Espacios. Vol. 37 (Nº 05) Año 2016. Pág. 21

Análise semiótica comparativa no Redesenho da embalagem do café Melitta

Comparative semiotic analysis on the redesign of Melitta coffee packaging

Ricardo Marques SASTRE 1; Maximiliano Camargo RODRIGUES 2

Recibido: 09/10/15 • Aprobado: 24/11/2015


Contenido

1. Introdução

2. Design de embalagens

3. Semiótica

4. Aspectos semióticos analisados

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo realizar um estudo comparativo entre as duas últimas versões da embalagem de café Melitta. A análise foi orientada pelas bases teóricas de Santaella (2002), a partir dos três pontos de vista apresentados pela autora com base na semiótica Peirciana. Os procedimentos metodológicos utilizados foram pesquisa do tipo exploratória e bibliográfica. Levou-se em conta para comparação os elementos contidos na parte frontal da embalagem, quanto aos aspectos relacionados com o usuário e a produção de significados da versão anterior à embalagem atual, redesenhada no ano de 2012. Conclui-se que o resultado do redesenho da embalagem foi satisfatório, as alterações efetuadas na embalagem mantiveram a tradição e a identidade visual da embalagem, propondo uma adequação com a linguagem visual do mercado atual.
Palavras-chave: Analise Semiótica, Design, Embalagem.

ABSTRACT:

This paper aims to conduct a comparative study between the last two versions of Melitta coffee packaging. The analysis was guided by the theoretical bases of Santaella (2002 ), from three points of view presented by the author, based on Peirce's semiotics. The methodological procedures were exploratory research and literature type. The comparison took into account the elements contained in the front of the pack, in the matters related to the user and the meaning production from the previous to the current package version, redesigned in 2012. It is concluded that the outcome from the packaging redesign was satisfactory, besides the changes made in the packaging kept its tradition and visual identity, proposing also an adjustment to the visual language of the current market.
Key words: Semiotic analysis. Design. Packaging.

1. Introdução

Melitta Bentz, nascida em Dresden, Alemanha, inventou em 1908 o primeiro filtro de café e no ano de 1910 fundou a empresa Melitta. Em 1962 foi iniciada a comercialização de pó de café embalado a vácuo e em 1968 que iniciou as atividades no Brasil. Hoje a Melitta é uma marca tradicional de café e uma das líderes de mercado no segmento.

Recentemente a Melitta revisou o design das suas embalagens de café e a nova embalagem sofreu algumas alterações que serão destacadas nesse artigo. Segundo o gerente de grupo da empresa, "Ricardo Andrade", em uma entrevista para a revista "Embalagem Marca", a nova embalagem foi elaborada para inserir ainda mais a companhia no dia a dia das pessoas.

A finalidade deste artigo é realizar um estudo comparativo entre as duas ultimas versões da embalagem de café Melitta, sob a análise semiótica orientada a partir dos três pontos de vista sugeridos por "Santaella", a qual se baseou na teoria de "Charles Sanders Peirce". São eles: "as mensagens em si mesma", "a referencialidade das mensagens" e "a interpretação das mensagens". 

Serão abordados alguns aspectos sobre o design de embalagens, suas estratégias e a semiótica aplicada – observando aspectos como elementos gráficos, ícones, índices, símbolos e a interpretação das mensagens.

Os procedimentos metodológicos utilizados foram pesquisa do tipo exploratória, para identificar e analisar os elementos semióticos nas embalagens, e uma revisão de literatura, para referenciar e dar subsídios ao trabalho.

2. Design de embalagens

A palavra design em seu sentido mais amplo pode apropriar-se de vários significados e muitos autores do pensamento em design fazem grandes reflexões sobre o tema, como o exemplo de (Redig, 2005) que conceitua a palavra design como a forma de identificar a atividade de desenho industrial, mas tende a se internacionalizar e criar valores intrínsecos.

No design, deve-se levar em consideração a função que o produto irá realizar e também as características e necessidades do mercado com foco no consumidor. Ao projetar embalagem, o profissional responsável precisa conhecer também a linguagem da categoria a qual o produto pertence, pois é lá que haverá a concorrência e não no universo dos demais produtos no ponto de venda.

A linguagem visual da embalagem consiste em um vocabulário próprio que deverá ser decifrado pelo designer e é exatamente por essa linguagem própria que a embalagem se diferencia de outras técnicas de design.

Para ser relevante, o design da embalagem deve sugerir o produto que contém ou o público ao qual ele se destina. Não tem que ser explícito ou óbvio, mas a ideia do design deve criar uma conexão com o consumidor, seja no plano lógico, ou no plano emocional. (Roncarelli,  2010: 20).

Quando aplicamos o design na embalagem adotamos algumas estratégias projetuais que facilitam o entendimento da atividade de design. O briefing, o estudo de campo e a montagem da estratégia são as primeiras etapas e servem para coletar informações à serem inseridas no projeto.

A embalagem é uma das atribuições do designer que exemplificam bem a tênue divisão entre projeto de produto e o projeto gráfico, pois, em uma embalagem ótima, esses dois aspectos complementam-se. A concepção da embalagem em função das características do produto embalado, sua aplicabilidade e a imagem mercadológica que pretende transmitir, ressaltando-se que o design deve estar a serviço da estratégia de marketing, sempre. (Negão, 2008: 147-148).

Existem diversos posicionamentos que pode ser adotado para que a embalagem possa inserir-se no mercado competitivo, (Mestriner, 2002) propõe quatro estratégias básicas:

Competindo na posição de líder

Produtos líderes precisam afirmar sua posição de liderança, mas não podem ficar estáticos a vida toda. Sua embalagem precisa evoluir com o mercado, indicando aos consumidores que o produto está vivo e atuante. Mudanças bruscas e exageradas nunca devem ser iniciadas pelo líder. Sua embalagem precisa ser uma referência segura, na qual o consumidor fiel pode confiar.

Competindo na posição de rival do líder

O produto envolvido na competição direta com um líder da categoria precisa usar estrategicamente sua embalagem para obter a vantagem competitiva no ponto de venda, precisa investir em novas tecnologias, em novos recursos de impressão e rotulagem e dispositivos de abertura e fechamento que superem o do líder. O rival nunca deve seguir o líder, mas oferecer ao consumidor o que o líder não oferece.

Os designers que têm sob sua responsabilidade o design de produtos em posição intermediária precisam dotar suas embalagens de algum atrativo especial. Precisam encontrar algum diferencial que possa atrair a atenção, despertar a curiosidade e/ou a simpatia do consumidor. Inovações são bem vindas e devem ser sempre buscadas, pois esses são os produtos que não têm nada a perder, podendo adotar soluções radicais.

O objetivo do design para produtos participantes é sempre o de inseri-los na competição. A embalagem precisa ¨inscrever¨ o produto na competição, fazendo com que o consumidor o considere uma das alternativas. Ao inserir na competição um produto que esteja fora dela, estamos ampliando suas chances de ser escolhido e muitas vezes de ser experimentado. 

No segmento de café em pó as embalagens evoluíram e ocorreram movimentos entre as marcas semelhantes aos citados acima. Sendo uma categoria de produtos organizada, a identificação dessas características foi mais fácil de visualizar.

As embalagens  de café se transformaram, uma das evoluções mais interessantes surgiu quase por acaso. A metalização das embalagens, tinha por objetivo inicial, apenas e tão somente, o de dar um efeito decorativo brilhante, mas a metalização tem a propriedade de funcionar como barreira contra a luz solar, aumentando o prazo de validade dos alimentos. O café do ponto inovou com as embalagens de material metalizado. Foi um sucesso que se estendeu a todas as outras marcas. Outro a inovar na embalagem foi o café Melitta com seu sistema alto-vácuo. Hoje em dia, as embalagens não se limitam como antes a gabar o aroma e o sabor do produto, mas procuram atender os gostos da clientela com variedade tais como extra forte, suave e até uma contradição aparente, o café descafeinado. (Cavalcanti, 2006: 28).

3. Semiótica

Semiótica é o estudo dos signos, isto é, de toda e qualquer linguagem, alguma coisa que represente algo para alguém. 

Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. (Peirce, 2000: 46).

Segundo (Barthes,1971) o signo é, pois, composto de um significante e um significado. O plano dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo.

O significado não é uma ¨coisa¨, mas uma representação psíquica da ¨coisa¨. O significado da palavra boi, não é o animal boi, mas sua imagem psíquica. O significado só pode ser definido dentro do processo de significação, o significado é um dos dois relata do signo; a única diferença que o opõe ao significante é que este é um mediador.

A natureza do significante sugere, de um modo geral, as mesmas observações que a do significado: é um puro relatum, não se pode separar sua definição do significado. A matéria lhe é necessária; mas, de um lado, não lhe é suficiente e, de outro lado, em semiologia, o significado também pode ser substituído por certa matéria: a das palavras.

Defino um signo como alguma coisa que, de um lado, é de tal modo determinada por um objeto e, por outro lado, de tal modo determina uma ideia na mente de uma pessoa, que esta última determinação, que eu denomino o interpretante do signo, é através disso determinada por aquele objeto. (Peirce apud Silveira, 2007: 48).

Segundo (Peirce, 2000), existe uma tricotomia dos signos que são divisíveis conforme três tricotomias. A primeira, conforme o signo em si mesmo for uma mera qualidade: um existir concreto ou uma lei geral; a segunda, conforme a relação do signo para com seu objeto consistir no fato de o signo ter algum caráter em si mesmo, ou manter alguma relação existencial com esse objeto ou em sua relação com um interpretante; a terceira, conforme seu interpretante representá-lo com um signo de possibilidade ou como um signo de fato ou como um signo de razão.

O desdobramento e a aplicação desta tricomia "peirceana" será a ferramenta de análise das embalagens de café Melitta, mas orientada pelas questões norteadoras sugeridas por (Santaella, 2002).

Segundo (Cardoso, 2012) existem seis fatores que condicionam o significado dos artefatos, possuindo a capacidade de modificar a suposta imobilidade ou fixidez de sua natureza essencial. Três desses fatores estão ligados a situação material do objeto, e três outros estão ligados à percepção que se faz dele. Os da primeira categoria são: uso, entorno e duração. Os da segunda categoria são: ponto de vista, discurso e experiência.

Significado, em última instância reside unicamente na percepção dos usuários (sendo quem faz, o autor ou criador, considerado usuário também). Sem um sujeito capaz de atribuir significado, o objeto não quer dizer nada, ele apenas é. É a comunidade que determina o que o artefato quer dizer. (Cardoso, 2012: 62).

Descrevendo as situações materiais do objeto, o primeiro se constitui no uso, que é uma palavra que abrange as noções interligadas de operacionalidade, funcionamento e aproveitamento. Nesse sentido aproxima-se do significado da palavra função, que pode também ser empregada para descrever o papel desempenhado por um artefato nas relações sociais.

O impacto que o ¨entorno¨ sobre o significado do artefato talvez seja menos explícito, se for um artefato imóvel, devemos considerar as mudanças que as coisas ao redor sofrem, mas no caso das embalagens devemos levar em conta a posição na gôndola, a categoria de produto e as categorias vizinhas, que a embalagem está inserida no ponto de venda.

Para entender o significado de um artefato com qualquer profundidade, para saber o que se passou com ele ou, no caso de um artefato móvel, por onde ele passou, precisamos estudar a sua duração. A existência de qualquer objeto decorre dentro de um ciclo de vida que comporta desde sua criação até sua destruição.

Os juízos dos usuários nos remetem à segunda categoria de fatores condicionadores do significado. O primeiro deles é o ponto de vista, isto é, o local onde o observador se posta para olhar o objeto. Em termos lógicos, qualquer ponto de vista é igualmente plausível e importante para a compreensão do artefato. O fato é que elegemos perspectivas melhores ou piores, corretas ou erradas, e formamos uma hierarquia de modos de ver. Um dos principais desafios das artes visuais é o de formar, deformar e transformar o olhar.

O fator discurso, refere-se ao modo como o ponto de vista de cada um encontra sua tradução para outros. Se eu for uma pessoa muito independente, posso descobrir por conta própria o ponto de vista que me convém, mas como faço para comunicar essa minha preferência a outras pessoas com as quais, porventura, eu queria dividir minha experiência? Torna-se necessário representar a experiência por meio de linguagens (verbais, visuais e outras), e as representações necessariamente agregam sentidos e afetam a compreensão do artefato. O discurso circundante é quase sempre um patamar de acesso necessário para chegar a um objeto qualquer.

O último fator de significado dos artefatos é a ¨experiência¨, a mais resistente de todas essas influências externas. Quando se fala em experiência, a referência é aquilo que é íntimo e imediato na relação de cada um com o artefato em mãos. Essa relação íntima e imediata é necessariamente condicionada por todas as outras experiências antecedentes que fazem com o que eu seja ¨eu¨- incluídas aí minhas experiências anteriores com o mesmo artefato.

4. Aspectos semióticos analisados

Segundo (Santaella, 2002) a teoria semiótica nos habilita a penetrar no movimento interno das mensagens, o que nos dá a possibilidade de compreender os procedimentos e recursos empregados nas palavras, imagens, diagramas, sons e nas relações entre eles, permitindo a análise das mensagens em vários níveis.

Será feito a verificação da parte frontal da embalagem de café por ser considerada mais relevante por manter-se exposta no ponto de venda, isto é, a parte visível na prateleira. Baseado em três níveis de interpretação sugeridos pela autora, que facilitam o entendimento e a compreensão dos elementos semióticos contidos nas duas versões da embalagem de café Melitta.    

Segundo (Santaella, 2002) as mensagens em si mesmas podem ser analisadas pelas suas propriedades internas, quer dizer, nos seus aspectos qualitativos, sensórios, tais como, na linguagem visual, por exemplo, as cores, linhas, formas, volumes, movimento, dinâmica e etc. As embalagens podem ser analisadas morfologicamente da seguinte forma:

A assinatura do produto é um item em destaque nas embalagens, segundo (Calver, 2009) a tarefa do design é exibir o nome da marca para que os consumidores possam identificá-la durante seu processo inicial de avaliação e seleção do produto.

Nas duas embalagens da Melitta (antiga e atual) a marca está exatamente na mesma posição e nas mesmas proporções e cores, mantendo a assinatura exatamente como antes para não correr o risco de perder a identificação da marca com o consumidor, que já estava acostumado com a versão anterior. 

Existe um número muito grande de modelos de fontes à disposição no mercado, mas cada fonte tem suas características e formas de comunicação. Conforme (Calver, 2009) a habilidade do designer reside em fazer a escolha da fonte com a função apropriada.

Na parte frontal das embalagens estão as fontes da marca, que não se alterou para manter a identidade corporativa da empresa; as palavras, ¨café tradicional¨ que são utilizadas para identificar o que está sendo embalado, estão em destaque, na embalagem anterior dentro de um quadro vermelho estilizado e com uma fonte manuscrita com hastes finas na cor branca e sombreamento preto, já na embalagem nova as palavras saíram do quadro vermelho. A fonte sofreu alteração, mas não mudou o estilo manuscrito e nem as cores, mantendo a mesma identidade visual, mas agora está com as hastes mais grossas e com mais legibilidade. Nas informações obrigatórias como peso, tipo de café e nome do produto, as fontes permaneceram as mesmas mas, no modelo novo elas receberam um contorno mais grosso auxiliando na legibilidade e visualização das informações. Somente no modelo anterior, aparece uma palavra representando que o produto é bom, (mmmmmm...), em uma fonte com as hastes arredondadas e em movimento.

As embalagens exibem informações de maior ou menor grau. Em geral as informações se repetem nas embalagens como marcas, nome do produto, representação visual, entre outras. É importante definir quais elementos devem ser destacados na embalagem para chamar a atenção do consumidor no ponto de venda.

Por estar centralizada na parte superior da caixa, a marca Melitta está em primeiro plano nas duas embalagens, seguido da representação do produto, no caso a xícara de café, e logo em seguida o nome Tradicional, identificando o modelo do café. Na embalagem anterior havia um conflito visual de hierarquia  por conter um quadro vermelho para identificar o tipo de café, a xícara em tamanho menor, grãos de café até a metade da embalagem e marca d´agua com desenhos representativos. O novo design resolveu esse problema visual que havia na versão anterior.

4.1.4. Linguagem

A linguagem na embalagem deve ser envolvente, criativa e passar uma boa imagem da marca. Conforme escreveu (Calver, 2009) o texto nas embalagens é importante por muitas razões: ele pode envolver os consumidores e, se ¨falar a linguagem certa¨, garantir que esse é o produto certo para eles. Eles querem ser capazes de entender um produto rapidamente e de identificar as características e vantagens em relação a outros.

As informações obrigatórias, a assinatura da marca e a identificação do nível de tostagem do café e o tipo de café continuam escritas formalmente mas, na versão anterior tinha uma representação tipográfica como se alguém estivesse aprovando o produto com a interjeição: ¨mmmmm...¨ Foi retirado na nova embalagem pois estava muito informal e fora da linguagem geral da caixa.

Um dos pontos mais explorados na embalagem é a imagem, definir o tipo de imagem e de que maneira ela será explorada é um trabalho que exige muito cuidado. Segundo (Mestriner, 2002) para produtos alimentícios existe uma técnica chamada de ¨appetite appeal¨ que é a exploração do apetite do consumidor. Cenas com consumidores se deliciando com o produto são válidas desde que os modelos selecionados tenham empatia com o público.

A Melitta utilizou a estratégia de ¨appetite appeal¨ inserindo uma xícara de café saindo fumaça como se o produto estivesse pronto para o consumo nas duas versões, mas a imagem sofreu alterações: o ângulo da foto mudou, a anterior era mais panorâmica e a atual é menos inclinada; as duas xicaras são brancas mas a versão atual apresenta uma tonalidade mais alva e está sem pires, remetendo praticidade e em tamanho maior, com listras vermelhas sugerindo  modernidade.

Outra imagem utilizada foi a dos grãos de café, simbolizando seu aspecto orgânico e puro. Na versão anterior os grãos tomavam conta da 50% da parte frontal em plano de fundo; na versão atual os grãos estão ao lado da xícara em primeiro plano, mas ocupando apenas uma pequena parte da embalagem.

Muitas vezes não sabemos descrever o logotipo das marcas mais conhecidas, mas certamente saberíamos descrever as cores que são utilizadas nas suas identidades visuais, que podemos chamar de cores padrão. Conforme escreveu (Strunck, 2007) a Coca-Cola é vermelha. A Pepsi é azul. A BR é verde amarela. A Shell vermelha e amarela e a Ipiranga azul e amarela. Essas cores estão intrinsecamente relacionadas às empresas que representam, fazem parte de sua personalidade visual, podendo ser reconhecidas a grandes distâncias, antes mesmo que possamos ler seus símbolos ou logotipos.

Nas embalagens de café Melitta também ocorre uma identificação visual nas cores institucionais verde e vermelho. Na ultima versão, houve um destaque maior nessas cores, diminuindo os espaços destinados à imagem dos grãos e foram retirados os desenhos figurativos que estavam em marca d´agua no verde da versão anterior.

É comum nas embalagens o uso de alguns acabamentos gráficos como estratégia para agregar valor. Segundo (Calver, 2009), os designers empregam acabamentos e efeitos como hot stamping, vernizes, laminados, baixo e alto-relevo, corte e vinco com faca ou corte a laser. Todos são utilizados para manipular as percepções dos consumidores ou envolver seus sentidos de modo que a mensagem correta seja transmitida.

O único acabamento especial que aparece nas duas embalagens e no mesmo local é um alto-relevo na marca Melitta, ressaltando a credibilidade, importância e tradição da marca.

Nas duas versões da embalagem de café Melitta, as informações obrigatórias na parte frontal são poucas: o nome do produto, a expressão ¨café torrado e moído¨ e o peso. Na versão atual elas estão mais legíveis, pois receberam mais contorno branco e um aumento no tamanho da fonte.      

Segundo (Santaella, 2002), toda a mensagem indica, refere-se ou se aplica a alguma coisa que está fora da própria mensagem. Sob esse aspecto, as mensagens também podem ser examinadas em três níveis.

É o poder de sugestão dos elementos e nas duas embalagens nós temos a imagem de uma xícara de café saindo fumaça, sugerindo que ele está quente; grãos de café torrado sugerindo a pureza e os aspectos orgânicos do produto; além da marca que, por estar presente a quarenta e quatro anos no Brasil, também sugere sua credibilidade.

A referencialidade é direta, isto é, as mensagens indicam sem ambiguidade, aquilo que elas se referem. Temos como índices os grãos de café que fazem uma representação direta do produto embalado, a xícará de café representando o uso direto do produto e os textos informacionais. Existe na parte de baixo das duas embalagens uma régua que serve para medir a intensidade da torra do café, que no caso do produto em versão tradicional, está identificando, através de uma seta amarela, o nível intermediário (três). Na ultima versão uma régua em degrade marrom foi substituída por cinco xícaras vistas de cima.

Quando as mensagens têm o poder de representar ideias abstratas denominamos como símbolo. Na nova embalagem as barras vermelhas da xícara podem significar muitos valores abstratos por sua disposição, lembram movimento, pirulito, fita para presente e modernidade. A fumaça que sai da xícara também transmite movimento. Na versão antiga, a barra vermelha utilizada para emoldurar as palavras ¨café tradicional¨, e pelo seu formato arredondado transmitiu a sensação de que foi escrita em um pedaço de pergaminho e as marcas d´agua de algumas palavras dentro dela reforçam essa percepção de tradição.

Segundo (Santaella, 2002) nos tipos de efeitos que as mensagens estão aptas a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que elas têm o potencial de despertar nos seus usuários, surgem os três níveis de interpretação das mensagens.

Os aspectos emocionais da embalagem estão representados pela imagem da xícara que é a sensação agradável de tomar um café quente e bem feito, sugerindo a lembrança, muitas vezes, para algum local agradável ou algum ente querido que esteja distante. A embalagem adquire com o tempo, o aspecto histórico que transporta o consumidor para um período que já passou,  causando uma nostalgia em quem visualiza o produto.

Aspecto reativo é quando a interpretação é efetuada através de uma ação. A reação do consumidor à uma embalagem está diretamente ligada a credibilidade e ao tempo de exposição da empresa no mercado e, a ação que se espera é que ele compre ou não um determinado produto. Um aspecto relevante para considerar como forma de provocar esta ação é a  manutenção da integridade visual, preservando suas cores originais e suas características visuais.

Quando há efeitos que têm a natureza do pensamento, isto é, quando a interpretação tem um caráter lógico. A representação visual do produto remete diretamente a usabilidade, e o resultado da preparação do café está explicitado na xícara. A fumaça saindo do café significa logicamente que ele está quente e os grãos ilustrativos explicitam a matéria prima do pó.

A figura 1 apresenta a imagem da nova embalagem de café Melitta e a embalagem substituída, isto é, a utilizada anteriormente pela empresa.

Figura 1: Versão atual e a versão anterior da embalagem de café Melitta

duas versões

Fonte: Acervo pessoal

5. Considerações finais

Para obter êxito no desenvolvimento do design de embalagens, é preciso percorrer várias etapas e diversos métodos e estratégias projetuais. Através das embalagens é possível  aproximar o design de produto ao design gráfico.

Ao analisar semioticamente as embalagens foi possível perceber a importância desta teoria para o desenvolvimento do design, apresentando-se como um ótimo recurso para a obtenção de êxito no mercado, podendo estruturar a linguagem visual da embalagem de forma compatível com a percepção dos consumidores do produto.    

Conforme apontado na análise semiótica da parte frontal da embalagem do café Melitta nas duas versões analisadas, percebeu-se que foi mantida a manutenção de alguns signos os quais consagraram a marca ao longo de sua trajetória para que permanecesse a identificação do produto com o consumidor.

O resultado do redesenho da embalagem foi satisfatório,  as alterações assinaladas ao longo da análise se mostraram de acordo com o mercado atual e os principais aspectos percebidos para essa adequação foram: a troca de xícara maior, mais moderna e sem o pires; a diminuição na quantidade de grãos, a retirada da barra vermelha e das marcas d´agua da embalagem auxiliando para definir uma hierarquia de informações objetiva, deixando as cores institucionais respirarem.

Entretanto, mesmo com as alterações sofridas pela nova roupagem da embalagem, percebeu-se que a embalagem não perdeu a tradição e a identidade visual tradicional do café Melitta, ocasionando até que alguns consumidores mais distraídos não percebessem as mudanças quando passaram pela gôndola do supermercado, reforçando o sucesso no projeto de redesenho da embalagem.     

Referências

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REDIG, Joaquim. Sobre desenho industrial (ou design) e desenho industrial no Brasil. 1 Reimpressão. Porto Alegre: Editora UniRitter, 2005.

RONCARELLI, Sarah. Design de embalagem: 100 fundamentos de projeto e aplicação. 1 Edição. São Paulo: Blucher, 2010.

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SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa. Curso de semiótica Geral. 1 Edição. São Paulo: Quartier Latin, 2007.

STRUNCK, Gilberto Luiz Teixeira Leite. Como criar identidades visuais para marcas de sucesso. 3 Edição. Rio de Janeiro: Rio Books, 2007. 160 p.


1. Mestre em Design/Centro Universitário Ritter dos Reis. Email: ricardosastre@terra.com.br
2. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Email: maximilianocr78@gmail.com


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