Espacios. Vol. 35 (Nº 2) Año 2014. Pág. 11


O docente do ensino superior inserido na cultura digital, onde o conhecimento é sempre relativo, provisório e histórico

The teacher entered the digital culture in higher education, where knowledge is always relative, temporary and historic

Aline Villela De Mello MOTTA 1. Marcos Antonio de LIMA 2

Recibido: 25/11/13 • Aprobado: 15/01/14


Contenido

RESUMO:
A necessidade dos docentes do ensino superior se renovarem e se reciclarem para que assim enfrentem esse novo discente que através de novas tecnologias disponíveis se atualiza constantemente e que embora tenha inúmeras dificuldades na aprendizagem é culto na era digital. Esse novo mundo digital constitui um conjunto de experiências no processo ensino aprendizagem e como os docentes em suas áreas de atuação enfrentam esse novo paradigma. O objetivo deste trabalho é refletir sobre o fenômeno da cultura digital e sobre os docentes inseridos neste contexto buscando exprimir a premência de uma formação adequada ao meio acadêmico.
Palavras-chave: Ensino, aprendizagem, cultura digital, ensino superior, acadêmico

ABSTRACT:
The need for teachers in higher education to renew themselves and be retrained so that they meet this new student through new technologies available are constantly updated and that although numerous learning difficulties is cult in the digital era. This new digital world is a set of experiences in the learning process and how teachers in their fields face this new paradigm. The objective of this paper is to discuss the phenomenon of digital culture on teachers and inserted in this context seeking to express the urgency for adequate academic training.
Keywords: Teaching, learning, digital literacy, higher education, academic


1. Introdução

Iniciamos este artigo com a fábula da caverna de Platão (427-347 a.C.), que resumidamente descreve a situação em que se encontra a humanidade, mas que no contexto desse artigo retrata o docente sem formação pedagógica e didática inserido no ensino superior. Na fábula em questão algumas pessoas estão presas dentro de uma caverna, acorrentadas de forma a ficar de costas para a entrada da caverna e tendo a sua frente uma parede. A luz que vem de fora projeta através das sombras a imagem do que ocorre no mundo exterior, essas pessoas acorrentadas só ouvem o barulho vindo de fora e as sombras do que se passa no mundo exterior. Para essas pessoas o que se passava na parede era a sua única realidade. Ocorre que uma das pessoas se solta e caminha para fora da caverna vendo o mundo real, ofuscado pela luz do sol, que cega esse desbravador e incompreensível a princípio, mas que vai tomando forma, com cores e sentidos até se tornar a realidade daquela pessoa.

Dentro deste contexto a metáfora de Platão (427-347 a.C) ensina que para se chegar ao conhecimento passaríamos por um momento em que nossos olhos ficariam ofuscados, como o personagem que escapa da caverna, assim como adentraríamos num mundo incompreensível até chegarmos ao conhecimento, pois para romper os paradigmas que nos cercam passamos da ignorância para ter nossa própria opinião sem ainda ter consciência do todo, para em seguida atingir o conhecimento necessário.

Platão (427-347 a.C) através de Sócrates, que nessa fábula é o personagem central, questiona o que ocorreria se o personagem que viu a realidade tomar forma voltasse para dentro da caverna e como ele seria recebido. Certamente com muita desconfiança e até mesmo sendo motivo de escárnio ao se colocar em dúvida a existência desse outro mundo. É dessa forma que esse homem, agora sábio, é obrigado a conviver no mundo com homens comuns que o consideram um sonhador.

2. Considerações Iniciais

Essa metáfora se insere perfeitamente no contexto desse estudo que busca entender, mesmo que superficialmente, a prática da docência no ensino superior inserido na cultura digital, a partir de um levantamento preliminar de dados e informações realizado junto a docentes do ensino superior, artigos, teses e dissertações relacionadas à educação no ensino superior, onde se detectou que a partir de meados dos anos 90 com o advento da internet e a partir dos anos 2000 com seu amadurecimento, houve profundas mudanças na forma de se ensinar e de se aprender e apreender o conhecimento.

A partir de levantamento preliminar passou-se a analisar as mudanças ocorridas e em andamento no ensino superior, no que diz respeito aos métodos de ensino tradicionais e ao mesmo tempo rever os instrumentos tecnológicos atuais, assim como a forma de se ensinar no ensino superior, onde na maioria das vezes o discente é aquele que melhor domina a tecnologia existente o qual será descrito com maiores detalhes durante o desenvolvimento do trabalho que envolve além do levantamento junto a docentes a revisão da literatura existente.

A partir dos anos 2000, quando a internet esta plenamente amadurecida, podemos distinguir o surgimento de diversos meios de comunicação digital que tem em comum a interface lúdica e o acesso fácil, plataformas como o Moodle, MSN, Wikipédia, Facebook, Orkut, Blog, Fololog e Twitter, para dizer dos mais conhecidos, o que tornou a comunicação pela internet uma atividade comum e até certo ponto prazerosa.

A internet passou a fazer parte do cotidiano das empresas e conseqüentemente das pessoas físicas, que passaram a ser chamados internautas, alusão ao espaço ocupado pela internet o qual também passou a ser chamado de ciberespaço. A partir desse momento e com o aumento da facilidade ao acesso à internet no Brasil encontramos um terreno propício a um novo mundo de informações facilmente acessíveis a qualquer aparato ligado a grande rede de computadores, de forma que a internet se vê plenamente inserida no contexto acadêmico passando a explorar o ensino à distância, doravante EaD, incorporando todas as possíveis fontes de informação advindas do acesso a grande rede de computadores interligados, com isso o ambiente virtual de aprendizagem, doravante AVA, passou a complementar o ensino EaD, criando novas formas de se ensinar.

3. Metodologia        

O desenvolvimento desse trabalho abrangeu primeiramente entrevistas com docentes do ensino superior, que atuam em instituições de ensino no estado de São Paulo, com o objetivo de elencar as primeiras impressões sobre o ensino superior. Essas entrevistas iniciais permitiram delimitar a questão do ensino superior e suas limitações, possibilitando uma abordagem mais padronizada sobre o tema. A realização de pesquisa sobre o tema, através de artigos, teses, dissertações e livros teve o objetivo de levantar dados para a análise das mudanças que estão ocorrendo no ensino superior no estado de São Paulo, quanto à capacitação do docente e conseqüentemente, sobre sua inserção na cultura digital.

4. Referencial teórico

Conforme Ramal (2000) partindo do momento em que as antigas culturas não conheciam a escrita, a transmissão do conhecimento se dava através de narrativas orais, onde o conhecimento era preservado, com o surgimento da escrita o conhecimento adquirido pode ser compartilhado com as gerações futuras.

Lévy (1999) trata em seus estudos os principais aspectos da ciência da computação e da comunicação no mundo neoliberal, enfatiza ainda que a cibercultura transforma o saber através de um conjunto de técnicas materiais e intelectuais, que se desenvolvem na medida em que leitores fazem uso de elementos lingüísticos e cognitivos na rede de computadores conectados a internet da mesma forma que fariam fora desse ciberespaço. Ainda Lévy (1996) cita que o advento da internet modificou a maneira de como se ler e aprender no ciberespaço.

Os docentes, especialmente do ensino superior, dado a acessibilidade, devem usufruir das tecnologias disponíveis na rede para a sua prática docente desenvolvendo com os alunos atividades mais funcionais, aja visto a infinidade de informações disponíveis nesse ciberespaço, sendo essencial trabalhar o aspecto cognitivo da aprendizagem, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem.

Sobre ler e escrever na cultura digital Ramal (2000) nos alerta para o fato que:

“as relações de poder que surgem na escola a partir dos instrumentos tecnológicos são totalmente novas. Pela primeira vez na história, a tecnologia da dominação é mais conhecida pelo “dominado”. Em outros termos: até hoje o professor trazia o saber, a norma culta, a escrita “correta”, para os não letrados, reproduzindo no contexto escolar...as situações de imposição lingüística vividas pelas culturas orais. Hoje ocorre um paradoxo: aquele a ser educado é o que melhor domina os instrumentos simbólicos do poder, o aparato de maior prestígio: as tecnologias. O que ocorrerá na sala de aula ?” (RAMAL, 2000, p. 8)

Saber trabalhar os conteúdos e a forma de expor aos alunos deve ser totalmente revista, tendo em vista que a atenção do aluno hoje é voltada para uma quantidade infinita de informações via ciberespaço, mas sempre de forma superficial, trazer o aluno de volta a realidade da sala de aula para que tenham aprendizagem significativa, ou que a aprendizagem tenha significado para o aluno é de fato o grande desafio para o docente.

Diversos artigos já exploraram o fato inquestionável dos inúmeros problemas decorrentes da ausência da formação pedagógica ou didática de docentes no ensino superior, além da questão dos baixos salários e falta de prestígio dos docentes, nesse caso desde o ensino fundamental, médio e superior, de forma que apenas os cursos de graduação em licenciatura se preocupam, mesmo que minimamente com a formação do professor (Pimenta, Anastasiou, 2002; Belei at al, 2006).

Tendo em vista que na maioria das instituições de ensino superior não é exigido o curso de formação pedagógica para docência, onde a especialização do docente por si só já se mostra suficiente, bastando para isso ter conhecimento específico da área em que se leciona, temos profissionais até certo ponto despreparados para lecionar, assim como, sem todas as condições necessárias para lidar com esse novo discente, de forma que se torna imperativo a profissionalização dos docentes universitários, muitos dos quais não possuem formação pedagógica ou didática, situação criada em decorrência da forma como se estruturou o ensino superior no Brasil (BELEI at al; 2006). Ainda segundo dados da UNESCO, demonstram que o número de professores universitários, entre 1950 e 1992, saltou de 25 mil para 1 milhão, aumento de 40 vezes, sendo em sua quase totalidade professores improvisados, sem formação pedagógica ( BELEI, 2006, pud Pimenta, Anastasiou, 2002).

5. Tendências e desafios

O ensino superior sobrevive às grandes mudanças no cenário educacional brasileiro, em especial no período pós internet onde o número de alunos no ensino superior tem crescido de forma geométrica, tendo em vista a utilização também crescente do AVA. A acessibilidade da internet, especialmente com o advento da banda larga exige que o profissional docente no ensino superior se remodele, a fim de que o ensino superior possa também ter uma melhor qualidade. O investimento necessário, muitas vezes vem do próprio docente que busca especialização através de cursos, congressos e pós-graduação. Se até os anos 90 havia apenas a necessidade de conhecimentos específicos, entramos nos anos 2000 exigindo um docente plenamente capacitado para lidar com essa nova cultura digital, onde o conhecimento é sempre relativo, provisório e histórico.

Da mesma forma, se a Internet proporciona mais rapidez no acesso a mais e melhores informações ao discente, também seria razoável supor, sabendo-se que o grau de qualificação sempre foi um fator chave em qualquer especialidade, em especial na educação, que o docente também desse prioridade à formação específica para o ensino superior conforme Silva Junior e Sguissard (2001).

Entretanto há que se fazer uma consideração a este respeito, que diz respeito à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) e o decreto nº 2.207/97, onde regulamenta o sistema federal de ensino e exige das instituições de ensino superior preparação pedagógica para o exercício da docência no ensino superior, mas ainda sem garantir formação específica para o processo educacional.

6. Conclusão

Este trabalho foi motivado pela tentativa de se entender o nível de qualificação dos docentes do ensino superior inseridos na cultura digital, sabendo-se que o conhecimento adquirido é sempre relativo, depende do ponto de vista de cada pessoa, é provisório pois a quantidade de informação disponibilizada todos os dias na internet é inversamente proporcional a capacidade de assimilação por parte do docente e sempre será histórica, devido as constantes transformações em andamento no ensino superior no Brasil, de forma que este pequeno estudo, ainda que superficial, busca trazer a tona mais algumas informações relevantes sobre a situação do docente no ensino superior.

Por fim tal motivação deveu-se ao fato de constatar, durante nossos poucos anos lecionando no ensino superior, que diversos professores são totalmente despreparados e por conseqüência as instituições também pouco ou nada sabiam do manuseio das novas tecnologias de informação, no entanto, não só pela formação, assim como pelo tempo de atuação na vida corporativa e no ensino superior, grande parte dos docentes buscam qualificação a fim de terem autonomia e capacidade de gerenciar o próprio conhecimento.

7. Referências bibliográficas

BELEI, R. A. ; GIMENIZ-PASCHOAL, S. R. ; NASCIMENTO, E. N. ; NERY, A. C. B. . Profissionalização dos professores universitários. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 87, p. 401-410, 2006.

LÉVY, Pierre. O que é virtual ?  São Paulo: Editora 34, 1996.

LÉVY, Pierre. Cibercultura (trad. Carlos Irineu da Costa).  São Paulo: Editora 34, 1999.

PLATÃO, A República. livro VII. Martin Claret. São Paulo: SP: Brasil: 2001.

PIMENTA, S.G.;ANASTASIOU, L.G.C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002.

RAMAL, Andrea Cecília. Ler e escrever na cultura digital. Porto Alegre: Revista Pátio, ano 4, nº 14, agosto-outubro 2000,p.21-24.

SILVA JUNIOR; J.R.; SGUISSARD, V. Novas faces da educação superior no Brasil. São Paulo: Cortez, 2001.


1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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