Espacios. Vol. 36 (Nº 21) Año 2015. Pág. 12

Agronegocio brasileiro: constructos que delineiam as competências dos pecuaristas estabelecidos na região sudeste do Estado do Pará, Brasil

Brazilian agribusiness: constructs that outline the skills of the ranchers established in the southeast region of the State of Pará, Brazil

Fábia Maria de SOUZA 1, Hélio Raymundo FERREIRA FILHO 2, Norma Ely Santos BELTRÃO 3, Hebe Morganne Campos RIBEIRO 4, Rubens Cardoso DA SILVA 5, Aline de Oliveira FERREIRA 6

Recibido: 07/07/15 • Aprobado: 13/08/2015


Contenido

1. Introdução

2. O Agronegócio

3. Método da pesquisa

4. Análise e Discussão dos Dados

5. Conclusão

Referências


RESUMO:

Esta pesquisa objetivou identificar os construtos que contribuem para o desenvolvimento das competências dos pecuaristas do Sudeste do Pará, considerando que o Brasil tem sua economia ligada as atividades do agronegócio e detém o maior rebanho de corte do mundo. O Estado do Pará possui o quarto rebanho no país, com mais de 20 milhões de cabeças de gado. Apesar da importância do setor para a economia local, as empresas sentem a falta de profissionais com as competências adequadas para melhorar a competitividade do negócio. Assim, dentro de uma abordagem quantitativa através de uma pesquisa Survey, foi adaptado um instrumento de avaliação, a SERVQUAL, para coletar os dados, que foram analisados com o uso do software MS Excel. Os resultados apontam a existência de transferências tecnológicas dentro do setor investigado, mas restritas aos processos de produção e criação do gado, visando a otimização do processo e garantia de bons resultados, porém o uso de novas tecnologias é visto com muitas reservas e restrições.
Palavras-chave: Agronegócio. Pecuarista. Constructos. Competência.

ABSTRACT:

This research aimed to identify the constructs that contribute to the development of the skills of Pará Southeast ranchers, considering that Brazil has its economy closely linked to the activities of agribusiness and holds the world's largest cutting herd. The State of Pará has the fourth herd in the country, with more than 20 million head of cattle. Despite the importance of the sector to the local economy, companies feel the lack of professionals with the right skills to improve business competitiveness. Thus, within a quantitative approach through a Survey research was adapted an evaluation instrument, SERVQUAL, to collect the data, which were analyzed using MS Excel software. The results show the existence of technology transfer within the sector investigated, but restricted to production processes and creation of cattle, aiming at process optimization and guarantee good results, but the use of new technologies is seen with many reservations and restrictions.
Keywords: Agrobusiness, Ranchers, Constructs, Competence.

1. Introdução

O desenvolvimento e o desempenho do Sistema Agroindustrial são fundamentais para o crescimento da economia brasileira e, também por significativas mudanças econômicas e sociais ocorridas em algumas regiões do país, em particular o Sudeste do Estado do Pará. Esta participação tem feito aumentar a competição, e a busca por mais competividade tem levado as empresas que disputam o setor do agronegócio a trabalharem e tratarem o fator humano como sendo primordial para melhor se prepararem e compreenderem a dinâmica que caracteriza as novas oportunidades que surgem nos mercados, interno e externo, que requer profissionais mais qualificados para identificar as ameaças e riscos advindos da globalização dos mercados.

Este último fenômeno trouxe, além de novos consumidores potenciais, novos competidores estrangeiros, fazendo com que a busca por recursos humanos qualificados e a utilização de novas tecnologias sejam desafios para os atores que atuam para manter ou aumentar suas fatias de mercado neste segmento, o qual se mostra com excelentes perspectivas de crescimento.

Para compreender e movimentar-se por esta complexidade é necessário que a organização detenha o conhecimento, dispondo de profissionais habilitados em seus quadros, visto que a concorrência depende, em grande parte da competência do indivíduo, a qual Foschi (2000) se refere à "capacidade de fazer bem uma tarefa considerada valiosa".

Assim, a competência do indivíduo pode variar entre a habilidade necessária para resolver um complexo quebra-cabeças matemático, tanto como as habilidades necessárias para ocupar uma posição profissional. De tal modo, que lhe dará mais subsídios para fazer avaliação e conhecer percepções das pessoas, inibindo julgamentos errôneos, melhorando suas interações, assim como, auxiliando na distribuição de oportunidades para novas realizações entre outros profissionais ou colaboradores.

Essas alusões à competência independem da área de atuação, exigem apenas que ajustem e/ou agreguem mais constructos (habilidades ou elementos) inerentes a sua atividade profissional. Especificamente, neste trabalho o foco será uma categoria laboral que constitui um importante segmento da cadeia do agronegócio brasileiro: os pecuaristas.

O contexto onde se analisam as competências do pecuarista é o agronegócio, um importante setor econômico do país e uma das principais atividades econômicas do estado do Pará que, segundo a ADEPARÁ (2013), possui mais de 20 milhões de cabeças de gado. Desta forma, o objetivo desta pesquisa foi conhecer as habilidades que caracterizam os pecuaristas do Sudeste do estado do Pará. Diante disto, buscou-se analisar este contexto aplicando uma abordagem quantitativa para mensurar as atividades dos pecuaristas, a qual contou com um levantamento (survey) exploratório.

2. O Agronegócio

A complexidade que envolve o sistema agroindustrial se delineia, principalmente, pelo inter-relacionamento das atividades dos processos da cadeia produtiva, que no segmento agroindustrial, segundo Batalha e Silva (2007) pode ser composta por seis conjuntos de atores: 1) agricultura, pecuária e pesca; 2) indústrias agroalimentares; 3) distribuição agrícola e alimentar; 4) comércio internacional; 5) consumidor; 6) indústria e serviços de apoio.

Batalha et al.(2005) organizam a cadeia da produção na agroindústria de jusante a montante, em três macros segmentos que podem ser analisados genericamente, em: 1) Produção de Matéria Prima (constituídas por firmas que fornecem as matérias primas iniciais para que as outras empresas avancem no processo de produção na busca do produto final); 2) Industrialização (firmas responsáveis pela transformação da matéria prima) e; 3) Comercialização (constituídas por pequenas empresas que estão em contato com o cliente final da cadeia de Produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais).

Por outro lado, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e a ESALQ/USP, consideram que quatro segmentos colaboram para a formação do PIB do agronegócio brasileiro. Segundo essas organizações, agronegócio é entendido como sendo a:

"soma de quatro segmentos: (a) insumos para a agropecuária, (b) produção agropecuária básica ou, como também é chamada, primária ou "dentro da porteira", (c) agroindústria (processamento) e (d) distribuição. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o setor agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal)" (CEPEA, 2013).

Convém registrar que o cálculo do PIB do agronegócio, publicado nos Relatório PIB Agro Brasil (CEPEA, 2013), é elaborado sob a ótica do valor adicionado a preços de mercado, considerando tanto o crescimento do volume produzido como dos preços, já descontada a inflação no período vigente. Assim, ao serem somados com as devidas ponderações, obtém-se o PIB do agronegócio, o que oportuniza a análise do seu valor. Porém, a metodologia de cálculo de PIB não é o foco dessa pesquisa, que tem por objeto apenas registrar a existência desses indicadores para a base de cálculo, o que poderá convergir ou aproximar com os dados do IBGE (2015).

A agroindústria faz parte do agronegócio e segundo Braun et al. (2012) é o setor que começa pelo processo que "transforma ou processa matérias-primas agropecuárias e agrícolas em produtos elaborados, agregando valor ao produto. Juntamente com o setor de distribuição da produção para o consumidor final, constitui a chamada jusante do agronegócio. Batalha et al. (2005) demonstraram que há alguns anos o agronegócio tem despontado como um dos setores mais importantes da economia brasileira, tanto pela renda gerada como pela geração de empregos.

É importante ter claro que as atividades de cada cadeia produtiva da agroindústria não são estanques entre si, geralmente estão ligadas por uma recíproca dependência, em virtude de possuírem as mesmas finalidades e passaram de um setor afastado para parte integrante do conjunto maior das atividades que constituem o agronegócio. Esta junção gerou uma fonte de sinergias dentro do sistema, tornando-se um ponto estratégico para a diversificação das firmas envolvidas.

Batalha et al. (2005) e Rinaldi (2007) identificaram o surgimento deste novo ambiente, o qual exige das empresas uma capacidade de adaptação rápida e o desenvolvimento de novas habilidades e atitudes. E atualmente, segundo Bichuetti (2011), os indivíduos são os ativos intangíveis mais importantes nas organizações: os portadores do conhecimento, a fonte da vantagem competitiva, e os propulsores que movem e dão vida às organizações.

2.1. Agronegócio Brasileiro

O agronegócio tem uma participação expressiva na formação do Produto Interno Bruto do Brasil. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA, 2015), apontam que o setor encerrou o ano de 2014, com crescimento acumulado de 1,59%, gerando uma renda de R$ 1,178 trilhão, sendo R$ 800, 57 bilhões (68%), referentes ao ramo agrícola e R$ 378,30 bilhões, ao pecuário (a preços de 2014).

O mesmo relatório registra ainda que: o desempenho positivo do agronegócio é explicado pelo ramo pecuário que teve crescimentos mensais sucessivos ao longo de 2014, tendo nesse período a renda da pecuária acumulado uma expansão de 6,9%, em relação ao 2013. Por outro lado, o ramo agrícola terminou o ano apresentando queda de 0,75% no acumulado do mesmo período.

As exportações de produtos do agronegócio atingiram US$ 96,75 bilhões em 2014, queda de 3,2% em comparação com o volume recorde de aproximadamente US$ 100 bilhões de 2013. No mesmo período as importações do agronegócio foram de US$ 16,61 bilhões, gerando um superávit de US$ 80,13 bilhões para o Brasil (IBGE, 2015).

No mercado externo, as exportações brasileiras de carne situaram-se em U$ 7,2 bilhões, crescimento de 7,5% sobre 2013, tendo a quantidade exportada passado de 1.512 milhão para 1.565 milhão de toneladas, aumento de 3,5% sobre a quantidade exportada em 2013 (ABIEC, 2015).

O Brasil sempre teve sua economia ligada a algum tipo de atividade do agronegócio. Analisando-se os estudos de Batalha (2005 e 2009), e Rinaldi (2007), numa visão econômica e sob um prisma mais atual, observam-se três grandes fases brasileiras que contextualizam sua agroindústria e, consequentemente, o agronegócio:

  1. Sistema de produção agrícola tradicional, muito complexo e quase fechado, que perpetuou até meados século XX. Esse sistema tinha dois modelos:
    • Sistema de subsistência: caracterizado por pequenas propriedades, sem qualquer divisão de tarefas ou trabalho. Produziam geralmente gêneros de primeira necessidade.
    • Sistema Plantation: caracterizado por ciclos econômicos, em diferentes épocas e regiões, onde predominavam a monocultura, em torno da qual tinham o desenvolvimento e/ou a decadência das regiões.
  2. Sistema de produção em processo, constituindo a cadeia agroindustrial: início da industrialização no país e impulsionadas pelas mudanças do pós Segunda Guerra mundial, intensificou o êxodo rural, a migração para as cidades, transformando-as em polos dinâmicos das transações entre produtores e compradores; agricultores e fornecedores. Começa a terceirização de algumas atividades, principalmente, as atividades depois da porteira (processamento, comercialização, distribuição e transporte dos produtos fora das fazendas).
  3. Sistema de Integração Crescente do Sistema Agroindustrial (produção de insumo ao consumidor): impulsionado pela Revolução Verde (pesquisa em prol do melhoramento da produção agrícola, melhorias genéticas de sementes, fertilizantes, defensivos, rações e vacinas mais eficazes, máquinas e implementos com tecnologias de ponta, entre outros). Enfim, a especialização de todas as atividades do Sistema Agroindustrial.

Mesmo diante de todas as mudanças na economia mundial, o Brasil continua sendo uma potência nos setores agropecuário e agrícola, fortalecendo o dinâmico agronegócio brasileiro. A competitividade é cada vem mais latente e, segundo Belik; Paulillo e Vian (2012), mesmo dadas as mudanças promovidas pelo capital globalizado em que fronteiras físicas e distâncias perderam força, a fragmentação do Estado e seu poder, somados à complexidade que envolve a sociedade civil, observou-se um processo de transição lenta da regulação estatal para a auto regulação da agroindústria brasileira. Tem-se portanto, uma nova construção social, com fortes intervenções de governanças, agora via mercado, embora as partes permaneçam independentes. No entanto, o Estado ainda tem peso importante no jogo de interesses dos conselhos de negociação dos complexos agroindustriais no Brasil.

O Brasil possui um sistema de agronegócios rico, porém extremamente frágil, devido à dependência dos mercados externos. Existe uma continua preocupação com essa dependência, uma vez que é a base de sustentação dos preços agrícolas, tanto do mercado doméstico como nas provisões de fertilizantes, agroquímicos e produtos veterinários.

Outro ponto delicado é a logística que, segundo Lopes et al (2010), "está no topo da agenda de investimentos altamente prioritários no País, para a agricultura continuar crescendo" e é, definitivamente, imprescindível para enfrentar os problemas de infraestrutura: estradas, rodovias, ferrovias, portos etc. A deficiência no setor logístico compromete seriamente o agronegócio, exigindo uma gestão do sistema agroindustrial clara, sistêmica e eficiente, para que haja uma sequência mais equilibrada possível entre os elos, ao longo da complexa cadeia de suprimentos.

2.2. A Pecuária No Brasil

Os Principais setores do agronegócio são: o agrícola (vegetal) e o pecuário (animal). A atuação do agronegócio é marcada pelas variáveis que também afetam os mercados interno e externos, com isso, seu desempenho é caracterizado por diferentes cenários ao longo de um ano. Entretanto, mesmo enfrentando um cenário de incertezas, em 2013, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2015), a pecuária teve um crescimento de 15% comparado a 2012, sendo que a previsão que este setor venha a responder por aproximadamente cerca 6,60% do PIB brasileiro, em 2015. Possuidor do maior rebanho comercial, com aproximadamente 210 milhões de cabeças de gado, o Brasil já é o maior exportador mundial de carne bovina: "[...] as exportações de carne bovina atingiram US$ 6 bilhões. [...] já superou a marca de 1,5 milhão de toneladas destinadas a mais de 130 países" (MAPA, 2015).

Os órgãos governamentais acreditam na manutenção desta tendência, visto que existe a expectativa de que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) venha a certificar o Brasil, como área livre da aftosa até o final de 2015. Além disso, a tendência para as exportações é de continuar crescendo e, segundo o MAPA (2015), a expectativa é de que até 2020, a produção nacional de carnes suprirá 44,5% do mercado mundial, que representa um desafio e um cenário otimista para a pecuária brasileira.

Em um contexto que requer aprimoramento tecnológico e atividades do gerenciamento tecnológico, é fundamental o domínio da transferência tecnológica, ou seja, promover o deslocamento do conhecimento tecnológico de um lugar para outro e ter capacidade absortiva receptora dos mesmos e de outros, tendo os recursos humanos conhecimento, entendimento e capacidade de dominar e utilizá-las corretamente é crucial para se tornar e permanecer competitivo e assim poder acompanhar as demandas dos mercados.

Por essa razão torna-se inevitável melhorar a qualidade e aumentar o número de instituições que trabalham o processo de formação de mão de obra para atuar no agronegócio, uma vez que essa ausência constitui em entrave para melhorar nossa competitividade neste setor.

2.2.1 A Pecuária No Pará

Segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará - ADEPARA (2013), um dos principais focos do agronegócio paraense é a bovinocultura. O Estado do Pará é o proprietário do 4º maior rebanho de corte e o maior em exportação de boi em pé, conta com um rebanho na ordem de 20 milhões de cabeças de gados e, em 2013, representou 98% das vendas do país, para exportação de gado vivo.

A expansão territorial e o clima tropical do Pará integrados à inserção de tecnologia no processo de produção são os fatores que estão contribuindo para tal realidade. Entretanto, a maioria dos pecuaristas ainda cria o gado dentro de pastagens livres, mas mesmo assim a tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço entre os pecuaristas.

Logo, para que haja um Sistema Agropecuário engrenado na diversificação de mercado e na diferenciação de produtos, visando novos consumidores, traspassando inclusive as fronteiras nacionais, faz-se necessário que todas as organizações dos segmentos da cadeia do agronegócio tenham um ativo intangível tão dinâmico quanto seu ativo tangível.

Adicionalmente, para que o agronegócio seja competitivo da porteira para dentro, além do capital intangível, é necessário o desenvolvimento de ações que melhorem os processos logísticos, pois a ineficiência dessa estrutura acarreta custos, principalmente com transporte e armazenamento, reduzindo o lucro do produto.

2.3. Diretrizes Para Desenvolvimento Das Competências Do Profissional Do Agronegócio

Ao longo desta década, as capacidades de antecipar os riscos nos mercados internos e externos e desenvolvimento de estratégias criativas para geri-los, se tornarão extremamente importantes. Com isso, o desenvolvimento de novas competências que serão impostas aos profissionais, motivado especialmente pelas pressões criadas frente às rápidas mudanças sociais e o fracasso de governos em satisfazerem as reivindicações de sua gente, quanto às questões de segurança e oportunidades de melhorarem os padrões de suas vidas (BREMMER, 2013).

Em um cenário dinâmico e exigente, pessoas habilitadas, especializadas e preparadas para atuarem nesse mercado são, às vezes, recursos muito raros. Esta situação é preocupante visto que a base da competitividade e sobrevivência das organizações está fundamentada nas pessoas, ou seja, nos ativos intangíveis que constituem o capital intelectual da empresa.

As pessoas são para as empresas, segundo Sveiby (1998, p. 9), "os únicos verdadeiros agentes na empresa. Todos os ativos e estruturas – quer tangíveis ou intangíveis – são resultado das ações humanas. Todos dependem das pessoas, em última instância, para continuar a existir".

Essa perspectiva requer do Brasil mudanças de comportamento e visão, principalmente na complexa gestão das unidades que constituem o processo de produção do sistema agronegócio, onde a maioria deseja os ativos intangíveis altamente habilitados e com resultados positivos, contudo poucas trabalham para a promoção da melhoria continua das competências profissionais dentro das organizações.

Para Rinaldi (2007), estes são os novos desafios para gerenciamento rumo à eficiência e aos resultados, haja vista que o fator determinante dessa eficiência é o humano, remetendo assim, de forma imprescindível, à necessidade de formar recursos humanos competentes.

O capital humano de uma organização é construído de forma contínua e, uma das garantias dessa construção, segundo Bichuetti (2011), é "criar e manter um clima motivador é saber tratar gente como gente. Somente se conseguem resultados duradouros se for possível contar com gente motivada e engajada". Davis (2013) destaca que: "com visão que perpassa a empresa, saber qual o sentido no qual está caminhando e, para isso, é preciso atentar para todo o setor, a economia, a sociedade, a comunidade e a família", assim as pessoas são comprometidas com o que tem de fazer, se sentem realizadas quando exercem atividades que lhes apaixonam.

Segundo Rao e Weintraub (2014), os elementos intangíveis de uma organização podem ser agrupados em seis blocos construtores: valores, comportamentos, clima organizacional, recursos, processos e sucessos.

"Valores que norteiam prioridades e decisões, que refletem como a organização gasta seu tempo e dinheiro. Comportamentos descrevem como as pessoas agem, incluem a disposição para substituir produtos existentes por novos e melhores, empolgar com uma vibrante descrição do futuro e contornar entraves burocráticos. Clima organizacional que dá o tom da convivência no ambiente de trabalho. Cultiva entusiasmo e comprometimento, desafia as pessoas a assumir riscos dentro de um ambiente seguro, estimula o aprendizado e encoraja o pensamento independente. Recursos: compreendem três fatores principais – pessoas, sistemas e projetos. As pessoas são o fator mais crucial, porque elas têm forte impacto nos valores da empresa e no clima organizacional. Processos: são os caminhos que as inovações seguem quando desenvolvidas. Sucesso: reforça valores, comportamentos e processos inovadores da organização".

Contudo, ao começar o processo de aplicabilidade, verificam-se os desafios e pormenores que fazem parte da prática profissional. A proposta de Rao e Weintraub (2014) destacam cinquenta e quatro elementos que são distribuídos entre dezoitos fatores que constroem os seis blocos, apresentados no Quadro 1, apresentado a seguir:

Quadro 1: Elementos intangíveis de uma organização, fatores e elementos

BLOCO CONSTITUINTE

FATOR

ELEMENTO

 

VALORES

Empreendedorismo

Fome / Ambiguidade / Foco na ação

Criatividade

Imaginação / Autonomia / Descontração

Aprendizado

Curiosidade / Experimento / Aceitação do erro

 

COMPORTAMENTOS

Estimular

Inspiração / Desafio / Modelo

Engajar

Coaching /Iniciativa / Apoio

Capacitar

Influência / Adaptação /Determinação

 

CLIMA

Colaboração

Comunidade/Diversidade /Trabalho em equipe

Segurança

Confiança / Integridade / Abertura

Simplicidade

Sem burocracia / Responsabilidade / Tomada de decisão

 

RECURSOS

Pessoas

Campeões / Especialistas / Talento

Sistemas

Seleção / Comunicação / Ecossistema

Projetos

Tempo / Dinheiro / Espaço

 

PROCESSOS

Ideação

Gerar/Filtrar/Priorizar

Formatação

 Protótipo/Iteração/Erros inteligentes

Conquista

 Flexibilidade /Lançamento /Escala

 

SUCESSOS

Externo

Clientes/ Concorrentes /Financeiro

Empreendimento

Propósito /Disciplina /Habilidades

Individual

Satisfação /Crescimento / Recompensa

Fonte: Rao e Weintraub (2014)

Ao analisar essa conjuntura, verifica-se a probabilidade contínua de rupturas que redefinem o futuro e afetam o desenvolvimento de habilidades pessoais, enquanto profissional. A manutenção no mercado de trabalho demanda o desenvolvimento contínuo de competências. Para Gorbis e Findler (2013), as pessoas terão de encontrar o espaço onde a "cooperação entre humanos e sistemas automatizados podem conquistar muito, juntos. Novas habilidades serão necessárias para navegar nesse ambiente que emerge, e uma coisa é certa: as pessoas terão de se tornar aprendizes adaptáveis para a vida toda".

Entender como a pessoa pensa e age, certamente é o primeiro passo para perceber suas afinidades e habilidades. Para Rinaldi (2007), é a habilidade de saber fazer ou desempenhar funções e estão intimamente ligadas às atitudes e competências. Contudo, Batalha et al. (2000), dizem que o termo "habilidade" pode ser interpretado como a capacitação para efetuar determinada tarefa, referindo-se ao domínio de conhecimento sobre determinado assunto, enquanto Whetten e Cameron (2002) acreditam que as habilidades formam um veículo por meio do qual estratégias, práticas administrativas, técnicas, atributos pessoais e estilo de trabalhar produzem resultados efetivos nas organizações.

A existência de similaridades entre os autores, segundo Rinaldi (2007), os rementem a um consenso, ambos acreditam que as habilidade podem ser distribuídas em três conjuntos: habilidades pessoais: refere ao desenvolvimento de autoconsciência, lidar com o estresse e resolução criativa de problemas; habilidades interpessoais: facilidade de comunicação, influência, gestão de conflitos e motivação dos empregados e, habilidades de grupos: hábil para trabalhar em grupos, delegar funções e construir relacionamentos.

Para Gorbis e Findler (2013), o contínuo aprimoramento, modificações, inovações, e surgimento de mudanças em termos de habilidades, são condicionadas por transformações profundas, impulsionadas pelo movimento tecnológico e computacional, e o uso das tecnologias sociais que vem gerando novos modos de produção e criação de valor. Para estes autores, dez habilidades críticas para o sucesso da força de trabalho do futuro foram identificadas: 1) Pensamento computacional; 2) Mentalidade de design; 3) Gestão da Carga Cognitiva; 4) Conhecimento das novas mídias; 5) Transdisciplinaridade; 6) Capacidade de conferir sentido; 7) Inteligência social; 8) Pensamento original e adaptativo; 9) Competência intercultural; e 10) Colaboração virtual.

Estas novas habilidades devem ser parte da construção da competência dos atuais profissionais e vêm intensificando seu aprimoramento nos últimos 20 anos. Dejours (1997) já apregoava esse dinamismo "a competência não pode ser naturalizada. Ela é situada, ela depende tanto do sujeito quanto do outro; tanto do outro no singular quanto do outro no plural, ou seja, do coletivo". Para Zarifian (2012), depende também do contexto socioeconômico no desenvolvimento de um trabalho e, qualificação e competência não são as mesmas coisas, estão entrelaçadas, porém com atribuições e finalidades diferenciadas. A qualificação seria a "caixa de ferramenta" que o trabalhador tem e a competência seria a forma de utilizar corretamente essa "caixa de ferramentas".

No agronegócio, a competência exigida por profissionais que lá atuam deve ser embasada num conjunto de saberes sólidos que viabilizem e construam habilidades ou capacidades para envolver, buscar e consolidar novas ideias. Os indivíduos deverão ser receptivos a mudanças, sempre que necessário, buscando as inovações e promovendo integração em trabalhos individuais e em equipes. McGregor, Tweed e Pech (2004), indicam que os saberes podem ser distribuídos em três focos de atuação:

  1. Na aquisição de conhecimentos, dos quais envolva: a) o conhecimento profissional e o técnico especializado; b) capacidade de ler e escrever nomenclatura técnica; c) conhecimento relacionado à agroindústria / indústria / organização / noção da cadeia como um todo; d) conhecimento operacional; e) entendimento amplo das mudanças no meio de negócios.
  2. No desenvolver e/ou aprimorar habilidades que construa a capacidade de trabalhar em projetos múltiplos; trabalhar em equipe; construção de relacionamentos; focar no cliente; usar o computador e se atualizar; de negociar; de reconhecer oportunidade.
  3. No aprimoramento de certos atributos para ser um profissional que saiba ser flexível, adaptável, autoconfiante, forte; desenvolva ter aprendizado rápido e orientado e saber agir.

O conjunto desses saberes conduz a compreender o que é competência diante da sua diversidade, principalmente quando relacionada à tomada de decisões no trabalho. Para Zarifian (2012) a competência está muito relacionada com a iniciativa e responsabilidade, mobilização da inteligência e mobilização do trabalho, "a questão consiste em saber como se reposicionar a atividade humana. Ela se reposiciona no confronto com eventos". Deve-se dar atenção às atuais "mutações no conteúdo do trabalho", as quais estão envoltas por três conceitos: evento, comunicação e serviços.

Entende-se por eventos os acontecimentos imprevistos que perturbam o desenrolar previsto da atividade produtiva ou sistema de produção, provocando agitações. Com isso, o trabalho retorna ao trabalhador, sendo visto como uma ação competente da pessoa frente os eventos.

Já a comunicação é um componente essencial do trabalho, pois trabalhar, em parte pelo menos é comunicar-se, edificar entendimentos recíprocos, baseados em compromisso que serão garantia do sucesso das ações desenvolvidas conjuntamente sem reduzi-la a aptidão individual, uma vez que mexe profundamente com o cotidiano das atividades de trabalho.

Enfim, para Zarifian (2012) compreender a competência está baseado na combinação de três abordagens, as quais viabilizam a estreita complementaridade, o que possibilitará sua consciente mobilização. Portanto competência é:

"o tomar iniciativa" e o "assumir responsabilidade" do indivíduo diante de situações profissionais com as quais de depara".

"um entendimento prático de situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e os transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações".

"a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações, é a faculdade de fazer com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações, é fazê-los assumir áreas de co-responsabilidades".

Não existem dúvidas de que a rapidez e a complexidade das transformações contemporâneas do trabalho tornaram ultrapassado o conhecimento científico armazenado e compartilhado em diferentes áreas, exigindo continuas inovações, as quais são propostas pelo ser humano. Estas mudanças reforçam a importância de se poder contar com pessoas permanentemente dispostas e preparadas para enfrentar e superar as incertezas e que creiam que o caminho mais eficaz e significativo para a efetiva superação desta dificuldade é a busca incessante do aprendizado.

3. Método da pesquisa

Na busca por maior objetividade e clareza do propósito da pesquisa, optou-se pela pesquisa quantitativa, na qual o pesquisador terá certo distanciamento dos fenômenos estudados a fim de mensurar os constructos, elementos e/ou habilidades que os pecuaristas detém e que refletem sobre sua competência frente ao agronegócio.

Diante das múltiplas variáveis intangíveis que necessitam ser relacionadas, buscou-se a melhor maneira de selecioná-las em valor concreto, interpretando-as através da mensuração, constituindo assim, uma pesquisa quantitativa, haja vista que suas características, conforme Martins (2014) possuem enfoque positivista com objetividade na interpretação e análise dos dados, tornando-os fatos puros e sólidos.

Como os dados de análise são opiniões, atitudes, preferências e comportamentos profissionais dos pecuaristas do sudeste do Pará, optou-se pela abordagem exploratória, que segundo Ganga (2012), busca compreender melhor o contexto do modelo que ali desenha, explorando os fenômenos em si, podendo assim ponderar sobre o perfil dos pecuaristas, conhecer suas habilidades e correlacioná-las com a competência demonstrada.

O método utilizado foi o Survey, pois "é uma das maneiras de se obter informações sobre uma determinada população, as quais podem ser coletadas somente por amostras" (GANGA, 2012). O objetivo será obter uma percepção preliminar que será a base para um levantamento futuro das competências desenvolvidas pelos pecuaristas.

A pesquisa teve início com uma fundamentação teórica do tema, a qual norteou a construção dos instrumentos de coleta de dados. Os dados foram coletados num determinado período (fevereiro a abril de 2015) dentro de um corte – transversal em localidades diferentes, tendo como delimitação espacial e de objeto: os pecuaristas atuantes no Sudeste do Pará. Todavia, diante da quantidade significativa de micros pecuaristas na região, que não atuam no agronegócio de gado para abate, os sujeitos da pesquisa foram delimitados, para abranger somente pecuaristas que criam gado para abate e que possuem um plantel acima de 1.000 cabeças.

Na coleta dos dados foram utilizados como instrumentos: a observação, visando a identificação dos elementos que constroem o perfil de cada pessoa (como se movimenta, comunica, domina tecnologia, relaciona, processo de integração) e, um formulário estruturado com perguntas fechadas sobre a percepção e os elementos (constructos) que contribuíram na construção das competências.

Portanto, para avaliar a competência dos pecuaristas e suas percepções utilizou-se o instrumento de pesquisa SERVQUAL da avaliação de qualidade, sendo que o mesmo foi adaptado para viabilizar uma auto avaliação e as percepções da categoria sobre competência. Assim, os constructos da competência foram ajustados ao GAP 5 do Modelo Conceitual da Qualidade.

As perguntas que construíram as seis dimensões foram estruturadas a partir dos trabalhos de Rao e Weintraub (2014), Gorbis e Findler (2013), Zarifian (2003; 2012), Rinaldi (2007), McGregor, Tweed e Pech (2004), Batalha et al. (2000), os quais sinalizam os constructos necessários para o desenvolvimento de competências que atendem a sociedade atual.

Para garantir a fidedignidade dos resultados, obteve-se os valores e médias de cada dimensão estruturada, seguindo os passos abaixo descritos:

  1. Contagem das percepções em cada pontuação de 1 a 9 dos constructos de cada dimensão;
  2. Cálculo das médias da pontuação em cada dimensão, considerando cada elemento avaliado;
  3. Cálculo da média dos valores obtidos em cada característica, para a mensuração do valor equivalente a toda dimensão; e
  4. Cálculo da média geral obtida a partir da média de cada dimensão.

Com isso, os resultados obtidos foram sistematizados e analisados, com a utilização do software MS EXCEL, versão 2011, considerando o Modelo Conceitual da Qualidade em Serviços ou Modelo de GAP, seguindo sua regra básica, mas adaptada, ficando Competência Percebida (C.P) no lugar de Qualidade Percebida (Q.p.) e, sendo os resultados alcançados a partir dos cálculos feitos pela média de cada um dos 9 (nove) elementos (constructos) distribuídos dentro de suas respectivas dimensões e, após obtenção das 9(noves) médias calculou-se a média da dimensão distribuída numa escala de 1 a 5. Quanto maior a aproximação de 5 (cinco) maior o domínio.

4. Análise e Discussão dos Dados

O Estado do Pará vem nesta última década melhorando seu desempenho no setor pecuário, culminando, em 29 de maio de 2014, com o reconhecimento de área 100% livre de febre aftosa, por parte da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), entidade responsável por monitorar e melhorar a saúde animal, que congrega organizações de 180 países

Esse reconhecimento, além de permitir aos pecuaristas estabelecidos no estado a possibilidade de comercializar seu produto nos mercados internacionais, é um fator que contribui para o aumento dos investimentos na melhoria do plantel de bovinos, na reformulação dos métodos de criação, deixando de lado a tradicional criação extensiva, com o rebanho criado totalmente livre, para a criação intensiva com rebanho confinado. Além disso, os pecuaristas estão intervindo intensamente na forma de reprodução, movendo-se da reprodução natural para inseminação artificial, visando a melhoria da qualidade do produto final: animais de qualidade e com peso satisfatório, reduzindo assim, o tempo de manejo com o rebanho.

Esses processos de cunho mais tecnológicos apesar de bastante disseminados nas Regiões brasileiras Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ainda estão em fase de desenvolvimento na Região Norte, que conta com um agravante: os recursos humanos com qualificação nesta área são escassos, desde a operacionalização até a gestão.

Assim, buscou-se conhecer quais as competências dos sujeitos foco desta pesquisa, os pecuaristas que trabalham com rebanho destinado ao abate, que atuam no Sudeste do Pará. Todos são produtores, mas fazem uso de processos distintos, fruto das habilidades e constructos que detém no desenvolvimento das competências e que refletem na gestão de seus negócios.

Primeiramente, para melhor entender os resultados, buscou-se conhecer as características de produção desta categoria, começando pelos tipos de processos de criação de bovinos que estão sendo utilizados no desenvolvimento das suas atividades.

  1. Criação Extensiva: o rebanho é criado totalmente livre na pastagem, a reprodução é natural, com seleção ou não de touros de linhagens, ou seja, touros registrados PO (Puro de Origem);
  2. Criação Semi Intensiva: o rebanho é criado por um período livre na pastagem e em outro período confinado, a reprodução é com interferência artificial, de acordo com a pureza da linhagem e seu valor comercial.
  3. Criação Intensiva: o rebanho é criado totalmente confinado e toda reprodução é com interferência artificial, de acordo com a pureza da linhagem e seu valor comercial, com intensificação da mecanização no processo da reprodução.

A partir deste contexto, foi possível identificar entre os profissionais da pecuária entrevistados, mudanças nos moldes de criação e produção do rebanho bovino no Sudeste do Pará. Constatou que 100% dos pecuaristas trabalham com criação extensiva, contudo, somente 16,6% trabalham exclusivamente neste modelo, e os outros 83,4% mesclando seus processos de criação. Esses dados podem ser observados no Quadro 2 abaixo:

Quadro 2: Processo de criação do rebanho para abate na Região Sudeste do Pará

  1. 16,6% dos pecuaristas trabalham exclusivamente com criação extensiva com uso de touro sem raça definida em linhagem;
  2. 50% dos pecuaristas trabalham com criação extensiva com uso de touro melhorado e registrado (Puro de Origem – P.O.);
  3. 33,4% dos pecuaristas trabalham criação mistas, ou seja, criação extensiva, semi intensiva e/ou intensiva. Estes pecuaristas selecionam o tipo de criação de acordo com a linhagem do gado, quanto mais seleta a linhagem maior o confinamento.

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

Portanto, a criação rebanhos soltos no pasto (criação extensiva) é uma prática comum a todos na região, todavia, as inserções de inovações tecnológicas veem ganhando espaços, gradativamente, como comentado 83,4% pecuaristas que vem inserido mudanças, veja o Quadro 3 abaixo:

Quadro 3: Inovações inseridas no processo de criação dos rebanhos

  1. 16,8% possuem criação de rebanhos de forma extensiva e a reprodução é feita por touro melhorado, devidamente registrado (PO);
  2. 66,6% possuem criações de rebanhos de forma semi confinados, ou seja, a criação é intensiva, com semi confinamento com suplementação de ração na época de seca, assim por um período fica solto no pasto, depois confinado para alimentação durante período de estiagem, quando a pastagem fica escassa, assim, são confinados para garantir a alimentação e não perder peso. A reprodução deste rebanho é totalmente artificial e,
  3. 16,6 % possuem criação de rebanhos de forma intensiva (confinada), a reprodução é totalmente artificial, geralmente com embriões melhorados.

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

Percebeu-se ao longo da pesquisa que todos estes profissionais atuam na mesma área econômica. Apesar de visarem o lucro nem todos investem na mesma intensidade, na agregação de valores para seu rebanho ou processo de criação, assim os processos são diferentes, uns totalmente abertos às inovações tecnológicas e outros que adotam uma postura mais conservadora. Observando o Gráfico 1, com as médias apresentadas por cada dimensão é possível constatar a competência destes profissionais do agronegócio.

Gráfico 1: Dimensões que constituem a competência

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

É interessante ressaltar que a situação mais conflitante está na dimensão relacionada ao acesso ao conhecimento, pois apresentou a menor média entre as médias dos elementos (constructos) que a constituiu, havendo grandes oscilações entre a busca e detecção pelo conhecimento. Por outro lado, a dimensão dos processos que envolvem a produção e comercialização apresentou a maior média, havendo uma harmonia e comunicação particular que cria um elo colaborativo e dinâmico que interligam os pecuaristas e amenizam as diferenças.

Na dimensão acesso ao conhecimento, o constructo que apresentou a menor média foi domínio de outro idioma, seguidos pelos ligados à capacitação continua, domínio de recursos computacionais, uso de mídias sociais. No entanto, os ligados às participações em eventos de agronegócios, especificamente os relacionados à pecuária, tais como feiras agropecuárias e leilões, obtiveram médias elevadas. Esses resultados podem ser observados no Gráfico 2.

Gráfico 2: Acesso ao conhecimento

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

A dimensão construção de valores no ambiente de trabalho, apresentou um quadro mais favorável, mas com altos graus de contradições entre alguns constructos. O quesito Adaptação, que refere ao conseguir se sentir à vontade e produzir em ambientes diversos, principalmente, naqueles ambientes diferentes aos quais estão acostumados e o quesito Aprendizagem, no sentido de facilidade em aceitar que cometeram erros, apresentaram resultados que apontam graus de dificuldade em lidar com estes constructos. Já para o quesito Convivência o resultado é relativamente bom, sem conflitos, pois se trata de trabalhar com pessoas possuidoras de valores, crenças e hábitos muitos diferentes. Esta realidade é extremante comum na região, pois a maioria dos municípios, que fazem parte do Sudeste paraense, foram emancipados a menos de 30 anos, e mesmo aqueles que as famílias se instalaram antes da emancipação dos municípios, chegaram na década de 1970, oriundas das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, e mais recentemente, da Região Sul do Brasil.

Outro paralelo interessante, refere-se ao seu envolvimento no setor da pecuária e visão empreendedora, ou seja, a maiorias está nesta área porque, de alguma maneira, teve influência das famílias, melhor, sempre esteve ligada a terra, mas caso receba boas propostas de negócios com retornos lucrativos, não hesitaria em se desfazer de suas propriedades, e posteriormente, adquiriria outras, preferencialmente, na região, porém a demanda do mercado seria a grande norteadora da nova aquisição.

Diante do exposto, é notório que seus valores estão estruturados na sobrevivência econômica do negócio, pois esses pecuaristas são empreendedores abertos às mudanças econômicas, mas primam pela permanência no agronegócio, preferencialmente, e, se necessário, que as mudanças sejam dentro da própria região.

Mesmo demonstrando essa visão empreendedora são profissionais extremamente cautelosos, prudentes e reservados. Na dimensão que analisa o comportamento, houve uma certa reserva ao responderem às indagações: alguns optaram por não "se aventurarem" como alguns falaram. São ponderados quanto à descrição do futuro (perspectiva econômica) e consideram alguns aspectos burocráticos como entraves, exemplo: "querem tornar alguns processos online, mas sempre o sinal, mesmo de celular na localidade é oscilante e instável, imaginem rodarem programas pesados no computador". Consideram as ideias excelentes, pois seriam a prática ideal se tivessem condições de infraestrutura ou acessos. Como estes são insipientes, acabam tornando tais procedimentos em transtornos.

Nesta dimensão foi possível constatar que são profissionais que sentem inspirações, desafiados na busca de novos modelos de processos de produção, porém sem se desvencilharem das práticas já adquiridas, principalmente, das inerentes à gestão de seus negócios. Por outro lado, demonstraram facilidades em perceberem o próximo, com uma elevada percepção do entorno e movimentos das pessoas, contudo, não são muito abertos às tecnologias de comunicação.

Os resultados que envolvem os constructos da dimensão ambiente de trabalho, também apresentaram boas médias com resultados demonstrando uma convivência harmônica. As pessoas dentro de possibilidades vislumbradas, podem assumir assumem riscos, mas o ambiente precisa estar seguro e as práticas profissionais devem sempre estar respeitando a legalidade, sobretudo, as ambientais e trabalhistas.

A maior dificuldade, neste quesito, refere-se à organização do espaço físico para os procedimentos de inseminação artificial ou outros recursos nesta área. São situações graves:  material permanente e a manutenção que são processos muito caros e falta de conscientização, por parte de alguns colaboradores, ou seja, não há pessoas especializadas. Por se tratar de tecnologias específicas, nem sempre os cuidados com climatização, iluminação e equivalência são entendidos e, consequentemente, preservados como se devem.

Estas dificuldades foram verificadas nos constructos da dimensão recursos para o trabalho, sobretudo, nos aspectos que envolvem processos de manutenção da qualidade do rebanho, logística do rebanho para comercialização, ou seja, pós porteira, e que refletem diretamente na reposição do plantel conforme apresentado no Gráfico 3.

Gráfico 3: Recursos envolvidos no negócio

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Enfim, os desafios que perpassam a competência dos pecuaristas, envolvem outros segmentos além daqueles inerentes ao agronegócio, tais como a falta de recursos humanos qualificados e uma logística eficiente, resultantes em parte pelos escassos investimentos governamentais feitos na educação e no desenvolvimento tecnológico.

Quando os desafios envolvem o agir dos pecuaristas, a média das dimensões aumenta, o que pode ser verificado na dimensão processos, conforme se apresenta no Gráfico 4.

Gráfico 4: Processos envolvidos nos negócios

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

Esses fatores acarretam também dificuldades na manutenção das pastagens, vacinação e reposição do plantel, visto que a maioria destes insumos são oriundos de outras regiões, até mesmo parte dos profissionais que atuam no agronegócio. Mesmo com todos esses entraves, os pecuaristas conseguem surpreender positivamente e obter resultados importantes que permitem sua permanência no mercado.

Por fim, é possível analisar que mesmo diante de tantas dificuldades, os pecuaristas desenvolvem suas competências de forma peculiar, bem inerente aos seus valores, mas que as dificuldades em operacionalizar as ferramentas, principalmente as computacionais, geram grandes reservas pela sua utilização, o que leva à perda de ampliação deste negócio tão importante do agronegócio brasileiro.

5. Conclusão

A compreensão, análise e avaliação das viabilidades técnicas e econômicas, bem como os limites do conhecimento, diagnosticando o que é dogmatismo e o que é ceticismo absoluto, são conquistas complexas e desafiadoras para os brasileiros e seus gestores.

No que tange ao agronegócio, este desafio torna se complexo, principalmente no setor da pecuária, mais especificamente no segmento da produção agropecuária básica ou, primária ou "dentro da porteira", responsável diretamente pela produção e manutenção do rebanho bovino, pois é constituído por uma categoria de profissionais extremamente reservados e conservadores.

Sendo o conhecimento um importante recurso empresarial, o qual deve ser cultivado, estimulado e valorizado, a pecuária do sudeste do Pará ainda precisa aprimorar o acesso aos conhecimentos, principalmente, no momento atual, em razão do crescimento das incertezas, provocado pela nova globalização, que transformou o conhecimento em recurso estratégico.

Independente do setor, a transferência tecnológica eminentemente vai se fazendo presente, ajustando aos novos apontamentos da globalização, e com o setor pecuário do sudeste do Pará não poderia ser diferente. A otimização de processos e resultados exigiu um maior controle dos mesmos, e consequentemente, a utilização dos conhecimentos tecnológicos estão diretamente ligados ao novo modus operandis do agronegócio; uma vez que o processo tecnológico está diretamente ou indiretamente intrínseco na produtividade, e vai desde o pequeno até o grande produtor rural, deixando bem explícita a relevância da tecnologia nos dias atuais. Portanto, não há dúvidas que o modelo da competência é uma construção, que sofre transformação ao longo dos tempos e contextos em que as pessoas estão inseridas.

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1.Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos. Bolsista de Doutorado da CAPES. E-mail: fabya.marya@hotmail.com.
2 Professor e Pesquisador do Programa de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do Pará. Email: hélio.ferreira@uepa.br.
3 Professora e Pesquisadora do Programa de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do Pará. Email: normaelybeltrao@gmail.com
4 Professora e Pesquisadora do Programa de Mestrado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do Pará. Email: hebemcr@gmail.com
5 Professor do Curso de Engenharia de Produção da Universidade do Estado do Pará. Email: rubens@cardoso.eng.br
6 Professora do Curso de Engenharia de Produção da Universidade do Estado do Pará. E-mail: ao-ferreira@uol.com.br.


Vol. 36 (Nº 21) Año 2015

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