Espacios. Vol. 36 (Nº 04) Año 2015. Pág. 4

Educação Física e Projetos Sociais: impacto do programa segundo tempo enquanto política pública de inclusão social através do esporte

Physical Education and Social Projects: impact program second time as public policy social inclusion through sport

Khaled Omar Mohamad El TASSA 1; Gilmar de Carvalho CRUZ 2; Marisa SCHNECKENBERG 3

Recibido: 29/09/14 • Aprobado: 13/11/14


Contenido

1. Introdução

2. Metodologia

3. Dados obtidos e discussão sobre suas implicações

4. Considerações finais

Referências


RESUMO:
Este artigo investiga a repercussão da implementação de programa voltado para o ensino de esporte numa perspectiva educacional à luz das políticas públicas exaradas, e de teorias contemporâneas da Educação Física que lhe dão suporte. Tem por objetivo analisar como se dá a implementação de política pública voltada ao esporte educacional em comunidade carente. Evidencia-se a partir do estudo realizado, que pais e alunos beneficiados pelo Programa Segundo Tempo reconhecem a importância do programa na comunidade. Com relação ao trabalho pedagógico, se torna necessário substituir a passividade da certeza na transmissão de informações, pelo dinamismo da incerteza na ação pedagógica.
Palavras-chave: Formação de professores. Educação Física. Esportes. Projetos.

ABSTRACT:
The study presents a reflection on the impact of the implementation of a program for teaching sports an educational perspective in the light of public policies which have been entered, and contemporary theories of physical education that support it. Aims to analyze how is the implementation of public policy directed to sport education in a poor community. It is evident from the study that parents and students benefited from the Second Time Program recognize the importance of the program in the community. With respect to pedagogical work, it is necessary to replace the passivity of certainty in transmission of information by the dynamism of the uncertainty in the pedagogical action.
Keywords: Teacher training. Physical education. Sports. Projects.

1. Introdução

Os projetos sociais se apresentam como exercício de cidadania, que, muitas vezes, surge da necessidade de buscar solução para problemas concretos. Tem como característica o envolvimento das pessoas para além do seu campo de vivência, com transposição de barreiras e preconceitos em benefício do outro. Desta forma, a participação em um projeto social pode despertar nos envolvidos, independente da posição ocupada, o sentimento de solidariedade, que colabora para a conscientização do indivíduo e do papel que ele assume na sociedade.

Para tal reflexão, necessário se torna considerar os sistemas e contextos socioculturais e econômicos que configuram a sociedade atual. Isso constitui tarefa difícil, em função da complexidade e do dinamismo próprios dos avanços científicos e tecnológicos do mundo moderno, acrescidos das demandas sociais que se apresentam atualmente. Demandas que se traduzem na preocupação com riscos sociais expostos, como criminalidade, tráfico de drogas, prostituição infantil, violência, bem como, nas necessidades socioeconômicas e educativas das crianças, adolescentes e jovens do nosso país.

Na diminuição dos impactos dessas demandas, as instituições públicas e privadas assumem papel importante e com possibilidade de ser transformador, através de propostas atraentes e diversificadas, que garantam ações consistentes para uma intervenção educacional na sociedade, sendo o esporte uma das possibilidades para tal investimento.  De acordo com Bracht (2005), são diversos os motivos que move o Estado a interagir e/ou a intervir com a organização esportiva. Entre eles, destacam-se: a) a integração nacional; b) a educação cívica; c) a preservação da saúde da população; d) o oferecimento de oportunidades de lazer; e) o reconhecimento internacional.

No entanto, o esporte no Brasil historicamente sempre foi marginalizado no momento da elaboração e da implementação de políticas públicas.  Por política pública entendemos como estratégia de ação, ou não, pensada, planejada e avaliada, na qual tanto o Estado quanto à sociedade desempenham papéis ativos e que possui como principais funções a de concretizar os direitos conquistados pela sociedade e incorporados nas leis e alocar/distribuir bens públicos (PEREIRA, 2009). Os poucos recursos destinados para políticas sociais no país são prioritariamente, diante do quadro de exclusão social, para campos como educação, saúde, habitação e segurança (BRACHT, 2005; SUASSUNA, 2007).

Nesse contexto, em âmbito nacional, destaca-se o Programa Segundo Tempo (PST) do Ministério do Esporte (ME), e coordenado pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED). O PST, por meio de práticas esportivas, recreativas e culturais, orientadas por professores e acadêmicos (monitores) de Educação Física e/ou Esporte e áreas afins, colabora no processo formativo de crianças, adolescentes e jovens do nosso país, e visa conforme objetivos explicitados nos fundamentos pedagógicos do Programa Segundo Tempo promover a inclusão social, o bem estar físico, a saúde, o desenvolvimento humano e o exercício da cidadania (OLIVEIRA et al., 2009). 

O Segundo Tempo é um programa estratégico do governo federal que tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de vulnerabilidade social (FILGUEIRA; PERIM; OLIVEIRA, 2009). O Decreto nº 4.668, de abril de 2003, criou a estrutura e os órgãos do Ministério do Esporte, que sob o comando do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde 2003 possui, atualmente, três secretarias nacionais (Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social; Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento; e Secretaria Nacional do Futebol e Direito do Torcedor). Conforme a Medida Provisória nº 103/203 o ME possui como objetivo: "[...] formular e implementar políticas públicas inclusivas e de afirmação do Esporte e Lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando, para o desenvolvimento nacional e humano". Desta forma, destaca-se o Programa Segundo Tempo.

O PST tem por objetivo democratizar o acesso ao esporte educacional de qualidade, como forma de inclusão social, ocupando o tempo ocioso de crianças, adolescentes e jovens, no contra turno escolar, mediante atividades esportivas orientadas por professores e monitores de Educação Física e/ou Esporte. No ano de 2009, esse Programa funcionou em mais de 1.344 Municípios, em todos os estados e no Distrito Federal, beneficiando 997.202 crianças, adolescentes e jovens, orientados por 19.234 professores e monitores (BRASIL, 2010, p. 217).

O Programa conta em seu formato com a presença de parceiros e patrocinadores. Esses viabilizam, em nível local, econômica e estruturalmente o programa que é desenvolvido nacionalmente. Athayde e Mascarenhas indicam que o mesmo,

Contando com as parcerias firmadas com diversos Ministérios do Governo Federal, tem por estratégia de funcionamento o estabelecimento de alianças e parcerias institucionais, mediante a descentralização da execução orçamentária e financeira para Governos Estaduais, Governos Municipais, Organizações Não-Governamentais e entidades nacionais e internacionais, públicas ou privadas sem fins lucrativos (2009, p. 15).

As políticas públicas carregam essencialmente a limitação do sistema em que são geradas, no entanto a permanente reflexão sobre os programas de políticas públicas é importante estratégia na superação de modelos cristalizados estabelecidos e ampliação de espaços de atuação. Mascarenhas enfatiza que,  

Ao buscar a construção de um método que subsidie a abordagem de programas e projetos de lazer, temos de optar por uma estratégia que pressuponha a superação de antigos modelos de intervenção pedagógica assentados no espírito de desenvolvimento comunitário. Uma política de lazer sintonizada com interesses democrático-populares deve pautar-se pela construção e valorização de propostas teórico-metodológicas que problematizam as contradições e condições concretas de vida do grupo com que se trabalha, vendo no lazer mais um instrumento de empoderamento das classes populares, o que constitui alternativa para a recriação e superação das atuais propostas de lazer (MASCARENHAS, 2007, p. 208).

Na atualidade, a prática de atividade física e de esportes assume conceitos de promoção da saúde, além de importante instrumento de inclusão para participação na sociedade. Neste contexto, tem-se como objetivo do estudo analisar como se dá a implementação de política pública voltada ao esporte educacional em uma comunidade carente, à luz das diretrizes teórico-metodológicas do PST, bem como, identificar o impacto na melhoria da integração social dos participantes e níveis de satisfação da comunidade beneficiada pelo PST.

2. Metodologia

O estudo compreendeu em seus procedimentos metodológicos a análise documental do projeto pedagógico de convênio e relatórios de visitas in loco de uma cidade paranaense de pequeno porte, à luz dos fundamentos pedagógicos do Programa Segundo Tempo. A opção pela região, leva em consideração o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IBGE, 2010) e dados preocupantes com relação ao uso de drogas e a delinquência na região, disponibilizados pelo Programa Educacional de Resistência as Drogas (PROER, 2011).

Foram tomados os cuidados éticos pertinentes ao estudo, sendo todas as informações sobre objetivos, procedimentos e questões legais do estudo apresentados aos voluntários, e, aqueles que optaram por participar da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Utilizou-se ainda como fonte de pesquisa, questionário para professores coordenadores e monitores do PST, composto por uma questão aberta e três fechadas. Outro questionário referente à avaliação do impacto e níveis de satisfação da comunidade com o programa foi utilizado, para os pais e alunos beneficiados pelo PST, composto por duas questões abertas e uma fechada. Tais estratégias metodológicas foram realizadas com o intuito de permitir a análise das práticas desenvolvidas ao longo do período de implementação das ações do PST, de 2011 a 2013, bem como, compreensão do impacto e níveis de satisfação do PST na comunidade contemplada. A coleta dos dados ocorreu no primeiro semestre de 2013, para dez coordenadores e monitores, dez pais e dez alunos participantes dos núcleos vinculados ao Convênio investigado.

No que diz respeito à análise documental Lüdke e André (2003) apontam para a validade da mesma, sendo os documentos fontes estáveis e ricas que persistem no decorrer do tempo e podem ser consultadas quantas vezes forem necessárias para o aprofundamento das análises, sem confundi-la com levantamento bibliográfico ou revisão de literatura. A análise dos dados qualitativos inspirou-se nos pressupostos da análise de conteúdo (BARDIN, 2008). Essa análise permite a reinterpretação do conteúdo de documentos e textos, conduzindo a uma compreensão de significados que supera uma leitura comum, seja nos textos documentais, nas transcrições das entrevistas ou nos questionários. Os dados quantitativos foram submetidos a tratamento estatístico de interesse.

3. Dados obtidos e discussão sobre suas implicações

3.1. Programa Segundo Tempo

O Programa Segundo Tempo (PST), criado em 2003 (GOELLNER et al., 2010) é um programa estratégico do governo federal que tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente daqueles que se encontram em áreas de vulnerabilidade social (OLIVEIRA; PERIN, 2008). Através de práticas esportivas educacionais de qualidade e em condições adequadas, o PST pretende estimular crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva que favoreça o seu desenvolvimento.

O PST estabelece como estratégia operacional à formalização de parcerias e alianças institucionais, mediante a descentralização da execução orçamentária e financeira para entes públicos e privados sem fins lucrativos. Ao realizar um convênio com o Ministério do Esporte (ME), a entidade parceira disponibiliza um profissional para coordenar as atividades do programa, profissionais para desenvolver as atividades complementares e realiza a divulgação do projeto. O ministério repassa o recurso em duas parcelas. O parceiro executa as ações pactuadas com o acompanhamento operacional do ME. Para acompanhamento in loco o ME possui em cada estado equipes colaboradoras, constituída por professores vinculados as Instituições de Ensino Superior. A fiscalização da sociedade civil pode ser realizada tanto pela ouvidoria do programa, ou por meio de uma organização social indicada pelo convenente para monitorar o desenvolvimento das ações (BRASIL, 2006).

As entidades parceiras, dessa forma, tornam-se responsáveis pela execução do programa através da celebração de convênios ou instrumentos congêneres com o Ministério do Esporte, visando à implantação dos Núcleos de Esporte Educacional (NED). Os projetos do PST se organizam em núcleos e estes "[...] visam ocupar o tempo ocioso de crianças, adolescentes e jovens e oferecem, no contra turno escolar (no mínimo três vezes por semana, duas horas por dia em seu modelo- padrão), as atividades esportivas sob a orientação de coordenadores e monitores de Educação Física e/ou Esporte, reforço alimentar e atividades complementares" (FILGUEIRA; PERIM; OLIVEIRA, 2009, p. 9). Os NED comumente são constituídos por um grupo de 100 crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, um coordenador de núcleo e dois monitores. São desenvolvidas atividades esportivas e complementares tendo como orientação: (a) oferecer atividades no contra turno escolar; (b) oferecer a cada criança ou adolescente, no mínimo, três atividades esportivas, coletivas e individuais, realizadas com frequência mínima de três vezes por semana, e duas horas diárias; (c) oferecer atividades complementares (reforço escolar, atividades culturais, entre outas conforme características regionais).  

As orientações pedagógicas para o desenvolvimento das atividades esportivas oferecidas nos NED tem caráter educacional, e com objetivo do desenvolvimento da criança e do adolescente, de forma a favorecer a consciência de seu próprio corpo, explorar seus limites, aumentar as suas potencialidades, desenvolver seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito pelo coletivo. O processo de ensino-aprendizagem deve estar voltado para estimular a compreensão da convivência em grupo, das regras necessárias à organização das atividades, da partilha de decisões e deveres para uma boa convivência social (OLIVEIRA; PERIN, 2008).

3.2 Diagnóstico e planejamento pedagógico do convênio em foco

O convênio investigado possui três núcleos de esporte educacional e está localizado em uma cidade de pequeno porte, com infraestrutura precária, na região Sul do Paraná. A população é de aproximadamente 14 mil habitantes, sendo a classe socioeconômica média baixa predominante. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,711 (IBGE, 2012). Conforme dados disponibilizados pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas (PROERD, 2011), as crianças e adolescentes da cidade investigada encontram-se em situação de vulnerabilidade, expostas a riscos sociais, como: drogas, alcoolismo, violência e gravidez precoce.

Conforme projeto pedagógico aprovado pelo Ministério do Esporte, o objetivo geral do convênio é oportunizar a vivência do esporte como uma prática educacional, disseminando a cultura corporal do movimento humano, para a aquisição do desenvolvimento global dos alunos, além de despertar neles o gosto e o interesse pela prática de atividades desportivas, bem como proporcionar o envolvimento, o conhecimento e a aprendizagem em torno da cultura do esporte, de forma a promover o desenvolvimento integral das crianças, adolescentes e jovens, como fator de inclusão, inserção e formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, de forma prioritária aqueles que se encontram em área de vulnerabilidade social (PROJETO PEDAGÓGICO DE CONVÊNIO, 2011).

3.3 Políticas públicas e formação profissional para atuação em projetos sociais

Nos cursos de formação docente para atuação na Educação Básica, acumulam-se queixas profissionais sobre a consistência da formação profissional para o magistério oferecida em cursos de nível superior. Também para atuação em projetos sociais, a formação profissional de professores e as políticas públicas vigentes, também não tem sido suficientes para garantir o sucesso das ações desses profissionais (ZEICHNER, 2008). Todavia, essas queixas nem sempre repercutem nos espaços de discussão acadêmica e mais raramente ainda se transformam em críticas que colaborem no aprimoramento da articulação entre a intervenção profissional e o Ensino Superior, quer para incrementar a preparação profissional, quer para robustecer a educação oferecida nos diferentes espaços de atuação.

Essas considerações reforçam a ideia de que a formação e a intervenção de professores de Educação Física e/ou Esporte apresentam-se como preocupação permanente em debates acadêmico-profissionais (RESENDE; STEINHILBER, 2003; LAWSON, 1999; LOVISOLO, 1995). Cabe ressaltar que um dos grandes desafios a ser superado no processo interventivo dos professores de Educação Física e/ou Esporte é a aproximação entre os conhecimentos teóricos advindos da formação acadêmica e o enfrentamento da realidade do cotidiano, nos espaços de atuação. As lacunas existentes entre a formação inicial e a intervenção profissional ressaltam a necessidade de pensar uma formação diferenciada.

Cabe destacar a necessidade e importância da aproximação entre a universidade e a comunidade, na intervenção de professores de Educação Física e/ou Esporte em projetos sociais.  Através de um olhar crítico e ações consistentes, espaços de democratização do conhecimento, que vão ao encontro das duas frentes citadas, podem ser vislumbrados. A comunidade pode, através da participação em projetos sociais, além de fortalecer seus ideais de formação do cidadão, possibilitar através das ações desenvolvidas, deflagrar temas pertinentes à comunidade a serem problematizados. Para a Universidade, a relação pode permitir o redimensionamento da formação inicial, com aproximação ao cotidiano da prática profissional, à luz de uma realidade vivenciada nas comunidades, com possibilidade de investigação de problemas cotidianos no locus de atuação.

A necessidade da formação de profissionais de Educação Física e/ou Esporte capazes de explorar, desenvolver e difundir a importância de práticas corporais é uma certeza incontestável, diante dos avanços da ciência e da tecnologia. Os educadores precisam ser capazes de construir, produzir e gerir novos conhecimentos a partir do já existente, com a lucidez necessária para trabalhar nas relações complexas concretas. Para tanto, é necessário que a partir da prática vivenciada e do conhecimento científico adquirido cotidianamente, estes assumam um posicionamento compatível com a responsabilidade de formação das crianças, adolescentes e jovens para o exercício consciente da cidadania, utilizando-se de formas e instrumentos, que satisfaçam as exigências educacionais contemporâneas.

3.4 Resultados e discussão dos dados

As crianças e os adolescentes atendidos pelo convênio investigado vêm obtendo benefícios por sua participação no programa. Os pais ou responsáveis e os alunos indicaram satisfação em frequentar os núcleos do Programa Segundo Tempo. As respostas acerca da avaliação da contribuição do PST na cidade foram positivas. A análise das respostas resulta de uma questão fechada, acerca da importância do PST na cidade, que apresenta quatro opções como resposta ("ótima", "boa", "regular" e "ruim"), e de uma questão aberta, que tem como foco central aspectos positivos e negativos do PST.  Com relação à importância/contribuição do PST na cidade, 75% dos participantes indicaram a alternativa "ótima" e 25% "boa". Em geral, os beneficiados enfatizaram a oportunidade de poder praticar esportes em ambientes propícios, contando com a orientação de professores e monitores do programa (Figura 1).

FIGURA 1 – INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO / PAIS E BENEFICIADOS

Questão 1 – Como avalia a importância/contribuição do PST na sua cidade?

  


Aspectos positivos no desenvolvimento do Programa Segundo Tempo foram citados pelos professores, monitores e pais dos beneficiados, como boa qualidade dos materiais esportivos e uniformes distribuídos, locais apropriados para a realização das atividades, ótima qualidade do lanche oferecido, benefícios do convívio social entre as crianças participantes, distanciamento das crianças e adolescentes das drogas, transporte exclusivo gratuito aos locais de funcionamento dos núcleos de esporte educacional, entre outros.

Muitos pais ou responsáveis relataram que a simples ocupação do tempo livre das crianças e adolescentes atendidos já diminui a exposição a riscos presentes na sociedade, como violência e uso de drogas. Com relação a essas práticas sociais reprovadas pela sociedade, como o uso de drogas e a delinquência, Bracht e Almeida (2013) são contrários à visão otimista, bastante positiva e compensatória, assumida pelo Programa Segundo Tempo, com necessidade de ser questionada ou, pelo menos, relativizada em muitos de seus aspectos. Os autores enfatizam que,

Quanto ao poder de o esporte evitar o envolvimento ou mesmo promover o afastamento dos jovens das drogas, faltam avaliações bem conduzidas dos programas que a tanto se propõem. Se há alguns exemplos pontuais, divulgados na mídia, de sucesso nesse sentido, há também registros de envolvimento com "drogas" (por exemplo, o doping, que hoje está longe de ser uma exceção no esporte de alto rendimento) no próprio esporte (BRACHT; ALMEIDA, 2013, p. 134).

No entanto, com relação ao tema em questão, os professores entrevistados atribuíram grande importância às ações do PST na cidade à carência de opções para as crianças e adolescentes, bem como, na formação de cidadãos. Declararam perceber diferenças nas atitudes das crianças e adolescentes atendidos ao longo dos dois anos de funcionamento dos núcleos de esporte educacional. Segundo os professores coordenadores de núcleo, os participantes apresentam melhorias na sua disciplina, no relacionamento com outros colegas, na frequência e rendimento escolar.

Nesse contexto, cabe salientar que, conforme relato de professores, monitores, pais e responsáveis pelas crianças e adolescentes vinculados ao programa, as ações desenvolvidas nos núcleos investigados favorecem o desenvolvimento pessoal dos beneficiados atendidos, bem como, ficou evidente que a participação no PST promovia a inclusão social, além de estimular desempenho escolar positivo dos beneficiários.

Com relação às diretrizes teórico-metodológicas do PST, as respostas da questão "Como avalia a relação entre as diretrizes teórico-metodológicas do Programa Segundo Tempo e sua implementação na prática?", 90% dos professores e monitores vinculados ao PST responderam à alternativa "ótima". Sua visualização pode ser feita na Figura 2.

FIGURA 2 – INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO / COORDENADORES E MONITORES

Questão 4 – Como avalia a relação entre as diretrizes teórico-metodológicas do Programa Segundo Tempo e sua implementação na prática?

  


Através de análise entre o questionário respondido e ações pedagógicas desenvolvidas nos núcleos, expostas detalhadamente nos relatórios decorrentes de visitas in loco (visitas no local de funcionamento) durante as atividades dos núcleos de esporte educacional, identificou-se coerência nos documentos, diretrizes ou fundamentos pedagógicos do Programa Segundo Tempo e o empenho dos professores e monitores em atender os pressupostos teórico-metodológicas e orientações pedagógicas do PST, como reuniões periódicas, elaboração de planejamentos, implementação de estratégias metodológicas diversificadas, atividades atraentes aos beneficiados, entre outras. As reuniões são realizadas envolvendo estagiários, juntamente com os coordenadores, com intuito de explicitar problemas, proposições, elaboração do planejamento para cada núcleo e recados vinculados ao PST.

Cabe ressaltar, que é interessante reforçar a importância da fundamentação teórica e de instrumentos de avaliação para o bom desenvolvimento do PST (OLIVEIRA; MOREIRA, 2008). Para a seleção dos conteúdos a serem desenvolvidos nos núcleos do PST, os "[...] princípios curriculares no trato do conhecimento" (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 30) se constituem em pressupostos interessantes a serem adotados, como por exemplo, considerar a relevância social do conteúdo, contemporaneidade do conteúdo e adequação às possibilidades sócio-cognoscitivas. Ainda com relação à ressignificação dos conteúdos "[...] não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados é preciso que se liguem de forma indissociável a sua significação humana e social" (LIBÂNEO, 1995, p. 39).

O esporte é uma prática social que se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente (COLETIVO DE AUTORES, 1992). É preciso desvelá-lo de tal forma que os alunos se apropriem de maneira crítica dos conhecimentos inerentes a esse fenômeno social, podendo compreendê-lo na totalidade de seu contexto (COLOMBO et al., 2012).

É recomendado na organização da estrutura das aulas no PST considerar a realidade vivenciada pelos alunos, situações concretas, vídeos, jogos e brincadeiras. A partir deste cenário, se torna importante à incorporação de fundamentos pedagógicos, informações, reflexões e práticas, com aproximações aos objetivos do Programa Segundo Tempo. Conforme José Manuel Moran(2008) os alunos gostam de um professor que os surpreenda, que traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de ensino-aprendizagem. O planejamento das aulas que considere a diversidade pode repercutir positivamente na criação de um ambiente de aprendizagem significativo aos alunos, menos excludente e mais motivante. Nesse sentido, cabe também aos professores de educação física transcender a monocultura esportiva identificada na educação física desenvolvida nas escolas (DARIDO; RANGEL, 2005) e em programas esportivos (SOUZA et al., 2010). Essa monocultura também é identificada nas atividades desenvolvidas no Programa Segundo Tempo: futebol (35,4%) e futsal (22,3%) foram as que apareceram com mais frequência, seguidas de voleibol (17,0%) e o handebol (9,2%) (SOUZA et al., 2010).

O professor, no planejamento de suas práticas esportivas e de lazer, no âmbito do PST, necessita priorizar temas relevantes da Educação Física e/ou Esporte associando-os à realidade vivenciada pelas crianças. Conforme Darido e Oliveira (2009), considerar as três dimensões dos conteúdos, conceitual (o que se deve saber), procedimental (o que se deve fazer) e atitudinal (o que se deve ser), pode contribuir na superação de modelos cristalizados na área da Educação Física. Para tanto, a implementação da proposta necessita extrapolar em suas atividades, a prática pela prática, com uma ressignificação dos conteúdos para além dos procedimentos, em que é necessário explorar também aspectos relacionados aos conceitos, valores e atitudes. Isso significa "[...] inventar e reinventar com os alunos movimentos com o corpo, e estes movimentos, deverão proporcionar a (re) configuração de práticas corporais que atendam às especificificidades e necessidades das crianças, jovens e adultos" (GARANHANI, 2008, p. 201).

Tanto a estrutura física, quanto os recursos materiais disponibilizados para funcionamento do Programa Segundo Tempo na cidade são ótimos para 90% dos professores e monitores vinculados ao programa, conforme pode ser visualizado na figura 3. Cabe ressaltar como aspecto negativo evidenciado nas respostas dos recursos humanos vinculados ao PST, que os três núcleos pertencentes ao convênio atendem em média 70 beneficiados por núcleo, aquém da meta de 100 crianças do Ministério do Esporte. 

FIGURA 3 – INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO / COORDENADORES E MONITORES

Questão 3 – Como avalia a estrutura física e material disponibilizada para o funcionamento do programa segundo Tempo?

  


O Programa Segundo Tempo tem como princípio democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte como instrumento educacional e de cidadania (OLIVEIRA; PERIN, 2009), nesse sentido, é preciso evitar o emprego de abordagens excludentes, que privilegiem o esporte de rendimento caracterizado pelo treinamento repetitivo dos fundamentos de cada esporte.

4. Considerações finais

O profissional de Educação Física e/ou Esporte, com a responsabilidade da intervenção em projetos sociais, deverá ser capaz de organizar práticas esportivas e de lazer voltadas para o desenvolvimento da autonomia e identidade corporal de seus participantes, a socialização e, consequentemente, a ampliação de conhecimentos sobre práticas de movimento que compõem as diferentes manifestações esportivas e culturais presentes em nossa sociedade.

O que se faz necessário aos professores de Educação Física é a demonstração de competência através de uma prática coerente e atraente. O ensino do esporte educacional em programas sociais, desenvolvendo conteúdos e valores coerentes à faixa etária e aos interesses dos beneficiados, transforma-se em um momento rico da aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores.

O tema formação e intervenção profissional exigem um repensar constante na contemporaneidade, sua atualidade e adequação ao que está acontecendo no mundo real, com atenção especial nos avanços científico-tecnológicos e informacionais. A formação ocupa atualmente posição de destaque nas discussões acadêmicas e profissionais. Evidências têm revelado que a formação profissional e as políticas públicas que se dispõe hoje, não tem sido suficientes para garantir o sucesso das ações.

Foi identificado nesta investigação que o Programa Segundo Tempo tem impacto positivo na comunidade, decorrente de níveis elevados de satisfação com o programa, explicitados pelos pais e alunos beneficiados pelo PST. O estudo permite constatar que a comunidade aprova e está satisfeita com o programa.

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1 Professor do Curso de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Comunitário da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Doutor em Educação Física – UFPR. Email: khaledunicentro@hotmail.com. Paraná, Brasil.

2 Professor do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Doutor em Educação Física – UNICAMP. Email: gilmailcruz@gmail.com. Paraná, Brasil.

3 Professora do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Doutora em Educação – UNICAMP. Email: marisas@irati.unicentro.br. Paraná, Brasil.

Vol. 36 (Nº 04) Año 2015
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