Espacios. Vol. 37 (Nº 12) Año 2016. Pág. 12

O potencial criativo das cidades brasileiras: uma análise multidimensional

The creative potential of brazilian cities: A multidimensional analysis

Eva Yamila da Silva CATELA 1; Leonardo FAVARETTO 2

Recibido: 14/01/16 • Aprobado: 25/02/2016


Contenido

1. Introdução

2. Economia criativa, indústria criativa e clusters criativos: os determinantes do potencial criativo das cidades.

3. Indicador de potencial criativo: aspectos metodológicos

4. Resultados

5. Conclusões

Referências bibliográficas.


RESUMO:

O objetivo deste trabalho é mapear o potencial criativo de 270 cidades brasileiras no período 2010-2012. Para isto, são construídos quatro indicadores: aglomerações produtivas criativas, capital humano, ambiente urbano e capital social. Os quatro indicadores combinados conformam o potencial criativo de cada uma das cidades brasileiras. Os resultados apontam uma forte concentração espacial das atividades culturais e criativas com existência de poucas cidades com alto nível de potencial criativo.
Palavras-chave: potencial criativo, indicador, cidades brasileiras, desenvolvimento

ABSTRACT:

The aim of this paper is to delineate the creative potential of 270 Brazilian cities in 2010-2012 period. For this, we constructed four indicators: creative productive agglomerations, human capital, urban environment and social capital. The four combined index make up the creative potential of each of the cities. The results show a strong spatial concentration of cultural and creative activities at presence of the few cities with a high level of creative potential.
Keywords: creative potential, index, Brazilian cities, development.

1. Introdução

O termo "economia criativa" ganhou importância conceitual e significância empírica crescente na última década, a partir de trabalhos que salientam que cidades que combinam capital humano, recursos econômicos e habilidades para aproveitar a criatividade conseguem promover o desenvolvimento cultural e econômico (FLORIDA, 2005, LANDRY, 2000; TRUEMAN e COOK, 2006; PRATT, 2009; PRATT e HUTTON, 2012).

A economia criativa, que abrange um conjunto de atividades baseadas no conhecimento, arte e cultura, e compreende aspectos econômicos, culturais e sociais, consegue revitalizar indústrias tradicionais de manufaturas, serviços e entretenimentos. Além disso, pode auxiliar na regeneração de grandes centros urbanos e também vitalizar pequenas cidades que consigam atrair esse tipo de atividade (WAITT e GIBSON, 2009).

No caso específico de Brasil, a cadeia da indústria criativa, que inclui atividades relacionadas e de apoio, tem uma participação no PIB de 2,7% segundo a FIRJAN (2012), superando a estrutura de países como Itália e Holanda, porém, menor que a participação do núcleo criativo no PIB de países como Estados Unidos (3,5%) ou Reino Unido (5,5%).

No contexto desta definição este estudo tem um duplo objetivo. Em primeiro lugar, mapear a existência de indústrias criativas e culturais no território brasileiro analisando a estrutura produtiva de cidades com mais de 100.000 habitantes, para criar um indicador de estrutura econômica criativa. Em segundo lugar, construir indicadores que mostrem a potencialidade de configuração de cluster criativos, considerando três dimensões além da própria estrutura produtiva: capital humano, ambiente urbano e capital social.

2. Economia criativa, indústria criativa e clusters criativos: os determinantes do potencial criativo das cidades.

Podemos entender a criatividade como a habilidade de interpretar o mundo de uma forma nova, resolver problemas a partir de novos enfoques, inovar em produtos, processos e mercado, seja no campo artístico, científico ou econômico. O foco da economia criativa é o desenvolvimento de novas ideias e coisas capazes de promover novas atividades ou ampliar as existentes, gerando vantagem competitiva e resultando em novos e melhores empregos e maior renda. 

Este conceito amplo reconhece que criatividade é mais do que cultura: é também um jeito de gerar atividades econômicas a partir de novas ideias geradas por um segmento da força laboral fortemente educada (FLORIDA, 2005) ou com talento vindo ou não de educação formal (MARKUSEN et al., 2008). Neste cenário, o conceito de economia criativa se centra em indivíduos criativos e indústrias criativas: tecnologia, entretenimento, jornalismo, finanças, e cultura e arte (FLORIDA, 2005; STERN e SEIFERT, 2008).

A UNCTAD (2010) faz uma distinção entre as indústrias criativas que derivam seu valor da distribuição de conteúdos criativos com direitos autorais e as indústrias culturais, que geram conteúdos criativos em um contexto local através da arte visual, cênica e literária.

Estas indústrias criativas formarão um cluster criativo se além de existir uma aglomeração espacial de firmas, temos: uma comunidade de pessoas criativas que compartem um interesse comum, um lugar catalisador onde ideias, pessoas e talentos podem interatuar, um ambiente que oferece diversidade, estímulos e liberdade de expressão, uma rede densa, aberta, e em constante mudança que nutra a identidade e singularidade dos indivíduos (DMCS, 2008).

Nesta linha, as cidades criativas conformariam o espaço territorial onde às atividades criativas, culturais e inovativas se desenvolvem, dado que, por um lado o espaço urbano é produtor de indivíduos e atividades criativas e por outro, é produtor dos consumidores dessas atividades e produtos criativos (HOSPERS, 2003).

Existe um número de dimensões definidas por diversos autores que configuram o potencial criativo de uma cidade. Estas precondições estão relacionadas às pessoas e instituições (produtores e consumidores de cultura, classe criativa, management), localização (concentrações geográficas, proximidade de grandes cidades), presença de indústrias em setores criativos, desenvolvimento tecnológico e inovativo, diversidade cultural e tolerância.

Podemos sintetizar as precondições citadas pelos autores em quatro indicadores, que serão à base de nosso estudo de potencial criativo das cidades brasileiras, detalhados a seguir:

 

  1. Aglomerações criativas (clusters) e estrutura econômica: Neste caso, importa o grau de diversificação e especialização da estrutura produtiva da cidade (HOSPERS, 2003), a presença de tecnologia e inovação e a existência de clusters criativos considerando atividades relacionadas a design, arte, cultura e mídia (PRATT, 2009). Há também uma relação entre atividade criativa e exportações (DI PIETRO e ANOROU, 2006). 
  2. Capital humano: as competências e conhecimento das pessoas, assim como a diversidade e criatividade dos trabalhadores são determinantes para o sucesso e crescimento de uma cidade (HALL, 2000; FLORIDA, 2005; SCOTT, 2006). A classe criativa inclui trabalhadores da ciência e tecnologia, arquitetura e design, educação, arte, música e entretenimento, cuja função principal é criar novas ideias, novas tecnologias ou novos conteúdos.
  3. Ambiente urbano: refere-se às características do território e localização geográfica, determinantes da emergência da cidade criativa. Dentro deste eixo, consideram-se variáveis como os serviços urbanos, bens públicos, aglomerações produtivas, internacionalização da cidade, proximidade de cidades grandes ou de importância global (HALL, 2000; SCOTT, 2006; 2010).
  4. Capital Social: reconhece-se a importância da diversidade e dinamismo populacional, dado que uma comunidade diversa e em constante movimento favorece as atividades culturais e a própria criatividade. Incluem-se a existência de diversidade cultural e individual e a tolerância como fatores fundamentais (STERN e SEIFERT, 2008).

Estes quatro indicadores relacionam-se de perto com os quatro capitais que a UNCTAD (2010) reuni no índice de criatividade: capital humano, capital cultural, capital estrutural ou institucional e capital social, e formam a base dos indicadores que serão construídos a seguir.

3. Indicador de potencial criativo: aspectos metodológicos.

O estudo do potencial criativo das cidades brasileiras exige em primeiro lugar, medir as aglomerações produtivas de indústrias criativas, dentro das cidades brasileiras. Seguindo a UNCTAD (2010) [3], separaram-se as indústrias e serviços em Arte, Mídia e Criações Funcionais, dado que cada um destes grupos apresentam características diferenciadas. Dentro de cada um destes grupos incluem-se os subgrupos mencionados na Tabela 1 que apresenta a correlação entre as atividades criativas elencadas pela UNCTAD (2010) e as atividades econômicas da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0) do Brasil, correspondentes.

Tabela 1 – Correlação entre atividades: UNCTAD e CNAE 2.0

 

Grupos UNCTAD

Grupo CNAE 2.0

 

 

 

 

Arte

 

 

 

Artes cênicas

 

90.01-9 Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares.

90.02-7 Criação artística.

90.03-5 Gestão de espaços para artes cênicas, espetáculos e outras atividades artísticas.

32.2 Fabricação de instrumentos musicais.

 

 

Artes visuais

91.0 Atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental.

74.2 Atividades fotográficas e similares.

 

 

Mídia

 

 

 

 

 

Publicações

 

18.1 Atividades de impressão (inclui classes 18.11-3, 18.12-1, 18.13-0)

18.2 Serviços de pré- impressão e acabamentos gráficos.

47.6 Comércio varejista de artigos culturais, recreativos e esportivos.

58.1 Edição de livros, jornais, revistas e outras atividades de edição.

58.2 Edição integrada à impressão de livros, revistas, jornais e outras publicações.

 

 

 

Audiovisual

 

18.3 Reprodução de materiais gravados em qualquer suporte.

73. 1 Publicidade

59.1 Atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão.

59.2 Atividades de gravação de som e de edição de música.

60.1 Atividades de rádio.

60.2 Atividades de televisão.

 

 

 

 

 

 

 

 

Criações funcionais

 

 

 

Design

 

71.1 Serviços de arquitetura e engenharia e atividades técnicas.

74.1 Design e decoração de interiores.

32.1 Fabricação de artigos de joalheria, bijuteria e semelhantes.

32.4 Fabricação de brinquedos e jogos recreativos.

72.1 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais.

72.2 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências sociais e humanas.

93.2 Atividades de recreação e lazer.

 

 

Novas mídias

 

62.0 Atividades dos serviços de tecnologia da informação.

63.1 Tratamento de dados, hospedagem na internet e outras atividades relacionadas

63.9 Outras atividades de prestação de serviços de informação

Fonte: UNCTAD (2010), CNAE 2.0.

Uma vez medidas as aglomerações produtivas, procede-se a medir o potencial criativo através de outros três indicadores que mostram o contexto no qual estas atividades se inserem e que irá potencializar estas e outras atividades criativas.

Em relação às variáveis utilizadas, na Tabela 2 são apresentadas as fontes de dados empregadas para captar estas variáveis: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), MUNIC (IBGE), FINBRA (Secretaria do Tesouro Nacional) entre outras.

O indicador de Capital Humano inclui os trabalhadores ocupados em atividades criativas a chamada "classe criativa" (FLORIDA, 2002), a população jovem, considerada fundamental para incrementar a criatividade (WAITT e GIBSON, 2009) e o nível de educação dos trabalhadores (UNCTAD, 2010).

O indicador de Ambiente Urbano tenta captar as amenidades das cidades relacionadas ao lazer e atividades culturais (museus, bibliotecas, teatros, centros culturais, investimento em cultura), número de escolas e universidades (CLARK, 2003, STORPER e SCOTT, 2009) assim como a distância as cidades consideradas globais (São Paulo e Rio de Janeiro) (ROBINSON, 2002).

O indicador de Capital Social procura apreender o fato de que a diversidade étnica, social e cultural da cidade, assim como a existência de tolerância e seguridade (STERN e SEIFERT, 2008) aumentam a capacidade das pessoas trabalharem em conjunto, objetivando causas comuns (FUKUYAMA, 1996).

Tabela 2 – Aglomerações criativas e contexto.

 

Variável

Descrição

 

Capital

Humano

Nível de escolaridade

Razão entre pessoal ocupado com escolaridade entre médio completo e doutorado e total de trabalhadores (RAIS)

População jovem

Razão entre as pessoas de 25-39 anos e a população total (PNUD-IPEA-FJP)

Classe criativa

Razão entre trabalhadores em ocupações criativas e o total de trabalhadores da cidade (RAIS)

Investimento em educação

Despesa em educação (FINBRA)

Ambiente Urbano

Localização geográfica

Distância à capital do estado (IBGE)

Distância a cidades globais do Brasil (IBGE)

Infraestrutura educacional

Número de escolas de ensino fundamental (MUNIC)

Número de escolas de ensino médio (MUNIC)

Número de instituições de ensino superior (MUNIC)

Investimento público em cultura, urbanismo, médio ambiente, desporto e lazer.

Despesas em cultura, patrimônio cultural e difusão cultural por município (FINBRA)

Despesas em urbanismo e gestão ambiental (FINBRA)

Despesas em desporto e lazer (FINBRA)

 

 

Bens públicos relacionados à cultura

Número de bibliotecas (MUNIC)

Existência de fundação municipal de cultura (MUNIC)

Número de Museus (MUNIC-IBGE)

Número de Teatros e salas de espetáculos (MUNIC-IBGE)

Centros culturais (MUNIC-IBGE)

Estádios ou ginásios poliesportivos (MUNIC-IBGE)

 

 

 

Capital

Social

 

 

Segurança Pública

Existência de (MUNIC-IBGE):

Conselho Municipal de Segurança Pública.

Fundo Municipal de Segurança Pública.

Plano Municipal de Segurança Pública.

Delegacias de Polícia Civil.

Tolerância

Despesas com direitos humanos (FINBRA)

Diversidade étnica

Percentual de diferentes grupos étnicos no total da população, exceto brancos (IBGE)

 

 

 

Clusters

Criativos

Aglomeração Produtiva

Número expressivo de trabalhadores em indústrias criativas (arte, criações funcionais, mídia) em relação ao total nacional (RAIS)

Comércio Exterior.

Exportações per capita (Secex)

Importações per capita (Secex)

Indicador Tecnológico

Pessoal ocupado em indústrias consideradas de alta tecnologia (RAIS)

Investimento público em ciência e tecnologia

Despesas em ciência e tecnologia (FINBRA)

Fonte: elaboração própria, dados de IBGE, RAIS, PNAD, FINBRA, IPEA.

O último indicador que chamamos de Clusters Criativos, mede a existência de concentração geográfica de indústrias criativas de arte, mídia e criações funcionais (núcleo criativo). Além destas aglomerações criativas outras atividades econômicas de contexto são fundamentais para aumentar a potencialidade dos clusters criativos: por um lado o grau de inovação na cidade (PRATT, 2009), medido através da quantidade de trabalhadores ocupados em atividades de alta tecnologia e o comércio exterior da cidade (importações e exportações per capita) como uma forma de captar o fato de que os usuários (consumidores e empresas) são os principais desenvolvedores da maior parte de novos produtos e serviços (BURT, 2004).

Para construir os indicadores alguns cuidados metodológicos devem ser adotados [4]. Em primeiro lugar, devem ser normalizadas as variáveis utilizadas, dado que as unidades de medida são diferentes. Para isto, utilizou-se o método de estandardização z-score [5]que permite, a partir da padronização, depurar as diferenças em valores entre variáveis medidas em distintas escalas e unidades.

Uma vez tratadas as variáveis, deve-se escolher um método para ponderar estas dentro dos diferentes indicadores que estabelecerão o potencial criativo de cada cidade. Se as variáveis fossem combinadas dando igual peso a cada uma delas, é introduzida uma dupla contagem no índice (OCDE, 2008). Para isto, utiliza-se a metodologia de componentes principais através da análise fatorial para capturar a maior variação possível das variáveis com o menor número possível de fatores.

Uma última questão metodológica relaciona-se à agregação dos indicadores parciais no indicador geral que meça o potencial criativo das cidades. Se a agregação é aditiva ou geométrica existe compensação entre os indicadores: se um dos indicadores apresenta um resultado fraco, valores suficientemente altos nos demais indicadores compensam esta fraqueza (EBERT e WELSCH, 2004).  A necessidade de captar sinergias dentro entre os quatro indicadores que compõem o potencial criativo das cidades, mas do que compensar resultados, entre os indicadores exige utilizar uma agregação diferenciada.

Uma vez apresentadas as questões metodológicas, a seguir, apresentam-se os resultados do trabalho.

4. Resultados

4.1 Aglomerações da indústria criativa nas cidades brasileiras

Uma primeira análise para testar a presença de clusters criativos e do grau de potencial criativo das cidades brasileiras é o indicador HHm que mostra a aglomeração produtiva de cada cidade em cada um  dos agrupamentos definidos: arte, mídia e criações funcionais.

Gráfico 1 – Indústria de arte em cidades selecionadas: 2010-2012

Fonte: Elaboração própria.

No Gráfico 1 temos a aglomeração em indústrias de arte nas dez cidades com maiores aglomerações nos três anos considerados. Dentro do setor de arte, incluem-se as artes cênicas, criação artística, fabricação de instrumentos musicais, assim como a gestão de espaços para espetáculos e atividades artísticas em geral.

Cabe destacar que o indicador HHm elenca as aglomerações independentemente do tamanho da cidade, porém existe uma correlação importante entre estas e a população.

Percebe-se que não existe uma mudança significativa no indicador ao longo dos três anos analisados, sendo o Rio de Janeiro e Cotia são duas cidades que melhoraram a sua posição em relação a São Paulo. Destaca-se neste grupo, o Rio de Janeiro e as cidades nordestinas com forte presença nos segmentos de artes cênicas, música e outras expressões culturais.

No Gráfico 2, temos as cidades com maiores aglomerações na indústria de mídia para os três anos da análise. Dentro desta aglomeração incluem-se as indústrias de publicações, comércio de artigos culturais, recreativos e esportivos, edição de livros, indústria audiovisual, publicidade, atividades cinematográficas, gravação de música, rádio e televisão.

Estas aglomerações também estão correlacionadas com o tamanho da cidade e se mostram mais estáveis ao longo do período analisado. O setor de publicidade se destaca na cidade de São Paulo, maior centro consumidor do Brasil, respondendo por quase 20% dos empregos dentro da indústria de mídia.

Gráfico 2 – Indústria de Mídia em cidades selecionadas: 2010-2012

Fonte: Elaboração própria.

Finalmente, no Gráfico 3, listam-se as cidades com maiores aglomerações de indústrias relacionadas a criações funcionais. Dentro deste grupo, incluem-se atividades de design de bens industrializados, arquitetura e engenharia, assim como atividades relacionadas ao design de novas mídias (tecnologias de informação, internet, e outros serviços de informação). Cabe destacar que a maior parte das cidades brasileiras apresenta um aumento no indicador ao longo do período analisado.

Em geral, a cidade São Paulo e seu entorno e o Rio de Janeiro, se sobressaem na quantidade de empregos criativos, sendo o setor de criações funcionais e dentro destes o setor de Arquitetura e Engenharia, aquele que apresenta o maior contingente de empregos criativos.

Em São Paulo, outro destaque é o setor de pesquisa e desenvolvimento, que conta com renomados institutos e universidades de pesquisa, que ocupam boa proporção dos trabalhadores dentro da indústria de criações funcionais.

Gráfico 3 – Indústria de criações funcionais em cidades selecionadas: 2010-2012

Fonte: Elaboração própria.

Salienta-se que as capitais dos estados do Sul, assim como outras cidades destes estados registram forte presença no núcleo criativo brasileiro. Destaca-se especialmente o setor de Design de Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre que empregam em torno de 17% dos trabalhadores do núcleo criativo total de cada uma dessas cidades. 

4.2 Indicadores componentes do potencial criativo

Uma vez identificadas as aglomerações produtivas criativas, o segundo objetivo é incluir estas aglomerações num estudo mais aprofundado, que tente determinar não só a estrutura atual, mas o potencial criativo das cidades brasileiras. Para isto, além de incorporar estas aglomerações num indicador mais amplo de estrutura econômica, vamos a calcular outros três indicadores de contexto.

4.2.1. Indicador de estrutura econômica

Para compor o indicador de estrutura econômica utilizam-se os três indicadores HHm para cada setor considerado (artes, criações funcionais e mídia) além de outras três  variáveis complementares: comércio exterior do município, investimento público em ciência e tecnologia e o indicador tecnológico de cada cidade [6].  

O comércio exterior tem uma relação direta e bidirecional com a criatividade (DI PIETRO e ANOROU, 2006). A inclusão do indicador tecnológico responde ao fato de que certas tecnologias oferecem modos particulares de desenvolvimento das atividades produtivas (PRATT, 2009). Por sua vez, as políticas públicas direcionadas a aumentar a inovação tecnológica repercutem no núcleo criativo positivamente.

Para compor este indicador, utiliza-se a análise fatorial, dado que existe correlação entre as variáveis utilizadas e esta correlação supera 0,30, como recomendado pela literatura especializada (HAIR et al., 2006). Para selecionar o número de fatores a reter na análise, usou-se o critério de Kaiser para a extração de componentes principais. Os resultados apontam dois fatores retidos, com autovalor maior que 1, que explicam 90% da variância total.

Na Tabela 3 apresentam-se as variáveis correlacionadas com cada um dos fatores retidos. Considerando cargas maiores a 0,50 [7], observa-se que este pressuposto é válido nos fatores retidos neste caso, e alem disso, não existe mudança significativa nas variáveis correlacionadas e nas cargas nos três anos analisados.

Podemos nomear cada fator da seguinte forma:

Fator 1: Aglomerações criativas e inovadoras. Composto pelos três grupos de clusters criativos e o indicador de alta tecnologia. Este fator demonstra a importância da interação entre os recursos técnicos e os insumos criativos para aumentar o dinamismo destas indústrias. 

Tabela 3 – Estrutura Econômica: variáveis correlacionadas com cada fator.

Variável

2010

2011

2012

Fator 1

Fator 2

Fator 1

Fator 2

Fator 1

Fator 2

Exportação

-0,0012

0,8443

 0,1957

 0,8147

-0,0008

0,8413

Importação

0,0653

0,8492

 0,2800

 0,7735

0,0718

0,8515

Aglomeração Arte

0,9621

-0,0611

 0,8219

 -0,2481

0,9497

-0,0661

Aglomeração criações funcionais

0,9667

-0,0400

 0,8697

 -0,1581

0,9652

-0,0430

Aglomeração Mídia

0,9807

-0,0577

 0,8516

 -0,2580

0,9747

-0,0619

Investimento em C&T

0,1234

-0,0432

 0,1152

 -0,0247

0,1882

-0,0215

Indicador de alta tecnologia

0,8081

0,1234

 0,7340

 0,2522

0,7718

0,1401

Fonte: Elaboração própria.

Fator 2: Fontes internacionais para aumento da criatividade. Correlacionado fortemente com as exportações e importações das cidades. Na economia aberta, a criatividade promove as exportações e as importações geram estímulos à inovação e criação de novos produtos e processos. Considerando que as indústrias criativas se encontram entre os setores mais dinâmicos do comércio internacional (UNCTAD, 2010), percebe-se a importância das relações comerciais internacionais das cidades brasileiras.

Destaca-se o fato de que a variável investimento público em ciência e tecnologia não resultou correlacionada com nenhum dos fatores latentes. Este resultado é significativo na medida em que abre espaço para um redirecionamento destas políticas públicas.

 

4.2.2 Indicador de ambiente urbano

No caso do ambiente urbano, salienta-se a necessidade de incluir variáveis que mostrem a complexa interdependência entre o ambiente cultural existente, as amenidades culturais e de lazer que servem para canalizar este ambiente e por outro lado, as políticas públicas culturais, analisadas a partir do investimento em cultura, esporte e lazer e educação (PRATT, 2009).

Seguindo o critério de Kaiser, três fatores foram retidos para compor o indicador de ambiente urbano nos três anos analisados. A proporção de variância explicada fica em torno de 66% em todo o período.   Na Tabela 4 temos as variáveis correlacionadas com cada fator retido para ambiente urbano. Temos:

Fator 1: Incentivo público à criatividade: inclui os investimento em educação, cultura, urbanismo, desporto e lazer. O investimento em gestão ambiental passa a ter peso maior que 0,5 a partir de 2011.

Fator 2: Cidades globais. Este fator está fortemente correlacionado com a distância as duas cidades globais do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo.

Fator 3: Bens públicos culturais. Este fator inclui o índice de infraestrutura, que é composto pela existência de bens culturais como teatros, cinemas, museus, bibliotecas, centro cultural e estádios, entre outras variáveis. Inclui também à distância a capital do estado. Podemos entender esta interação pensando que a infraestrutura cultural da capital complementa a infraestrutura local, daí a correlação das duas variáveis dentro deste fator.

Conclui-se destacando a importância das atividades públicas, por meio da conformação de bens públicos culturais, ou seja, por meio dos investimentos públicos em atividades culturais e educativas, como estratégias para dinamizar a criatividade.

Tabela 4 – Ambiente Urbano: Variáveis correlacionadas com cada fator.

Variável
2010
2011
2012

Fator 1

 Fator 2

Fator 3

Fator 1

 Fator 2

Fator 3

Fator 1

 Fator 2

Fator 3

Distância capital

 -0,1623

 0,1232

 0,7385

 -0,2159

 0,0626

 0,6730

 -0,1763

 0,0942

0,7332 

Distância RJ

 -0,5568

 0,8034

 0,0319

 -0,5775

 0,7915

 0,0391

 -0,6192

 0,7583

 0,0605

Distância SP

 -0,5991

 0,7734

 -0,0261

 -0,6214

0,7565

 -0,0270

 -0,6531

 0,7260

 0,0013

Infraestrutura

 0,2299

 -0,0629

 0,5812

 0,2388

 -0,0474

 0,7030

 0,1812

 -0,1408

 0,6737

Educação

 0,8445

 0,2675

 -0,0395

 0,8108

 0,2909

 -0,0676

 0,8115

 0,3278

 -0,090

Cultura

0,7048

0,3949

0,0794

0,6656

0,4552

0,0786

0,6934

0,3974

-0,0319

Urbanismo

 0,7021

 0,3473

 -0,2823

 0,6532

 0,2691

 -0,3155

 0,7385

 0,3128

 -0,155

Gestão Ambiental

 0,3541

 0,0218

 0,3765

 0,5088

 0,1726

 0,2281

 0,5232

 0,1887

 0,1702

Desporto e Lazer

0,7918

0,2390

0,0386

0,7822

0,2167

0,0901

0,6952

0,1579

0,2392

Fonte: Elaboração própria.

4.2.3 Indicador de capital humano. 

Ao capital humano, resultaram dois fatores retidos com autovalor maior que um, que explicam 80% da variância total.

Tabela 5– Capital Humano: Variáveis correlacionadas com cada fator.

Variável

2010

2011

2012

Fator 1

Fator 2

Fator 1

Fator 2

Fator 1

Fator 2

Jovens 25-35 anos (%)

0,2958

0,8870

0,2122

0,9154

0,5221

0,7579

Educação superior (%)

0,8341

0,1202

0,8269

0,1650

0,8495

0,0141

Empreg. em atividades criativas

0,7071

-0,5130

0,7403

-0,4468

0,5862

-0,6953

Fonte: Elaboração própria.

Depois de usar a rotação varimax, e considerando pesos maiores a 0,5 como significantes, as dimensões latentes (Tabela 5) podem ser descritas como:

Fator 1: Indicador de classe criativa e pessoal altamente qualificado. Inclui além dos empregados em atividades criativas o percentual de trabalhadores com estudos superiores. Trata-se de pessoas que tem a capacidade de transformar a sua capacidade criativa e seus conhecimentos formais em atividades comercializáveis e lucrativas. Além disso, mostra a importância da transformação criativa não só nos produtos, mas também nos métodos de produção (FLORIDA, 2011). 

Fator 2: População Jovem. Inclui o percentual de jovens de 25 a 35 anos dentro do total da população (idade) o que mostra a importância dos jovens para incentivar a criatividade da cidade.

4.2.4 Indicador de capital social.

No caso do capital social, um único fator foi retido que explica 45% da variância. No fator retido, temos duas variáveis com pesos maiores a 0,5 nos anos 2010 e 2011, segurança pública e raça. Já em 2012 as três apresentam cargas maiores que 0,5, sendo que o investimento em direitos humanos passou a ser significativa a partir desse ano, como apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 – Capital Social: Variáveis correlacionadas com cada fator.

Variável

2009

2010

2011

Fator 1

Fator 1

Fator 1

Segurança Pública

0,7648

0,7599

0,7052

Direitos Humanos

0,3885

0,4601

0,6047

Raça

-0,7136

-0,6890

-0,6700

Fonte: Elaboração própria.

Destaca-se que a variável raça, que inclui a diversidade racial das cidades, aparece correlacionada negativamente com o indicador. Porém isto não significa que se trate de uma variável que afeta negativamente o indicador, mas que a correlação entre ela e as outras variáveis é negativa.

4.3. Indicador agregado: potencial criativo das cidades brasileiras.

Para agregar os indicadores e medir o potencial criativo das cidades brasileiras, foram construídos três cenários, dando diferentes ponderações a cada um dos indicadores. As diferentes ponderações dadas obedecem as diferentes visões teóricas desenvolvidas nos últimos anos dentro da literatura de economia criativa. Na Tabela 10 apresentam-se as cidades com maior potencial criativo dentro dos três diferentes cenários construídos.

O primeiro cenário considera as atividades criativas no centro da dinâmica e a necessidade de um contexto que acompanhe este dinamismo (UNCTAD, 2010). Neste caso, a base do dinamismo urbano reside na formação de economias de escala e aglomeração localizadas junto a concentração de recursos críticos para o processo de desenvolvimento urbano. 

A segunda ponderação segue a ideia de autores como Florida (2005, 2011) e Scott (2006) que outorgam ao capital humano criativo a responsabilidade do dinamismo das economias criativas. Cabe destacar algumas características do capital humano, que o fazem susceptível de políticas que o incentivem. O capital humano não se encontra distribuído uniformemente ao longo do território brasileiro, mas existe uma ampla mobilidade deste fator, o que redesenha constantemente o mapa de trabalhadores criativos dentro do país. Além da mobilidade, o capital humano pode ser "criado" pela educação, treinamento, aprendizado no trabalho e interação social (STORPER e SCOTT, 2009). No caso das cidades brasileiras, é clara a concentração do capital humano nas cidades da região sudeste, e, em menor medida, da região sul.

Para finalizar, enfatiza-se o papel das amenidades urbanas como aglutinador de pessoas e atividades criativas (CLARK et al., 2009). Nesta visão indivíduos com alto nível de capital humano fazem a escolha de o local onde morar de acordo com o ambiente urbano. Dentro desta línea encontram-se a teoria da "classe criativa" de Florida (2005, 2011), as pesquisas de Glaeser (2005) focando nas amenidades sociais e naturais das cidades e seu desenvolvimento, e a noção de cidade como máquina de entretenimento de Clark (2002), com facilidades culturais, de consumo e divertimento. No caso das cidades brasileiras, quando consideradas estas amenidades percebe-se que o indicador se volta mais homogêneo, incluindo dentro das cidades com bons indicadores, várias das regiões nordeste e norte [8].  

Tabela 10 – Cidades com maior potencial criativo no Brasil: diferentes ponderações.

Ênfase na estrutura produtiva 

Ênfase no                    Capital Humano

Ênfase no                Ambiente Urbano

São Paulo (SP)

São Paulo (SP)

São Paulo (SP)

Rio de Janeiro (RJ)

Barueri (SP)

Barueri (SP)

Barueri (SP)

Santana de Parnaíba (SP)

Vitória (ES)

Manaus (AM)

Vitória (ES)

Rio de Janeiro (RJ)

Belo Horizonte (MG)

Rio de Janeiro (RJ)

Manaus (AM)

Vitória (ES)

Manaus (AM)

Santos (SP)

Porto Alegre (RS)

Florianópolis (SC)

Macaé (RJ)

Curitiba (PR)

Santos (SP)

Ribeirão Pires (SP)

Santana de Parnaíba (SP)

Macaé (RJ)

Curitiba (PR)

Cotia (SP)

Santos (SP)

Campinas (SP)

Florianópolis (SC)

Macaé (RJ)

Salvador (BA)

Cotia (SP)

Belo Horizonte (MG)

Porto Alegre (RS)

Hortolândia (SP)

Curitiba (PR)

Araras (SP)

Araras (SP)

Santana de Parnaíba (SP)

Belo Horizonte (MG)

Porto Alegre (RS)

Guarujá (SP)

Recife (PE)

Fonte: Elaboração própria.

Como resultado geral, pode-se apreciar que mesmo quando os indicadores são ponderados em firma diferenciada, não existe uma grande divergência nos resultados. Existe um viés urbano das atividades criativas, o que pode ser observado no caso do Brasil, onde as grandes cidades aparecem com os indicadores maiores, fato já encontrado em outras analises (POWER e NIELSEN, 2010).

Além da classificação das cidades, uma forma de analisar o posicionamento relativo destas é através de um agrupamento que vise identificar características específicas que façam homogêneos grupos de cidades, dentro de uma população total heterogênea. Para isto, utiliza-se o agrupamento de clusters k-means, considerando dados multivariados, isto é, os quatro indicadores que medem as diferentes dimensões do potencial criativo das cidades brasileiras.

O agrupamento utilizado é uma técnica não hierárquica que agrupa os elementos (cidades) por meio de um processo flexível, através da realocação dos elementos durante o processo de clusterização.

Cada grupo apresenta características diferenciadas, em termos do indicador que apresenta o maior valor positivo. Além disso, algumas cidades apresentam externalidades negativas que impedem o florescimento das atividades criativas, o que requer que os governos locais se engajem em intervenções que reduzam os obstáculos para expandir este potencial.

Tabela 11– Agrupamento em cluster por indicadores de criatividade.

 

Cluster

Estrutura Econômica

Capital Humano

Capital

Social

Ambiente Urbano

Capital social forte e incipiente estrutura econômica

 

 

0,22

 

 

-0,05

 

 

1,00

 

 

0,05

67 cidades

Potencial criativo deficitário

 

-0,16

 

-0,10

 

-0,22

 

-0,32

118 cidades

Capital humano e ambiente urbano em expansão

 

 

0,05

 

 

0,73

 

 

0,46

 

 

1,00

102 cidades

Cidades globais – forte estrutura econômica

 

1,00

 

1,00

 

-0,42

 

-0,10

2 cidades

Fonte: Elaboração própria.

Dos resultados dos agrupamentos podemos caracterizar cada cluster da seguinte forma:

  1. Capital social forte e incipiente estrutura econômica: este grupo se caracteriza por apresentar o maior valor do indicador de capital social e uma estrutura econômica dentro dos setores produtivos criativos, incipiente. Neste grupo encontram-se três capitais estaduais (Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre), cidades da região sul  relativamente pequenas, grandes cidades da região sudeste, e poucas cidades da região nordeste [9].
  2. Potencial criativo deficitário: todos os indicadores deste grupo são negativos, isto significa que este grupo, que apresenta o maior número de cidades, não apresenta ainda estrutura econômica dentro dos setores criativos e também não dispõe de um contexto urbano e social que façam frutificar as atividades criativas. Neste grupo encontram-se cidades
  3. Interação entre capital humano e ambiente urbano: mesmo apresentando uma estrutura econômica fraca em termos de aglomeração, quando comparados aos outros grupos, o grupo apresenta as maiores amenidades urbanas e um excelente desempenho em termos de capital humano, o que indica que é um grupo que pode vir a dinamizar os setores criativos. A interação entre capital humano e amenidades reforça a noção da escolha da cidade que apresenta oportunidades culturais, educacionais, de entretenimento por parte dos trabalhadores criativos (Florida, 2011). Dentro deste grupo temos várias capitais estaduais e outras cidades das regiões norte e nordeste.
  4. Cidades globais – forte estrutura econômica: este grupo é formado pelas duas cidades globais do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. Este grupo apresenta o maior indicador de estrutura econômica criativa e capital humano. Trata-se de duas cidades outliers se comparadas as outras. Mesmo assim, elas apresentam deficiências no indicador de capital social, o que indica a necessidade de políticas públicas que melhorem o índice de segurança pública e os investimentos em direitos humanos per capita.

 

5. Conclusões

Neste trabalho, optou-se por considerar uma visão abrangente da economia criativa, considerando as indústrias criativas separadas nos grupos de arte, mídia e criações funcionais, mas também o contexto onde estas indústrias se desenvolvem, isto é, as características das cidades e espaços criativos, incluindo recursos como diversidade humana e cultural, indivíduos criativos, espaços urbanos, tolerância, atividades inovativas e alta tecnologia, bens públicos culturais e posição geográfica em relação às cidades globais.

Dentro desta visão global o trabalho teve como objetivo mostrar como as cidades brasileiras se posicionam diante do novo quadro da economia, procurando estabelecer o potencial criativo destas cidades.

Em primeiro lugar, procurou mapear as indústrias criativas utilizando o indicador Hirschman-Herfindahl modificado (HHm) para captar o peso de cada setor criativo dentro da estrutura produtiva local. Os resultados mostraram que as atividades criativas encontram-se bastante concentradas nas grandes capitais brasileiras do sul e do sudeste, porém existem cidades menores com aglomerações em alguns dos grupos definidos dentro do núcleo criativo.

A partir deste indicador e considerando outras variáveis econômicas relevantes para a criatividade (exportações e importações, indicador tecnológico), criou-se um indicador de estrutura econômica criativa. Em segundo lugar, e reconhecendo a importância do contexto para a dinâmica criativa, buscou-se mensurar as diferentes dimensões que contribuem para aumentar o potencial criativo das cidades, criando três indicadores: capital humano, capital social e ambiente urbano.

Nas cidades brasileiras, o tamanho, a densidade e as características setoriais das aglomerações criativas variam enormemente e quando consideradas os indicadores que complementam estas atividades criativas, o fenômeno torna-se mais complexo e heterogêneo.

Quando considerado todos os indicadores agrupados, os resultados mostram que um grupo maior de cidades tem um bom potencial para aumentar a presença das atividades criativas.  Isto mostra a importância de considerar as atividades criativas como um fenômeno multidimensional, onde as políticas públicas, as amenidades urbanas, a infraestrutura cultural, a diversidade racial, entre outras variáveis, tem um papel chave.

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1. Professora do Programa de Pós Graduação em Economia do Departamento de Economia e Relações Internacionais, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.  (evasilvacatela@gmail.com)

2. UFSC

3. Ressalta-se que esta classificação é aceita e utilizada internacionalmente (PRATT e HUTTON, 2012).

4. Em geral, os aspectos metodológicos da configuração do índice tem como base Nardo et al. (2007) e OCDE (2008).

5. O procedimento resulta da subtração pela média e divisão subsequente pelo desvio padrão.

6. Medido através do número relativo de pessoal ocupado em indústrias consideradas de alta tecnologia, a partir de dados da RAIS.

7. A literatura recomenda identificar as variáveis que apresentam cargas fatoriais maiores que 0,40 (HAIR, et al., 2006).

8.O trabalho de Glaeser e coautores salienta o clima, em especial o clima ensolarado, seco e temperado como fator fundamental de escolha. No presente trabalho, nenhuma variável relacionada a clima foi adicionada, mas fica em aberto para futuras pesquisas.

9. Os autores ficam a disposição para consultar a lista completa de cidades por grupo.


Vol. 37 (Nº 12) Año 2016

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