Espacios. Vol. 36 (Nº 19) Año 2015. Pág. 8

Viabilidade Econômico-Financeira da Inovação de Processo na Pecuária no Bioma Campos Sulinos

Economic and Financial Viability of Farming in Process Innovation in the Southern Fields biome

Alice Munz FERNANDES; Uiliam Hahn BIEGELMEYER 1; Maria Emilia CAMARGO; Gabriela ZANANDREA; Marta Elisete Ventura da MOTTA; Raquel Viviane Fiamenghi PRUSCH; Rejane REMUSSI; Beatriz Lucia Salvador BIZOTTO

Recibido: 10/06/15 • Aprobado: 13/08/2015


Contenido

1. Introdução

2. Referencial Teórico

3. Metodologia de Pesquisa

4. Resultados

5. Considerações Finais

Referências


RESUMO:

A atividade pecuária apresenta inúmeras transformações em seu modo de exploração. O bioma campos sulinos não consiste em uma forma comumente adotada de alimentação básica para ruminantes, o que se deve a escassez de forragem oriunda das formas tradicionais de exploração. Este estudo teve como objetivo identificar a viabilidade econômico-financeira da inovação de processo na atividade pecuária, mais especificadamente na bovinocultura de corte e de locação de bovinos para competições de laço comprido na região gaúcha dos Campos de Cima da Serra. Para tanto, realizou-se um plano de negócios, propondo a implantação de um empreendimento cujo processo de criação consiste na exploração sustentável do bioma campos sulinos, através de pastejo rotacionado. Caracterizou-se como uma pesquisa descritiva e bibliográfica, onde buscou-se identificar aspectos relacionados a capacidade de oferta de forragem do bioma, sua lotação eficiente por Unidade Animal e forma de organização do pastejo rotacionado. Na identificação da viabilidade econômico-financeira, trata-se de uma pesquisa exploratória e quantitativa, operacionalizada através de uma survey. Para a análise econômico-financeira utilizou-se como métodos de avaliação de investimento, o payback (total e descontado), o Valor Presente Líquido e a Taxa Interna de Retorno, demonstrando que considerando as condições projetadas, a inovação é viável econômico e financeiramente. Reconhece-se as limitações da pesquisa, sobretudo em relação às peculiaridades do nicho de mercado considerado e as condições de operacionalização adotadas. Para estudos futuros, sugere-se a replicação desta pesquisa nos demais biomas gaúchos e a adoção de outro tipo de atividade, como pecuária de leite e ovinocultura, por exemplo.
Palavras – Chave: Inovação de Processo; Empreendedorismo; Pecuária; Campos Sulinos; Viabilidade.

ABSTRACT:

The cattle industry has many changes in its mode of operation. The southern grasslands biome does not consist in a commonly adopted form of basic food for ruminants, which is due to shortage of fodder derived from traditional forms of exploitation. This study aimed to identify the economic and financial viability of the innovation process in the cattle industry, more specifically in cut cattle and cattle lease for long loop competitions in Rio Grande do Sul region of Campos de Cima da Serra. Therefore, there was a business plan, proposing the deployment of an enterprise whose creation process is the sustainable exploitation of southern grasslands biome through rotational grazing. Was characterized as a descriptive and bibliographic research, which sought to identify aspects of the biome forage supply capacity, its effective capacity for Animal Unit and form of rotational grazing organization. In identifying the economic and financial viability, it is an exploratory and quantitative research, operationalized through a survey. For economic and financial analysis was used as investment valuation methods, the payback (total and discounted), Net Present Value and Internal Rate of Return, demonstrating that considering the projected conditions, innovation is viable economic and financially. Recognizes the limitations of the research, especially in relation to niche market peculiarities considered and operational conditions adopted. For future studies, suggested that replication of this research in other gauchos biomes and the adoption of another type of activity, such as livestock for milk and sheep industry, for example.
Keywords: Innovation Process; Entrepreneurship; Livestock; Southern Fields; Viability.

1. Introdução

A crescente transformação em todos os cenários da sociedade enfatizada no século XXI, ao passo que reinventa conceitos, modifica modelos mentais e extingue empresas, possibilita a criação de outros tipos de negócios (RAZZOLINI FILHO, 2010). Segundo Degen (2009), empreender tem sido considerada uma eficiente forma de alcançar a independência financeira, de tal forma que de acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2013)  71,3% dos empreendedores iniciais do Brasil são por oportunidade.

Contudo, Drucker (1986) salienta que as inovações consistem nos pilares de sustentação dos empreendimentos, caracterizando-se como  a principal fonte de produtividade e maior competitividade das empresas (CASTELLS, 2003).

Considerando as dimensões da inovação apresentada pelo Manual de Oslo (2005), este estudo propõem identificar a viabilidade econômico-financeira da inovação de processo na exploração da pecuária, mais especificadamente, bovinocultura de corte com uso para locação em competições de laço comprido na região dos Campos de Cima da Serra.

O estudo realizado apresenta como proposta de inovação de processo, o pastejo rotacionado de campos sulinos  como alimentação básica e fonte de forragem para os ruminantes, identificando a relação ganho de Peso Vivo (PV), lotação sazonal do piquete em Unidade Animal (UA) e os impactos econômicos e financeiros da locação destes bovinos para competições de laço comprido. Sob esse aspecto, este trabalho objetiva contribuir para a compreensão da realidade atual desse segmento, configurando-se como um dos estudos pioneiros da atividade primária sob tal estruturação.

Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória e descritiva em relação a sua finalidade e bibliográfica que permitiu projetar a forma como a inovação de processo poderia ocorrer, propiciando a análise da possível estrutura de operacionalização do empreendimento. Além disso, realizou-se uma pesquisa quantitativa através de levantamento (survey) para identificar a posição do mercado considerando como amostra cento e cinquenta clientes em potencial, acerca da forma como o serviço é oferecido atualmente, o viés de mercado e o modo como o negócio pretende ser desenvolvido, permitindo identificar a viabilidade da demanda em relação às atividades projetadas, assim como o perfil dos possíveis clientes e a aceitação do serviço oferecido.

A estruturação operacional, o delineamento estratégico, o levantamento dos prováveis investimentos e as projeções de vendas aliados a análise dos fatores financeiros, simulando a realidade dos primeiros cinco anos do empreendimento, permitiu identificar a existência da viabilidade econômico-financeira da inovação de processo na bovinocultura de corte e de locação para competições de laço comprido, otimizando o bioma campos sulinos, nos Campos de Cima da Serra/RS.         

Além da introdução, este artigo está subdividido em mais quatro tópicos. O referencial teórico aborda o empreendedorismo e inovação, plano de negócio, negócio proposto,  inovação em processo através da estrutura operacional e análise ambiental. Após foram apresentados os aspectos metodológicos seguidos dos resultados, e por fim, as considerações finais.

2. Referencial Teórico

2.1 Empreendedorismo e Inovação

Segundo Shane e Venkataraman (2000), o empreendedorismo é sobre algo novo (bens e serviços) e sobre a produção de novos conhecimentos. Para Ronstadt (1984) o empreendedorismo consiste em um processo dinâmico de criar algo diferente e com valor, sendo que para isso é necessário a dedicação de tempo e esforços necessários, a aceitação de riscos financeiros, psicológicos e sociais, recebendo as consequentes recompensas de satisfação econômica e pessoal.

De acordo com Drucker (1986), o empreendedor é capaz de criar novas necessidades, transformar processos e combinar recursos a fim de obter uma configuração empresarial mais produtiva, tratando-se de um agente de modificação (KURATKO, 2009). Razzolini Filho (2010) define empreendedor como sendo toda pessoa capaz de assumir riscos e criar oportunidades novas embasadas na realidade existente, de tal forma que o empreendedorismo será tão importante para o século XXI como a Revolução Industrial foi para o século XX (TIMMONS, 1990).

De acordo com Prahalad e Krishnan (2008), nenhum empreendimento surge sem a existência da inovação, visto que "a inovação é o instrumento especifico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram  a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente" (DRUCKER, 1986, p. 25).

Por sua vez, Tigre (2006) afirma que o desenvolvimento da sociedade é resultado das transformações nos sistemas de produção, com o intuito de incorporar novos produtos e/ou serviços, se utilizando do uso da informação e do conhecimento, configurando a inovação como a base do empreendedorismo.

Em relação a isso, o Manual de Oslo (2005, p. 55) afirma que

Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Segundo Schumpeter (1961) a inovação consiste na "destruição criativa" que movimenta o progresso econômico. Por sua vez, Rogers e Shoemaker (1971, p. 39), conceituam inovação como sendo "uma ideia, uma prática ou um objetivo percebido como novo pelo indivíduo".

Tanto Drucker (1986) quanto Schumpeter (1961) consideram  a inovação como sendo oriunda de um processo de análise minucioso e do amadurecimento de empreendedores que conseguem visualizar a ideia e os seus respectivos benefícios antes de partir para a concepção definitiva.     

O Manual de Oslo (2005) classifica a inovação em quatro dimensões, quais sejam: de produto, processo, marketing e organizacional. Para a realização desta pesquisa, considerou-se a inovação de processo, cuja definição consiste na" implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado [...] Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares" (OSLO, 2005, p. 58).

Assim, considerando a acessibilidade a fornecedores e mercados (EISENHARDT; FORBES, 1984) precariamente explorados e desenvolvidos, além da preocupação com o meio ambiente, o empreendimento projetado através de uma forma de produção diferenciada e ambientalmente sustentável, visa estabelecer um paralelo entre as tradições de um povo e a estrutura capitalista contemporânea adquirindo retornos financeiros, propondo, dessa forma, a inovação em processo na pecuária.

Segundo Maximiano (2006, p. 07) "uma empresa é uma iniciativa que tem o objetivo de fornecer produtos e serviços para atender a necessidades de pessoas, ou de mercados e com isso obter lucro".

Entretanto para que um negócio aumente a sua probabilidade de sucesso, é fundamental o desenvolvimento de um plano de negócio, que trata-se de um documento onde são definidos os objetivos e os passos a serem dados para que estes sejam alcançados, minimizando os riscos e incertezas do empreendimento (ROSA, 2007).

Plano de negócio é, antes de tudo, o processo de validação de uma ideia, que o empreendedor realiza através do planejamento detalhado da empresa. Ao prepará-lo, terá elementos para decidir se deve ou não abrir a empresa que imaginou lançar um novo produto que concebeu proceder a uma expansão etc. A rigor, qualquer atividade empresarial, por mais simples que seja, deveria se fundamentar em um Plano de Negócios. (DOLABELLA, 2000, p. 164).

O plano negócio não é uma ferramenta rígida, visto que detém flexibilidade para adequar o empreendimento projetado as mudanças de mercado, de tal forma que se mantenha na melhor posição possível, de acordo com as variáveis analisadas (DEGEN, 1989).

Segundo Marion (2007), "a empresa para se enquadrar no direito, tem uma visão tripartite: o empresário, a atividade econômica organizada e o estabelecimento", de modo que considera-se a existência da empresa rural, visto que o empresário é próprio produtor, a atividade econômica organizada consiste no negócio, ou seja, bens ou serviços ofertados e desenvolvidos, e o estabelecimento trata-se da propriedade rural onde se desenvolve esta atividade.

Marion (2007, p. 25) ressalta ainda que "empresas rurais são aquelas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas", de tal forma que a exploração da pecuária consiste em um negócio de fato.

Em relação ao conceito de serviço, Lovelock e Wright (2001) afirmam que este consiste em um desempenho oferecido por uma parte à outra, cuja natureza intangível cria valor e proporciona benefícios aos clientes em tempos e lugares específicos. O serviço proposto ocorre conforme demonstra a Figura 1.

Figura 1- Ciclo do Serviço

Fonte: Elaborado pelos autores.

Dentre os elementos que resultam no sucesso ou não de um determinado serviço, o valor percebido merece destaque, pois mais relevante do que o próprio preço, o modo como o cliente percebe o serviço decidirá sua fidelização (GIANESI; CORRÊA, 1994).

Do ponto de vista do marketing, os serviços, diferentemente dos produtos, não envolvem a transferência de propriedade. Se os clientes não adquirem uma propriedade quando compram um serviço, então o que estão comprando? Uma explicação é que os clientes obtêm acesso a recursos ou os alugam por um período de tempo [...] Os setores de serviços compartilham seus recursos entre os clientes alocando o seu uso. Os clientes não compram um bem, mas podem utilizá-lo por um tempo determinado, quer se trate de trabalho humano (por exemplo, o dentista), de tecnologia (como a rede de telefonia celular) ou de um bem físico.

O Código Civil Brasileiro (CCB) em seu Art. 565 dispõe que "na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível mediante certa retribuição" (BRASIL, 2002). Esse tipo de contrato é comum com imóveis e veículos, todavia, o aluguel de semoventes, mesmo não sendo popularmente praticado, não fere nenhum princípio legal, de modo a integrar-se aos elementos e situações amparadas pela legislação nacional.

O mesmo Código ressalta as obrigações e os direitos do locador e locatário, definindo as responsabilidades e as sanções provenientes a ambos em razão do mau uso ou do abuso um com o outro. A formulação adequada do contrato é tida como a melhor maneira de assegurar os direitos e possibilitar o cumprimento da legislação cabível.

Assim, a empresa projetada desempenha suas atividades sob a forma jurídica de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), com inscrição estadual de produtor rural acrescida de um Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE) de serviços.

A tributação é regida pelo Simples Nacional, que consiste em um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos, abrangendo a participação de todos os entes federados, conforme Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.

2.4 Inovação de Processo: estruturação operacional no bioma campos sulinos 

De acordo com Carvalho et al. (2006), o campo nativo ou campos sulinos passou a ser considerado um bioma no ano de 2004, quando foi desmembrado da Mata Atlântica, denominando-se bioma Campos Sulinos. Abrange o Uruguai, a região nordeste da Argentina, parte do Paraguai e o sul do Brasil, representando 2,07 % do território nacional, ou seja, 176.496 km². Afirma também que a limitação geográfica desse bioma ainda está sendo analisada pelos órgãos competentes, podendo ser alterada.

De acordo com Knorr et al. (2005), as pastagens nativas são consideradas a principal fonte de forragem para alimentação animal no RS, ocupando cerca de 11,7 milhões de ha, o que representa aproximadamente 54% da área do Estado, comportando um rebanho bovino de 13,2 milhões de cabeças, conforme pesquisa agropecuária realizada pelo IBGE, em 1996.

Indo mais além, Pillar et al. (2009), salienta que os campos sulinos são ecossistemas naturais que asseguram serviços ambientais importantes, como a conservação dos recursos hídricos, a disponibilidade de polinizadores e o provimento de recursos genéticos, além de uma beleza cênica estonteante.

Entretanto, essa importante fonte de recursos naturais com o passar dos anos tem sido severamente ameaçada, o que se justifica, principalmente pelo crescimento exagerado da agricultura, visto que as inovações tecnológicas tornam agricultáveis terras antes inertes, derrubando as barreiras da exploração agrícola, o que representa a "destruição" de cerca de 135 mil ha de campo nativo por ano, conforme Carvalho et al. (2006).

Assim, novas práticas de manejo e utilização das pastagens passaram a ser adotadas pelos produtores, transformando o modelo de criação extensivo. De acordo com Martha Junior et al. (2003), o pastejo rotativo, também conhecido como piqueteamento, consiste na técnica de manejo mais utilizada atualmente, estimulando a otimização da pastagem, visando aumentar a produção por animal e principalmente por unidade de área, refletindo no máximo aproveitamento dos fatores: capital, terra e trabalho.

Conforme Carvalho et al. (2006) é fundamental que se saiba estimar a disponibilidade de forragem a fim de adequá-la a carga animal, desenvolvendo um sistema que permita atender a necessidade sem prejudicar a pastagem. Nesse sentido, a divisão do campo configura uma importante e barata ferramenta de controle da criação.

Segundo Martha Junior et al. (2003), esse processo de intensificação dos sistemas pastoris consiste na utilização de pelo menos dois piquetes submetidos a sucessivos períodos de descanso e ocupação. Ressalta que durante o período de descanso ocorre a rebrota da planta forrageira na ausência do animal, em contrapartida, no período de ocupação, verifica-se a utilização (consumo) do pasto pelos animais concomitantemente, ao processo de crescimento de forragem.

 Conforme Moojen e Maraschin (2002), a carga animal deve ser ajustada em função da disponibilidade de pastagem, a ponto de controlar o nível de oferta de forragem, refletindo na quantidade de pasto que cada animal encontra diariamente a sua disposição, que, por sua vez, se relaciona com o peso deste, pois sua capacidade de ingestão ocorre em função de seu tamanho corporal, que geralmente refere-se a aproximadamente 2% de Peso Vivo (PV).

Assim, considerando as fórmulas universais desenvolvidas para esse sistema de aproveitamento de área, segundo Martha Junior et al. (2003) obtém-se como estimativa de distribuição de cab./ha as seguintes equações, considerando dia (24h) como unidade de tempo:

Figura 2 – Ciclo de Pastejo

Fonte: Elaborado pelos autores

Indo mais além, Martha Junior et al. (2003) ressalta que um fator relevante do piqueteamento de campos sulinos consiste na imprecisão de sua taxa diária de acúmulo, tendo em vista que as peculiaridades de cada região e o potencial de crescimento próprio de cada espécie nativa refletem na discrepância de valores, não havendo, portanto uma conclusão específica, sendo indispensável conhecer a lotação ótima do rebanho, ou seja, o máximo retorno econômico em relação ao número de animais mantidos na área de exploração.

Dessa forma, serão divididos 190 ha de campos sulinos em 31 piquetes com aproximadamente mesmo tamanho, de modo que cada parcela será composta por cerca 6,13 ha, de modo que a limitação da área estimula o máximo aproveitamento da pastagem pelos animais e facilita o manejo, conforme demonstra Figura 3.

Figura 3 - Layout do Empreendimento

Fonte: Elaborado pelos autores

Todavia, segundo Filho e Quadros (1995), a pastagem natural apresenta marcada variação estacional na sua produção de forragem, e, em função disto, a lotação animal a ser estimada deve variar segundo a época do ano. Neste sentido, deve-se ainda considerar as exigências nutricionais dos animais, segundo as condições fisiológicas.

Dessa forma, conforme Carvalho et al. (2006), a maior produção e qualidade de forragem ocorrem na época do ano com temperaturas mais elevadas, que de acordo com pecuaristas da região geográfica do empreendimento proposto, é compreendida ente os meses de setembro a abril, visto que a minimização do crescimento de sua flora no período de inverno diminui seu potencial de alimentação, em virtude dos baixos teores de proteína bruta e dos altos teores de fibra em detergente neutro (KNORR et al., 2005) tornando os meses de inverno o período crítico para os sistemas de produção, ou seja, há ciclos de abundância e de carência alimentar (CARVALHO et al., 2006).

Partindo do pressuposto de que a pastagem nativa gaúcha possui uma capacidade de alimentação em um sistema totalmente extensivo de 1,5 a 2 Unidades Animal por hectare (UA/ha) no período de primavera-verão (VEIGA, 2005), de tal forma que será adotado para a identificação da estimativa de área necessária para a criação dos animais, uma média de capacidade nesse período de 1,75 UA/ha, ou seja, 787,50 kg de PV/ha.

Como o empreendimento proposto investirá na criação de animais com peso médio de 300 kg, seria necessário uma área de aproximadamente 81,91 ha para suprir a necessidade de alimentação inicial durante os 240 dias com maior temperatura do ano.    

 Entretanto, conforme experiência e conhecimento tácitos de pecuaristas da região serão considerados o crescimento dos animais e o aumento de PV médio de 65 kg nesse período, refletindo na necessidade de cerca de 99,54 ha de campos sulinos, demonstrando a suficiência da área piqueteada em relação à necessidade de alimentação desses ruminantes.

De acordo com Veiga (2005), durante o período de outono-inverno os campos sulinos diminui consideravelmente a sua oferta de forragens, minimizando sua capacidade de alimentação para cerca de 0,5UA/ha, tornando-se indispensável adotar outra forma de sustentação dos animais, visto que a área de criação manter-se-á a mesma durante o ano todo.

A integração existente entre agricultura e pecuária propicia o maior desenvolvimento econômico da região, tendo em vista que o cultivo de muitas lavouras temporárias encerra-se no período de inverno. A soja representa uma área de 3.075 ha no município de Campestre da Serra (IBGE, 2011), sendo que a maiorias dos agricultores após o término da safra, investem em pastagens temporárias, principalmente aveia preta (Avena strigosa) e azevem (Lolium multiflorum), entretanto, como dificilmente os mesmos agricultores que cultivam soja criam gado, a oferta da pastagem é consideravelmente elevada.

Conforme Paulino e Carvalho (2004), em média uma pastagem de aveia e azevem proporciona um ganho de cerca de 1 kg PV/animal/dia, sendo que essa mistura de cereais da estação fria possibilita melhor atendimento do déficit alimentar desse período, visto que a primeira é pastejada de maio a agosto e a segunda mais tarde, de agosto a setembro. Assim, durante os quatro meses de inverno, compreendido entre maio e agosto, se realizará uma parceria com um agricultor que plantará aveia e azevém para onde serão transferidos 150 animais destinados à engorda.

O acerto para pagamento da pastagem se dará da seguinte forma: o gado será pesado antes de ingressar na lavoura, permitindo identificar o ganho de peso adquirido com o pastejo, cujo valor após a venda ao término do período hibernal, será dividido com o proprietário da lavoura, conforme a relação a seguir:

Figura 4 – Ciclo de Peso

Fonte: Elaborado pelos autores

Entretanto, não se deve desconsiderar o fato de que adquirindo esses animais no mês de setembro, mesmo que o objetivo do negócio não seja a engorda, o período entre a sua aquisição e o ingresso na pastagem de inverno, reflete em um crescimento corporal natural que consiste, conforme a experiência de pecuaristas da região, em uma média de 65 kg.

O restante do rebanho permanecerá no bioma sob o mesmo manejo de piqueteamento, visto que mesmo em condições climáticas adversas, a redução da lotação faz com que o bioma seja capaz de fornecer alimentação necessária aos animais que ali se mantém, remetendo ao pressuposto de 0,5UA/ ha (VEIGA, 2005), de tal modo que a área não fique ociosa durante o inverno.

Esse sistema manter-se-á durante todos os anos de desenvolvimento do empreendimento, até o término do vencimento do contrato de arrendamento e da parceria firmada com o agricultor, entretanto, os 65 animais que no inverno anterior permaneceram no campo e não foram comercializados, aumentarão de tamanho até a realização desse mesmo processo no próximo ano, de modo que se considera para o cálculo de rateio do peso, a aquisição média de 150 kg, visto que no momento da venda possuirão 4 anos de idade.   Dessa forma, a estimativa de ganho de peso dos animais destinados à comercialização a partir do terceiro ano do empreendimento manter-se-á constante nos anos que se seguem.

Além disso, segundo Tokarnia, Döbereiner e Peixoto (1998), o gado bovino necessita de minerais para o funcionamento adequado de seu organismo, o que é fornecido através do consumo da mistura de sal comum e sal mineral, normalmente enriquecido com Ferro (Fe), Magnésio (Mg) e Zinco (Z), entre outros elementos. Indo mais além, ressalta que a necessidade média diária de sal é de 30g por cabeça, totalizando 10,95 kg por ano, sendo que para a inserção dessa complementação na dieta dos ruminantes, a utilização de cochos consiste na forma mais fácil e barata de disponibilizar o mineral aos animais.

2.5 Análise Ambiental

Segundo Churchill e Peter (2003), a análise ambiental consiste na prática de identificar as possíveis mudanças que possam interferir na empresa e em seu mercado, ou seja, rastrear as alterações para que seja possível avaliá-las e adotar um posicionamento eficaz. Para tanto, essa análise é desenvolvida com base em dimensões do ambiente, considerando variáveis distintas, de modo a facilitar a identificação das alterações e seus impactos para a organização.

O ambiente econômico inclui os padrões de atividades de negócios, renda dos consumidores e padrões de gastos. [...] O ambiente político e legal inclui leis e regulamentações federais, estaduais e municipais relevantes para as atividades de marketing, além de pressões políticas. [...] O ambiente social descreve as pessoas na sociedade e seus valores, crenças e comportamentos. [...] O ambiente natural consiste nos recursos naturais disponíveis para a organização ou afetados por ela. [...] O ambiente tecnológico compreende conhecimento científico, pesquisa, invenções e inovações que resultam em bens e serviços novos ou aperfeiçoados. [...] O ambiente competitivo é composto por todas as organizações que poderiam potencialmente criar valor para um determinado mercado (CHURCHILL; PETER, 2003, p. 51-52).

De acordo com Oliveira (1999), a análise do ambiente interno da empresa compreende a identificação e o estudo de seus pontos fracos e fortes, ou seja, constituem as variáveis controláveis do empreendimento, cuja finalidade é evidenciar as deficiências e qualidades deste, propiciando identificar sua condição em relação ao seu ambiente favorável ou não. Além disso, "visa identificar o desempenho passado de uma organização e fazer projeções do desempenho futuro, analisando as forças, as fraquezas e as restrições operacionais"(COBRA, 1991, p. 81).

Por sua vez, a análise do ambiente externo objetiva o estudo da relação existente entre a empresa e seu meio, em termos de ameaças e oportunidades, evidenciando sua posição atual e futura de produto-mercado (OLIVEIRA, 1999).

De acordo com Wildauer (2010), a Matriz Swot é um instrumento importante para o mapeamento do ambiente organizacional, pois propõem a descrição detalhada das variáveis a que a empresa está sujeita, além de consistir em um modo eficiente de embasar as ações futuras. O Quadro 1 demonstra a Matriz Swot projetada para o empreendimento proposto.

Quadro 1 – Matriz de Swot

Forças

 

  • Facilidade de manejo;
  • Otimização dos recursos naturais como forma de produção;
  • Localização adequada;
  • Limitação da responsabilidade;
  • Facilidade em encontrar "saídas de emergência";
  • Benefícios tributários de exploração conforme a natureza do empreendimento.

 

Fraquezas

 

  • Possibilidade de incidência de moléstias;
  • Dedicação de tempo diária aos animais, inclusive em feriados.

 

Oportunidades

 

  • Mercado em ascensão;
  • Pouca concorrência na região;
  •  Deficiência da atividade pecuária;

Ameaças

 

  • Interferência direta do clima;
  • Sazonalidade;
  • Disseminação de conceitos que consideram a competição de laço como maus-tratos aos animais;

Fonte: Elaborado pelos autores.

3.  Metodologia de Pesquisa

A pesquisa realizada caracteriza-se em relação à sua finalidade como aplicada, com abordagem quantitativa, que segundo Gil (2008), consiste em um método de pesquisa social que utiliza-se de  técnicas estatísticas e implica na construção de investigações através de questionários.

Quanto aos objetivos trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. Os estudos exploratórios consistem em investigações empíricas que visam formular o problema e elevar a familiaridade do pesquisador com o fenômeno ou ambiente a ser estudado (DENCKER; VIÁ, 2002).  Os estudos descritivos, por sua vez, objetivam identificar as características de uma população ou de determinado grupo que a represente (GIL, 2010).

 Tratando-se dos procedimentos técnicos, configura-se como bibliográfica onde, através de materiais publicados relacionados ao tema pesquisado, buscou-se evidenciar os aspectos que devem ser considerados na realização de um estudo de viabilidade econômico-financeira, visto que não trata-se de "mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras" (LAKATOS; MARCONI, 2008, p. 57).

 Também trata-se de um levantamento operacionalizado através de uma survey, que, conforme Bryman (1989) implica na coleta sistemática de um conjunto de dados quantificáveis em uma única conjuntura de tempo permitindo discernir padrões de associação entre as variáveis consideradas.  Assim, este estudo é composto de duas etapas: pesquisa de mercado e estudo de viabilidade econômico-financeira.

3.1 Pesquisa de Mercado 

A pesquisa de mercado objetiva identificar o perfil dos clientes em potencial e sua opinião em relação ao empreendimento projetado.  Para tanto, a população de pesquisa é composta por todos os integrantes dos campeonatos municipais de laço da região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul (AMUCSER, 2012) no ano de 2012, totalizando 1870 pessoas, sem critérios específicos de distinção.

A amostragem utilizada foi não probabilística (BABBIE, 1999) sendo formada por150 pessoas distribuídas entre os 12 (doze) municípios que compõem a região estudada. Adotou-se como instrumento de coleta de dados, um questionário estruturado. A aplicação desta pesquisa ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2012 durante a realização de competições de laço comprido em todos os municípios considerados.

3.2 Estudo de Viabilidade Econômico-Financeira

De acordo com Braga (1995), os movimentos monetários de uma empresa não são uniformes todo o tempo, de modo que o fluxo de caixa consiste em uma ferramenta que permite traçar estratégias e determinar o planejamento financeiro da empresa com base nos movimentos de capital (entradas e saídas) conforme a época do ano.

Conforme Zdanowicz (2000) o fluxo de caixa visa identificar se o saldo inicial de caixa, acrescido do somatório dos ingressos e desembolsos, reflete a escassez ou excedentes de recursos financeiros pela empresa. Assim, projetou-se o fluxo de caixa para os cinco primeiros anos do empreendimento, sendo necessário para tanto, a identificação e classificação dos custos, despesas, cálculo de previsão de vendas, estimativas de perdas e demais indicadores econômicos para a elaboração de um fluxo de caixa e, posterior cálculo de indicadores e métodos de avaliação de investimento, quais sejam, segundo Gitman (1997): Payback, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR).

Para tanto, considerando o valor da Taxa Selic, o viés de inflação, o montante de investimento a ser dispensado e os riscos a que o empreendimento proposto está envolto, adotou-se uma Taxa Mínima de Atratividade (TMA) de 20% ao ano, o que conforme Santos et al. (2009) consiste na taxa mínima a ser alcançada em determinado projeto.

O Payback  trata-se de um método de apuração do tempo necessário para que o somatório dos benefícios e dispêndios econômicos do caixa se iguale (HOJI, 2010). Gitman (1997) por sua vez afirma que payback é o período de tempo exato necessário para a empresa recupere seu investimento inicial através das entradas de caixa.

Em relação ao VPL,  Hoji (2010) afirma que consiste no método que permite determinar um valor no instante inicial, com base em um fluxo de caixa composto por receitas e desembolsos, descontados com a TMA. Trata-se de " uma técnica sofisticada de análise de orçamentos de capital, obtida subtraindo-se o investimento inicial de um projeto do valor presente das entradas de caixa descontado a uma taxa igual ao custo de capital da empresa" (GITMAN, 1997, p. 329).

Por fim, Braga (1995) conceitua a TIR como sendo o percentual de retorno obtido sobre o saldo do capital investido e ainda não recuperado, configurando-se como a taxa de juros anula o VPL (HOJI, 2010). 

 

4. Resultados

4.1 Pesquisa de Mercado

Os resultados obtidos na pesquisa de mercado estão apresentados no Quadro 2.

Quadro 2 – Resultados da Pesquisa de Mercado

Gênero

Masculino: 127

 

Frete: 13

 

Feminino: 23

Fatores mais

Preço: 52

 

Até 20 anos: 34

Relevantes

Qualidade: 61

Faixa

De 21 a 40 anos: 64

 

Disponibilidade: 24

etária

De 41 a 60 nos: 48

 

Mais investidores e menores preços: 21

 

Acima de 61 anos: 4

Perspectivas do

Menos investidores e maiores preços: 118

Área onde

Urbana: 103

empreendimento

Permanecerá igual: 9

reside

Rural: 47

 

As pessoas deixarão de laçar e o mercado será extinto: 2

Campeonatos

Um: 105

 

Condizente com os custos e riscos da criação: 120

municipais

Dois: 33

Opinião sobre

Exagerado: 8

de laço que

Três: 8

o preço

Nunca pensou sobre o assunto: 19

participa

Quatro ou mais: 4

 

Outra: 3

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observa-se que a maioria dos possíveis clientes reconhece como positivo o contexto para o desenvolvimento do negócio, cujo viés de expansão de mercado e elevação dos preços também é percebido pelos laçadores.

Além disso, essa pesquisa de mercado permitiu identificar que os clientes são capazes de perceber os custos e riscos a que a criação de gado está envolta, ou seja, de certo modo, compreendem a composição do preço do serviço oferecido.

Em relação aos fatores mais relevantes, percebe-se que a qualidade é considerada primordial, de modo que o empreendimento projetado busca sua preservação através do descarte constante e eficiente dos animais inapropriados para o serviço. O preço segue uma espécie de média regional, de modo que seu valor é dito como condizente pelos próprios clientes. A disponibilidade de animais, por sua vez, refere-se à capacidade da oferta suprir a demanda, sendo que para tanto, a empresa considera um estoque com margem de segurança. E o impacto do frete é minimizado devido à localização estratégica do empreendimento em relação a sua região de abrangência.

Analisando a grande deficiência na exploração da atividade pecuária na região dos Campos de Cima da Serra, e percebendo nas competições de laço comprido a existência de um mercado em ascensão pouco explorado, propõem-se a criação de um empreendimento, que consiste na locação de gado bovino para competições de laço comprido, através de um manejo sustentável do bioma campos sulinos.

Segundo o conhecimento tácito dos indivíduos ligados a competições de laço comprido, o requisito indispensável dos bovinos destinados a esse fim consiste em possuir aspas, não sendo necessária nenhuma raça específica, de tal forma que existe preferência por aquelas consideradas "fortes", ou seja, que apresentam rápida adaptabilidade ao campo e resistência física.

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), o Ministério Público (MP) e a Sociedade Protetora dos Animais, através do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) definiram que somente é permitida a corrida de bovinos com dois anos de idade ou mais, considerados "adultos", assim como impedem a participação daqueles fracos e/ou com problemas de saúde. Outro aspecto que deve ser ressaltado, conforme Costa et al. (2012), consiste no fato de ser permitido que um mesmo animal corra no máximo 10 vezes por dia, sendo recomendado que, em caso de dois dias de competição, haja a troca de lote.

O empreendimento focalizará a criação de bois de dois anos, com peso médio de 300 kgs mantidos em um sistema de pastejo rotacionado de campos sulinos configurando o diferencial na exploração da pecuária. Devido à precisão no modo de produção, se trabalhará com exatos 215 animais, sendo 15 considerados margem de segurança.

4.2 Estudo da Viabilidade Econômico-Financeira

Conforme Souza e Clemente (2004) investimento consiste no comprometimento atual de dinheiro na expectativa de adquirir benefícios futuros. Dessa forma, para o empreendimento proposto, o capital próprio investido inicialmente será de R$300.000,00.

 De acordo com Beulke e Bertó (2005), considera-se custo o desembolso relacionado com a operação que a empresa executa, de modo que sem ele, a produção não existiria, podendo ser classificados em variáveis e fixos.

Conforme Hawsen e Mowen (2001), os custos variáveis são aqueles que podem ser identificados individualmente em cada unidade produzida. Por sua vez, os custos fixos representam o custo da operação como um todo, não dependendo da quantidade produzida. No empreendimento proposto, os custos variáveis são estabelecidos com base na quantidade de animal criado ao ano, visto que a sazonalidade compõe o principal fator considerado para a definição destes desembolsos.

A aquisição de matéria-prima, ou seja, bois de dois anos, com PV médio de 300 kg também integra o grupo dos custos variáveis do negócio, cujo valor de aquisição é de R$ 930,00. Além disso, a parceria para engorda com o agricultor que possui a pastagem de inverno, também é considerada um custo variável, pois o valor a ser pago depende da quantidade de PV adquirida durante o processo. Observa-se que é possível estimar o custo dessa alimentação tendo em vista que a relação tempo - ganho de PV - preço pode ser mensurada individualmente por animal.

Em contrapartida, o valor a ser pago pelo arrendamento da área é considerado um custo fixo, visto que, mesmo consistindo no estabelecimento empresarial, é a principal fonte de alimentação dos animais. Contudo, não é possível afirmar com exatidão a parcela do bioma que cada animal consome durante um ano.          De acordo com a previsão de venda do serviço, as despesas tributárias se elevarão nos próximos anos do empreendimento, assim como haverá a incidência do custo variável de pastagem de inverno, cujo valor no segundo ano será de R$ 310,50 e de R$ 250,70 para todos os demais anos projetados.

Conforme Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2005), o ponto de equilíbrio consiste na quantidade necessária a ser vendida para equilibrar as entradas e saídas, visto que ocorre a apropriação dos custos fixos. No empreendimento proposto, cada animal fornecerá duas fontes de receitas distintas, de modo que os custos variáveis de criação serão os mesmos independente da ocorrência e frequência de locação, contudo as despesas variáveis sofrem influência da operação.

Considerando a composição dos custos e despesas fixas e variáveis , assim como sua oscilação oriunda das estratégias de criação, observa-se que no primeiro ano do empreendimento a operação dará prejuízo, visto que as saídas oriundas da atividade serão superiores as receitas obtidas por essa.  Em contrapartida, o PE dos demais anos demonstra ser decrescente, visto que se estima a elevação da venda do serviço, mantendo as mesmas estratégias de criação, refletindo na estabilidade dos custos fixos.

Conforme Oliveira (2008), as perdas consistem em bens e/ou serviços consumidos involuntariamente. O empreendimento proposto é vulnerável a mudanças climáticas, incidência de moléstias e fatalidades, refletindo em prováveis perdas. Entretanto, não é possível defini-las com exatidão, visto que do mesmo modo que pode morrer toda a tropa, pode não morrer nenhum animal.

Dessa forma considerar-se-á a morte de 3 animais ao ano, o que consiste em uma média tida como normal pelos pecuaristas da região em virtude do número de animais criados. Além disso, em relação ao consumo de sal adotou-se a média de desperdício no cocho de 20% ao ano, de acordo com Tokarnia, Döbereiner e Peixoto (1998).   

Por sua vez, a equipe de trabalho será composta por dois funcionários responsáveis pelo manejo diário dos animais, cuja principal atividade consiste em realizar o rodízio dos bovinos nos piquetes, assim como manter a preservação das instalações, eventualmente acompanhar tratamentos veterinários e auxiliar na contagem, assim como no carregamento e descarregamento dos animais em dias de locação.

O proprietário desempenhará a função gerencial, tomando decisões referentes à aquisição e comercialização dos animais, assim como a respeito da forma, do controle e da avaliação do serviço, além de ser a responsável pela venda tanto do serviço, quanto do produto. O empreendimento também contará com um contador terceirizado.

De acordo com Gobe et al. (2000, p. 87), "previsão de vendas é a projeção numérica das expectativas da organização retratada num determinado momento pelas opiniões e análises de seus profissionais e do que poderá ocorrer no futuro dentro do mercado-alvo de atuação".

O preço do serviço ofertado acompanha a média de mercado regional atual e ocorre em função da quantidade de corridas/dia, sendo que para tanto, considera-se o máximo de corridas permitido pelo MTG (10 corridas/dia) de modo que R$ 5,00 a corrida e R$ 50,00 cabeça/dia representam a mesma coisa.

A previsão de vendas do serviço é estimada com base na frequência e realização de competições na região geográfica que se pretende atingir, considerando a sazonalidade, assim como a suficiência da quantidade de animais em relação à legislação do MTG, visto que se trabalhará com um estoque fechado, resultando na proporção estabelecida. O recebimento dessa venda se dará integralmente a vista ao término do dia de competição combinado, quando os animais regressarem a empresa. Além disso, estima-se o crescimento de 12,5% das vendas iniciais a partir do terceiro ano de operações.

Como a essência do negócio proposto consiste na locação dos animais, o processo de venda do produto somente ocorrerá como forma de descarte e renovação da tropa no início do mês de setembro, visto que ao término do período hibernal, os animais adquiriram peso, sendo, portanto comercializados com frigoríficos a preço de mercado, de modo que a única ferramenta que poderá ser utilizada para maximizar o lucro é o poder de barganha sobre a forma de pagamento.

Portanto, esta previsão de venda dos bois após engorda, baseia-se na média de preço do mesmo período nos anos anteriores, desconsiderando possíveis alterações climáticas significativas, em torno de R$3,45kg PV, visto que "o aumento do preço do boi gordo está relacionado ao aumento do consumo interno e está dentro das expectativas e da tendência de alta" (FARSUL, 2012).

O preço da venda dos animais será calculado com base em seu PV, de modo que se estima que no segundo ano do empreendimento, cada animal seja vendido por R$1.552,50 (o que representa 450 kg a R$ 3,45), sendo que os demais anos seguem a mesma projeção do preço de mercado, contudo com distribuição de PV conforme processo de engorda.

Outro aspecto relevante consiste na venda dos animais como forma de descarte, ou seja, os bois considerados baldosos ficaram impróprios para o aluguel, de modo que sua comercialização se dará com outros criadores diretamente, mesmo que o lucro obtido não seja satisfatório. O preço desses produtos acompanhará o mercado, todavia, por se tratar de comercializações esporádicas tanto o PV do animal, quanto o preço de mercado sofrem grande variação conforme o período sazonal, de modo que para a elaboração desse projeto, adotar-se-á a média de 330 kg de PV/cabeça e o preço de R$ 3,10 por kg.

Além disso, se considerará a necessidade média desse tipo de comercialização de 16 bois ao ano, ou seja, supõe-se que cerca de 2 animais por mês no período da prestação do serviço, serão tidos como baldosos. Os mesmos critérios serão adotados para a aquisição de animais para reposição da tropa, acrescidos de mais 3 bois com mesmas características dos iniciais, consistindo no número provável de mortes, propiciando que a tropa seja composta durante o ano inteiro por 215 animais com características semelhantes.

Assim, considerando a previsão de aumento das vendas e aspectos explanados anteriormente, desconsiderando possíveis desastres naturais e fenômenos climáticos que interferem na atividade rural, utilizando-se de uma TMA de 20% ao ano, obteve-se um VPL  de R$ 153.621,80, TIR de 39,68 % ao ano, cujo  payback nas condições apresentadas ocorrerá com 3,12 anos.

5. Considerações Finais

O empreendimento proposto configura-se como promotor de inovação em processo na região dos Campos de Cima da Serra/RS focalizando um mercado precariamente explorado conforme resultados obtidos através da pesquisa de mercado e com viés de expansão. As estratégias adotadas proporcionam uma visão diferenciada da pecuária gaúcha e propiciam a maximização da formalidade dos meios de produção. Ainda propõe o planejamento e controles eficientes destas técnicas, com o intuito de otimizar os recursos, de modo a obter melhores resultados financeiros.

Dessa forma, demonstra ser um negócio viável econômico e financeiramente, capaz de unir em um mesmo contexto as incertezas originárias da exploração da pecuária, a preservação de um bioma ameaçado e o culto as tradições do povo rio-grandense.

Todavia, reconhecem-se as limitações desse estudo, sobretudo em relação à singularidade do nicho de mercado considerado e especificidades das condições estruturais adotadas para a composição dos custos e investimentos operacionais.

Como pesquisas futuras, sugere-se a realização de novos estudos na área propondo outras formas de estruturação organizacional e modos de exploração da atividade pecuária, assim como a expansão desta pesquisa para os demais biomas do Rio Grande do Sul e para outros Estados, possibilitando uma comparação entre os resultados financeiros oriundos do pastejo rotacionado em diversos tipos de pastagens e com distintas raças de ruminantes.

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Vol. 36 (Nº 19) Año 2015

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