Espacios. Vol. 34 (12) 2013. Pág. 15


Desenvolvimento e construção de eletrocardiógrafo de baixo custo

Development and construction of low cost electrocardiograph

Júlio César Trevisan DAL BEM 1 , Sani de Carvalho Rutz DA SILVA 2, Amauri Amorin ASSE 3 , Sérgio OKIDA 4 y Jefferson Luiz Brum MARQUES 5

Recibido: 15-10-2013 - Aprobado: 01-11-2013


Contenido

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RESUMO:
As doenças cardiovasculares (DCVs) constituem um dos maiores problemas que atingem a população mundial. Segundo dados do Atlas de Doenças Cardíacas e Derrames da Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são as principais causadoras de morte no mundo, responsáveis por um terço de todas as mortes globais. Estima-se que 17 milhões de pessoas morrem em consequência de DCVs todos os anos. No âmbito do diagnóstico precoce como forma de prevenção para DCVs, em especial as graves, que são potencialmente letais, apresenta-se o projeto de desenvolvimento de eletrocardiógrafo a baixo custo de construção, operação e manutenção, equipamento utilizado para a realização do eletrocardiograma (ECG), exame de fundamental importância para o diagnóstico de anomalias de funcionamento do sistema cardiovascular, comprovando a viabilidade do desenvolvimento de soluções a baixo custo para atender a saúde, em especial da rede pública, com a mesma precisão e confiabilidade de equipamentos profissionais. PALAVRAS-CHAVE: Doenças cardiovasculares, Eletrocardiograma, Eletrocardiógrafo, DCVs, ECG.

ABSTRACT:
Cardiovascular diseases (CVDs) constitute one of the biggest problems that attack the world’s population. According The Atlas of Heart Disease and Stroke from the Worth Health Organization (WHO), cardiovascular diseases are the leading causes of death in the world, being responsible for one third of all global deaths. The context of early detection as a means of prevention for CVDs, is the proposal of development of a low cost of construction, operation and maintenance electrocardiograph, used for the electrocardiogram exam (ECG), of fundamental importance for the diagnosis of cardiovascular system diseases, proving the possibility of low-cost solutions development to serve health, especially the public health, with the same accuracy and reliability of professionals equipments.
KEYWORDS: Heart diseases, electrocardiogram, electrocardiograph


Introdução

As doenças cardiovasculares (DCVs) são as principais causadoras de mortes no mundo, levando cerca de 17 milhões de pessoas a óbito todos os anos, o que representa um terço de todas as mortes globais. Em seguida, estão as infecções respiratórias, diarreia, AIDS, tuberculose, câncer de pulmão e acidentes de trânsito. (World Health Organization, 2004).

No Brasil, em 2006, o número de óbitos por doenças do aparelho circulatório foi de 302.817, representando 26,58% dos óbitos registrados no país, para o mesmo ano, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade vinculado ao Ministério da Saúde. (Ministério da Saúde, 2008).

O Brasil aparece em 9º lugar no ranking dos países que apresentam maior mortalidade em decorrência de doenças cardiovasculares (World Health Organization, 2004),

Contudo, estudo do Ministério da Saúde aponta queda de 20,5% nas mortes por doenças cardiovasculares, no período de 16 anos, de 1990 a 2006, mas ainda é a principal causa de óbito no país, segundo dados do Saúde Brasil 2008, publicação anual vinculada ao Ministério da Saúde. (Portal da Educação Física, 2009).

De acordo com o Departamento de Análise de Situação de Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde, a melhora nos resultados se deve ao maior nível de instrução da população, bem como às políticas de prevenção à saúde, como a promoção de alimentação saudável e o estímulo à atividade física. “No que se refere à assistência à saúde, a expansão da atenção básica contribuiu para esse resultado, porque são doenças que podem ser controladas com diagnóstico precoce e informação”. (Secretaria de Vigilância em Saúde, 2006).

No âmbito do diagnóstico precoce como forma de prevenção para doenças cardíacas, em especial as graves, que são potencialmente letais, apresenta-se a questão: Como evitar mortes provocadas por doenças cardiovasculares? Diagnósticos, tratamentos e programas de prevenção estão sendo realizados atualmente com periodicidade cada vez maior, diminuindo a incidência do problema e amenizando os custos envolvidos. (Braunwald, 2000).

A análise de sinais eletrocardiográficos, como forma de diagnóstico e prevenção, é um assunto a décadas muito discutido no meio médico, principalmente pela importância de se realizar tais exames. No entanto, as famílias menos favorecidas de recursos padecem pela privação a esse tipo de exame, pelos altos custos dos equipamentos envolvidos.

O aparelho de alta sensibilidade que faz a captura, a filtragem e o registro dos potenciais elétricos provenientes do coração é conhecido como eletrocardiógrafo. O eletrocardiógrafo foi concebido em 1902 pelo médico fisiologista Willem Einthoven (1860 – 1927) e até hoje sua tecnologia é aprimorada. Entretanto, os eletrocardiógrafos que hoje se encontram para comercialização custam em média R$ 4.000,00 ( Twenga, 2010), um exemplo é o equipamento CardioPerfect PC-ECG, de fabricação australiana e comercializado pela empresa Economedical ao custo de R$4.967,00 (Economedical, 2011), o que restringe o acesso ao exame por ele emitido, o eletrocardiograma, sendo um exame imprescindivel, porém caro.


Figura 1 – Eletrocardiógrafo CardioPerfect PC-ECG

(Fonte: http://www.economedical.com.au/cardioperfect_pc-ecg.html)

É neste cenário que se propôs o desenvolvimento de eletrocardiógrafo a baixo custo de construção, operação e manutenção, atendendo, assim, a população carente, aproveitando-se dos conhecimentos na área de engenharia para a proposição de tal projeto.

Material e métodos

Levantamento do estado da arte: Pesquisa minuciosa por referências bibliográficas e materiais já desenvolvidos a respeito do tema proposto. Essa primeira etapa é de fundamental importância para o desenvolvimento de um trabalho de conotação inovadora, margeando a redundância de trabalhos já desenvolvidos e orientando as linhas de pesquisa a serem seguidas para tal realização.

Estudo das folhas de dados (datasheets): Com os tópicos de pesquisa definidos, por meio do levantamento do estado da arte, passa-se então para o estudo das folhas de dados dos semicondutores passíveis a implementação no projeto. Grupos de semicondutores de mesma família, mas com características elétricas diferentes são analisados comparativamente uns aos outros, selecionando-se os mais adequados para a construção do protótipo.

Construção e teste do protótipo. Definidos os semicondutores mais adequados, passa-se para a etapa de construção do protótipo. Orientando-se pelas folhas de dados dos componentes selecionados, desenvolve-se, então, o circuito esquemático do eletrocardiógrafo. Em seguida, faz-se o desenho e confecção das placas de circuito impresso para a montagem. O passo seguinte é a soldagem dos semicondutores na placa de circuito impresso passando-se, em seguida, para a fase de testes. Testes são feitos para aferir a aproximação do circuito construído para um modelo idealizado e esperado para o projeto. Instrumentos como osciloscópio, gerador de função, multímetro, fonte simétrica estabilizada e um simulador de sinais cardíacos são utilizados para o teste do protótipo

Procedimentos de verificação. A verificação do funcionamento é feita por meio de aferições diretas no circuito do protótipo, comparando-se com resultados desejáveis para o circuito, definidos por um modelo construído na etapa de construção do circuito esquemático do eletrocardiógrafo.

Procedimentos de correção. Essa etapa metodológica é executada a critério, dependendo exclusivamente dos resultados obtidos nas etapas de teste e verificação. No caso de divergência acentuada entre os resultados obtidos e os resultados desejados, passa-se para a etapa de correção do circuito, a fim de isolar as variáveis causadoras da divergência.

Desenvolvimento do aplicativo de interação. Assegurado o funcionamento do eletrocardiógrafo, passa-se para o desenvolvimento do aplicativo de interação do circuito eletrônico com a interface humana.

Material empregado no desenvolvimento do projeto. Os semicondutores utilizados para a construção do protótipo foram escolhidos com base no estudo de suas respectivas folhas de dados, optando-se pelos componentes mais adequados para o que se propõe e são listados na Tabela 1. Os instrumentos de medição empregados na montagem e teste do protótipo são listados na Tabela 2.

Quantidade

Fabricante

Código

Emprego

1

Texas Instruments

INA129UA

Amplificador de Instrumentação

2

Texas Instruments

OPA2131UJ

Amplificador operacional de uso geral

1

Texas Instruments

ISO124U

Amplificador isolador

1

Texas Instruments

PCM2906BDBR

Codec de áudio USB

2

On Semiconductor

MBR0540T1G

Diodos Schottky

1

SSI SCHAEFER

XTAL003210- HC49/4HSMX

Cristal de ressonância

17

Não especificado

Diversos

Resistores diversos

24

Não especificado

Diversos

Capacitores diversos

2

Texas Instruments

DCH010505D

Conversor CC/CC isolado

2

Fairchild Semiconductor

LM79L05ACZ

Circuito integrado regulador de tensão

2

Fairchild Semiconductor

LM78L05ACZ

Circuito integrado regulador de tensão

1

Kingbright

L-934ID

LED 3mm vermelho

1

EMBRACIP

Não especificado

Placa de circuito impresso

1

RCI Circuitos

Não especificado

Placa de circuito impresso

Não especificado

Não especificado

Não especificado

Material diverso (fios, cabos, plugs)

Tabela 1 – Lista de material empregado na construção do protótipo

Para a realização de testes e verificação do circuito, foram utilizados os instrumentos:

Fabricante

Modelo

Função

Minipa

MPL-3303

Fonte simétrica ajustável regulada

Tektronix

TDS-210

Osciloscópio digital

Fluke

179

Multímetro digital

GoldStar

PG-2002C

Gerador de função

IEB – UFSC

Não especificado

Simulador de ECG

Tabela 2 – Lista de instrumentos empregados no teste e verificação do circuito

Resultados e Discussão

Nos trabalhos realizados no 1° semestre de pesquisa, foram levantados referências bibliográficas e outros materiais já produzidos a respeito do tema proposto. Nesta etapa, foi desenvolvido o circuito esquemático do protótipo do eletrocardiógrafo, para fins de teste, bem como o layout das placas de circuito impresso e a seleção dos componentes mais adequados para a montagem.

A montagem do projeto foi dividida em três etapas: primeiro pela montagem e teste do circuito da fonte de alimentação do eletrocardiógrafo, em seguida, se deu a montagem e teste do circuito do eletrocardiógrafo e, por fim, se deu o desenvolvimento do software de interação do circuito do eletrocardiógrafo com um operador capacitado.

Montagem do eletrocardiógrafo

Na primeira montagem, em matriz de contato (protoboard) ilustrada na Figura 2, da fonte de alimentação do eletrocardiógrafo, foram utilizados dois conversores CC/CC isolados DCH010505D, com a função de receber uma tensão de 5V da tomada USB do computador e gerar, a partir desta tomada, um canal simétrico e isolado de ±5V para cada conversor. A alimentação simétrica é necessária para o funcionamento dos amplificadores e o isolamento elétrico do computador é imprescindível para garantir a segurança do paciente. Como os conversores CC/CC empregados não possuem saída regulada, ou seja, a tensão na saída depende exclusivamente da carga aplicada, dois reguladores de tensão (78L05 e 79L05) foram empregados para fazer a regulação. Capacitores cerâmicos foram utilizados para filtragem das componentes alternadas.

O circuito esquemático da fonte é ilustrado na Figura 3. Testes foram feitos para a verificação dos resultados esperados para o circuito (Figura 4), com entrada USB (+5V) e dois canais de saída simétricos e isolados de ±5V. Em teste, o circuito se mostrou bastante estável com eficiência próxima a 86% para uma carga de 100mA. A componente alternada (vca) ou ripple aferido foi inferior a 1mVrms. Quanto ao isolamento, foi aferido valor de resistividade muito superior a 1MΩ. A montagem definitiva, feita em placa de circuito impresso (Figuras 5 e 6), é ilustrada na Figura 7.

Figura 2 – Montagem da fonte de alimentação do eletrocardiógrafo em matriz de contato

Fonte: (O Autor)

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Figura 3 – Circuito esquemático da fonte de alimentação do eletrocardiógrafo

Fonte: (O Autor)

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Figura 4 – Procedimento de teste e verificação da fonte de alimentação

Fonte: (O Autor)

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Figura 5 – Layout da placa de circuito impresso da fonte de alimentação

Fonte: (O Autor)

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Figura 6 – Placa de circuito impresso da fonte de alimentação confeccionada

Fonte: (O Autor)

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Figura 7 – Fonte de alimentação do eletrocardiógrafo montada

Fonte: (O Autor)

Na segunda montagem, do eletrocardiógrafo, com o circuito ilustrado na Figura 9, onde eletrodos são estrategicamente posicionados sobre a superfície do corpo do paciente, com isso, os potenciais elétricos conduzidos à superfície são captados, passam por um circuito de proteção contra transientes de tensão e são enviados para o eletrocardiógrafo.

No eletrocardiógrafo, o sinal recebido do paciente é amplificado por meio de um amplificador de instrumentação, cujas características elétricas são: alta impedância de entrada, baixa impedância de saída, ganho elevado, elevada rejeição em modo comum (CMR), baixo ruído e baixo offset. Na amplificação do sinal, amplia-se tanto o sinal útil para a análise quanto ruídos presentes no meio. Por esse motivo, o sinal deve ser filtrado para remover parte dos ruídos. Em primeiro momento, o sinal passa por um filtro ativo passa-altas com frequência de corte de 0,05Hz para eliminar as componentes de corrente contínua do sinal. Em seguida, o sinal passa por um filtro ativo passa-baixas com frequência de corte de 150Hz, a fim de eliminar os ruídos de alta frequência provenientes de outros equipamentos.

Em seguida, o sinal passa por um isolador e segue para um conversor analógico/digital (AD), exemplificado pela Figura 8, que faz a conversão do sinal analógico para sinal digital e então o envia para o computador, onde um software faz a devida interpretação.

Figura 8 – Exemplo de conversão analógico/digital (AD)

Fonte: (O Autor)

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Figura 9 – Diagrama elétrico do eletrocardiógrafo

Fonte: (O Autor)

Testes foram feitos para a verificação dos resultados obtidos, comparando-os com valores já esperados, calculados na etapa de confecção do diagrama esquemático. As ilustrações das Figuras 10 e 11 mostram o desenho da placa de circuito impresso do circuito e a Figura 12 mostra a placa já confeccionada. O circuito montado é ilustrado na Figura 13.

Figura 10 – Layout da placa de circuito impresso do eletrocardiógrafo

Fonte: (O Autor)

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Figura 11 – Desenho da placa de circuito impresso do eletrocardiógrafo com máscara de componentes

Fonte: (O Autor)

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Figura 12 – Placa de circuito impresso do eletrocardiógrafo confeccionada

Fonte: (O Autor)

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Figura 13 – Eletrocardiógrafo montado

Fonte: (O Autor)

Com o circuito do eletrocardiógrafo concluso, parte-se para a etapa de testes (Figura 14), aferindo-se valores de grandezas elétricas. O diagrama de blocos do eletrocardiógrafo é ilustrado na Figura 15.

Figura 14 – Teste e verificação do eletrocardiógrafo

Fonte: (O Autor

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Figura 15 – Diagrama de blocos do eletrocardiógrafo

Fonte: (O Autor)

Na verificação dos resultados obtidos na fase de testes, em primeira análise, o circuito foi acometido por inúmeras variáveis físicas que exerceram influência sobre o sinal amostrado, gerando ruídos de largo espectro. Uma parte considerável desses ruídos pôde ser eliminada tomando-se alguns cuidados na montagem, como a utilização de cabos curtos e blindados, para testes, e toda a malha do circuito aterrada. Também houve a necessidade e substituição dos diodos Schottky, pois os originalmente selecionados estavam degenerando o sinal amostrado. Alguns valores nominais de resistores e capacitores também precisaram ser ajustados e a placa do circuito já montado precisou ser lavada com álcool isopropílico - que possui baixíssimos níveis de íons contaminantes, o que pode favorecer a oxidação dos terminais dos componentes - para a remoção de resquícios de solda e fluxo de solda entre os terminais dos componentes.

Tomado esses cuidados, o nível de ruído do sinal amostrado reduziu consideravelmente, porém, não totalmente. Ruídos de alta frequência de origem não identificada continuaram contaminando o sinal. Como tentativa de solução, um filtro passa-faixa ativo foi implementado no circuito e outros filtros digitais foram implementados via software, permitindo-se mapear e atenuar os ruídos de alta frequência.

Em aferição direta, o amplificador de instrumentação INA129UA apresentou ganho aproximado de 98 (razão entre as amplitudes do sinal de saída e do sinal de entrada) em contrapartida com os 104 que eram esperados por meio de cálculos. Todavia, está dentro da margem de tolerância, considerando que os componentes possuem margens de tolerância em função de variações em seus valores nominais por influencia de temperatura, por exemplo. Apresenta, também, tensão de offset máxima de 50µV e CMR típico de 120dB. Os amplificadores operacionais OPA2131UJ apresentam tensão de offset máxima de 750µV e CMR típico de 100dB. O amplificador isolador ISO124U promove o isolamento elétrico entre o paciente e a rede elétrica assegurando isolamento de 2500Vrms com taxa máxima de não-linearidade de 0,01%.

O circuito é alimentado com dois canais simétricos e isolados de ±5V e apresentou consumo de corrente de 67,45mA, sendo que o componente que demanda maior corrente é o Codec de áudio USB PCM2906BDBR, empregado como conversor AD, que necessita de aproximadamente 56mA para operação. A corrente total exigida da tomada USB para operação do eletrocardiógrafo é de 76,9mA. A diferença de fase entre o sinal de entrada e o sinal de saída é muito pequena e não exerce significativa influencia para o fim ao qual o projeto se propõe. O circuito de conversão analógico/digital (AD), utilizando-se o Codec de áudio USB PCM2906BDBR, possui a tecnologia plug and play, ou seja, o hardware é reconhecido automaticamente pelo computador. Além desta característica de conectividade, o componente apresenta índice de distorção harmônica THD+N igual a 0,01% e índice de relação sinal-ruído SNR igual a 89dB.

Os diodos Schottky associados aos pinos de entrada do amplificador de instrumentação garantem a proteção do componente já que tensões acima de 300mV são desviadas para a malha do circuito. Na saída do amplificador de instrumentação são implementados um filtro passa-altas ativo com frequência de corte de 0,05Hz, com a função de eliminar as componentes CC do sinal e um filtro passa-baixas ativo com frequência de corte de 150Hz, com a função de atenuar ruídos de alta frequência.

Nos testes utilizando-se o gerador de função para gerar um sinal de entrada e um osciloscópio digital para monitorar graficamente o comportamento do sinal de saída, o circuito do eletrocardiógrafo comportou-se dentro dos limites desejáveis. Neste teste, um sinal de amplitude 20mV e frequências que variaram entre 1Hz e 100Hz foi enviado ao circuito pelo gerador de função. Na saída, monitorada pelo osciloscópio digital, um sinal de amplitude 1960mV foi assistido, com pequena diferença de fase, porém bastante ruidoso. Com algumas modificações no circuito, o nível de ruído foi reduzido em estimados 30%. Não foi possível efetuar testes com sinal de amplitude inferior a 20mV utilizando o gerador de função por limitação do próprio instrumento disponível para teste.

Em testes realizados com um simulador de eletrocardiograma, onde o sinal em amplitudes iguais aos que são observadas pelos eletrodos colocados sob a superfície do corpo do paciente, em torno de 0,5mV a 5mV, a relação sinal-ruído se manteve próxima a um, dificultando a separação entre sinal útil e ruído.

Diagrama de isolamento

A Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML), por meio da R90 (ABRIL.COM., 2010), elabora recomendações metrológicas sobre as quais, em geral, se baseiam as regulamentações técnicas metrológicas para elaboração de equipamentos eletrocardiográficos. Seguindo as recomendações da R90, o eletrocardiógrafo em questão conta com diversos blocos de proteção e isolamento, garantindo assim a segurança do paciente no uso do instrumento. O diagrama do circuito de proteção é mostrado na Figura16.

Figura 16 – Diagrama de isolamento do circuito

Fonte: (O Autor)

Software de Interação

O interfaceamento entre o operador e o circuito é feito por meio de um software, especificamente desenvolvido para este propósito, que permite ao operador monitorar e controlar a operação do eletrocardiógrafo. O software é desenvolvido em Delphi e utiliza bibliotecas profissionais para manipulação de sinais. A ilustração da Figura 17 mostra a tela principal do programa, onde se pode notar vários botões organizacionais e alguns de instruções operacionais. A Figura 18 apresenta um exemplo de sinal amostrado no simulador de eletrocardiograma. Já na tela de configuração do programa, ilustrada na Figura 19, se pode notar a existência de dois filtros digitais e um espectrômetro para monitorar os níveis de ruído (frequências e amplitudes).

Figura 17 – Tela principal do programa de interação

Fonte: (O Autor)

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Figura 18 – Exemplo de sinal amostrado

Fonte: (O Autor)

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Figura 19 – Tela de configuração do programa

Fonte: (O Autor)

Na primeira tela do programa, nota-se a presença de dois campos para inserção de dados: nome do paciente e idade. A função de ambos os campos é fornecer ao operador a identificação básica do eletrocardiograma que está sendo realizado. Existem também dois comandos operacionais: Ganho e intervalo de captura. É de conhecimento geral que cada pessoa possui características fisiológicas únicas, dessa forma, os impulsos cardíacos e suas respectivas amplitudes diferem de pessoa para pessoa.

O software de interação vem pré-calibrado para certa amplitude de sinal cardíaco, entretanto, pode ser necessário fazer um ajuste de ganho em determinados pacientes, como por exemplo, pacientes idosos que por possuírem uma taxa de hidratação da pele inferior a de uma pessoa mais jovem, há pouca condutividade pela superfície do corpo, havendo a necessidade de se fazer um ajuste de ganho para compensar a baixa amplitude do sinal capturado.

O custo de montagem do protótipo é mostrado na Tabela 3, abaixo:

Quantidade

Item

Valor

TOTAL

1

INA129UA

U$ 8,72

U$ 8,72

2

OPA2131UJ

U$ 3,38

U$ 6,76

1

ISO124U

U$ 20,00

U$ 20,00

1

PCM2906BDBR

U$ 6,44

U$ 6,44

2

MBR0540T1G

U$ 0,50

U$ 1,00

1

XTAL003210- HC49/4HSMX

U$ 1,00

U$ 1,00

17

Resistores

U$ 0,10

U$ 1,70

24

Capacitores

U$ 0,10

U$ 2,40

2

DCH010505D

U$ 9,98

U$ 19,96

2

LM79L05ACZ

U$ 0,63

U$ 1,26

2

LM78L05ACZ

U$ 0,63

U$ 1,26

1

L-934ID

U$ 0,10

U$ 0,10

1

PCI

U$ 50,00

U$ 50,00

1

Diversos

U$ 23,00

U$ 23,00

-

TOTAL

-

U$ 143,60

Tabela 3 – Custos de montagem do protótipo

Conclusões

Com base nos testes realizados, nos dados obtidos e nos modelos previamente calculados, algumas conclusões podem ser tomadas: é perfeitamente possível e viável o desenvolvimento de soluções a baixo custo para a saúde, em especial da rede pública, com a mesma precisão e confiabilidade de equipamentos profissionais; o eletrocardiograma é um exame de fundamental importância, pois avalia a atividade do músculo cardíaco e detecta possíveis alterações e distúrbios que possam colocar a vida do paciente em risco; alguns cuidados especiais devem ser tomados para operação do eletrocardiógrafo, por se tratar de um equipamento muito sensível a interferências; filtros bastante sensíveis são necessários para que o sinal útil seja isolado dos sinais ruidosos, sem que haja grandes perdas no sinal.

Referências

ABRIL.COM. (2010). Saber identificar e reagir corretamente a um infarto pode evitar sequelas graves. Brasil. Disponível em: <http://www.abril.com.br/noticias/comportamento/saber-identificar-reagir-corretamente-infarto-pode-evitar-sequelas-graves-562999.shtml>. Acessado em 11 de outubro de 2010 às 12:01:05.

Braunwald. (2000) Journal of the American Heart Association. Estados Unidos. Disponível em: <http://www.circ.ahajournals.org/cgi/content/full/102/10/1193>. Acessado em 11 de outubro de 2010.

Economedical. CardioPerfect PC-ECG. Disponível em: <http://www.abril.com.br/noticias/comportamento/saber-identificar-reagir-corretamente-infarto-pode-evitar-sequelas-graves-562999.shtml>. Acessado em 07 de agosto de 2011 às 20:49:00.

Guyton, A. C.; Hall, J. E.; (1997). Tratado de Fisiologia Médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S. A.

International Organization Of Legal Metrology, OIML. International Recommendation OIML R90. Disponível em: <http://www.oiml.org/publications/R/R090-e90.pdf>. Acessado em 11 de outubro de 2010 às 16:42:25.

Ministério da Saúde. (2002). Equipamentos Médico-Hospitalares e o Gerenciamento da Manutenção. Capacitação à distância. Brasília- DF.

Ministério da Saúde. (2008). Indicadores e Dados Básicos (IDB). Brasil. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2008/matriz.htm>. Acessado em 11 de outubro de 2010 às 15:32:05.

Portal da Educação Física. (2009). Morte por doença cardiovascular cai 20,5% em 16 anos. Brasil. Disponível em: <http://www.educacaofisica.com.br/noticias_mostrar.asp?id=7647>. Acessado em 02 de setembro de 2010 às 22:03:01.

Secretaria de Vigilância em Saúde. (2006). SVS em rede. Brasil. Disponível em: <http://189.28.128.179:8080/svs_informa/edicao-especial-expoepi-2/mortes-por-doencas-cardiovasculares-caem-20-5-no-brasil>. Acessado em 08 de outubro de 2010 às 09:12:06.

Twenga. Buscador de compras. Disponível em: <http://www.twenga.com.br/precos-eletrocardiografo.html>. Acessado em 12 de outubro de 2010 às 23:04:52.

World Health Organization, OMS. (2004). The Atlas of Heart Disease and Stroke. Genebra. Disponível em: <http://www.who.int/cardiovascular_diseases/resources/atlas/en/>. Acessado em 12 de outubro de 2010 às 15:36:00.


1 Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: julio@exa.ind.br
2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa. E-mail: sani@uftpr.edu.br
3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa. E-mail: amauriassef@utfpr.edu.br
4 Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa. E-mail: sergiookida@utfpr.edu.br
5 Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: jmarques@ieb.ufsc.br


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