Espacios. Vol. 36 (Nº 14) Año 2015. Pág. 2

O modelo da Hélice Tríplice e a realidade da inovação no setor Vitivinícola da Serra Gaúcha

Triple Helix Model and reality of innovation in the wine sector of Serra Gaucha

Fernanda D´ARRIGO 1; Ana Virginia Girodani BERTOLINI 2; Claudio NUNES 3; Pelayo Munhoz OLEA 4; Eric Charles DORION 5

Recibido: 27/03/15 • Aprobado: 12/06/2015


Contenido

Introdução

Referencial Teórico

Metodologia

Resultados E Análises

Considerações Finais

Referências


RESUMO:

A relação entre empresas, governo e universidades para a inovação e o desenvolvimento econômico pode ser considerada uma relação estratégica para o crescimento e criação de valor. Entretanto esta relação não é percebida na realidade das empresas. O estudo objetiva identificar a percepção de inovação a partir do modelo da Hélice Tríplice de seis empresários do setor vitivinicultor da Serra Gaúcha alinhada às quatro dimensões da inovação propostas pela OCDE (2005). A pesquisa qualitativa exploratória identificou que a inovação no setor é caracterizada pela melhoria nos processos e não pela integração de Governo-Empresa-Universidade conforme defendido na Hélice Tríplice.
Palavras-chave: Inovação. Hélice Tríplice. Setor Vinícola.

ABSTRACT:

The relationship between companies, government and universities in order to innovate and to the economic development can be considered a strategic relationship for growth and value creation. Nevertheless this relationship is not perceived in the reality of companies. The study aims to identify the perception of six entrepreneurs of the wine sector of Serra Gaucha – Brazil about innovation considering the Triple Helix model aligned to the four dimensions of innovation proposed by OECD (2005). The exploratory qualitative research identified that innovation in the sector is characterized by the improvement of processes and not by the relationship between Government-Business-University as advocated the Triple Helix.
Key-words: Innovation. Triple Helix. Wine Sector.

Introdução

O cenário da produção vinícola da Serra Gaúcha mudou consideravelmente nos últimos anos. Até a década de 70, a maior parte das vinícolas da localidade caracterizava-se pela produção de vinhos de mesa, produzido com uva híbrida. No início dos anos 70, grandes empresas multinacionais começaram a se estabelecer na região, ao perceberem a oportunidade de produção de vinhos finos. Os vinhos finos são produzidos a partir de matéria prima de melhor qualidade e demanda técnicas de plantio e colheita mais elaboradas. A chegada de empresas estrangeiras à região provocou nas empresas locais uma necessidade premente de tornarem-se mais competitivas e produzir, em contrapartida, vinhos finos além dos vinhos de mesa já tradicionalmente produzidos. O ano 2000 foi considerado marco na melhoria das técnicas de cultivo, com o propósito de melhorar a qualidade do vinho (ALVES et al., 2011). Nesta época, o cluster produtivo da Serra Gaúcha chegou a um nível de responsabilidade de 80% da produção nacional de vinhos (FENSTERSEIFER, 2007).

No entanto, o cenário mercadológico da região não apresentou os mesmos resultados, cenário este marcado pela concorrência global intensificada. Segundo dados do IBRAVIN (2013), em 2012 foram importados cerca de 79 milhões de litros de vinhos e espumantes de países como Chile, Argentina, Itália, França e Portugal. A média foi a maior dos últimos oito anos. Caso fosse levado em consideração que em 2004, o índice era de aproximadamente 40 milhões de litros importados, pode-se perceber que a importação de vinhos e espumantes quase dobrou nos últimos oito anos.

Além da acirrada concorrência com o mercado externo, o setor vinícola no Rio Grande do Sul enfrenta problemas em seus fatores internos, como o baixo consumo per capita de vinho nacional, ausência de uma cultura de consumo regular e moderada, falta de imagem como um país produtor de vinho, além da falta de políticas governamentais de apoio à indústria e alta incidência de impostos (FENSTERSEIFER, 2007; UVIBRA 2006; FACCIN et al., 2013).

Em meio a este cenário, a inovação no setor vitivinícola gaúcho enfrenta barreiras para seu efetivo gerenciamento. Uma vez que considera-se a gestão da inovação associada ao crescimento organizacional, quando novos negócios, ou ações organizacionais são criadas para conquistar vantagem competitiva no mercado, a gestão da inovação torna-se fundamental para a competitividade das organizações (BESSANT; TIDD, 2009).

Em meio a discussão entre inovação e mudança tecnológica, surge o conceito de hélice tríplice (Etzkowitz e Leydesdorff, 2000) como uma rede de interações entre agentes do desenvolvimento local e regional, governo e universidades, fortemente interligados. A interação governo-empresa-universidade busca adicionar valor no desafio de inovar no setor e estabelecer simetria e alinhamento com as dimensões da inovação propostas pelo Manual de Oslo (2005): inovação de produto, de processo, de marketing e organizacional (OCDE, 2005).

As iniciativas de inovação, empreendedorismo, ecossistemas inovadores e empreendedores, ao utilizar esta integração do governo, das empresas e das universidades com o objetivo concomitante de alavancar projetos inovadores, catalisam esforços para a atuação de cada participante ao favorecer o desenvolvimento de todas as partes envolvidas. Desta forma, o objetivo da pesquisa foi identificar a percepção de empresários da indústria do vinho na região da Serra Gaúcha, a respeito da inovação, segundo as dimensões do Manual de Oslo - OCDE (2005) na perspectiva da hélice tríplice (Etzkowitz e Leydesdorff, 2000).

Referencial Teórico

1.  Inovação

Desde o inicio do século XIX, a sociedade capitalista discute a relação entre o crescimento econômico e as mudanças tecnológicas. Schumpeter (1997), economista da escola clássica envolvido com a teoria do desenvolvimento econômico, relatou em seus estudos que enquanto novos produtos e processos forem desenvolvidos pelos empresários, a economia demonstrará a tendência ao crescimento. O desenvolvimento econômico schumpeteriano pontifica que o dinamismo da economia está voltado para a ação do empresário inovador, que executa novos processos de produção, motiva o lançamento de novos produtos e novos mercados, e principalmente investe em pesquisa ao adotar inovações (SOUZA, 2005).

As empresas inovadoras "atacam, renovam, ajustam, transformam e adaptam-se, na medida em que as necessidades de seus consumidores alteram-se, as habilidades de seus concorrentes melhoram e a manifestação popular aumenta" (PETER; WATERMANN, 1982 p. 12). Assim, as forças do comércio capitalista realinham-se e há mudanças nas regulamentações governamentais. Nesta mesma linha, Garcia (2008, p.32) argumenta que a inovação, em qualquer circunstância, precisa ganhar mercado para ser reconhecida e, por consequência, apenas o que é inovador conquista o mercado.

Os processos de inovação são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de uma região. Não estão limitados apenas aos laboratórios e às universidades, mas envolvem negócios, setores financeiros, autoridades públicas e a sociedade civil e proporciona consequências de grande confiabilidade para o desempenho da economia (MIEDZINSKI, 2006). Para Lakemond et al. (2007), o processo de inovação pode ser composto por três partes distintas que andam em paralelo: desenvolvimento de tecnologia, desenvolvimento de produto e a produção como um todo.

Segundo Jonash e Sommerlatte (1999), as inovações são classificadas em quatro tipos: inovação de produtos ou serviços, inovação de processos, inovação de gestão, e inovação em negócios. Para Damanpour et al. (1989), as inovações podem ser classificadas em dois grupos: inovações técnicas que são aquelas que ocorrem no componente operacional e que afetam o sistema técnico de uma empresa e as inovações administrativas, que são aquelas que introduzem um novo sistema gerencial e, portanto, podem afetar o sistema social de uma organização.

Higgins (1995) define a inovação de processo, como a inovação voltada para a melhoria da eficiência e da eficácia do processo produtivo. De acordo com Rust et al. (2004), a inovação de marketing é composta de três dimensões: força de preços, estratégia de produto e estratégia de promoção, ou seja, estratégia de preços são as decisões referentes aos preços, a estratégia de produto é a aparência do produto e a estratégia de promoção refere-se à inclusão do produto no mercado.

Mol (2009) relata que a inovação organizacional pode ser tratada como inovação gerencial, que apresenta como definição a introdução de novas técnicas e práticas de gerenciamento da empresa, voltadas à compreensão da cultura e aos princípios estabelecidos pelas empresas. Conforme Damanpour (1991, p. 557), a inovação é um meio de mudar uma organização, seja como resposta à mudança no seu ambiente interno ou externo, ou como uma ação preventiva tomada para influenciar um ambiente.

De acordo com o Manual de Oslo (2005) existem quatro tipos de inovação: de produto, de processo, de marketing e organizacional. Podem-se definir como: a) inovação de produto - a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos; b) inovação de processo - a implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado; c) inovação de marketing - a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços; d) inovação organizacional - que é a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas (OCDE, 2005).

Para uma economia que atualmente é baseada no conhecimento e na inovação, a interação entre universidade, empresa e governo torna-se destaque para seu crescimento. Desta maneira, os regimes de Hélice Tríplice aumentaram a habilidade de criar novas empresas baseadas no conhecimento. Uma estratégia baseada no conhecimento, que utilize ferramentas da tecnologia da informação é capaz de acelerar as taxas de mudança social. Como a universidade torna-se sempre o elo mais centralizado para o processo de inovação, ela complementa o empreendimento industrial como fonte de uma nova atividade econômica. O governo e as agências internacionais podem promover o crescimento das universidades empreendedoras com amplos escopos e missões interdisciplinares, e apoiar o nascimento de um cientista empreendedor que integra conhecimento e inovação. Como a universidade assume papéis na indústria, a indústria assume alguns dos valores da universidade, ao compartilhar e proteger o conhecimento. Os governos assumem outro papel na inovação, por encorajar as interações de vários tipos entre universidade e indústria (ETZKOWITZ, 2012).

2. Hélice Tríplice

Os autores Sábato e Botana (1968) e Patel e Pavvit (1994) afirmam que a América Latina não é reconhecida por possuir uma rede de relações entre governo, estrutura de produção e infraestrutura de Ciência e Tecnologia (C&T) como instrumentos de progresso. Desta maneira é que os autores introduziram as primeiras representações esquemáticas dos Sistemas Nacionais de Inovação, reconhecidas como "Triângulo de Sábato", em cujos vértices situam-se governo, sistema produtivo e infraestrutura de C&T. E, posteriormente, Etzkowitz e Leydesdorff (2000) introduziram a abordagem da Hélice Tríplice, como um modelo das relações entre Universidade-Indústria-Governo.

Dentre as estratégias consideradas por Sábato e Botana (1968) para o desenvolvimento da inovação, a inserção de C&T dá-se por um processo político consciente que significa saber onde e como cada país deve inovar. Dessa maneira, a experiência histórica (principalmente dos Estados Unidos) demonstra que esse processo político constitui o resultado de ações coordenadas dos três elementos fundamentais no desenvolvimento das sociedades contemporâneas: governo, estrutura produtiva e infraestrutura científico-tecnológica.

O governo, tratado como um conjunto de papéis institucionais que tem por objetivo formular políticas e mobilizar recursos; a estrutura de produção, como um conjunto de setores produtivos que provê bens e serviços demandados por uma sociedade e a C&T, como uma composição de elementos articulados e inter-relacionados entre si e que determinam a qualidade da infraestrutura de C&T, tais como: (i) sistema educativo que produz qualidade e quantidade de pessoas que protagonizam a investigação, (ii) laboratórios, institutos e centros onde ocorre a pesquisa, (iii) sistemas institucionais de promoção e estímulo a investimentos, (iv) mecanismos jurídico-administrativos que regulam o funcionamento das instituições e atividades de pesquisa, (v) recursos financeiros e econômicos (SÁBATO, BOTANA, 1968).

De forma complementar ao modelo do Triângulo de Sábato, onde o governo é privilegiado, Etzkowitz e Leydesdorff (2000) trouxeram a abordagem da Hélice Tríplice, como um modelo de relações, que consideram as empresas como líderes no processo de inovação, focado na rede de comunicação e expectativas que redesenham os arranjos institucionais entre universidades, indústrias e governo.

Assim, ao tratar a inovação como um processo dinâmico, as relações entre Universidade-Indústria-Governo da abordagem da Hélice Tríplice tendem a serem os componentes-chave das estratégias de inovação em sistemas nacionais ou multinacionais. Diferentes possibilidades de relações entre as três esferas podem ajudar a gerar estratégias alternativas para o crescimento econômico e a transformação social (ETZKOWITZ, LEYDESDORFF, 2000).

Sbragia et al. (2006) afirmam que o modelo da Hélice Tríplice constitui a evolução do modelo do Triângulo de Sábato por mostrar que, além de interações múltiplas, cada um dos integrantes passa a desempenhar funções antes exclusivas dos outros dois e considera a formação de redes em várias esferas institucionais formadas pelas hélices. Nesta evolução, a empresa exerce atividades importantes na economia, sendo chefe do setor de produção. O governo exerce papel de destaque nas relações contratuais que garantem estabilidade para a interação e o intercâmbio entre os atores desse processo. A universidade, por sua vez, possui seu pilar no conhecimento, e sua vantagem competitiva perante as outras instituições são os estudantes, que possuem fluxo contínuo de ideias e projeções (ETZKOWITZ, 2009).

A evolução dos sistemas de inovação e o conflito sobre o caminho das relações entre universidade (tradicionalmente conceitualizada por tarefas de ensino e pesquisa) e indústria refletem na variação dos arranjos das relações Universidade-Indústria-Governo (ETZKOWITZ, LEYDESDORFF, 2000). Nesse modelo da Hélice Tríplice, as empresas localizam-se no centro de uma sólida rede de interações, determinando a velocidade e a direção do processo de inovação e mudança tecnológica, operando como agentes do desenvolvimento local e regional e o governo e as universidades estão fortemente ligados a esta rede (SBRAGIA ET AL., 2006).

Metodologia

Esta pesquisa caracteriza-se por ser de natureza aplicada, de abordagem qualitativa exploratória. Qualitativa, por não enumerar nem medir os eventos estudados, mas sim por abordar ações e opiniões das empresas estudadas, ou seja, parte do foco ou assuntos de ampla importância são definidos no transcorrer do estudo. Exploratória por buscar identificar a percepção a respeito das inovações no setor vitivinícola no sul do Brasil, conforme as dimensões do Manual de Oslo.

O delineamento da pesquisa previu a utilização de perguntas abertas como técnica de coleta de dados, estruturadas a partir de um questionário aplicado aos doze gestores responsáveis das empresas selecionadas. Segundo Roesch (2005), perguntas abertas em questionários são a forma mais elementar de se coletar dados qualitativos, porém cabe ao pesquisador fazer a análise destas respostas. Foram definidas categorias de análise, conforme definido por Flick (2004) antes da coleta de dados, segundo os conceitos de Etzkowitz e Leydesdorff (2000) na perspectiva da Hélice Tríplice, nas relações entre as empresas como setor, nas relações com o governo e com as universidades, conforme mostra o Quadro 1. A partir das categorias de análise, desenvolveu-se o questionário (APÊNDICE A).

Quadro 1 - Categorias de Análise definidas a partir de Etzkowitz e Leydesdorff (2000)

Relacionamento entre empresas como um setor

O papel efetivo das associações para o setor.

Os resultados concretos de integração do setor.

As perspectivas do setor para o futuro.

Relacionamento entre empresa e governo

Participação integrada em projetos de inovação.

Resultados concretos de integração do setor.

Relacionamento entre empresa e universidades

Relacionamento estratégico com universidades.

Fontes de informação utilizadas para desenvolver inovações.

Inovações concretas nos últimos 3 anos.

Fonte: Elaborado pelos autores

A seleção das empresas para responder ao questionário aconteceu ao levar-se em consideração a representatividade das empresas no setor, bem como a localização da empresa. As doze vinícolas selecionadas localizam-se na região da Serra Gaúcha, e comercializam seus produtos por todo Brasil. Das doze empresas da amostra, foram recebidos seis questionários com informações válidas. Uma empresa alegou que por decisões administrativas não responde a pesquisas acadêmicas.

Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise de Conteúdo, a qual de acordo com Vergara (2010) pode ser considerada uma técnica de tratamento de dados que visa mostrar o que está sendo abordado a respeito de determinado tema.

Resultados e Análises

Com respeito à avaliação do setor vitivinícola da Serra Gaúcha, as respostas configuraram que a união entre as empresas em associações representativas é importante para defender os interesses do setor, conforme pode ser visualizado no Quadro 2. Foi identificado que as empresas percebem uma visão restrita a questões relativas a certificações, ações de marketing e participação em eventos. Também não se observou em nenhuma das respostas uma configuração que pudesse demonstrar a percepção de integração baseada em inovação, em especial relacionada à integração baseada no modelo da Hélice Tríplice. Isso fica evidente nos resultados concretos da integração do setor.

Em uma perspectiva para o futuro, foi configurada uma ameaça dos produtos estrangeiros quando os empresários foram questionados sobre os mercados nacional e internacional. Fato que pode ser considerado uma oportunidade de maior integração dentro do setor, no sentido de inovar com maior probabilidade de retorno econômico e reserva de mercado.

Quadro 2 -  Relação entre Empresas como Setor

 

PAPEL EFETIVO DAS ASSOCIAÇÕES

RESULTADOS CONCRETOS DE INTEGRAÇÃO DO SETOR

PERSPECTIVA DE FUTURO

E1

As associações têm papel falho na realidade das empresas.

Denominação da origem.

Vinhos da copa.

Exploração potencial de mercado inexplorado.

E2

Algumas associações são importantes para o setor.

Certificado de procedência.

Planejamento de promoções.

Aumento de consumo no Brasil.

E3

Divulgação do setor como um todo.

Projeto Wines of Brazil.

Certificação e denominação da origem.

Forte concorrência estrangeira.

Baixos incentivos.

E4

Associações são importantes para defender os interesses do setor.

Participação em eventos e em associações.

Competência e produtividade.

Reconhecido no mercado externo.

E5

Ganho de informações sobre o mercado.

Participação em eventos.

Aumento do consumo de suco.

Aumento no reconhecimento do Espumante.

Mercado vinho estagnado.

E6

Representativas na defesa dos interesses.

Relação com sindicatos.

Denominação da origem.

Eventos.

Crescimento pequeno do consumo interno.

Fonte: Elaborado pelos autores

Ao questionar-se os empresários sobre a relação empresas e governo percebe-se que, apesar de um desejo de que a integração ocorra, o que ficou mais evidente foi a questão relativa a tributos. Nos questionamentos sobre o relacionamento com o governo, percebeu-se entre os empresários uma tendência de queixas a respeito da carga tributária existente nos produtos, apontada como uma das razões que impedem a inovação e o crescimento. Porém, a ideia de interação entre as partes de maneira assimétrica foi considerada viável pela maioria das empresas.

Ao procurar entender como funciona a participação do governo de fato nas empresas, através de um relato de ações executadas em parceria, a grande maioria dos respondentes citou fontes de financiamento para as plantações e produções. Também foi citado um projeto de inovação, com apoio do FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), para garantir melhoria em plantações e no produto final. Pode-se concluir que, na visão dos empresários, a participação do governo nas ações é de fornecer auxílio apenas financeiro e tributário.

Quadro 3 - Relação entre empresas como Governo

 

PARTICIPAÇÃO INTEGRADA EM PROJETOS DE INOVAÇÃO

RESULTADOS CONCRETOS DE INTEGRAÇÃO DO SETOR

E1

O governo mantém uma alta taxa de juros sobre os produtos, o dificulta outras ações.

Financiamentos.

E2

Ainda não acontece, porém poderia ser vinculada a redução de tributos, a procedência e certificação dos vinhos.

Finame.

BNDES.

E3

Vejo como positiva na interação, porém pouco visível as empresas.

Redução das taxas de financiamento.

E4

Sem apoio do governo para inovar e crescer.

Rastreabilidade e o Controle de temperatura.

E5

Acredito que o governo busca a inovação na tecnológica dos processos, porém ainda são muitos custosas estas inovações.

Sem repostas.

E6

As empresas que conseguem inovar, fazem por si só, pois faltam incentivos por parte do governo.

Financiamento BNDES.

Fonte: Elaborado pelos autores

A percepção dos empresários sobre a participação da universidade como parceira efetiva nos processos de inovação ficou caracterizada como inexpressiva, pois não se observa um plano efetivo de integração, com estratégias definidas, metas e objetivos finais, como mostra o Quadro 4. O foco relativo à obtenção de informações sobre o processo inovador fica relacionado às tendências de mercado e a concorrência, de forma a não incluir o envolvimento da universidade e das pesquisas acadêmicas.

Quadro 4 - Relação entre empresas como Universidade

 

RELACIONAMENTO ESTRATÉGICO COM UNIVERSIDADES

FONTES DE INFORMAÇÃO UTILIZAS PARA DESENVOLVER INOVAÇÕES

E1

Acredito que não existe um relacionamento formal entre as partes. Sabemos dos resultados, mas de maneira indireta.

Pesquisa e tendência no mercado.

E2

Percebemos o relacionamento com institutos para formação de futuros enólogos.

Inovações no mercado.

E3

Através da Embrapa.

Mercado e concorrentes.

E4

Não temos essa relação com universidade.

Mercado e acompanhamento de rede social.

E5

Formação técnica nos Institutos Federais.

Livros técnicos, internet e periódicos.

E6

Pesquisas acadêmicas sobre processos da empresa.

Analise de Mercado.

Fonte: Elaborado pelos autores

Foram observadas algumas iniciativas que podem ser classificadas como inovações de produto, processo e tecnológicas. Entretanto, foram em número reduzido para o período longo que foi citado na pergunta, o que categorizou o setor vitivinicultor da Serra Gaúcha como um inovador de baixo potencial.

Por fim, foram questionados exemplos de inovações que as empresas desenvolveram nos últimos 3 anos. Empresários afirmaram que as maiores inovações aconteceram na implantação de processos mais modernos no plantio e na colheita das uvas. Também foram relacionadas inovações em produto, tais como suco de uva branca, releitura de rótulos dos produtos e melhorias nas ações de marketing.

Considerações Finais

A partir do conceito de Hélice Tríplice, proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o qual aborda a relação das empresas com o governo e universidades na geração de inovação, o presente estudo preocupou-se em desenvolver uma análise sobre esta relação, na perspectiva dos empresários do setor vitivinicultor da Serra Gaúcha.

Os resultados extraídos das respostas dos empresários do setor demonstram que o modelo da Hélice Tríplice, que poderia garantir, através da interação entre as três hélices (governo, indústria e universidade), resultados econômicos mais satisfatórios às empresas pelo fato das interações, não acontece muitas vezes devido à falta de informação intra e entre as hélices.  Mesmo que as empresas relacionem exemplos de melhorias em produtos, processos, e tecnologias, dimensões abordadas como inovação pelo Manual de Oslo, ao ouvir as respostas dos empresários do ramo vitivinícola da Serra Gaúcha, os mesmos não demonstram ações concretas de inovação.

 Assim, o modelo da Hélice Tríplice desenvolvido por de Etzkowitz e Leydesdorff (2000) não é utilizado como instrumento de alavancagem do processo inovador, e não faz parte do planejamento estratégico das empresas até o momento, apesar de alguns sinais de oportunidade de integração futura.

O artigo apresenta uma limitação no número de questionários respondidos, apesar de serem considerados válidos, pois as empresas estudadas são as de grande representatividade do setor. Como perspectiva futura de aprofundamento da pesquisa, sugere-se estender a pesquisa aos outros dois eixos da Hélice Tríplice, ou seja, ao setor governamental e ao universitário. Também como perspectivas futuras, evidencia-se que um relacionamento com uma integração efetiva entre as empresas e a universidade, poderá atingir o objetivo de qualificar as empresas e os empresários, propiciando o aumento de pesquisas e desenvolvimento de inovações, que alcançarão o padrão desejado de universidade empreendedora e empresa gestora de conhecimento. A presença do terceiro participante, o governo, reveste-se de caráter fundamental, não somente nas questões tributárias, mas principalmente como regulador e financiador de políticas de desenvolvimento baseados na inovação.

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1. Discente do Mestrado em Administração da Universidade de Caxias do Sul

2. Discente do Mestrado em Administração da Universidade de Caxias do Sul

3. Discente do Doutorado em Administração da COPPEAD- Universidade Federal do Rio de Janeiro

4. Docente do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul

5. Docente do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul


 

Vol. 36 (Nº 14) Año 2015

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