Espacios. Vol. 37 (Nº 05) Año 2016. Pág. 2

Avaliação dos impactos da aplicação de gestão dos estoques em uma indústria metal mecânica: um estudo de caso no Brasil

Management application of impact assessment of stocks in an industry mechanical metal: a case study in Brazil

Diego da Rocha SILVA 1; Felipe Morais MENEZES 2; Matheus Furlan da SILVA 3; Fabiano de Lima NUNES 4

Recibido: 02/10/15 • Aprobado: 12/11/2015


Contenido

1. Introdução

2. Fundamentação teórica

3. Metodologia de pesquisa

4. Análise crítica e simulação dos estoques

5. Considerações finais

Referências


RESUMO:

Em um mercado globalizado, as empresas que quiserem se manter atualizadas e obtendo lucros, impreterivelmente necessitam estar atentas às oscilações da demanda e constante redução de custos, fatores estes que estão diretamente ligados à gestão de estoques. Dentro deste contexto, objetivo deste estudo é evidenciar e avaliar os impactos da gestão de estoques no que tange o seu dimensionamento. Para a realização do estudo foi utilizada uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, bem como quantitativa através de um estudo de caso. A partir das análises realizadas em uma montadora do ramo metal mecânico, ficou evidenciada a importância da gestão de estoques de matéria-prima nesse segmento, uma vez que o mix é bastante diversificado e o risco de obsolescência por tempo parado no estoque é elevado. O resultado desta pesquisa demonstra que melhorias na gestão dos estoques podem proporcionar resultados à empresa, inclusive sendo sugerida a implantação do método de revisão contínua como forma de revisão dos seus estoques de matéria prima.
Palavras-chave: Gestão de Estoques. Dimensionamento de Estoques. Indústria Metal mecânica.

ABSTRACT:

In a globalized market, companies that want to stay updated and getting profits, imperatively need to be alert to changes in demand and constant cost reduction, factors that are directly linked to inventory management. Within this context, purpose of this study is to demonstrate and evaluate the impact of inventory management regarding its design. For the study we used a descriptive, qualitative approach and quantitative through a case study. From the analyzes carried out in an assembler of metal mechanical industry, the authors emphasize the importance of inventory management of raw material in this segment, since the mix is diversified and the risk of obsolescence for downtime in stock is high. The result of this research shows that improvements in inventory management can provide results to the company, including being suggested the implementation of continuous review method as a way to review their inventories of raw materials.
Keywords: Inventory Management. Stocks sizing. Metal industry.

1. Introdução

O avanço da globalização acirra a cada dia a competitividade entre as empresas, onde políticas governamentais, avanços tecnológicos, oscilações de mercado, produtos com ciclos de vida menores, tendências de customização em grande escala, exigem das manufaturas estratégias para reduzir estes impactos, que refletem diretamente nos estoques.

Este estudo apresenta uma análise reflexiva deste nicho de mercado que vem crescendo, em seu decorrer será possível evidenciar e avaliar os impactos da gestão dos estoques no que tange a definição do seu dimensionamento, bem como os pontos de ressuprimento.

Diante de um tema com uma gama de fatores variáveis e por vezes intangíveis, tais como: a economia, políticas governamentais, estratégias de marketing, tendências de mercado, dentro muitos outros fatores que influenciam diretamente no dimensionamento de estoques, surge a questão-problemas desta pesquisa: quais são os impactos que a gestão de estoques pode proporcionar no controle da matéria prima de uma indústria do ramo metal mecânico?   Visando responder a problemática apresentada, o objetivo deste estudo é avaliar os impactos da gestão do estoque de matéria prima no que tange o seu dimensionamento.

Este artigo está dividido em cinco capítulos, o primeiro refere-se a introdução, o segundo trata da fundamentação teórica, na qual aborda os temas de Gestão de Estoques e Métodos de revisão de Estoques. O terceiro capítulo aborda a metodologia aplicada, o quarto apresenta o Estudo de Caso e o quinto e último capítulo apresenta as considerações finais desta pesquisa.

2. Fundamentação teórica

2.1. Gestão de Estoques

Conforme a definição de Castiglioni (2007) toda a diferença entre a aquisição e a demanda momentânea será considerado estoque, uma vez que estes bens ou materiais serão acumulados para suprir eventual demanda futura. Sendo assim, a gestão dos estoques passa a ter papel fundamental dentro das organizações, uma vez que este acúmulo de materiais abrange desde a parte financeira e estratégica da empresa até o posicionamento da empresa quanto ao nível de serviço que a mesma pretende junto aos clientes.

Mas se por um lado, atender ao cliente na quantidade e no prazo por ele exigido pode representar o acúmulo de estoques, por outro lado, atender ao nível de exigência do mercado, pode acarretar em acúmulos de materiais estocados, política da empresa de manter estoques ou não, da parte financeira, eles necessitam de uma administração minuciosa, uma vez que segundo Arnold (2012) os estoques podem representar de 20% à 60% dos ativos totais da organização e estão diretamente ligados ao fluxo de caixa da empresa, fatores que vem atrelados a investimentos de capital de giro da organização.

Banzato et al. (2003) alertam para a importância da relação custo versus benefício, pois manter estoques trata-se de uma decisão tanto tática quanto estratégica. Tamanha é a importância desta decisão, pois além de atender a necessidade do cliente, o estoque precisa garantir uma eventual falta de componente, a sazonalidade da demanda, bem como proporcionar economias para compras em lotes maiores.

Sendo assim, os administradores são submetidos a uma situação contraditória que exige extrema atenção uma vez que, de um lado existem os interesses da empresa em crescer no mercado o qual esta inserida, só que para isso é preciso estar preparada para as necessidades de cada cliente, que seguindo a globalização também necessitam comprar cada vez em menores quantidades e com uma grande diversificação de produtos, em contrapartida, é preciso atentar-se aos níveis de investimentos de capital de giro investidos em insumos.

Por este motivo, a administração de materiais tem se tornado um termo comum entre as empresas, pois segundo Gonçalves (2010), com o objetivo de aperfeiçoar a utilização tanto de recursos financeiros como operacionais nas empresas, a administração de materiais tem o papel do conciliar estes interesses.

Pozo (2010) relata que a administração dos estoques tem por objetivo não deixar faltar material no processo de fabricação, mas por outro lado deve evitar a alta imobilização dos recursos financeiros, embora isso pareça contraditório. Gonçalves (2010) também ressalta que a redução do lead time de entrega, ou tempo de ressuprimento é primordial para os níveis de estoques, uma vez que com um prazo de entrega de materiais mais curto, é possível reduzir custos operacionais com estoques como movimentação, transporte interno, espaço para armazenagem, bem como a redução de capital investido, podendo refletir no aumento da margem de lucro da empresa.

Segundo Ballou (2006) os críticos consideram os estoques um desperdício, uma vez que absorvem um percentual do capital que poderia ser utilizado para incrementar a produtividade e a competitividade da empresa.

Além desta imobilização do capital de giro da empresa, um alto investimento em estoques pode acarretar no aumento do custo da manutenção deste estoque, que Pozo (2010) cita que altos volumes de estoques representam maiores espaços físicos para alocação, aumento dos níveis de controles, aumento de equipamentos e demasiada movimentação de material, maior o número de pessoas alocadas a esta área, bem como os custos associados aos impostos. O mesmo autor também comenta que altos volumes de estoques estão sujeitos a perdas, roubos e maior risco obsolescência por tempo parado, aumentando ainda mais o custo de estocagem. Porém, mesmo com um planejamento para se minimizar os custos com estoques, é muito comum as empresas optarem por manter um determinado volume de estoque assegurando-se contra eventuais oscilações da demanda.

Seguindo esta lógica, Peinado e Graeml (2007) comenta que para garantir que o cliente não deixe de ser atendido, muitas empresas optam por manter uma determinada quantidade de estoques, para precaverem-se das diferenças entre o planejamento e a execução, devido a imprevisibilidade e a incerteza em relação ao resultado do planejamento.

No entanto, Bertaglia (2009) afirma que para que se evitem estoques elevados é fundamental que o balanceamento entre a demanda real e o consumo com a produção estejam alinhados, assim como as políticas de compras, como: quanto e quando comprar, fatores estes que podem interferir diretamente nos resultados estratégicos da empresa.

2.2. Estoque de segurança

É sabido que no dia a dia das organizações o comportamento das variáveis é imprevisível, além da oscilação da demanda, ainda tense os prazos de entregas não cumpridos por fornecedores e quantidades divergentes do comprometido para o reabastecimento, faz com que se torne necessário a existência de um estoque de segurança (BERTAGLIA, 2009).

Na mesma linha de raciocínio, Arnold (2012) diz que o estoque de segurança, ou estoque de flutuação serve para proteger a empresa de situações imprevisíveis do suprimento, do lead time ou da demanda. O autor ainda salienta, que seu objetivo é prevenir interrupções na produção ou comprometimento do atendimento aos clientes. A Figura 1 ilustra as situações que levam as empresas manterem o estoque de segurança.

Figura 1 – Estoque de segurança
Fonte: Bertaglia (2009)

Para Gonçalves (2010) a partir do ponto de pedido o estoque entra em uma fase crítica, uma vez que fica dependente de dois fatores básicos: o comportamento da demanda e oscilações no tempo de reposição. Dentre outros fatores, o estoque de segurança esta relacionado a variabilidade da demanda em torno da média, sendo assim é necessário a utilização de um método que estime e descreva o padrão de distribuição da demanda em torno da média, quanto a sua forma, seu centro e sua dispersão (ARNOLD, 2012). Conforme a Figura 2, o formato de histograma, representa que embora ocorram variações ela segue um padrão definido.

Figura 2 – Curva de distribuição normal
Fonte: Gonçalves (2010)

A curva da distribuição normal ou curva de Gauss tem por objetivo entender como uma parcela de valores se concentra em torno de um valor médio. Além disso, esse dado irá depender de um parâmetro denominado desvio-padrão, sendo que, quanto mais próximos da média estiverem os dados, menor será o desvio-padrão (GONÇALVES, 2010).

Além das características já citadas, a curva de distribuição normal segundo Arnold (2012), apresenta as características de relacionar a tendência central ou média, e a outra a variação ou dispersão dos valores reais em torno da média.

Em contrapartida, Gonçalves (2010), alerta para a importância da análise da demanda em situações que ela for superior à média para determinação do estoque de segurança, pois, quando a mesma for inferior à demanda média de consumo não haverá necessidade do estoque de segurança. Nesta análise, deve ser levando em conta qual o nível máximo de demanda que a empresa estará disposta a atender, ou seja, definir um nível de serviço a ser atendido.

Nesta mesma linha de raciocínio, Peinado e Graeml (2007) comentam que os estoques de segurança representam custo, porém causam um dilema aos seus administradores, pois este deve ser suficiente para atender ao nível de serviço exigido. O mesmo autor comenta que o estoque de segurança, levando em consideração o tempo de ressuprimento e o nível de serviço, pode ser calculado a partir da seguinte equação:

Na Figura 3, fica evidenciado graficamente que o nível de serviço está atrelado ao volume de estoque a ser mantido.

Figura 3 - Nível de serviço versus número de desvios padrão
Fonte: Peinado e Graeml (2007)

Segundo Peinado e Graeml (2007), o valor Z varia em função do nível de serviço que se deseja atingir, ou seja, se o nível de serviço for 98% significa que existe 98% de probabilidade de não faltar material.

Para Pozo (2010), o nível de serviço tem por objetivo, definir um percentual de grau de atendimento em relação a data de entrega, mantendo estoques que para atender à qualquer solicitação. O estoque de segurança, ou estoque "pulmão", deve levar em consideração o "grau de serviço", ou o nível de atendimento junto ao cliente que a organização deseja manter, através da avaliação da parcela de demanda total que efetivamente foi satisfeita ou atendida (GONÇALVES, 2010).

Ratificando isso, Fawcett et al.(2007 apud FAWCETT; WALLER; FAWCETT, 2014) salientam a importância de se garantir o atendimento ao cliente evitando faltas em estoques, porém sem elevar os custos. Pois os clientes não cedem em suas exigências de um elevado nível de serviço, alinhado à uma resposta rápida.

Métodos de análise, revisão e dimensionamento

Deste modo, a literatura apresenta dois métodos que auxiliam na revisão e dimensionamento dos estoques: método de revisão contínua e método de revisão periódica.

Métodos de revisão periódica

A partir da definição dos níveis de serviço, e o volume de estoque de segurança a ser mantido é possível aplicar os métodos de análise, revisão e dimensionamento dos estoques, este primeiro subcapítulo trata do método de revisão periódica.

 Segundo Peinado e Graeml (2007), o método de revisão periódica consiste em avaliações das quantidades de estoque em períodos fixados, e os pedidos variam de acordo com a quantidade remanescente

Este sistema também chamado de sistema "P" necessita de duas decisões básicas para que possa ser posto em prática: a primeira delas é definir e fixar os períodos em que das revisões. A segunda decisão diz respeito ao volume máximo de estoque que a empresa deseja manter (GONÇALVES, 2010).

Como é possível perceber na Figura 4, Bertaglia (2009) cita que é possível que tenham faltas de componentes em estoques, pois é possível que ocorram variações na demanda, consumindo o material antes do período estimado. Por isso é preciso que se tenha cuidado na utilização deste método.

Figura 4 - Sistema de revisão periódica
Fonte: Peinado e Graeml (2007)

Quanto ao período de intervalo entre as revisões, Bertaglia (2009) diz que este pode variar de acordo com a classificação de cada item, ou seja, avaliações mais frequentes em itens que possuem maior custo, já os seus níveis de estoques tendem a ser menores. Em contrapartida, itens mais baratos podem ser revisados em períodos mais longos.

Como todo e qualquer sistema este possui vantagens e desvantagens que devem ser analisadas de acordo com a política de cada organização. Peinado e Graeml (2007) salientam que uma grande vantagem deste método é o fato de permitir agrupar a compra de itens por famílias em um único dia. Porém, a mesma obra cita que este sistema exige um estoque de segurança maior, e não comtempla a utilização do lote econômico, sendo estas duas desvantagens deste método.

Há também outras vantagens deste sistema:

Ganho de economias operacionais, pois permite que as entregas e recebimentos ocorram de maneira fixa;

Possibilita a aquisição de vários itens que forem do mesmo fornecedor no mesmo pedido, o que representa redução de custos com emissão de pedidos, custos com transporte e otimização do recebimento em lotes.

Este sistema permite que as entregas sejam aplicadas de maneira semanas, o que se encaixa na industria de alimentos perecíveis por exemplo (GONÇALVES, 2010).

Métodos de revisão contínua

Por outro lado, este subcapítulo apresenta o método de revisão contínua, que abrange conceitos diferentes do método de dimensionamento e revisão apresentado no subcapítulo anterior.

Conforme Gonçalves (2010) este sistema também é chamado de sistema de quantidade fixa ou sistema "Q". Neste método de controle, o nível de estoque é quem determina a necessidade de reposição, sempre que um nível pré-estabelecido for atingido. Na figura 5, é possível observar a funcionalidade deste método.

Figura 5 - Sistema de revisão contínua
Fonte: Peinado e Graeml (2007)

Na figura 5, é possível observar que a cada dez dias um novo pedido é realizado, porém esta quantidade sofre variações levando em conta a quantidade remanescente no estoque (PEINADO; GRAEML, 2007).

Este método apresenta algumas vantagens, tais como:

O estoque de segurança será menor e consequentemente terá um custo menor, uma vez que o ciclo de proteção será menor.

Este sistema individualiza a avaliação dos itens estocados, pois sua reposição dependerá exclusivamente da variação da demanda (GONLÇAVES, 2010).

Independentemente do método de revisão de estoques escolhido a ser aplicado, o nível de estoque de segurança necessita de uma avaliação minuciosa, pois segundo Peinado e Graeml (2007), os estoques de segurança funcionam como uma proteção caso ocorram atrasos na entrega, ou a demanda for superior ao previsto. Eles também têm a finalidade de garantir que o nível de atendimento estabelecido aos clientes, ocorra sem prejuízos.

3. Metodologia de pesquisa

A metodologia aplicada neste artigo apresenta uma pesquisa aplicada e uma pesquisa descritiva. Os procedimentos e meios abordados neste estudo serão uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, bem como um Estudo de Caso sobre a situação atual do controle de estoque da empresa.

Quanto à abordagem do problema este estudo apresenta uma abordagem qualitativa, bem como quantitativa. Em sua obra, Prodanov e Freitas (2013) comenta que estes dois tipos estão interligados e completam-se. A unidade de análise deste artigo é o estoque de matéria prima de uma montadora do ramo metal mecânico situada na região metropolitana de Porto Alegre. Já a coleta de dados, ocorre através de observações diretas no local, bem como através de analises documentais, tanto no sistema de gestão como em outros arquivos da empresa.

4. Análise crítica e simulação dos estoques.

Para realização deste estudo, devido à empresa pesquisada possuir uma gama elevada de itens foram escolhidos oito itens que se entende que representam os demais, para manter a segurança dos dados eles foram renomeados. A escolha dos estudados levou em consideração alguns quesitos:

  1. Criticidade do item – essa criticidade foi determinada a partir de fatores como: grau de risco de falta, disponibilidade de mercado, único fornecedor de mercado, grau da dificuldade de reposição. Neste quesito se enquadram os itens X, Y e Z;
  2. Grau de rotatividade do item – neste quesito foi levado em consideração o histórico de consumo do item nos últimos 12 meses, sendo assim, os oito itens escolhidos possuem uma rotatividade bastante diversificada;
  3. Custo do item – os itens determinados para este estudo podem ser classificados em três grupos de acordo com o custo que representam, sendo eles: X, Y e Z, os representantes de itens com maior custo. Já os itens A, B e C são itens com custo de menor expressão. E os itens G e F representam os itens com custo de nível intermediário;
  4. Lead time de entrega – foram escolhidos itens com prazos de entregas diversos, até para que se possa exemplificar a importância deste quesito na determinação do volume de estoque;
  5. Itens com histórico de faltas – neste quesito enquadraram-se os itens G e F, que são itens com um histórico de consumo inferior aos demais, entretanto conforme observado durante o estudo de caso, são itens que apresentam a maior incidência de faltas quando necessário.

4.1. Histórico e simulações dos itens analisados

Na elaboração do estudo, foram coletados o histórico de consumo dos itens em um período de setembro de 2013 a setembro de 2014. O Quadro 1 apresenta os dados coletados.

Quadro 1 – Histórico de consumo dos itens de SET/13 a SET /14.

Conforme apresentado no Quadro 1, há uma grande variação no consumo dos itens durante o período analisado. Alguns itens apresentam um lead time superior a 15 dias que é o prazo médio de entrega dos produtos montados na empresa.

Na Figura 6, é possível observar graficamente a variação da demanda dos itens X e F. É possível observar que enquanto o item X apresenta uma sinuosidade elevada na sua variação, o item F mantém uma estabilidade maior, chegando a não apresentar consumo em alguns períodos.

Figura 6 – Variação do consumo dos itens de SET/13 a SET /14

A partir desta analise das oscilações na demanda, é possível correlacionar com a teoria já apresentada e perceber a importância da manutenção dos estoques de segurança, que devem levar em consideração o tempo de entrega e as variações da demanda.

Ratificando isso, Arnold (2012) diz que o estoque de segurança, ou estoque de flutuação serve para proteger a empresa de situações imprevisíveis do suprimento, do lead time ou da demanda. O autor ainda salienta, que seu objetivo é prevenir interrupções na produção ou comprometimento do atendimento aos clientes.

Seguindo esta linha de raciocínio é possível sugerir a empresa que calcule seus estoques de segurança a partir da equação (1) que já foi apresentada anteriormente, levando em consideração o nível de serviço, o desvio padrão, a média de consumo, bem como o lead time de entrega de cada item.

Para calcular o estoque de segurança entre conforme a equação (1), foram calculados os dados necessários para a aplicação da equação, conforme ilustra o Quadro 2.

Quadro 2 – Cálculos dos itens

A média apresentada no Quadro 2 representa o consumo médio dos itens estudados, entre setembro de 2013 a setembro de 2014. Na mesma ainda são apresentados níveis de serviço diferentes para os itens, estes foram simulados, baseados no grau de exigência de cada item. Ainda é possível perceber que o lead time de entrega é bastante diversificado entre os itens.  A exigência do mercado em que a empresa esta inserida, faz com que a mesma trabalhe com um nível de serviço de 99% para itens com elevado grau de criticidade, porém outros itens são passiveis de um nível de serviço inferior.

Conforme, Peinado e Graeml (2007) comentam que os estoques de segurança representam custo, porém causam um dilema aos seus administradores, pois este deve ser suficiente para atender ao nível de serviço exigido.

A partir da equação (1) apresentada, bem como das considerações em relação ao nível de serviço, foi desenvolvido o Quadro 3, que apresenta uma simulação dos níveis de serviço dos itens, o estoque de segurança calculado para cada um, bem como estoque médio (projetado) que leva em consideração o estoque de segurança mais a metade do lote mínimo de compra para cada item.

Quadro 3 – Estoque médio (projetado) versus Estoque Atual.

Tomando como base o item "X" na Figura 7, é possível observar que a partir do seu nível de serviço estimado, chegou-se a um estoque de segurança de 1.254, somando a este resultado a metade do lote mínimo para de compra, obtém-se o valor do estoque médio (projetado) para o item que é 1.304, valor superior ao estoque atual da empresa.

Para facilitar o entendimento evidenciado entre o estoque projetado versus o estoque atual, a Figura 8 representa graficamente o estoque médio (projetado) e atual dos itens X e F.

Figura 7 – Estoque médio (projetado) x Estoque Atual.

Na Figura 7, é possível perceber que no item "X" o estoque projetado ficou mais elevado do que o estoque atual da empresa, significando que este item corre o risco de ficar desabastecido. Já no item "F" o estoque projetado ficou mais baixo em relação ao estoque atual, sendo assim, há um investimento de capital de giro desnecessário no item. Pozo (2010) relata que a administração dos estoques tem por objetivo não deixar faltar material no processo de fabricação, mas por outro lado deve evitar a alta imobilização dos recursos financeiros, embora isso pareça contraditório.

Baseando-se neste gráfico (Figura 7) comparativo é possível sugerir uma avaliação do estoque de matéria prima, pois, é notório que há investimentos de capital de giro desnecessários e por outro lado falta de investimento em itens que seria necessário.

Na mesma linha de raciocínio é sugerido à empresa a aplicação do método de revisão contínua dos estoques, pois correlacionando a teoria com os dados evidenciados durante a pesquisa do estudo de caso este método mais se encaixa na situação atual.

Neste método de controle, o nível de estoque é quem determina a necessidade de reposição, sempre que um nível pré-estabelecido for atingido (GONÇALVES, 2010).

Outras características importantes deste método segundo o mesmo autor, é que o mesmo apresentará um estoque de segurança menor e consequentemente terá um custo menor, uma vez que o ciclo de proteção será menor. E este sistema individualiza a avaliação dos itens estocados, pois sua reposição dependerá exclusivamente da variação da demanda.

5. Considerações finais

Este artigo teve como objetivo geral, avaliar os impactos da gestão do estoque de matéria-prima no que tange o seu dimensionamento, uma vez que apresentou uma correlação entre a teoria a pratica na empresa estudada, através de simulações de resultados a partir da aplicação de métodos e equações propostos pela literatura.

Foram apresentados métodos de dimensionamento de estoques, através de uma revisão bibliográfica dos métodos de revisão contínua, ou método "Q", e o método de revisão periódica, também chamado de método "P".

A partir da análise consumo de alguns itens do estoque da empresa estudada, foram simulados os impactos que o dimensionamento dos estoques pode proporcionar a sua gestão, bem como possibilitou a aplicação prática dos dados coletados com os conceitos propostos na literatura pesquisada.

Analisando os resultados obtidos, é possível concluir que no item "X" há um déficit de investimento de 56% em relação ao estoque projetado para atender ao nível de serviço proposto pela empresa. Já no item "Y" é possível observar que há um investimento de 600% acima do estoque projetado para o item.

Para pesquisas futuras, os autores sugerem que sejam abordadas questões pertinentes à previsão de venda/demanda, pois se trata de uma variável que atinge diretamente o nível de estoque a ser mantido. 

Referências

ARNOLD, J. R. T. Administração de materiais: uma introdução. São Paulo, SP: Atlas, 2012.

BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. 5.ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2006.

BANZATO, E. et al. Atualidades em armazenagem. 1. ed. São Paulo, SP: IMAM, 2003.

BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. 2.ed.ver. e atual. São Paulo, SP: Saraiva, 2009.

CASTIGLIONI, J.M. Logística operacional. São Paulo: Érica, 2007.

FAWCETT, S. E.; WALLER, M. A.; FAWCETT, A.M. Elaborating a dynamic systems theory to understand collaborative inventory successes and failures. The International Journal of Logistics Management, v. 21, n.3, p. 510 – 537. 2014.

GONÇALVES, P. S. Administração de materiais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

PEINADO, J.; GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de serviços. Curitiba, PR: UnicenP, 2007.

POZO, H. Administração de recursos materiais e patrimoniais. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2010.

PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2013.

1.Graduado no Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Produção Industrial do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil.E-mail: diego@brapax.com.br;
2. Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas e Professor da do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil. E-mail: felipemenezes@feevale.br
3. Graduado no Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Produção Industrial do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil.E-mail: matheus@opperatio.com.br
4. Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas e Professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Feevale, Novo Hamburgo, Brasil. E-mail: fabianonunes@feevale.br



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