Espacios. Vol. 34 (12) 2013. Pág. 7


Uma discussão sobre a concepção e estrutura de modelos de desenvolvimento de produtos

A discussion on the design and structure of different product development

Carlos Fernando JUNG 1 , Carla Schwengber TEN CATEN 2 y José Luis Duarte RIBEIRO 3

Recibido: 30-10-2013 - Aprobado: 30-12-2013


Contenido

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RESUMO:
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa que teve por finalidade analisar 21 modelos de Desenvolvimento de Produtos (DP). O Método utilizado na pesquisa permitiu classificar as etapas metodológicas de cada modelo de DP, interpretar e identificar as características lineares e sistêmicas dos modelos, pela utilização de um Diagrama Referencial Linear/Sistêmico – DRLS. O trabalho teve como principais resultados: (i) uma análise estrutural contemplando a classificação das etapas metodológicas dos modelos em três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento, disponibilizando referencial para futuras pesquisas; (ii) um modelo diacrônico do desenvolvimento histórico dos modelos de DP; e (iii) um quadro síntese relacionando os modelos de DP com a existência de etapas metodológicas nas três fases citadas anteriormente e as características lineares e sistêmicas. Os resultados apresentados podem ajudar gestores de DP a selecionar modelos de DP mais apropriados para as suas necessidades.
Palavras Chave: Desenvolvimento de produto, Pensamento Linear, Pensamento Sistêmico

ABSTRACT:
This paper presents the results of a qualitative research emphasizing the analysis of 21 Product Development (PD). The method used in the research allowed to classify the methodological steps for each model of PD, interpret and identify the linear and systemic characteristics of the models, by using a Linear / Systemic Referential Diagram - LSRD. The main results were: (i) a structural analysis contemplating a classification of the model´s methodological steps in three phases: pre-development, development and post-development, offering important referential for future researches; (ii) a diachronical model of the historic development of the PD models; and (iii) a synthesis establishing the relationship among PD models with the existence of methodological steps on the three phases previously cited and linear or systemic characteristics. Presented results can help PD managers to select PD models better suited to their needs.
Key words: Product Development, Linear Thinking, Systemic Thinking


1. Introdução

Nas atividades científicas e tecnológicas, as ações podem ser caracterizadas pelos padrões de pensamento de seus atores. Os modelos existentes para Desenvolvimento de Produtos (DP) envolvem doutrinas e conceitos que representam distintas visões de mundo. Os padrões, conhecimentos e princípios assimilados formam um modelo mental a partir do qual são desenvolvidos procedimentos metodológicos e várias linguagens para descrever os fenômenos, situações e problemas contextuais (Kasper, 2000).

Buss e Cunha (2002) afirmam que as abordagens sobre os modelos referenciais para o desenvolvimento de produtos encontradas na literatura são muitas vezes desconexas e apresentam diferenças metodológicos em função das distintas visões dos autores e aplicações mercadológicas.

Um importante fator que pode contribuir para a escolha de um Modelo de DP é o conhecimento das suas estruturas e respectivas características lineares e sistêmicas. Por exemplo, um modelo linear propõe a solução de problemas através de estratégias em linha reta, em etapas seqüenciais, não existindo feedbacks entre as etapas metodológicas (Longanesi, Coutinho e Bomtempo, 2008). Geralmente, é caracterizado por quantificação, previsibilidade, regularidade e controle (Muniz e Plonski, 2000). Já em um modelo sistêmico, as propriedades das partes devem ser compreendidas dentro de um contexto maior. As etapas do processo metodológico para o desenvolvimento de produtos são elaboradas a partir do entendimento das relações entre suas partes, conexões e interdependências (Freitas, 2005).

Em qualquer área das ciências, os modelos têm por finalidade a representação dos conhecimentos, fenômenos e sistemas. O modelo é a forma estruturada que possibilita a compreensão daquilo que é descoberto e produzido em qualquer parte do mundo (Fourez, 1998). O modo como os indivíduos são condicionados a pensar pelos processos de aprendizagem, contexto cultural e modelos referenciais determinam as ações práticas do dia-a-dia, tanto no plano individual como no comunitário (Peixoto Filho; Matiotti; Mancioli, 2007).

Bratianu e Vasilache (2009) afirmam que o pensamento linear é baseado em relações lineares de causa e efeito que representam aproximações cognitivas de relações mais complexas. Trata os problemas de maneira isolada e, geralmente, é caracterizado por quantificação, previsibilidade, regularidade e controle. O pensamento linear tende a ser pragmático, mecanicista, buscar a causalidade simples e generalizar fenômenos complexos a partir da análise de partes isoladas (Barton e Haslett, 2007).

Na forma sistêmica de pensar, as propriedades das partes só podem ser compreendidas dentro de um contexto maior. A percepção do mundo é realizada através do entendimento das relações entre suas partes, conexões e interdependências (Freitas, 2005).

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa descritivo-explicativa, de abordagem qualitativa, que teve por finalidade classificar as fases e etapas metodológicas e identificar as características lineares e sistêmicas de 21 modelos de DP. O Método utilizado na pesquisa permitiu: (i) analisar estruturalmente cada modelo de DP a partir da elaboração de quadros síntese para a classificação das fases e etapas metodológicas; (ii) interpretar e identificar as características lineares e sistêmicas dos modelos, utilizando o Diagrama Referencial Linear/Sistêmico – DRLS proposto por Jung, Aranda e Caten (2009); e (iii) elaborar um quadro síntese dos modelos correlacionando-os às suas características lineares e sistêmicas.

O artigo está organizado conforme segue: a seção 2 apresenta o referencial teórico, a seção 3 apresenta o método utilizado na pesquisa, a seção 4 contempla uma análise estrutural a partir da identificação e classificação das etapas metodológicas de 21 modelos de DP em três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. A seção 5 apresenta: (i) um modelo diacrônico do desenvolvimento histórico de modelos de DP contextualizados por marcos históricos da ciência e tecnologia; e (ii) um quadro síntese relacionando os modelos com a existência de etapas metodológicas nas três fases citadas anteriormente e características lineares e sistêmicas.

2. Referencial teórico

2.1 Pensamento linear

Rosenberg (2000) afirma que o modelo referencial de ciência teve origem nos séculos XVI e XVII, a partir das contribuições de Descartes, Bacon, Copérnico, Galileu e Newton. A visão do mundo passou a ser mecanicista (Santos, 1988). Essa visão envolvia a descrição lógica e racional da natureza e de qualquer processo (Groves, Vance e Paik, 2008).

A idéia de um mundo como um organismo vivo perdeu força, pois o método empregado por Descartes gerou desenvolvimento científico e tecnológico, conduzindo os estudiosos a pensar de forma analítica, racional e linear (Andrade, 2007).

A doutrina reducionista de Descartes prevê a possibilidade de descrever o mundo em termos de “naturezas simples” e “naturezas compostas”, onde sistemas complexos podem ser entendidos a partir da compreensão dos simples (Barton e Haslett, 2007). Uma importante conseqüência do reducionismo foi a fragmentação do processo de aquisição dos conhecimentos (Rosenberg, 2000). O reducionismo seria o principal responsável pelo aparecimento de diferentes disciplinas, dentro de cada área científica.

Para Westfall (1986), o pensamento analítico, pensamento mecanicista, pensamento cartesiano e o pensamento linear podem ser considerados como termos equivalentes, pois se concentram em relações lineares de causa e efeito. Corroborando, Andrade (2007) afirma que essa forma de pensar está restrita a situações em que há: (i) razoável grau de estruturação dos problemas; (ii) razoável estabilidade do sistema; (iii) baixo grau de complexidade dinâmica; e (iv) baixo grau de influência das percepções de diferentes indivíduos a partir de distintos interesses.

Viana (2007) complementa essas idéias, afirmando que o pensamento linear é baseado principalmente em uma experiência anterior, um padrão ou modelo pré-estabelecido pelo indivíduo ou em um conhecimento específico assimilado.

O pensamento linear é indispensável para resolver problemas pertinentes às ciências exatas, mas insuficiente para solucionar problemas sociais sistêmicos. Mariotti (2007) afirma que o raciocínio linear pode aumentar a produtividade e rentabilidade industrial por meio de ferramentas, técnicas e tecnologias de automação, mas não consegue resolver problemas de desemprego e da exclusão social decorrentes dessas soluções lineares empregadas, porque esses problemas são não-lineares.

Nersessian (1992) afirma que um modelo científico baseado na formulação de leis tem como pressuposto a idéia de ordem e de estabilidade do mundo, a mensagem transmitida é de que o passado se repete no futuro. Para esse autor, isso significa enxergar o mundo da matéria como uma máquina cujas operações podem ser determinadas exatamente por meio de leis físicas e matemáticas, um mundo estático que se torna cognoscível por via da decomposição dos elementos que o constituem.

Para Allen (2009), o que pode ter contribuído para a difusão do pensamento linear é o impacto produzido no processo produtivo pelas mudanças tecnológicas advindas da Revolução Industrial. Iniciada na Inglaterra em 1760, a Revolução Industrial expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX, alterando profundamente as condições sócio-econômicas dos indivíduos. A produção em larga escala e dividida em etapas sequenciais faria com que o trabalhador se distanciasse cada vez mais do produto final (Hobsbawm, 2003).

A era do determinismo, do pensamento analítico e linear, coincide com a “era das máquinas”, onde as habilidades humanas, na medida do possível, foram progressivamente substituídas por máquinas e as tarefas manuais fragmentadas em partes simples e operações repetitivas (Pádua, 2000).

Corroborando esse cenário, onde a especialização tornava-se indispensável à obtenção de trabalho, em 1859 é publicado o livro “A Origem das Espécies” de Charles Darwin e, posteriormente, em 1871, o livro “A Descendência do Homem”. O processo evolutivo proposto por Darwin baseia-se na afirmativa de que o meio ambiente seleciona os seres mais aptos e elimina os menos dotados, ou seja, a evolução ocorre por meio da seleção natural. A teoria proposta por Darwin (1871) fundamenta-se no princípio de que organismos com melhor adaptação ao ambiente tendem a sobreviver e podem transmitir suas características genéticas. Os menos adaptados acabam sendo eliminados naturalmente (Skelton, 1987).

Gomes e Moreno (2006) salientam que o capitalismo oportunizou o surgimento de novos meios de produção que modificaram a organização da sociedade, onde a fragmentação do conhecimento e a especialização do indivíduo constituem aspectos fundamentais para sua consolidação. A proposta evolucionista de Darwin pode ter fomentado a idéia, por analogia, de que, em um mundo capitalista e competitivo, somente os mais especializados e preparados intelectualmente sobrevivem.

Santos (1996) afirma que a ciência newtoniano-cartesiana influenciou o pensamento dos seres humanos durante os 400 anos de sua hegemonia. Essa forma de pensar tem deixado profundas marcas culturais e comportamentais. A autora diz que a ciência moderna, de caráter disciplinar, é a base do reducionismo e da concepção dual da realidade; um mundo constituído disciplinarmente, por conceitos que representam um mundo segmentado e fragmentado.

2.1.1. Modelos Lineares

A estrutura de um Modelo Linear possui uma estratégia em linha reta, não apresenta feedbacks entre as etapas para correção ou melhoria das atividades (Longanesi, Coutinho e Bomtempo, 2008). Esse modelo possui uma visão associada à obtenção de conhecimentos específicos e não leva em consideração as relações externas ao processo, que envolvem: gestão, coordenação, aprendizado, negociação, investigação de necessidades dos clientes e aquisição e desenvolvimento de competências (Grizendi, 2007).

Um exemplo disto é o Modelo para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) proposto por Bush (1945). Neste modelo o processo parte das atividades de pesquisa básica, avança para as fases de pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental e termina na produção e difusão. Eventualmente, é admitida a comercialização como fase final do processo (ver Figura 1).

Descripción: Modelo Linear

Figura 1 – Modelo Linear de P&D
Fonte: Adaptado de Bush (1945)

Para Bush (1945), as tecnologias são provenientes de descobertas originadas no processo da pesquisa básica e posteriormente devem ser ofertadas ao sistema produtivo. Para Kline e Rosenberg (1986), isto caracteriza o modelo de inovação denominado de “technology push”. Nesse modelo, a pesquisa básica é desenvolvida inicialmente em universidades e centros de pesquisa. A pesquisa aplicada é realizada posterior a pesquisa básica e no âmbito do setor produtivo empresarial. Essa concepção acerca das relações entre a pesquisa básica e a aplicada se mostrou inadequada ao longo das últimas décadas (Kline e Rosenberg, 1986).

Para Furtado e Freitas (2004), ao longo do tempo, os Modelos Lineares tornaram-se limitados, e o principal fator que contribuiu para o insucesso foi a não consideração das variáveis sociais, que podem influenciar positivamente ou negativamente o processo de desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos. Corroborando, Longanesi, Coutinho e Bomtempo (2008) afirmam que a intensificação do nível de competição entre as empresas e a necessidade de uma maior ênfase no mercado demandou a proposição de novos modelos.

Vale observar que a representação de um modelo de desenvolvimento de produtos usualmente é linear, ou seja, etapa por etapa, pois isso facilita a sua compreensão. Por outro lado, a operacionalização deste modelo nem sempre será linear. A operacionalização pode envolver atividades em paralelo e laços de feedback envolvendo outras fases do modelo, conforme discutido na próxima seção.

2.2 Pensamento sistêmico

Andrade (2007) afirma que o início da “era dos sistemas” foi marcada pela incapacidade da ciência especializada e compartimentada manusear problemas de complexidade crescente, como tráfego caótico, desastres ambientais e riscos nucleares. Esse autor afirma que a ciência e a engenharia, utilizando o pensamento linear, são incapazes de prever efeitos colaterais de segunda ordem, produzidos por descobertas e conquistas de primeira ordem. Já o pensamento sistêmico, concentra-se no comportamento, na dinâmica do processo e na função do sistema todo (Barton e Haslett, 2007).

Atualmente as atividades humanas tornaram-se complexas, e é necessária a interação entre as ciências para a solução de problemas sociais e tecnológicos (Gramsci, 1987). Muitos profissionais, frutos das ciências fragmentadas e existentes em diversos compartimentos estanques, agora estão se inter-relacionando com maior intensidade, na medida em que se torna necessária a abordagem sistêmica dos fenômenos humanos e naturais (Santos, 1996).

A utilização do pensamento sistêmico para a compreensão e solução de problemas científicos e tecnológicos não é nova. Referências sobre a prática da ciência de forma sistêmica podem ser encontradas já nos trabalhos realizados por Leonardo Da Vinci no século XV. Durante sua vida, escreveu, pintou e desenhou sobre anatomia, tecnologia, arquitetura e arte, utilizando uma visão sistêmica da natureza. Foi um dos pioneiros em observar e utilizar por analogia os princípios da natureza para o projeto e desenvolvimento de tecnologias (Mason, 2000).

A abordagem sistêmica para a descoberta e compreensão de fenômenos naturais foi também empregada nos estudos científicos realizados por Alexander von Humboldt, no século XVIII. No período de 1799 a 1804, Humboldt realizou uma viajem exploratória pela América Central e América do Sul. Estudou fenômenos nas áreas de etnografia, antropologia, física, geografia, mineralogia, botânica e geologia e, apesar de ter pesquisado diversos assuntos detalhadamente, sempre o fez com uma visão sistêmica. Esse cientista pensava que tudo está em constante interação na natureza, de modo que os seres vivos e fenômenos nunca co-existem e se manifestam isoladamente (Ricotta, 2003).

Uma importante contribuição à introdução do pensamento sistêmico na área tecnológica ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando dispositivos automáticos para correção de desvios e previsão de alvos aceleraram a geração de novas tecnologias. Para o projeto e desenvolvimento dessas tecnologias seria necessário pensar não mais em máquinas isoladas, mas em termos de sistemas. Seriam necessárias máquinas que permitissem controlar outras máquinas, ou seja, automatizar. Assim, automatizar é essencialmente diferente de mecanizar. Esse novo conceito acentuou a complexidade dos sistemas industriais, sociais e políticos (Kasper, 2000).

Alves (2007) explica que, em 1954, foi criada a Sociedade para o Avanço da Teoria Geral de Sistemas, que formalizou a proposta da Teoria Geral de Sistemas. Para Sarabia (1995), a teoria adota um enfoque holístico para os sistemas, busca a generalidade de leis particulares, incentiva o uso de modelos matemáticos e promove a unidade da ciência, pois é vista como o sistema dos sistemas. Corroborando, Andrade (2007) afirma que um sistema não pode ser entendido apenas pela análise, mas, sim, do todo para as partes através da síntese. A síntese, após a análise da estrutura do sistema, fornece entendimento sobre o todo (Rodriguez e Arnold, 1991).

Kasper (2000) afirma que é possível destacar três aspectos constitutivos do conceito de sistema, sendo estes: (i) os elementos ou objetos inter-relacionados; (ii) os processos de comunicação, controle e a estruturação em níveis; e (iii) as propriedades emergentes e capacidades adaptativas como características pelas quais um sistema é identificado como um todo integral ou unidade complexa. O autor diz que o pensamento sistêmico é um pensamento estruturalista, e que uma organização sistêmica pode ser identificada a partir dos pressupostos: (i) circularidade e recorrência - implicando na existência de algum caminho circular entre as etapas e a recorrência dos processos que as realizam; (ii) hierarquia - que requer a existência de restrições às quais as diversas etapas e subsistemas estão subordinados, como parte de um padrão organizado que auxiliam a formar; (iii) abertura e fechamento – que denota a necessidade de um conjunto de interações fechadas, mas com abertura a trocas com o meio ambiente; e (iv) adaptabilidade – que busca a compreensão das interações que geram as capacidades de continuidade de entidades e fenômenos complexos, frente aos impactos das variações ambientais.

2.2.1 Modelos Não-lineares

Um modelo que pode caracterizar a utilização do pensamento sistêmico é o Não-Linear para P&D, que foi proposto por Kline e Rosenberg (1986). Grizendi (2007) afirma que este modelo parte da idéia de que o centro da pesquisa é a empresa. Esse autor considera que as formas de relacionamento entre pesquisa e a atividade sócio-econômica são múltiplas, e a abordagem interativa ou não-linear tem por papel central levar em consideração: (i) o design, (ii) os efeitos de feedbacks entre as diversas fases; e (iii) as diversas interações entre ciência, tecnologia e inovação.

No Modelo Não-linear, o centro da inovação é a empresa, sendo a inovação uma atividade da empresa. No mercado, se originam as necessidades e demandas para P&D. A empresa detecta no mercado as potenciais demandas, apóia-se no conhecimento científico já existente e promove a inovação, conforme Figura 2.

Para Longanesi, Coutinho e Bomtempo (2008), a existência de feedbacks entre as atividades de pesquisa, desenvolvimento e produção é característica central em processos de inovação.

Grizendi (2007) afirma que, é possível identificar pelo menos cinco caminhos à inovação em Modelos Não-Lineares, sendo: (i) caminho central da inovação, iniciando no mercado e tendo como centro a empresa; (ii) caminho das realimentações – feedbacks, que permitem o surgimento de inovações incrementais; (iii) caminho direto, de e para a pesquisa, de uma necessidade detectada na empresa ou o resultado de uma pesquisa aproveitada na empresa; (iv) caminho do modo linear, do avanço científico à inovação; e (v) caminho das contribuições do setor de fabricação para a pesquisa por instrumentos, ferramentas e outros.

Descripción: Modelo Não Linear

Figura 2 – Modelo Não-Linear de P&D
Fonte: Adaptado de Kline e Rosenberg (1986)

Para Checkland (1994), um sistema é um todo estruturado em níveis e etapas que se inter-relacionam pela ação, comunicação e controle que viabilizam a adaptação a um ambiente em constante processo de mudança. Senge (2004) considera que Modelos Não-lineares são sistêmicos e servem para identificar inter-relacionamentos, ao invés de eventos isolados; para ver padrões de mudança, em vez de recortes instantâneos.

3. Metodologia

3.1 Procedimentos metodológicos

Os resultados apresentados neste trabalho foram obtidos a partir de uma pesquisa descritivo-explicativa, com abordagem qualitativa. Diehl e Tatim (2004) afirmam que esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela descrição da complexidade de determinado sistema visando classificar e compreender as estruturas e processos dinâmicos. Na Figura 3, é apresentado o Método proposto por Jung, Aranda e Caten (2009) utilizado para a realização da pesquisa.

Descripción: Diagrama%20do%20Método%20Poposto

Figura 3
Método para identificar a estrutura e características lineares e sistêmicas de modelos de desenvolvimento de produtos
Fonte: Jung, Aranda e Caten (2009)

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O Método é formado por quatro etapas metodológicas, sendo: (i) escolher o modelo de desenvolvimento de produto a ser estudado a partir da aquisição do diagrama do modelo na bibliografia dos autores ou da elaboração do modelo a partir da utilização do Diagrama Referencial para Representação de Modelos – DRRM; (ii) analisar estruturalmente o modelo a partir da elaboração e utilização do Quadro Síntese das Etapas Metodológicas dos Modelos - QSEM que apresenta a classificação das etapas metodológicas do modelo em três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento; (iii) sintetizar, consistindo em: a) interpretar e identificar as características lineares e sistêmicas do modelo utilizando o Diagrama Referencial Linear/Sistêmico – DRLS apresentado neste trabalho, e b) elaborar o Quadro Síntese das Características Lineares e Sistêmicas dos Modelos – QSCLS correlacionando o modelo às suas características lineares e sistêmicas; e (iv) concluir o estudo (Jung, Aranda e Caten, 2009).

A amostra foi composta por 21 modelos de DP selecionados entre diversos modelos propostos entre 1962 e 2006. Para a coleta de dados foi realizado um estudo bibliográfico e documental. O estudo também reuniu dados sobre os principais marcos históricos da ciência e tecnologia que podem ter influenciado a forma de pensar dos autores destes modelos.

Inicialmente foi utilizada a análise estrutural. Foram identificadas as etapas metodológicas dos modelos de DP, que foram classificadas em função de três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento, e pós-desenvolvimento. Corroborando a classificação proposta, Bazzo e Pereira (2000) e Jung (2004) afirmam que o comportamento sistêmico de um modelo pode ser melhor compreendido a partir da análise dos relacionamentos ou interações entre suas etapas, parâmetros internos e as variáveis de entrada e saída.

Para auxiliar no esforço de síntese, foi desenvolvido um modelo diacrônico que demonstra o desenvolvimento histórico dos modelos de DP, incluindo também marcos referenciais históricos da ciência e tecnologia (C&T).

Na seqüência, foi realizada uma síntese das características lineares e sistêmicas a partir da interpretação qualitativa da estrutura metodológica de cada modelo de DP. A interpretação considerou: a inter-relação de causa e efeito, a abertura e fechamento, a linearidade, a circularidade, a hierarquia, a adaptabilidade e a relação das etapas metodológicas dos modelos de DP com as fases de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento propostas.

Por fim, foi realizada uma síntese que relaciona os modelos de DP com as áreas do conhecimento que podem ter influenciado na sua concepção estrutural. As áreas contempladas foram: Administração – ênfase em Marketing, Engenharia e Design.

4. Análise estrutural

Esta análise teve por finalidade identificar e classificar as etapas de 21 modelos de DP em três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. A classificação proposta explicita as estruturas para viabilizar a identificação das características lineares e sistêmicas dos modelos, considerando seus parâmetros de entrada (pré-desenvolvimento), internos (desenvolvimento) e de saída (pós-desenvolvimento).

A identificação das etapas metodológicas dos modelos de DP foi realizada a partir dos esquemas diagramáticos dos modelos existentes nas bibliografias. Quando os esquemas não eram apresentados, as etapas foram identificadas diretamente pelas descrições textuais fornecidas pelos autores. O trabalho foi baseado também nas classificações propostas por Buss e Cunha (2002) e Romeiro Filho (2004).

A classificação das etapas em três fases considerou a proposta de Jung, Aranda e Caten (2009), sendo: (i) o pré-desenvolvimento a fase que visa o planejamento estratégico do produto e do projeto, a definição do portfólio de produtos baseado no plano estratégico da empresa, nas idéias internas, externas e oportunidades do mercado; (ii) o desenvolvimento aquela que engloba as atividades que determinam as especificações do projeto, produto, processo de produção, de manutenção, de vendas, de distribuição, assistência técnica e atendimento ao cliente; e (iii) o pós-desenvolvimento a fase que engloba o acompanhamento do produto, processo de descontinuidade do produto, e tem por finalidade identificar pontos para melhorias através da avaliação do desempenho do produto no mercado.

Nas Figuras 4, 5 e 6, é apresentada a classificação das etapas metodológicas dos 21 modelos de DP em relação as fases de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. Pode-se observar que, ao longo do tempo, os modelos alteraram a sua ênfase principal, possivelmente em função de mudanças no cenário competitivo, evolução da complexidade dos produtos, mudança da estrutura organizacional das empresas e disponibilidade de recursos.


MODELOS/ AUTORES

FASES

Pré-Desenvolvimento

Desenvolvimento

Pós-Desenvolvimento

ASIMOW

(1962)

(i) Estudar a viabilidade:

Analisar as necessidades;

Identificar o problema;

Analisar: fisicamente, economicamente e

Financeiramente

  • (i) Efetuar o projeto preliminar:
    • Selecionar a concepção;
    • Realizar modelos;
    • Analisar: a sensibilidade, a
    • compatibilidade e a estabilidade;
    • Otimizar o projeto
  • (ii) Efetuar o projeto detalhado:
    • Preparar para executar o projeto;
    • Projetar os sub-sistemas, componentes, partes e desenhos de montagem;
    • Construir experimentalmente;
    • Testar;
    • Analisar e Revisar;
    • Re-projetar

 

ARCHER

(1968)

(i) Estabelecer um programa;

(ii) Coletar dados;

(iii) Analisar;

(iv) Sintetizar

  • (i) Desenvolver;
  • (ii) Comunicar

 

KOTLER

(1974)

(i) Gerar idéias;

(ii) Efetuar triagem de idéias

 

  • (i) Desenvolver e testar o conceito;
  • (ii) Desenvolver estratégia de marketing;
  • (iii) Analisar mercado;
  • (iv) Desenvolver o produto;

(i) Efetuar teste no mercado;

(ii) Comercializar

JONES

(1976)

(i) Divergência:

Obter informação primária;

Explorar a situação do projeto

(ii) Transformação:

Perceber ou transformar a estrutura do problema

  • (i) Convergência:
    • Localizar parâmetros;
    • Descrever sub-soluções;
    • Identificar contradições;
    • Combinar sub-soluções em alternativas;
    • Avaliar alternativas;
    • Escolher solução (design final)

 

PAHL e BEITZ

(1977)

(i) Especificar os requisitos da tarefa a partir do mercado, empresa e economia.

  • (i) Determinar o conceito do design;
  • (ii) Efetuar o design preliminar
    • ou layout preliminar;
  • (iii) Detalhar o design ou
    • ou layout definitivo;
  • (iv) Documentar

 

BONSIEPE

(1978)

(i) Descobrir e valorizar uma necessidade;

(ii) Analisar;

(iii) Formular o problema

  • (i) Levantar os requisitos;
  • (ii) Fracionar o problema;
  • (iii) Hierarquizar os problemas;
  • (iv) Analisar as soluções existentes;
  • (v) Desenvolver alternativas;
  • (vi) Verificar e selecionar alternativas;
  • (vii) Elaborar os detalhes particulares;
  • (viii) Prototipar;
  • (ix) Avaliar;
  • (x) Modificar o protótipo;
  • (xi) Fabricar pré-Série

 

CRAWFORD

(1983)

(i) Identificar e selecionar as oportunidades

  • (i) Gerar o conceito;
  • (ii) Avaliar o conceito;
  • (iii) Desenvolver

(i) Lançar no mercado

Figura 4 – Classificação proposta das etapas dos modelos, período 1962 a 1983
Fonte: Elaborada pelos autores

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MODELOS/

AUTORES

FASES

Pré-Desenvolvimento

Desenvolvimento

Pós-Desenvolvimento

BACK

(1983)

(i) Estudar viabilidade

  • (i) Projetar preliminarmente;
  • (ii) Projetar detalhadamente;
  • (iii) Revisar e testar;
  • (iv) Planejar a produção:
  • (v) Planejar o mercado;
  • (vi) Planejar para o consumo e manutenção;
  • (vii) Planejar a obsolescência

PARK e ZALTMAN

(1987)

(i) Gerar idéias;

(ii) Selecionar as idéias

  • (i) Gerar o conceito do produto;
  • (ii) Analisar a performance do mercado;
  • (iii) Desenhar o mix de marketing

(i) Testar no mercado;

(ii) Comercializar

ANDREASEN e

HEIN

(1987)

(i) Investigar a necessidade:

Determinar a necessidade básica

  • (i) Determinar o tipo de produto, considerando o tipo de processo;
  • (ii) Determinar o princípio do design
  • (iii) Determinar o tipo de produção
  • (iv) Efetuar o design do produto:
    • Pesquisar marketing;
    • Fazer design preliminar;
    • Planejar a produção
  • (v) Preparar para a produção:
  • Preparar vendas e produção
  • (vi) Executar:
  • Adaptar a produção;
  • Produzir

(i) Vender

SUH

(1988)

(i) Identificar uma necessidade social

  • (i) Determinar os requisitos funcionais;
  • (ii) Determinar os atributos do produto;
  • (iii) Prototipar;
  • (iv) Produzir o produto

 

CLARK e

FUJIMOTO

(1991)

(i) Concepção do produto

  • (i) Planejamento do produto
  • (ii) Projeto do produto
  • (iii) Projeto do processo

 

WHEELWRIGHT e CLARCK

(1992)

(i) Gerar, conceber e

desenvolver Idéias

  • (i) Determinar os requisitos e detalhar os projetos;
  • (ii) Focar na inovação e desenvolver os projetos selecionados

 

BÜRDEK

(1994)

(i) Identificar o Problema

(ii) Analisar a situação;

(iii) Definir o problema;

(iv) Gerar alternativas;

(v) Avaliar a escolha

  • (i) Realizar

 

ROOZENBURG e EEKEL

(1995)

(i) Analisar o problema

  • (i) Efetuar uma síntese das soluções;
  • (ii) Simular as soluções;
  • (iii) Avaliar o projeto;
  • (iv) Tomar a decisão

 

Figura 5 – Classificação proposta das etapas dos modelos, período 1983 a 1995
Fonte: Elaborada pelos autores

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MODELOS/

AUTORES

FASES

Pré-Desenvolvimento

Desenvolvimento

Pós-Desenvolvimento

PRASAD

(1997)

(i) Definição da missão da empresa;

(ii) Definição do conceito

  • (i) Engenharia e análise;
  • (ii) Design do produto;
  • (iii) Prototipagem;
  • (iv) Planejamento e operacionalização de engenharia;
  • (v) Operacionalização e controle da produção;
  • (vi) Fabricação

(i) Melhoria, suporte e entrega continuas

 

DICKSON

(1997)

 

(i) Gerar idéias;

(ii) Desenvolver o conceito;

(iii) Planejar o desenvolvimento

  •  (i) Desenvolver e testar

(i) Lançar no mercado

KAMINSKI

(2000)

(i) Especificar tecnicamente as necessidades;

(ii) Estudar a viabilidade

  • (i) Efetuar o projeto básico;
  • (ii) Efetuar o projeto executivo;
  • (iii) Planejar a produção;
  • (iv) Executar

 

ULRICH e

EPPINGER

(2000)

(i) Planejar marketing;

(ii) Planejar o design;

(iii) Planejar a manufatura

  • (i) Desenvolver o conceito;
  • (ii) Definir a arquitetura do produto;
  • (iii) Detalhar o design;
  • (iv) Testar e refinar;
  • (v) Produzir

 

PAHL et al.

(2005)

(i) Planejar a tarefa:

Analisar o mercado, empresa e conjuntura;

Encontrar e selecionar idéias;

Esclarecer a tarefa;

Elaborar lista de requisitos

(ii) Desenvolver o princípio da solução

  • (i) Desenvolver a estrutura de construção:
    • Formar corpo preliminar; Selecionar estudos preliminares; Refinar a forma preliminar; Avaliar
  • (ii) Projetar a forma definitiva:
    • Eliminar pontos fracos e erros; Elaborar lista preliminar; Elaborar instruções para produção e montagem
  • (iii) Desenvolver documentação para fabricação:
    • Detalhar, complementar e verificar a documentação.

ROZENFELD et al.

(2006)

(i) Planejar estrategicamente os produtos;

(ii) Planejar o projeto

  • (i) Efetuar o projeto Informacional;
  • (ii) Efetuar o projeto conceitual;
  • (iii) Efetuar o projeto detalhado;
  • (iv) Preparar a produção;
    • Obter recursos de fabricação;
    • Planejar produção piloto;
    • Receber e instalar recursos;
    • Produzir lote piloto
    • Homologar o processo;
    • Otimizar a produção;
    • Certificar o produto;
    • Desenvolver processos de fabricação e manutenção
  • (v) Lançar o produto:
    • Planejar lançamento;
    • Desenvolver os processos de venda, distribuição, atendimento e assistência;
    • Promover marketing;
    • Lançar produto;
    • Gerenciar lançamento

(i) Acompanhar o produto e processo:

Avaliar satisfação do cliente;

Monitorar desempenho;

Realizar auditoria pós-projeto;

Registrar lições apreendidas

(ii) Descontinuar o produto:

Analisar, aprovar e planejar a descontinuidade;

Preparar e acompanhar o recebimento do produto;

Descontinuar a produção;

Finalizar suporte ao produto;

Avaliar e encerrar o projeto

Figura 6 – Classificação proposta das etapas dos modelos, período 1997 a 2006
Fonte: Elaborada pelos autores

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5. Síntese

5.1 Síntese diacrônica

O estudo realizado oportunizou o conhecimento de diversos marcos referenciais históricos da ciência e tecnologia que podem ter influenciado, ao longo do tempo, a concepção dos 21 modelos de DP.  

Para sintetizar os referenciais utilizados neste estudo, foi elaborado um modelo diacrônico do desenvolvimento histórico, que representa a evolução dos modelos de DP contextualizados por marcos da ciência e tecnologia, conforme pode ser visto na Figura 7.

Descripción: Modelo Diacrônico DP BMP

Figura 7
Modelo diacrônico que apresenta os Modelos de DP contextualizados por marcos históricos da ciência e tecnologia (C&T)
Fonte: Elaborada pelos autores

5.2 Síntese das características lineares e sistêmicas

Como características lineares, foram consideradas: linearidade, inter-relação de causa e efeito, hierarquia e fechamento. Como características sistêmicas, além das lineares citadas, foram consideradas ainda: circularidade, abertura e adaptabilidade. Além destas características também foi verificada a existência de etapas metodológicas dos modelos nas três fases citadas anteriormente.

A Figura 8 apresenta o Modelo Diagramático Referencial Linear/Sistêmico - DRLS, proposto por Jung, Aranda e Caten (2009), onde cada uma destas características é explicitada.

Figura 8
Diagrama Referencial Linear/Sistêmico – DRLS para identificar as características lineares e sistêmicas de um modelo de DP
Fonte: Jung, Aranda e Caten (2009)

A Figura 10 apresenta uma síntese resultado da interpretação qualitativa da estrutura metodológica dos 21 modelos de DP analisados. A interpretação considerou os elementos explicados no Diagrama Referencial Linear/Sistêmico – DRLS (ver Figura 9).

Todos os modelos apresentam características tanto lineares como sistêmicas. No primeiro modelo estudado, proposto por Asimow (1962), já se pode observar a existência da “abertura” e da “circularidade”, que são características sistêmicas. Isto demonstra que modelos concebidos nos primórdios da estruturação metodológica do desenvolvimento de produtos tiveram por influência, além do pensamento linear, o sistêmico. As características sistêmicas encontradas nesse modelo podem ter se originado a partir da influência da Teoria Geral de Sistemas proposta em 1954.

 

 

 

MODELOS / AUTORES

POSSUI ETAPAS NAS FASES PROPOSTAS
Sim (*)

CARACTERÍSTICAS
LINEARES E SISTÊMICAS IDENTIFICADAS (*)

Pré
Desenvol-vimento

Desenvol-vimento

Pós
Desenvol-vimento

Causa e efeito

Linea-ridade

Fecha-mento

Hiera-rquia

Aber-tura

Circula-ridade

Adapta-bilidade

ASIMOW (1962)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

ARCHER (1968)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

KOTLER (1974)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

JONES (1976)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

PAHL e BEITZ (1977)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

BONSIEPE (1978)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

CRAWFORD (1983)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

BACK (1983)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

PARK e ZALTMAN (1987)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

ANDREASEN e HEIN (1987)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

SUH (1988)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

CLARK e FUJIMOTO (1991)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

WHEELWRIGHT e CLARCK (1992)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

BÜRDEK (1994)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

ROOZENBURG e EEKEL (1995)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

PRASAD (1997)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

DICKSON (1997)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

 

KAMINSKI (2000)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

ULRICH e EPPINGER (2000)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

PAHL et al. (2005)

*

*

 

*

*

*

*

*

*

 

ROZENFELD et al. (2006)

*

*

*

*

*

*

*

*

*

*

Figura 9
Síntese das características lineares e sistêmicas, e relação das etapas com as fases propostas
Fonte: Elaborada pelos autores

Para caracterizar também um modelo de DP como sistêmico, foi considerado que o mesmo deveria apresentar a existência de etapas metodológicas nas fases de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento.

Verificou-se que os modelos propostos por Kotler (1974), Crawford (1983), Park e Zaltman (1987), Andreasen e Hein (1987), Prasad (1997), Dickson (1997) e Rozenfeld et al. (2006) possuem etapas metodológicas em todas as fases propostas. No entanto, apenas os modelos de Prasad (1997) e Rozenfeld et al. (2006) atendem o conceito adotado neste trabalho com base em Jung, Aranda e Caten (2009), para caracterizar a fase de pós-desenvolvimento. Prasad (1997) propõe em seu modelo como etapa final: a melhoria, suporte e entregas contínuas. Rozenfeld et al. (2006) propõem: (i) acompanhar o produto e processo que consiste em avaliar a satisfação do cliente, monitorar o desempenho, realizar uma auditoria pós-projeto, registrar as lições apreendidas; e (ii) descontinuar o produto, o que requer analisar, aprovar e planejar a descontinuidade, preparar e acompanhar o recebimento do produto e, ainda, descontinuar a produção, finalizando o suporte ao produto para depois avaliar e encerrar o projeto.

Os modelos propostos por Kotler (1974), Crawford (1983), Park e Zaltman (1987), Andreasen e Hein (1987) e Dickson (1997) apenas referem na etapa final as ações de: efetuar teste no mercado, comercializar, lançar no mercado e vender que podem ser enquadradas na fase de pós-desenvolvimento, mas não significam necessariamente um envolvimento da equipe em procedimentos de acompanhamento do produto, suporte, descontinuidade e avaliação posterior dos resultados de mercado e satisfação dos clientes.

6. Conclusões

Este artigo apresentou os resultados de uma pesquisa que teve por finalidade identificar as características lineares e sistêmicas de 21 modelos de desenvolvimento de produtos. Inicialmente, foi realizada uma análise estrutural a partir da identificação e classificação das etapas metodológicas de 21 modelos de DP em três fases: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. A análise evidenciou as etapas de cada modelo. Esses resultados constituem importante referencial para embasar futuras pesquisas em DP.

A seguir foi realizada uma síntese diacrônica. Essa síntese conduziu à proposição de um modelo diagramático do desenvolvimento histórico dos modelos de DP, contextualizados pelos referenciais históricos da ciência e tecnologia.

Posteriormente, foi apresentado um quadro síntese das características lineares e sistêmicas, resultado obtido a partir da interpretação qualitativa da estrutura metodológica dos 21 modelos de DP analisados. A interpretação considerou: (i) a existência de etapas metodológicas nas fases de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento propostas, (ii) a inter-relação de causa e efeito, (iii) a linearidade, (iv) o fechamento, (v) a hierarquia, (vi) a abertura, (vii) a circularidade e (viii) a adaptabilidade.

A síntese das características lineares e sistêmicas revelou que apenas os modelos de Prasad (1997) e Rozenfeld et al. (2006) atendem o conceito adotado nesse trabalho, com base em Jung, Aranda e Caten (2009), para caracterizar a existência de etapas metodológicas nas fases de pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento.

O estudo permitiu constatar que os 21 modelos de DP analisados são métodos similares para o desenvolvimento de produtos. Contudo, devido a: (i) predominância da orientação linear ou sistêmica e (ii) contexto histórico em que foram elaborados apresentam peculiaridades na forma de sequenciar o DP e enfatizam diferentes etapas do DP. Assim enquanto contribuição prática ao meio industrial, as Figuras 5, 6, 7e 10, apresentada neste artigo, podem ajudar os gestores de DP a selecionar modelos mais apropriados para as suas necessidades, por exemplo: modelos mais simples ou mais complexos, que enfatizam as etapas iniciais ou finais do DP.

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1 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFRGS carlosfernandojung@gmail.com
2 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFRGS tencaten@producao.ufrgs.br
3 Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFRGS ribeiro@producao.ufrgs.br


Vol. 34 (12) 2013
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