future of the Cities: reasons and limits to discuss it

Clovis ULTRAMARI 1; Fabiano FAZION 2

Recibido: 15/01/16 • Aprobado: 24/02/2016


Contenido

1. Da validade do debate sobre o Futuro

2. Entre Otimismo e Pessimismo

3. A leitura dos textos selecionados

4. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

Análise de 30 artigos publicados no jornal brasileiro Gazeta do Povo sobre o futuro das cidades. Antecedidas de revisão do significado de se discutir futuros, conclui que 1. O objeto observado é fruto do olhar do observador - arquitetos integrantes, de um modo ou de outro, da classe hegemônica da cidade em que atuam - e de sua posição generacional; 2. Há prevalência da visão otimista em relação ao futuro; 3. À gestão local se atribui uma responsabilidade maior que a instâncias nacionais ou globais; 4. Soluções tecnológicas de futuro são menos valorizadas que as sociais e políticas; e 5. Há uma recusa em se discutir possíveis utopias urbanas.
Palavras-chave: Cidades do Futuro; Urbanismo; Gestão Urbana; Utopias.

ABSTRACT:

Analysis of a 30 editorials published by the Brazilian newspaper Gazeta do Povo on the future of the cities. Discussion, mostly based on Pierre Bourdieu´s works, is initiated by a theoretical review on the reasons to discuss urban futures based on scientific exercises and infers that: 1. Object is strongly shaped by the eyes of the observer; 2. Optimistic approaches taken by authors are much more recurrent than the pessimistic ones; 3. Solutions are believed to be found especially at the local level instead of in national and global resolutions; 4. Surprisingly, technological solutions are not present in the futures depicted; and 5.
Keywords:City future; Urbanism; Urban Management; Utopias.

1. Da validade do debate sobre o futuro

Sabemos, é crescentemente temerosa a formulação de tendências urbanas para períodos para além do curto prazo. Com tais restrições, empreitadas como a que fora apresentada aos autores dos textos aqui discutidos, podem ser metodologicamente questionadas, assim como duvidada a validade de o futuro das cidades constituir tema precípuo de um exercício científico. O que se debate neste artigo não é a formulação de cenários futuros, mas as transformações que se deseja implementar, as prioridades que se quer estabelecer e as ferramentas que julga importantes para implementar as mudanças. Por isso, o entendimento que se tem da cidade futura neste artigo não é o da identificação de um cenário que se implementará de per se, mas sobretudo um cenário que se deseja implementado; neste exercício, possibilidades se sobrepõem a desejos.

De um lado, tem-se as restrições científicas para exercícios de identificação de mudanças a médio e longo prazos. Tais restrições são embasadas em trabalhos já tradicionais como os de Bertalanffy (1995, primeira edição 1950), quando se refere à ciências sociais e suas perspectivas no estudo do urbano. De outro, a sociedade urbana em geral parece se comprazer com previsões sobre os tipos de assentamentos em que poderá viver, respondendo com interesse aos apelos de uma produção cultural sobre "cidades do futuro". Tais exercícios, ainda que carentes de uma melhor fundamentação, muito formataram a cidade que se anunciava, ora por meio de distopias, ora por meio de cenários mais positivos, destacando-se sempre o papel da tecnologia, da crise ambiental, da superpopulação ou do risco como elementos constituintes do futuro. No campo das práticas profissionais, imaginar uma cidade do futuro e as possibilidades de materializá-la constitui um extenso acervo de distintas iniciativas, conforme, por exemplo, aquelas já tipificadas por Choay (2011), culturalistas e progressistas, ou as mais recentes, em nome de uma tecnologia ou uma sustentabilidade ainda a serem inventadas.

Há, entretanto, entre a restrição metodológica para o pesquisador e o interesse mais geral da sociedade, um campo conciliatório que é o a da identificação de tendências a partir de um possível alinhamento racional entre o passado, o presente e o porvir. Explícita ou implicitamente, este é o parâmetro adotado pelos autores analisados ao sugerirem ou anunciarem uma nova cidade, inteirados de um determinado diagnóstico e imbuídos de uma leitura advinda de seu olhar específico e individual. Para este caso, vale a lembrança da noção bourdieusiana de trajetória, como uma 'série de posições sucessivamente ocupadas [...] em estados sucessivos do campo" (Bourdieu, 1996, p. 65). Com isso, estabelecemos um contraponto à noção teleológica de biografia, a partir da identificação de movimentos e ações não aleatórios e não desconexos, mas influenciados por posições anteriores em relação aos demais atores e forças histórico-sociais; ou seja, as próprias condições histórico-sociais de existência dos fenômenos.

Ainda assim, a realização do exercício pelos autores analisados nos parece consciente de que o momento urbano atual não corresponde exatamente ao futuro imaginado há muito tempo e as cidades contemporâneas certamente não se parecem com aquelas imaginadas no passado. A história não pode, pois, ser utilizada para prever o futuro confiavelmente e a extrapolação derivada de dados de tendências passadas ou 'análise por analogia', mesmo em áreas onde particularidades poderiam indicar exceções, como nos setores de negócios e finanças (vide Forbes, 2012), podem ser particularmente danosas e indicam uma injustificada confiança. Dito assim, os textos perdem o propósito; apoiando-se em Myers e Kitsuse (2000), no entanto, a elaboração deles e o debate que agora se propõe adquire um significado especial que é o de se constituírem em ferramenta essencial para o planejamento urbano: "Planejadores procuram não apenas prever, mas criar melhores futuros" (p. 221).

Este artigo é construído, pois, com o pressuposto de que discutir o futuro de nossas cidades é arriscado, porém com a certeza de que discutir as visões a este respeito - no caso, restrito àquilo que um grupo de profissionais arquitetos têm a dizer a respeito -, é intrigante e contribui para entender nosso próprio presente. A ideia de que previsões poderiam ser corroboradas por uma realidade diagnosticada, ainda que apoiada por método científico, resta fragilizada.

Cidades, por serem um sistema aberto, ainda com base nos estudos já clássicos de Bertalanffy (1975, primeira edição 1937) ou de autores como Pinch e Bijker (1984) que nos falam delas como artefatos resultantes de múltiplos fatores e atores, com realidades crescentemente complexas em suas funções, apropriações e usos, não mais permitem sínteses de entendimento. Dificuldades crescentes em descrever nossos presentes parecem assim impor maiores restrições a elaborações de prognósticos.

Mais uma vez, na busca de uma justificativa para a validade do exercício teórico, ainda que reconhecidamente impreciso e sempre inacabado, podemos então lembrar da importância do esforço da análise e do consequente pensar sobre o próprio presente. Ao se reconhecer as limitações da história na construção de tendências e a realidade de que as cidades não se permitem sintetizadas e perenes na avaliação, o exercício aqui apresentado se validaria por si só, indiferente a qualquer objetivo que se estabeleça. Como nos esforços do castigado Sísifo, "A batalha por si só...é suficiente para preencher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz" (Albert Camus (1955, p. 123).

Embora esta abordagem nos liberte de uma possível imobilidade investigativa, a tarefa da projeção do momento presente não se faz elementar; a própria escrita do material aqui analisado, onde os autores parecem propositadamente afastar-se da questão que lhes foi proposta, confirma essa dificuldade.

2. Entre otimismo e pessimismo

Reposicionamentos ideológicos são recorrentes no entendimento de nossas sociedades: alterações entre interesse, apatia ou rejeição são parte da visualização das cidades contemporâneas e também daquelas por vir. Para ilustrar esta ideia, selecionamos dois momentos. O primeiro pode ser encontrado na agora distante história urbana que revela temor e apatia em relação às crises das cidades em muitos países ricos no final da década de 1960 e no continente Latino Americano no período seguinte, entre 1970 e 1980. No primeiro caso, o otimismo que sucedeu ao final da Segunda Grande Guerra, reconstrução, assimilação de modernização tecnológica e disponibilidade financeira para a implementação do ideal modernista de urbanismo é seguido por anos de recessão que reduziram o potencial das cidades como locais de desenvolvimento social. No segundo caso, o recorte temporal é caracterizado por rápida urbanização, por deficiências em serviços e infraestrutura públicas e por economias nacionais em crises de endividamento externo que congelarem investimentos nas grandes cidades. Tal período viria a ser nomeado de "anos perdidos" ou "décadas perdidas" que marcaram a urbanização ainda em consolidação observada na América Latina. Este é o cenário que explicaria a perspectiva pessimista de muitos autores seminais daquela época, em seus estudos sobre cidades. O trabalho de Castells, A Questão Urbana (1997, primeira edição 1972), retrata um mundo urbano repleto de contradições, injusto e que acumulou iniquidades e altos índices de serviços urbanos e infraestruturas não atendidos. Não necessariamente baseado em fatos similares, artigo recorrentemente referenciado, de Robinson Everett e Richard Leach, repete a mesma crítica, questionando a própria validade de nossas cidades.

Are cities obsolete? A recent magazine asked its readers. Is urban life as it has developed in the United States worth saving? What can be done do liberate cities from the dominance of the automobile which Mumford deplores? Is Lewis Mumford pessimism about urban life justified? Is the new town movement the answer? (Everett and Leach, 1965, p. 07)

O terceiro quartel do Século XX foi, de fato, marcado por uma profunda crise urbana que implicaria também no desaparecimento das visões de cidades futurísticas arrojadas visualizadas nas décadas anteriores. Neste passado mais distante, ao mesmo tempo que arquitetos, urbanistas e empreendedores urbanos planejavam e enxergavam com arrojo (vide, por exemplo, o projeto habitacional de subúrbio de Levittown, nos anos 1960, em Nova York, hoje claramente questionado), outras manifestações artísticas expressavam diferentes visões sobre a cidade do futuro. No cinema, a cidade do futuro já era identificada, desde o início do século XX: enquanto filmes como Metropolis (Fritz Lang, Alemanha, 1927), e Things to Come (William Cameron Menzies, Inglaterra, 1936) já traziam a cidade distópica, poucos se aventuravam a imaginar um mundo futuro de maneira otimista. Apenas com a euforia que acompanhou o auge da era espacial, entre os anos 50 e 60, algumas produções trouxeram uma visão mais otimista do futuro. Mas enquanto Barbarella (Roger Vadim, Franca/Itália, 1968) e a série de desenho animado Os Jetsons (Hanna-Barbera, Estados Unidos, 1962) mostram um futuro repleto de promessas tecnológicas, Alphaville (Jean-Luc Godard, França, 1965) continua a tradição distópica. Também na literatura, 1984 (George Orwell, 1949), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932) e Laranja Mecânica (Anthony Burgess, 1962), expressam a visão pessimista sobre a cidade do futuro. Esta seria então uma visualização do futuro urbano que, após a década de 60, seria persistentemente distópica e pessimista.

Amy Nelson, Kent Schwirian e Patricia Schwirian (1998), baseados em pesquisa nacional nos Estados Unidos sobre criminalidade, habitação, educação e agregação familiar, observaram que esta crise teria iniciado com os distúrbios raciais na década de 1960, emigração da classe média dos centros das cidades nos anos 1970, e acirramento de crise financeira internacional, que viria a seguir. Análises para Nova York sintetizam o pessimismo que qualificou as cidades norte-americanas das décadas que seguiriam: Shalala e Bellamy (1977), por exemplo, falam da fuga da classe média para os subúrbios e a permanência das classes de menor renda das áreas centrais, assim como uma reespacialização de atividades econômicas para novos espaços criados para seus interesses específicos. No Brasil, Villaça (1998), entre muitos outros autores, observaria um cenário similar para a cidade brasileira que assim também se consolidava nos anos 1990: êxodo da classe média do núcleo das cidades, periferização, inequidade e uma sociedade urbana imersa em grande inquietação social.

Simplificando períodos históricos, o pessimismo dos anos 70 é claramente oposto àquela quase generalizada crença no futuro dos anos 60, quando liberdade política, ciência, economia e cidades novas planejadas ou futurísticas asseguravam tempos melhores por vir. Mesmo nos chamados países novos, esta crença foi uma força motriz idealística e eufórica que se concretizou na inauguração de capitais, tanto de nações há muito independentes (América Latina) como daqueles libertos mais recentemente (África e Ásia). A nova capital brasileira, Brasília, inaugurada em 1960, representa esse contexto para o cenário brasileiro.

Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria. [...] Esta cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros; já elevou o prestígio nacional em todos os continentes; já vem sendo apontada como demonstração pujante da nossa vontade de progresso, como índice do alto grau de nossa civilização... (Juscelino Kubitschek, 1960)

Todavia, como mencionado, esta euforia urbana foi imediatamente seguida pela constatação dos baixos indicadores urbanos do final dos anos 1970 e pela década perdida de 1980, com um crescimento sem precedentes da pobreza urbana. Isto serve como outro exemplo de previsões sendo influenciadas por decepções presentes profundas, profetizando a ruína da vida nas cidades.

Race conflicts, white flight, the restructuring of economy to the disadvantage of older cities, and metropolitan political fragmentation are the usual suspects that scholars round up in order to understand the contemporary plight of urban America. Students of urban policy have described how these forces converged during the 1960´s to create what we became known as the urban crisis-declining, problem-ridden central cities surrounded by mostly prosperous segregated suburbs (Paul Kantor, 1998).

Apesar do fato de sucesso e fracasso, otimismo e pessimismo, alternarem-se repetidamente, tal qual uma sucessão interminável de inflexões urbanas (Ultramari e Duarte, 2009), previsões sobre o futuro urbano se configuram sempre como um "estado acabado" de coisas, parecendo mesmo ignorarem tais ciclos. Ainda assim, as análises sombrias realizadas, por exemplo, sobre o cenário dos anos 80, no Brasil, não foram, esperadamente, capazes de anunciar as mudanças que ocorreriam nos anos 2000. A despeito de um persistente ceticismo a respeito da sustentabilidade deste fenômeno, os indicadores sociais mostram mudanças positivas referentes a um decréscimo no déficit habitacional, expansão dos serviços básicos e da infraestrutura, e significativas reduções nas taxas de crescimento demográfica. Tais mudanças jamais haviam sido sugeridas, nem mesmo como distantes possibilidades utópicas. A análise dos textos neste artigo revela a mesma restrição em observar o distante: seja pelo receio do erro; seja, muito mais, pela dificuldade de nos livrarmos do presente na visualização do futuro. Nesta ou naquela posição, o futuro, quando anunciado nos textos analisados, é também apresentado como um "estado acabado de coisas", rejeitando assim o permanente processo de mudanças urbanas até então conhecido.

Visões de futuro, ao serem moldadas pelos nossos presentes, revelam sempre uma tendência, a priori, otimista ou pessimista. Todavia, tais extremos contêm matizes resultantes do momento que são experimentadas e de distintas realidades sociais e pessoais. O otimismo recente, por exemplo, não seria necessariamente o mesmo daquele criticado por Voltaire (2006, primeira edição da obra Candide em 1759), nem por Schopenhauer (2010, primeira edição de Die Welt als Wille und Vorstellung em 1818), ambos opostos às ideias ingênuas e indulgentes trazidas por Leibniz (primeira edição de Théodicée em 1710). É tese recorrente o fato de que um eventual otimismo em relação a nossas cidades contemporâneas não pode advir do estoicismo ou resignação de que tudo no mundo é para o melhor, mas sim de um posicionamento político-ideológico de que mudanças devem ser feitas. Da mesma forma, pactuamos com a rejeição ao pessimismo da imobilização subserviente ao status quo ou à postergação de mudanças sociais desejadas. Assim, otimismo e pessimismo parecem, paradoxalmente, convergirem. A ideia de que aquilo que distingue otimismo e pessimismo seria a reação frente a problemas é também lembrada por Ridley (2010), ao sugerir o chamado otimismo racional. Embora este autor refira suas conclusões majoritariamente a fatores econômicos - e liberais - é possível concordar que posicionamentos otimistas em geral podem melhor reconhecer problemas na nossa sociedade e seriam, pois, mais bem talhados para ações transformadoras, progressistas e empreendedoras que suas contrapartes.

Na leitura dos textos de jornal selecionados para análise dessa discussão há, certamente, um indicativo do perfil profissional pretensamente "transformador" dos seus autores. As explicitações de que "algo precisa ser feito" ou "algo é possível fazer" são posturas, a um tempo, críticas em relação ao presente, afirmativas em relação ao futuro e pretenciosas em relação às suas capacidades individuais ou de corporação: uma intrincada convivência entre pessimismo e otimismo e uma pouco usual aproximação entre presente e futuro.

Se, por um lado, prever o futuro é tarefa limitada em seus propósitos, fazê-lo de modo otimista, é ainda mais restrito. Acostumados com a ideia de que indicadores negativos persistem para sempre a partir de incrementos lineares em sua severidade, sub-urbanização e degradação são cenários mais fáceis de ilustrar. Por não requererem a visualização de um novo mundo real, é suficiente ampliar o sofrimento contemporâneo; assim, a distopia para as cidades seria construída tão-somente pela extrapolação de problemas já conhecidos e, no outro extremo, um futuro mais brilhante requereria propostas, ideias concretas sobre algo novo e distantes de uma concepção social ingênua. Esta última possível limitação também explica maiores dificuldades para a concretude de abordagens positivas: criar um futuro perfeito significa estabelecer as linhas mestras para a cidade que consideramos ideal sem necessariamente demonstrar compromisso com interesses majoritários. A posição majoritária encontrada nos textos analisados confirma essa limitação: sempre, o futuro melhor é estabelecido por um simples "algo deve ser feito".

A hipótese que se tinha previamente à leitura dos textos selecionados era de que os futuros descritos seriam, ora de um caos persistente e ampliado, ora de um presente passível de ser "corrigido" por ações pontuais de intervenção e pretensos consensos de uma cidade "melhor para todos". Esse mesmo pessimismo que se tinha como hipótese não se confirma; os textos criticam o presente, mas são genericamente propositivos - mais uma vez, a crença na capacidade de mudanças inerente à profissão dos autores - em termos de cidade futura.  

Se, por um lado, a elaboração de futuros brilhantes para as cidades é um esforço ainda mais árduo, por outro, a mudança positiva de algumas de suas partes parece mais possível. Neste caso, valeria mais o chamado planejamento por projeto (criticado, dentre outros, por Arantes et al, 2000) ou as chamadas acupunturas urbanas (conforme defendido, dentre outros, por Lerner, 2005), cuja visão de futuro limita-se à área da intervenção, a parcelas mais facilmente encapsuladas e muitas vezes enganosamente tomadas como o todo. Em termos de exercícios teóricos essa é uma previsão menos comprometida, mais enganosa, mas também menos arriscada, conforme conferida no item a seguir. Essas compreensões da cidade ideal reforçam aquilo que Andrew Isserman (1985) já havia usado como a premissa de seu ensaio sobre o papel de "o futuro da prática e educação em planejamento", de que o planejamento foi talvez demasiadamente focado em uma orientação de resolução de problemas: "Planning voluntarily is sacrificing its role as visionary and idealist and is abandoning its responsibility to be a source of inspiration and ideas about what might be and what ought to be" (p. 483). 

Visões pessimistas da cidade futura, mais ou menos justificadas, parecem predominar, nas manifestações culturais em geral, em relação a visões otimistas; ainda assim, visões de cidades ideais ainda fascinam, mesmo que, conforme acima, resultem de perspectivas fractais ou de intervenções pontuais. A cidade sustentável, a cidade social, a cidade participativa ou a smart, dentre outras tantas do nosso panteão de ideias contemporâneos, sugerem que partes dessas mesmas cidades possam ser tomadas como um todo otimista. As cidades modernistas, similarmente, acreditavam criar um futuro transformado e "desejado" por meio da suposição de que a arquitetura, o design urbano e a implementação concreta da diretriz urbanística poderiam transformar a sociedade humana. De fato, autores como Robert Fishman (1982, p. 8), por exemplo, observam que as cidades propostas ou construídas por arquitetos como Le Corbusier eram "os manifestos por uma revolução urbana". Para Joseph Corn e Brian Horrigan (1984), que vêem na crença do arquiteto uma falta de fundamento na realidade, há uma arriscada profetização: "… like most designs with potential or rhetorical intent, the results were often transmitted to popular culture as prophetic images" (p. 36). A crítica à cidade modernista que mais interessa nesta discussão é talvez aquela feita por Ela Krawczyk (2007, p. 121), para quem nas propostas urbanas pré-1945, "planners thought about the future as an end-state", apresentando o futuro como um momento acabado e que não permitisse mais alterações, validando diretrizes para além do tempo em que foram estabelecidas e para um homem imutável em suas relações históricas. Tal "estado acabado" de coisas desconsideraria, pois, a clara alternância entre sucessos e fracassos, otimismos e pessimismos urbanos.

Estamos então frente a obstáculos epistemológicos, conforme anunciado por Bachelard (1996), confirmando nossa limitação quanto à apreensão da realidade, e sempre submetidos a ideias que não permitem o aparecimento de outras. Estamos também tentados a sermos intelectuais proféticos, conforme rejeitado por Pierre Bourdieu (2001), desejando exceder as dimensões do campo científico do urbanismo e abraçar um desejo insuperável de tudo entender. Os textos discutidos a seguir confirmam essas ideias, servindo-se, a um tempo, do conhecimento técnico de um determinado campo profissional e de crenças de que a transformação da sociedade urbana pode ser alcançada por obras na cidade.

3. A leitura dos textos selecionados

Para a leitura dos textos selecionados buscou-se primeiramente reconhecer a percepção e atuação do ator social que os produziu. Mais correto que defini-los generalizadamente, vale a lembrança de algumas possibilidades: profissionais que buscam reforçar sua atribuição para determinadas práticas autônomas, conforme entendido por Stevens (2003), onde "o esforço para conquistar autonomia é um aspecto absolutamente integral do campo" (p. 113), que se desejam vinculados ao exercício da Arte, mas submetidos à técnica, à indústria e a demandas de massa, que contam com ora mais ora menos permissão para reflexões sociais, que estão vinculados ao Setor Público, ao mercado ou à academia, que contam com duplicidade de vínculos institucionais e que têm na cidade brasileira sua experiência maior. Tais atributos e compromissos complexificam os posicionamentos explicitados nos textos; o reconhecimento de que, de modo geral, os autores contam com atribuições de liderança permite apreender uma maior capacidade de ingerência ou influência não uso, ocupação e apropriação das cidades onde atuam.  

Quando se pede a arquitetos - ou outros profissionais, com atuação no pensar e administrar as cidades – para falarem sobre o futuro de nossas cidades, não se pode esperar que eles tenham a mesma postura crédula dos utópicos mais pretéritos. Os constrangimentos contemporâneos, acredita-se, são maiores, as recompensas simbólicas são ambíguas e as incertezas marcantes (Berman, 1986). Tais questões são possíveis de serem identificadas nos textos selecionados, a partir do cuidado dos seus autores em expressar sugestões já sabidamente polêmicas e que não contam com a adesão integral do campo onde atuam: de modo geral, nos textos analisados, as ousadias projetuais são reduzidas e prevalecem as críticas a um presente que "compromete o futuro", sem detalhamento de qualquer proposta.

Segundo Bourdieu (2004), a inserção em um determinado campo define o espectro daquilo que efetivamente pode ser pensado, os temas e visões de mundo que estão colocados como os pressupostos tácitos e coletivos de um contexto histórico e social, de modo que os que ocupam, sincronicamente, posições em um campo sofrem os efeitos das mesmas determinações, na lógica tanto de sua formação quanto de sua ação. Diacronicamente, diferentes trajetórias podem significar diferenças de posição e de tomadas de posição, mas não alterar a ordem estrutural que define o pensável, as questões que são aceitas como cabíveis. No caso dos autores aqui analisados, reconhece-se especificidades individuais, porém elas não parecer ser suficientes para sua identificação nos textos produzidos; ao contrário, há uma homogeneidade na maneira de ver a cidade, sempre passível de ser "corrigida" por meio de intervenções de uma determinada prática profissional ou, no limite, por meio de avanços nas estruturas de participação popular e transparência das ações de governo, sem contudo especificar possíveis instrumentos polêmicos para tal fim.

Para além da influência do campo profissional dos autores sobre a produção dos seus textos, há também as determinações do campo jornalístico que, ao veicular matérias numa sucessão diária e efêmera, impõe uma superficialidade aos temas tratados: "the structural amnesia induced by day-to-day thinking and by the competition that equates what´s important with what´s new" (Bourdieu, 1998, p. 7). Ao mesmo tempo, a imposição de um grande público, leitor do jornal, com origem em segmentos sociais diversos, expõe o autor para fora da esfera de seu campo intelectual/profissional, onde está habituado a ser lido por seus pares e sujeitos a uma mesma ordem discursiva (Bourdieu, 2007). Os textos selecionados para esta análise, publicados quinzenalmente no Jornal Gazeta do Povo , entre 2012 e 2013, num total de 30 artigos sempre em página de destaque, formatam-se também segundo essas imposições. Os títulos dados pelos autores, ao responderem à provocação de como seriam nossas cidades futuras, já anunciam a confirmação daquilo que foi dito até aqui: ora expressam uma particularidade da atuação profissional dos autores, ora demonstram uma cautela na descrição daquilo "que virá", ora externam a dificuldade de visualizar o futuro ou mesmo de discuti-lo, ora submetem-se à superficialidade exigida pela mídia.

Outra constatação na leitura dos textos é que há uma forte vinculação entre o pensar a "cidade do futuro" e a cidade em que se vive e se atua; no caso, Curitiba, uma cidade com quase dois milhões de habitantes. O futuro seria pois não apenas uma extensão do presente, mas uma clara reprodução daquilo que se conhece localmente. Nestes aspectos estaríamos então próximos do referencial teórico que indica uma dificuldade em enxergarmos aquilo que nunca vimos. Experiências urbanísticas que mais marcaram a história recente de Curitiba estão pois presentes na determinação do futuro trazida nos textos selecionados: subliminarmente, por exemplo, tem-se a defesa do planejamento físico como prioridade para a gestão da cidade, a "modernização" do seu transporte coletivo e a necessidade da adoção de soluções "criativas".

Uma perspectiva de análise mais positiva da referência local para visualização do futuro urbano pode sugerir a consciência dos autores de que soluções universais - como já se fez no passado -, capazes de servir a diferentes realidades socioeconômicas, não são possíveis. Uma outra perspectiva de análise sugere que a referência ao local significa um apego a soluções pontuais, "acupunturais", aderindo talvez ao chamado planejamento por projeto: ora o futuro será "resolvido" por meio da habitação, ora por meio da mobilidade, ora da preservação do patrimônio. O eventual localismo (Borja et al,1997) e/ou deliberada opção por não se discutir o estrutural é, esperadamente, apresentado segundo princípios genéricos, por meio da defesa da sustentabilidade, equidade, transparência e participação comunitária, sem jamais se explicitar como implementá-los.

A despeito da explícita demanda feita aos autores dos textos, a cidade futura, desconhecida, é então de difícil formulação e, portanto, por eles evitada. Ainda que o tipo de mídia veiculadora dos textos permita certas ousadias textuais como seria a da formulação de um futuro mais explícito, os autores optam por uma postura mais segura, ora coerente com seus princípios científicos que alertam para restrições metodológicas, ora, assim entendemos, por um entendimento de que o amanhã segue linearmente o cenário atual. Não há disposição para arriscar uma reputação profissional intelectual ou profissional, descrevendo, concretamente, como colegas do passado o fizeram, cenários para o futuro das nossas cidades. Tal concretude exigiria uma mobilização de capital simbólico, implicando nos riscos inerentes a este tipo de operação (Bourdieu, 2004). Esta postura reticente também tem raízes em processos mais amplos: enquanto os séculos XIX e XX (mesmo com este último já tendo presenciado descobertas fundamentais que colocavam o racionalismo em questão) foram ainda marcados por procedimentos científicos lineares e instrumentais (Neves, 2012), o século XXI apresenta um quadro distinto, no qual as incertezas e a desrreferencialização passam a ser a tônica. Em princípio, é intrigante observar que arquitetos, cuja prática profissional consiste justamente em pensar e projetar o futuro (ou minimamente alterar o presente), se esquivem de afirmar qualquer coisa mais concreta a respeito. A aceitabilidade de uma postura inovadora por parte de arquitetos e urbanistas ficou cada vez mais restrita a 'grandes nomes' da profissão, aqueles que Speck (2012) chama de "starchitects", aos quais são permitidos e esperados experimentações e ousadias. Para os demais, projetos e propostas devem mais marcadamente se submeter a um mercado que não coloca em risco seu capital monetário, profissional e simbólico. A completa ausência de propostas projetuais de transformação do espaço vivido poderia então estar vinculada a essa situação, mas também à compreensão acertada de que, de fato, cidades fazem menos o homem do que esses a fazem.

A segunda coluna do Quadro 1 apresenta a trajetória profissional dos arquitetos autores: a maioria conta com vínculos acadêmicos e instituições públicas. Profissionais nesta condição tenderiam, ainda segundo Bourdieu (2004), a defender a doxa e o status quo, representando a reprodução nos seus campos, e tendendo a um conservadorismo nos assuntos relativos a ele. Tal qual visto anteriormente no referencial, a relação entre vínculo profissional e formulação de visões de futuro faz com que muitos dos artigos o visualizam a partir de uma mirada parcial de um determinado setor, destacando-se transporte, habitação uso do solo e mobilidade. Todavia, mesmo essa especificidade temática, a qual representa muito mais a trajetória individual do profissional que verdadeiramente uma seleção de parâmetros para pensar o futuro, é apresentada de modo genérico e muito mais pela necessidade de se mudar o presente que pelo pensar e propor um futuro: habitação para todos, uso do solo que respeite a legislação de zoneamento, mobilidade universal, transporte coletivo de qualidade e com tarifas reduzidas.

De modo surpreendente, a questão da tecnologia como ferramenta obrigatória para a construção da cidade futura aparece em apenas um dos trinta artigos; os demais, de modo mais ou menos explícito, revelam uma preocupação com mudanças sociais, políticas e econômicas. O cenário de formação profissional dos autores desses artigos, situada fundamentalmente nos anos 1980 e treinados com uma literatura que entende a "questão urbana" como uma questão social, poderia explicar esse cenário. Em tal análise, chama a atenção quem em nenhum momento são apresentados números ou valores que possam tentativamente mensurar os cenários diagnosticados ou propostos: de modo geral, prevalece as avaliações qualitativas e pouco referenciadas.

O quadro a seguir contém a síntese dos 30 textos analisados, com destaque para as prioridades relatadas pelos autores, o nível de gestão que valorizam e uma possível determinação de seus posicionamentos em termos de pessimismo e otimismo.

Quadro 1:
Síntese analítica do entendimento de futuro demonstrado pelos autores

Autor

Vínculo profissional

Tópicos valorizados

Tópicos específicos valorizados

Nível de Gestão que valoriza

Posicionamento observado

1

Acadêmico

Gestão Urbana; Equidade Social.

Curitiba de hoje; Não explicita uma cidade futura.

Local

Ambíguo

2

Acadêmico, Consultor

Cidade pensada para se andar a pé e mudanças na mobilidade; Segurança

A cidade de hoje;

Não explicita uma cidade futura.

 

Local

Otimista

3

Acadêmico, Consultor

Pedestre; Calçadas

A cidade de hoje; Não explicita uma cidade futura.

Local

Ambíguo

4

Acadêmico, Funcionário Público

Habitação; Crítica à cidade funcional

A cidade de hoje; Não explicita uma cidade futura.

Local

Pessimista

5

Acadêmico, Funcionário Público

Crítica à cidade funcional

A cidade de hoje; Não explicita uma cidade futura.

Local

Pessimista

6

Acadêmico, Funcionário Público

Transporte; Importância da Bicicleta; Escala Humana; Patrimônio.

A cidade de hoje; Não explicita uma cidade futura.

Local

Ambíguo

7

Acadêmico

Tecnologia; Morador urbano como híbrido de biológico, cidade e tecnologia.

A cidade futura.

Global, reduzindo explicitamente a crença no local

Ambíguo

8

Acadêmica

Solidariedade; Sociabilidade.

A cidade pequena; O retorno ao campo.

Local

Otimista

9

Acadêmico

Conflitos e Problemas socioambientais; Participação Social; Escala Metropolitana; Memória da cidade; Arte e Cultura

Curitiba de hoje.

Local

Otimista

10

Acadêmico, Profissional Liberal

Crítica à cidade funcional; Participação Comunitária; Espaços Públicos; Trânsito.

Curitiba do passado recente, com descrição de alguns de seus projetos urbanos.

Local

Otimista

11

Acadêmico, Consultor

Complexidades urbanas; Contradições urbanas.

A cidade futura como extensão do presente.

Global

Ambíguo

12

Acadêmico

Memória da cidade.

Curitiba do passado recente.

Local

Pessimista

13

Acadêmico

Memória da cidade.

Curitiba do passado recente.

Local

Ambíguo

14

Acadêmico, funcionário público, profissional liberal

Gestão política da cidade.

 

Apresenta cenários futuros possíveis e discute um deles.

Local

Otimista

15

Acadêmico, funcionário público, profissional liberal

Mudanças climáticas; Sustentabilidade;

Zoneamento; Habitação Social; Solidariedade.

Apresenta cenários futuros possíveis e discute um deles.

Local

Ambíguo

16

Acadêmico, profissional liberal

Transporte público com tecnologia; Habitação no Centro.

Discorre sobre o passado das cidades, mas faz previsões para o futuro (cem anos).

Local

Otimista

17

Acadêmico, Gestor Urbano

Sustentabilidade; Cidades Inteligentes; Diversidade social.

Discute a cidade atual e advoga mudanças para o futuro.

Local

Otimista

18

Profissional Liberal

História da cidade; Crítica ao Estado; Valorização do capital.

A cidade de hoje com quadro sombrio sobretudo devido a questões fundiárias.

Local

Otimista

19

Profissional Liberal

Trânsito; Transporte Público; Mobilidade.

A cidade de hoje.

Local

Otimista

20

Funcionário Público, Consultor

Cidade como organismo vivo; A importância da arquitetura na cidade; Funções Urbanas.

A cidade futura como continuidade do presente, sem mudanças.

Local

Otimista

21

Acadêmico

Visão sombria; Descrença na Gestão (com proposta do voto nulo); Mazelas Sociais; O Bem versus o Mal.

A cidade de hoje.

Local

Pessimista

22

Acadêmico, funcionário público, profissional liberal

Rejeição ao "ocultismo" e racionalismo da ciência para se prever o futuro.

A cidade futura e modos de prevê-la.

Local

Ambíguo

23

Acadêmico, funcionário público, profissional liberal

Conflitos de interesse no cotidiano da cidade; Diversidades pessoais e sociais.

A cidade de hoje; Saudosismo de um passado recente.

Local

Ambíguo

24

Acadêmico

Mudanças Climáticas; Transporte Coletivo; Desigualdade Social Funções Urbanas; Detalhes projetuais como instrumentos de mudança: veículos elétricos, terraços jardins, patrimônio.

A cidade de hoje.

Local

Otimista

25

Acadêmico

Mobilidade.

Curitiba de hoje.

Local

Ambíguo

26

Acadêmico

Transporte.

A cidade de hoje como única preocupação válida; Referências ao passado recente.

Local

Ambíguo

27

Acadêmico, Representante de Classe

Cidade Socialmente Inclusiva.

A cidade futura alinhada ao passado e ao futuro, sem visualizar mudanças significativas.

Local

Otimista

28

Acadêmico, Representante de Classe

Memória; Identidade; Pertencimento.

A cidade futura comprometida com a memória de seu patrimônio.

Local

Ambíguo

29

Acadêmico, Funcionário Público

Qualidade dos projetos urbanos / design.

A cidade futura como extensão do presente.

Local

Otimista

30

Acadêmico, Funcionário Público

Gentileza Urbana nos espaços públicos

A cidade futura como extensão do presente.

Local

Otimista

Fonte: Elaboração própria, 2015.

Na leitura do Quadro 1, a maior recorrência observada é a recusa em se discutir o futuro ou, quando discutido, apresentado como um presente corrigido, apenas. Chama a atenção também o apego ao passado, ora por meio de um saudosismo de uma realidade que nunca existiu, ora por meio do desencanto da cidade funcional que não se implementou. Entretanto, a leitura de outras produções acadêmicas e profissionais dos arquitetos-autores poderia confirmar se essa crítica revela uma verdadeira tomada de posição contrária ao tecnicismo gerencial e, portanto, a favor de uma gestão social da cidade ou se revela um desencanto com um modelo que não foi "respeitado". Em termos textuais explícitos, esta é uma crítica alinhada às primeiras manifestações contrárias à zonificação como instrumento precípuo da gestão urbana, conforme encontrado, por exemplo, em Jacobs, 2000 e Hall, 1995. Paradoxalmente, a crítica à cidade zonificada é acompanhada de um explícito desejo de eliminação de conflitos, ou melhor de "incomodidades" entre moradores da cidade. Para os autores analisados, de modo geral, a cidade do futuro deveria "resolver" tais problemas.  Paradoxalmente, também, a crítica a esse modelo tecnicista é elaborada, sem reconhecer os conflitos sociais urbanos ou simplisticamente limitando-os a questões de convívio e vizinhança.

O Quadro 1 destaca ainda dois aspectos. O primeiro é o maior volume de posicionamentos explicitamente otimistas, atestando um cenário futuro com melhores indicadores e práticas urbanas que aquelas conhecidas atualmente. Nesta categoria, do total de trinta artigos, pode-se encontrar quinze, sendo o restante dividido em pessimistas e ambíguos.  Ainda que tal resultado contenha subjetividade na leitura, procurou-se assim classificá-los quando houvesse uma forte declaração de posicionamento; no caso de isso não ser observado, usou-se a classificação de "ambíguo". O contexto em que os textos foram produzidos certamente influenciaram na construção desse futuro otimista, evidenciando mais de uma década em que os indicadores de qualidade de vida urbana no Brasil seguiram mostrando resultados positivos (vide The World Bank, 2015; Ultramari e Firkowski, 2012). Esse otimismo em relação ao futuro das cidades é construído em cenário distinto daquele até então familiar para a grande maioria dos autores dos textos analisados. Formados e atuantes nas décadas de 1970, 80 e 90, conviveram, primeiramente, com o grande fluxo migratório campo-cidade, e na sequência com a década perdida (Panizzi, 1999), com o agravamento das inequidades (vide Bodnar, 2007, sobre a expressão Brazilianization como referência ao crescimento dos problemas sociais das cidades inglesas) e com a profunda empreitada neoliberal que caracterizou a gestão urbana brasileira a partir dos anos 1990. De fato, a despeito de uma grave permanência da cidade dual, no momento da elaboração dos textos, havia justificativa para esse pensar o futuro de modo menos sombrio que tradicionalmente se havia feito até então.

O segundo aspecto destacado é a importância dada à gestão local como responsável e capaz de formular um futuro urbano: tal compreensão está presente em quase a totalidade dos textos analisados. A explicação para essa constante presença pode ser explicada, mais uma vez, por uma possível homogeneidade na formação e atuação dos seus autores. A gestão local, por um lado, tem sido genericamente defendida na literatura científica, seja para emprestar justificativa a atuações neoliberais municipais autônomas de instâncias superiores, seja para embasar as iniciativas de desenvolvimento local que valorizam recursos e culturas autóctones. Por outro lado, a gestão local, no caso brasileiro, é a instância legalmente capacitada para tal a partir do Artigo 182 da Constituição Federal que determina o poder público municipal como executor da política de desenvolvimento urbano. A visualização deste futuro estaria, pois, fundamentada na consolidação de um longo processo que já conta com bases legais há muito estabelecidas e com reduzidas chances de polêmica quando discutidas em níveis mais abstratos. A valorização majoritária da gestão local pode, assim, representar uma concordância com uma defesa mais generalizada, também encontrada na produção cientifica. Todavia, a valorização do poder local é intrigante ao ser relacionada com o total esquecimento do papel de organizações internacionais ou mesmo de diretrizes adotadas em nível global, com a promoção, por exemplo da Organização das Nações Unidas. Princípios explicitados para a construção de uma nova cidade, como aqueles incluídos na Agenda Habitat, a Agenda 21 e demais documentos globais, sempre incentivadores de uma maior autonomia local, não são aqui mencionados. Resta a aprofundar a discussão sobre tal desconsideração e quanto disso é fruto do descrédito em relação a documentos que se propuseram a estabelecer metas específicas para um futuro preciso. A mesma análise poderia ser feita em relação ao Estatuto da Cidade, lei que pode ser confundida como a política urbana nacional brasileira, também não mencionado. Visto desse modo, o futuro da cidade brasileira implícito ou explícito nos 30 artigos é marcado pelo esquecimento de uma legislação que custou mais de duas décadas para ser aprovada. Os princípios do Estatuto da Cidade estariam presentes de forma indireta, ou seja, pela recorrente afirmação de que a cidade do futuro deva suplantar as suas inequidades sociais. Tal modo de sugerir mudanças permanecem, pois, no nível da generalidade e, mais uma vez, com reduzido potencial à polêmica: repetem-se os princípios norteadores de uma legislação que buscou garantir a função social da propriedade, entretanto, ignoram-se os seus instrumentos concretos para contribuir nessa mesma transformação.

4. Considerações Finais

Ao finalizar a análise dos trinta textos selecionados e com o entendimento de que representam a compreensão de um grupo relativamente homogêneo de profissionais, surge o interesse de replicar a mesma investigação com outros grupos de atores sociais ou minimamente com outros estratos geracionais de arquitetos. As contextualizações seriam diferentes, mas, mais importante, seria a determinação de qual grupo conta com a capacidade ou interesse de visualizar um futuro. De um lado, tem-se grupos mais habilitados para essa configuração imagética da cidade futura; de outro, tem-se grupos mais habilitados para impor desígnios a ela. A distinção estaria entre o prever um futuro e o de ter poder para qualificá-lo. Se consideramos um grupo de profissionais mais bem posicionados nos seus campos, a tendência é defender, mesmo que não explicitamente, a manutenção das coisas. Com isso, o futuro seria sempre uma extensão do presente, ainda que com explícitas defesas gerais e pouco reflexivas de uma "cidade para todos", ironicamente referenciadas em Lefebvre (2004).

A primeira parte deste artigo discutiu as razões e os limites de se prever ou discutir o futuro urbano; ao seu final, essa questão retoma a importância.

Aquilo visto aqui, ainda que limitado a um grupo de atores sociais, com maior ou menor capacidade de representar interesses de permanência das coisas, ou com maior ou menor vínculo à prática de pouco mudar para nada mudar, serve para um debate maior sobre a cidade. Estão aí presentes, minimamente, a visão cada vez mais parcial do fenômeno urbano e a consequente dificuldade crescente para a gestão de seus espaços. Está aí presente, mais que um futuro claramente definido, um presente complexo, ainda muitas vezes apresentado por meio de visões generalizantes.

A invalidade de uma descrição gráfica ou textual detalhada do futuro pode decepcionar o leitor. Referenciando-se mais uma vez em Isserman (1985), quando ele afirma que é tempo de o planejamento urbano recuperar "sua responsabilidade de ser uma fonte de inspiração" (p. 487), podemos concluir que a ousadia de se visualizar o futuro, ainda que arriscada, serve para o debate, para explicitar posicionamentos, e inserir o presente numa profunda e crítica avaliação. Tal justificativa estaria ainda alinhada a apelo de Russel Jacoby (2011) para escaparmos da apatia que hoje imobiliza intelectuais e pesquisadores a pensar um mundo diferente, um futuro utópico.

Referências

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ULTRAMARI, Clovis. A cidade não tem mais futuro. Gazeta do Povo[online], Curitiba, 03 jun. 2012. Artigo. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-cidade-nao-tem-mais-futuro-1zvr14995bmz3idg3kyrxgjf2. Acesso: 17 agosto, 2015.

_____, Clovis. A cidade do futuro é hoje. Gazeta do Povo[online], Curitiba, 17 jun. 2012. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-cidade-do-futuro-e-hoje-332s34lcemggtkzcilpc1dsni. Acesso: 17 agosto, 2015.


1. Pesquisador junto ao Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e do Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. Bolsista produtividade CNPq. ultramari@yahoo.com
2. Doutorando junto ao Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestre em história urbana pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná. fabiano.fazion@hotmail.com

3. Segundo informações do próprio Jornal, disponível em http://midiakitgazetajornais.com.br/veiculo/gazeta-do-povo, seu alcance é: 96 anos de existência, líder no estado do Paraná, 38% de alcance entre internautas leitores de jornal no Estado, 55% de alcance entre leitores de jornal na Grande Curitiba, 61%de alcance entre leitores de jornal das classes A e B da grande Curitiba, 570 mil leitores semanais em sua versão impressa.


Vol. 37 (Nº 13) Año 2016

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