Espacios. Vol. 34 (2) 2013. Pág. 7


A emergência da língua inglesa como reflexo da hegemonia americana na economia mundial

The emergency of the english language as consequence of the influence of the american hegemony in the world economy

Sandra Coelho 1, Katia Eliane Santos Avelar 2 , Ana Maria Pires Novaes 3 y Maria Geralda de Miranda 4

Recibido: 18-05-2012 - Aprobado: 15-10-2012


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RESUMO:
O século XX presenciou a emergência da língua inglesa como língua planetária, sem rivais. Ela tem hoje o status de oficial em sessenta países e um lugar de destaque em outros vinte, (JOHNSON, 1996). É a língua dos manuais tecnológicos, dos livros, periódicos acadêmicos, da mídia, esportes internacionais e entretenimento. O presente estudo tem por objetivo abordar a emergência desta língua, analisando o fenômeno do ponto de vista político e econômico, já que tal hegemonia não deve ser vista sem levar em conta a proeminência da economia americana, a partir da Segunda Guerra Mundial. Para tanto, será feito um rápido percurso histórico conceitual, que partirá de alguns aspectos da revolução industrial na Inglaterra, da colonização americana, passando pela estruturação taylorista-fordista da economia, chegando à era pós-industrial ou tecnológica. Tais análises nos levará a refletir sobre o mundo do império e o modo como uma dada língua passa a ser veículo de dominação política, econômica e cultural da nação imperial sobre as outras nações.
Palavras-chaves: Língua; hegemonia; economia

 

ABSTRACT:
The 20th century witnessed the emergency of the English language as a planetary language, without opponents. Nowadays it has the status of official language in sixty countries and an eminent position in twenty other ones, (JOHNSON, 1996). It’s the language of the technological manuals, books, academic journals, media, international sports and entertainment. This work aims to focus on the emergency of this language, analyzing the phenomenon from a political and economic point of view, since such hegemony should not be seen without taking into consideration the prominence of the American economy, since the Second World War. To reach our goal, a conceptual historical background will be made starting from some aspects that concern the industrial revolution in England, the American colonization, going through the taylorist- fordist principles in economy and finally reaching the post-industrial or technological age. Such analysis will take us to think over the world of the imperial governments and how a language achieves a status of dominant and becomes a vehicle of political, economic and cultural domination of an imperial nation over other nations.
Keywords:Language; dominance; economy


1. Considerações iniciais:

Na história da humanidade, a língua segue o rastro dos impérios. Na história ocidental mais recente, o império romano espalhou o latim por quase toda Europa, dando origem posteriormente a diversos outros idiomas entre eles o Português, o Espanhol, o Catalão, o Italiano, o Francês, o Romeno etc. Posteriormente, a partir das grandes navegações e com a instalação de colônias nos territórios ocupados pelas potências européias, o Francês se expande para parte do Canadá, Mali, Senegal e diversos outros territórios do norte da África; a Espanha dissemina sua língua em praticamente toda a América do Sul, Central e México, Portugal para o Brasil e suas colônias na África e até em Goa, na Índia, e Macau, na China; enquanto a Inglaterra e Estados Unidos da América, EUA, a partir do império Britânico e revoluções industriais vão espalhando o Inglês por todo o globo terrestre.

Como se sabe, na era pré-industrial e pré-capitalista, o mundo era quase todo analfabeto. Na Europa feudal, a leitura e a escrita eram privilegio quase exclusivo da nobreza e de membros do clero cristão. Todo e qualquer fenômeno era explicado com base em causas divinas, tudo vinha de Deus ou do demônio. Estudos científicos eram condenados pela inquisição. Neste mundo monótono e monocromático surgiu, na Europa, juntamente com os germes do capitalismo, no século XVII, o movimento Iluminista que, como uma imensa onda em um mar revolto, foi quebrando os tabus religiosos, sociais e sexuais. A partir daí, o homem começou a sair da menoridade, isto é, da incapacidade de usar o intelecto sem a condução de outrem.  Conforme De Masi “o Iluminismo é a saída do homem da menoridade que lhe é imputada.” Tal menoridade, é a incapacidade do homem de “se servir do próprio intelecto”,  (DE  MASI, 2010 p.117).

O movimento iluminista, com diferentes invenções e aperfeiçoamento de técnicas, “empoderou” o homem, construindo uma importante base científica que impulsionou o desenvolvimento das ciências. Por sua vez, o desenvolvimento das ciências exerceu papel de destaque no desenvolvimento da economia mundial e no mundo do trabalho. A Encyclopédie foi o mais importante empreendimento cultural do Iluminismo, porque trazia informações suficientes para reprodução do que de mais recente a inteligência houvesse inventado até aquele momento. Difundida em todo mundo, a Encyclopédie (a língua que a veiculava era a francesa) constituiu-se numa pedagogia.

Com o advento do Iluminismo, em fins do século XVIII, o Ocidente dá um salto para o chamado progresso, envolvendo todos os setores da vida prática em todas as disciplinas. O mundo passa por transformações profundas com o desenvolvimento das ciências. Ao longo dos anos, a Europa enfrentou um grande crescimento demográfico. Os países sentiram necessidade de mudanças estruturais em seus territórios, mas as nações européias tiveram comportamentos diferenciados durante a expansão do mercantilismo. Enquanto Espanha e Portugal apenas comercializavam metais e matérias primas vindos de suas colônias (como meio de sustentar o alto custo do luxo de suas cortes), a Inglaterra combinou comercialismo e industrialismo, tornando-se uma das primeiras nações a abandonar a ordem feudal e a experimentar a crise da produção proto-industrial. Tal crise foi o detonador rumo à sociedade industrial das grandes fábricas.

Antes, a produção era artesanal. O aumento populacional fez com que a demanda de produtos e mercadorias aumentasse. Quando o empresário tentava aumentar a produção de matéria prima no campo, encontrava dificuldades de naturezas diversas (custo de transporte, mão de obra, escassez de energia hidráulica e lenha, entre outras). A centralização e a mecanização do processo produtivo foi a solução encontrada pra sanar essas dificuldades. O setor algodoeiro foi o precursor. Primeiro com a mecanização da fiação e mais tarde com a mecanização da tecelagem, o setor têxtil assumiu uma conformação industrial. Os outros setores seguiram a mesma rota.

O aumento do êxodo rural (migração de pessoas do campo para as cidades) motivado pela criação de empregos nas indústrias também teve sua parcela de contribuição. A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial. Como diz (POCHMANN, 2009, p.5), “a grande oficina do mundo, ao longo do século XIX”. Combinando o poderio militar já existente e o advento da produção industrial, a Inglaterra assumiu uma hegemonia na economia mundial. Com isso, assumiu isoladamente o papel de país centro do Capitalismo mundial. Usando a terminologia atual, a Inglaterra era protagonista entre os países centrais, que abandona praticamente a produção e a exportação de produtos primários, tornando-se dependente da importação desses produtos e também de matéria prima, que era financiada pela exportação de manufaturados. O Brasil foi seu grande aliado comercial. Os primeiros trens maria-fumaça foram comprados junto aos ingleses.

A Revolução Industrial tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. Aos poucos as máquinas foram substituindo a mão-de-obra humana.

Como o padrão inglês de industrialização não exigia elevados investimentos, tampouco a tecnologia usada era muito complexa, alguns países puderam internalizar esse modo de produção decorrente da Primeira Revolução Industrial e Tecnológica e se tornaram parte do centro capitalista mundial. Nos Estados Unidos da América, EUA, isso ocorreu na segunda metade do século XIX; mas, nesta passagem, esteve em curso a Segunda Revolução Industrial e Tecnológica, com padrões de internalização e com graus de exigência bem superiores. 

Após a Segunda Guerra Mundial, o cenário de miséria e destruição da Europa (infra-estrutura destruída e dificuldades insanáveis para retomar às atividades industriais e agrícolas) levou os Estados Unidos a emergirem da guerra como credores de praticamente todos os países aliados. Com esse contexto - que favorecia o crescimento de suas indústrias - os EUA passaram a ocupar lugar de destaque na economia mundial, anteriormente, pertencente à Inglaterra. A partir daí foi se tornando, Cada vez mais, potência hegemônica na economia mundial.

2. O império britânico e a colonização da América do Norte 

Chama-se colonização, quando pessoas de uma determinada nação vão para outras regiões desabitadas ou habitadas para explorar ou mesmo habitar.  A História nos informa que há basicamente dois tipos de colonização: a de exploração e a de povoamento. Em ambos, têm-se influência ou transferência cultural dos colonizadores para os colonizados e vice-versa. Em ambos os tipos de colonização, as colônias se constituem extensões das economias metropolitanas, cumprindo suas “funções históricas” de complementá-las (as metrópoles). Segundo Fernandes (2007), a colonização inglesa, nos Estados Unidos, é um exemplo de colonização de povoamento, em que os colonizadores buscam desenvolver a região colonizada. Criam leis, organizam, investem em infra-estrutura e lutam por melhorias.

Por ocasião da colonização da América do Norte, segundo Fernandes (2007), já existia na Inglaterra um excedente de mão de obra, devido à privatização de terras comunais que causaram um grande êxodo rural. Como não havia emprego para todos, nem capital para remunerá-la, milhões de mendigos vagavam pela metrópole. Além disso, se vivenciava vários conflitos entre protestantes e católicos, o que tornava o espaço pequeno para as disputas político-religiosas. Todo o excedente populacional decorrente do êxodo rural e os refugiados dos conflitos religiosos (classes sociais mais afortunadas e burguesia) foram para a América do Norte fixar moradia, e não somente para explorar, o que contribuiu decisivamente para proporcionar o modelo de desenvolvimento estabelecido naquelas colônias.

A entrada da Inglaterra na atividade colonizadora se deu com a criação das campanhas de comércio, através de uma união entre estado e burguesia, na busca por mercado consumidor.  No século XVII, ainda conforme Fernandes (2007), a Inglaterra vivia uma conjuntura favorável à colonização. O comércio tinha dado origem a uma burguesia enriquecida e dotado o país de uma grande frota.

O início da conquista da América do Norte pelos ingleses deu-se a partir da concessão real a duas empresas privadas: A Companhia de Londres, que passou a monopolizar a estabelecer o controle das regiões mais ao norte, e a Companhia de Plymonth, que recebeu o monopólio dos territórios mais ao sul. Pode-se dizer que a colonização foi realizada com a participação da "iniciativa privada" uma espécie de parceria público-privada. É bom lembrar, contudo, que ela se deu de modo diferenciado nos dois espaços, isto é, no Norte voltou-se para a manufatura e comércio, já no Sul, foi latifundiária e escravagista (colonização de exploração).

Naquele período, a mecanização não havia chegado à produção agrícola e extrativista de madeira e minérios, o que provocou, a partir da expansão produtiva e comercial, a retomada do uso do trabalho escravo (trazidos da áfrica negra) nas colônias, por parte das potências européias, que já o haviam abolido na Europa há alguns séculos.

Sobre a escravidão, a própria Igreja Católica assume uma conduta ora de desaprovação ora de aprovação. O cristianismo manteve durante séculos Santos como Agostinho e Tomás de Aquino e papas como Nicolau IV que justificaram a escravidão.  Inocêncio IV, segundo alguns historiadores, teria até anunciado que o Negro não tinha alma e que só poderia adquiri-la após vinte anos de escravidão. (HAINCHELIN, 2005).  Com base nestas e outras fundamentações não era difícil abençoar os cristãos escravistas das novas colônias.

Desta forma a crescente expansão do capitalismo, não encontrou grandes dificuldades para justificar, filosoficamente e teologicamente a lucrativa combinação de trabalho assalariado na matriz Inglaterra e demais países Europeus, Trabalho escravo nas colônias da América, enquanto reservavam à África o papel de celeiro de braços fortes resistente às intempéries das Américas.

Portanto, acabou acontecendo uma crescente divisão social mundial do trabalho, em que o trabalho industrial nas colônias era realizado por assalariados, enquanto, de outro lado, os setores agrícolas, de extração de minérios e matérias primas nas Américas era executado pelo trabalho escravo.  Restou à África o triste papel de celeiro de uma mercadoria preciosa chamada força de trabalho escrava. Nas colônias inglesas americanas aconteceram uma divisão de papéis:  O sul produzia alimentos com mão de obra escrava, enquanto as colônias do norte desenvolviam a indústria com mão de obra fabril assalariada.

Os recursos naturais abundantes na América, aliados à presença de fatores produtivos capitalistas, como mão de obra manufatureira e capital, possibilitaram a montagem de um sistema produtor. Além disso, devido às várias guerras civis em que a Inglaterra participava nesta época, um pacto colonial ameno foi gerado. Como resultado, formou-se uma colônia quase autônoma em relação à metrópole e um forte mercado interno.

O alto nível de desenvolvimento industrial gerado nas colônias inglesas da América do norte possibilitou um avanço considerável do capitalismo, que não poderia mais conviver com aquela combinação complexa de trabalho escravo e trabalho assalariado no mesmo espaço político econômico, sob o risco de estrangulamento. No entanto, os proprietários agrícolas do Sul temiam o seu estrangulamento econômico e cultural com a possível abolição da escravatura, que só veio acontecer com a vitória do Norte sobre o Sul na Guerra de Secessão. E que, posteriormente, possibilitou a jornada ao oeste em constantes guerras e vitórias sobre os indígenas, e implementação de uma colonização calcada em pequenas e médias propriedades, majoritariamente.

As treze colônias eram completamente independentes entre si, estando cada uma delas subordinada diretamente à metrópole, porém, como a colonização ocorreu a partir da iniciativa privada, desenvolveu-se um elevado grau de autonomia político-administrativa, caracterizada principalmente pela idéia do autogoverno. Cada colônia possuía um governador, nomeado, e que representava os interesses da metrópole. Havia ainda um Conselho, formado pelos homens mais ricos que assessoravam o governador e uma Assembléia Legislativa, eleita (variando o critério de participação em cada colônia). Juntos eram responsáveis pela elaboração das leis locais e pela definição dos impostos. Apesar dos governadores representarem os interesses da metrópole, a organização colonial tendeu a aumentar constantemente sua influência, reforçando a idéia de "direitos próprios" e daí um grande sentimento de cultura cívica.

Este processo de industrialização acabou sendo acompanhado pelo Canadá, país ao norte das Américas que teve um caminho próprio em sua colonização, mas com hegemonia britânica e francesa, dois líderes mundiais nas Revoluções Industriais e Políticas, levadas a cabo pela burguesia capitalista. O Canadá é hoje um dos países mais industrializados do mundo com duas línguas principais o Frances e o Inglês, convivendo com línguas autóctones.

É bom salientar, entretanto, que o modelo de colonização, tanto portuguesa quanto espanhola, serviu  ao modelo mercantilista adotado pela Inglaterra, pois aqueles extraiam especiarias, madeira, minérios e pedras preciosas das localidades exploradas e  os conduziam à Europa. Como estes dois países ibéricos nada produziam, industrialmente, utilizavam estas riquezas como moeda de troca por produtos industrializados pelos ingleses. Na verdade, a nobreza espanhola e portuguesa pirateava as riquezas de suas colônias na América, Índia e África, na medida em que as repassavam em troca dos produtos industrializados na Inglaterra

Enquanto isto, no restante das Américas, México, colônias da América Central e Caribe, e de toda a América do Sul, tiveram o seu desenvolvimento pautado pelo modelo de colonização estabelecida por Portugal e Espanha. Vicentino & Dorigo (1997) afirmam que no Brasil, a colonização iniciou-se, efetivamente, após trinta anos de descoberta por Cabral, com a chegada de Martim Afonso de Souza. Sua expedição pode ser considerada um divisor de águas em nossa história. Determinou a passagem do período pré-colonial (marcado pelo extrativismo vegetal do pau-brasil, com mão-de-obra indígena baseada no escambo), para o período colonial, que começou devido aos sérios problemas financeiros passados por Portugal, com a perda do monopólio do comércio das especiarias asiáticas. Somava-se a isso a crescente presença estrangeira, sobretudo francesa, no litoral brasileiro, que ameaçava a posse portuguesa no Novo Mundo. A partir daí, Portugal começou a organizar a administração da colônia e sistematizar a exploração econômica; enfim, começou o processo de colonização.

Para efetivar tal processo, D. João III subdividiu o Brasil em donatarias, doadas a doze capitães-donatários (fidalgos, comerciantes e funcionários pertencentes à burguesia e à pequena nobreza) com o compromisso de promoverem seu povoamento e exploração em troca da concessão das grandes propriedades e de direitos e privilégios.  O primeiro projeto de organização política para o Brasil foi bem diferente do adotado na colônia inglesa na América.

Os escravos africanos não vieram à toa, o modelo mercantilista Português escolheu para o Brasil monuculturas sucessivas e extração de minérios, madeiras etc, ou seja, atividades econômicas com pouco nível de industrialização e, portanto, atividades carentes de mão de obra escrava, apta ao trabalho brutal. Uma mercadoria abundante na África, de então, e comercializada a custo de ouro e prata nas três Américas, até início do século XIX.

O processo de industrialização no Brasil, só iniciou séculos depois, a partir da vinda da família real, e mesmo assim de maneira lenta e gradual.  Somente a partir do início do século XX foi possível algum desenvolvimento visível. Enquanto no restante da América Central e do Sul, excetuando Uruguai e a Argentina, até hoje, em pleno século XXI, os outros países de colonização espanhola contam com uma economia basicamente agrícola e extrativa de matérias primas.

Mas voltando um pouco aos primórdios do mercantilismo que deu origem à colonização da América, África e parte da Ásia, verifica-se que enquanto alguns autores afirmam que o alto nível de desenvolvimento dos EUA aconteceu devido ao capital social cooperativo que foi para as colônias do novo mundo, outros autores direcionam sua análise a partir de outros referenciais teóricos e históricos. O que há de consenso é que o processo de industrialização alcançado pela Inglaterra nos séculos XVI e XVII possibilitou uma colonização de ocupação nas colônias Inglesas da América.

Segundo Jean Suret-Canale (2005, p. 28), enquanto a Espanha ocupava-se em dizimar as nações pré-colombianas, entre elas os Impérios Inca e Maia, os portugueses ocupavam a Costa atlântica, na América do Sul, também dizimando as populações nativas. Já, na Inglaterra de Henrique VIII, o fim da Guerra das Duas Rosas e a instauração da dinastia dos Tudors foram acompanhados de dois fenômenos: o fim dos séquitos feudais - que eram mantidos pelos nobres, enfraquecidos ou arruinados - jogou na rua uma primeira massa de gente sem rumo; e a decisão dos novos ricos que tomaram o lugar da antiga nobreza de fazerem fazer valer o seu poder, expulsando maciçamente “os camponeses proprietários das suas terras para convertê-las em pastagens para ovelhas. A expansão da manufatura lanífera de Flandres, para a qual a Inglaterra desde longa data fornecia a matéria-prima, e o aumento da lã dela resultante, incitavam a esta especulação”. (SURET- CANALE, in PERRAULT, 2005, p. 28).

Na linha de raciocínio de Suret-Canale, a ação dos novos ricos, ao desapropriar os camponeses proprietários, criaram algumas condições básicas para a sustentação das indústrias laníferas: poderiam criar suas ovelhas nas terras apossadas, utilizando poucos trabalhadores, já que as pastagens não necessitavam tanto cuidado;  os camponeses, expulsos de suas terras, foram para as cidades, onde formaram um “exército de  mão de obra” a ser utilizada nas indústrias em desenvolvimento na Inglaterra. No entanto, o crescimento da mão de obra disponível acabou mais veloz que o crescimento das indústrias. Nem mesmo todo o esforço de criminalização dos desempregados, inclusive com pena de morte, foi suficiente para abafar os problemas sociais advindos com a emergência das políticas estabelecidas para o crescimento industrial.

Também no restante da Europa, o desenvolvimento industrial acabou promovendo excedentes não absorvidos pelas indústrias nascentes. Tal excedente acabou se transformando na grande massa de trabalhadores manuais que emigraram e povoaram grande parte das colônias da América.

Os camponeses assim “libertos” e expropriados constituem uma massa crescente de vagabundos e miseráveis, submetidos na Inglaterra à feroz legislação sobre os pobres (Poor laws), uma mão-de-obra pronta, quando chegar o momento, para o empreendimento industrial capitalista. O êxodo rural alimentará, no século XIX, o crescimento urbano e industrial e a emigração para a América ou para as economias ‘temperadas’.
(SURET-CANALE, in PERRAULT, 2005 P. 28).

O economista Adam Smith dedicou às colônias todo o capítulo VII de sua obra principal,  A Riqueza das Nações, divulgada pela primeira vez, em Londres, no ano de 1776. Smith defende que o estabelecimento das colônias européias na América e nas ÍndiasOcidentais não se deveu a nenhuma necessidade; “e embora a utilidade que delas resultou tenha sido muito grande, não é tão clara e evidente. Essa utilidade não foi entendida na primeira fundação das colônias, e não constituiu o motivo dessa fundação nem das descobertas que a ela levaram”. (SMITH, 1996, v. II, p.61).

Smith argumenta que a motivação primeira das viagens de espanhóis e portugueses era o incremento do comércio com as Índias Orientais. Mas que ao depararem com os nativos, usando ornamentos de ouro e prata, acabaram descobrindo algumas minas, o que iniciou a ocupação das Américas com a finalidade precípua de exploração de suas riquezas minerais. Nas palavras do autor: “como se vê, foi um projeto de comércio com as Índias Orientais que levou à primeira descoberta do Ocidente. Um projeto de conquista deu origem a todas as fundações dos espanhóis naqueles países recém descobertos”, (SMITH, 1996, v. II, p.64). Smith também afirma que os Espanhóis ao verem esgotados os recursos minerais de uma localidade, abandonavam aquele lugar e partiam em busca de novas locais, onde os minerais fossem mais abundantes.

Até o início do século XVII, a Inglaterra se contentou em estabelecer comércio, mas ainda não havia investido em colonizações, somente após vencerem a “Invencível Armada de Espanha” em 1588, é que os Ingleses se dedicaram à colonização na América do Norte. As características do desenvolvimento industrial e econômico nas ilhas britânicas foram fundamentais para o modelo de ocupação das colônias na América do Norte.

Adam Smith atribui alguns fatores como “causas da prosperidade das novas colônias” britânicas na América, a saber: “A abundância de terra de boa qualidade e a liberdade de conduzir suas atividades a seu próprio modo”, (SMITH, 1996, v. II, p. 70); “A lei colonial que impõe a cada proprietário a obrigação de desenvolver e cultivar, dentro de um tempo restrito, certa percentagem de suas terras, e que, no caso de não ser feito isto, declara estas terras negligenciadas passíveis de ser atribuídas a qualquer outra pessoa”; (SMITH, 1996, v. II, p. 71). Pesaram a favor da inibição de manutenção de terras incultas, além da abundância de terras e seus baixos preços, diversas medidas que inibiam o interesse de proprietários em manter terras acima de sua capacidade de cultivo. E ainda o fato estarem livres de altas contribuições à coroa, a igrejas, como foi o costume em outras terras da América ocupadas por Espanha, Portugal e França.

Nas colônias de todas as três nações citadas, o governo eclesiástico é extremamente opressivo. Em todas elas existe o dízimo, recolhido com o máximo rigor nas colônias da Espanha e de Portugal. Além do mais, todas elas são oprimidas por um grupo numeroso de frades mendicantes, cuja atividade, não somente permitida como também consagrada pela religião, representa uma taxa altamente onerosa para as pessoas pobres, as quais se ensina com grande zelo que é dever dar-lhes esmolas, constituindo gravíssimo pecado negar-lhes a caridade. Além de tudo isso, os representantes do clero, em todas essas colônias, são os maiores açambarcadores de terras.
(SMITH, 1996, v. II, p. 73).

Ao contrário de Portugal e Espanha que impunham altíssimos impostos aos seus colonos americanos, a Inglaterra incentivava a produção nas novas colônias e o comércio com a metrópole.  “Na venda de sua produção excedente, isto é, daquilo que vai além do necessário para seu próprio consumo, as colônias inglesas têm sido mais favorecidas com a garantia de um mercado mais amplo que o permitido às colônias de qualquer outra nação européia” (SMITH, 1996, v. II, p. 73).

A partir da análise de Adam Smith e de outros autores, verifica-se que a gênese do alto nível de desenvolvimento das Colônias britânicas nas Américas se deve a diversos fatores combinados entre si. Mas resta dizer que, se de um lado, o incremento industrial somado ao liberalismo econômico deu um impulso inicial ao desenvolvimento, por outro, este deve ser compreendido numa estranha combinação de liberdades individuais – conquistadas a partir das revoluções industriais econômicas e políticas desenvolvidas na Europa – e o trabalho escravo também mantido em tais colônias. Ressalta-se que o emprego da escravidão era uma prática oficialmente banida da Europa já há alguns séculos.

Pode-se dizer, numa primeira análise, que a mão de obra escrava foi largamente utilizada nas colônias britânicas da mesma forma que em outras nações, como Espanha e Portugal, que a utilizavam nas minas e na agricultura. Ao adotar a utilização do trabalho escravo como fonte de riqueza capitalista no desenvolvimento emergente nas colônias das Américas, as nações mercantis da Europa encontraram uma forma inovadora de acumulação de capital à custa da “ressurreição” do escravismo, que proporcionou mão de obra a ser empregada no trabalho pesado e bruto da agricultura e extração de minérios, em terras acostumada a “ceifar vidas inexperientes”. O trabalho escravo era menos oneroso e mais produtivo, era uma mercadoria altamente requisitada nas colônias e, portanto, muito lucrativa, ao ponto dos britânicos “arautos do liberalismo” se transformar nos séculos XVIII e XIX nos maiores mercadores de escravos.

A questão da escravidão nas “livres e progressistas Colônias Britânicas” não passou despercebida a Adam Smith - um dos precursores do liberalismo econômico - que tenta explicá-la, mas ao mesmo tempo expões as suas contradições: “Em todas as colônias européias, a cultura da cana-de-açúcar é  feita pelos escravos negros. Acredita-se que a constituição dos que nasceram no clima temperado da Europa não teria condições de suportar trabalho de cavar o solo sob o sol causticante das Índias Ocidentais” (SMITH, 1996, v. II, p. 83). E prossegue dizendo que como o lucro e o sucesso da cultura executada com gado dependem muitíssimo de bem conduzir “esse gado, da mesma forma o lucro e o sucesso da cultura executada por escravos deve depender igualmente da boa administração desses escravos; e na boa administração de seus escravos, segundo é geralmente admitido, os plantadores franceses são superiores aos ingleses” (SMITH, 1996, v. II, p. 83). 

Vê-se que ele também reflete sobre o modo como os colonizadores tratavam os escravos: “A lei, na medida em que dá alguma frágil proteção ao escravo contra a violência de seu patrão, tem probabilidade de ser mais bem cumprida em uma colônia em que o governo é muito arbitrário, do que em uma em que é totalmente liberal”, (SMITH, 1996, v. II, p. 84).

Smith também observa que em todo país em que está implantada a malfadada lei da escravatura, o magistrado, quando protege o escravo, interfere de certo modo na administração da propriedade privada do patrão e, em um país livre, onde o patrão, talvez, “seja membro da assembléia da colônia ou um eleitor desse membro, ele não se atreve a fazer isto, a não ser com máximo cuidado e circunspeção. O respeito que é obrigado a dispensar ao patrão toma-lhe mais difícil proteger o escravo.” (SMITH, 1996, v. II, p. 84-85). Ao contrário, ainda seguindo Smith:

em um país em que o governo é muito arbitrário, onde é costume o magistrado interferir até mesmo na administração da propriedade privada dos indivíduos, e talvez enviar-lhes uma ordem de prisão arbitrária no caso de não a administrarem de acordo com seu gosto, é muito mais fácil para ele dispensar alguma proteção ao escravo, e o senso humanitário comum naturalmente o dispõe a fazê-lo. A proteção do magistrado torna o escravo menos desprezível aos olhos de seu patrão, o qual é, assim, induzido a dispensar-lhe maior atenção e a tratá-lo com mais delicadeza.
(SMITH, 1996, v. II, pp. 84).

Na verdade, os séculos XV, XVI e XVII avançam sobre o antigo sistema feudal europeu como um furacão transformando os antigos servos em homens livres para venderem sua força de trabalho à burguesia então nascente. Inglaterra e França lideravam este processo. Sobre esta questão, Blackburn (2003, p. 81) diz o seguinte:

Jean Bodin, defensor da soberania absoluta, atacou a propriedade de escravos em  lês six livres de La republique, na década de 1570. A decisão de uma corte inglesa, em 1567, de impedir a entrada de um escravo russo, a declaração do Parlamento de Guyènne em 1571 de que a França, “mãe da liberdade”, não poderia tolerar a escravidão, e a decisão de Middelburg de libertar um carregamento de africanos em 1597 refletiram versões desta nova doutrina do “ar livre”.

A utilização do trabalho escravo, em contradição com as idéias liberais, acabou ocupando longas reflexões de diversos estudiosos no decorrer destes últimos cinco séculos. Logo, é necessário compreender o papel da escravidão naquele momento histórico de consolidação dos ideais de liberdade na Europa, para compreendermos o seu papel nos alicerces da economia capitalista, sua consolidação e expansão do império Britânico, e, em conseqüência, da expansão da língua inglesa pelo mundo.

A escravidão da população negra da África serviu a diversos propósitos que vão desde alimentar os setores dominantes tribais dos antigos reinos africanos, à mão de obra nas colônias européias nas Américas, principalmente as espanholas, portuguesas e britânicas. Serviram também aos governos europeus que cobravam taxa para comercialização de escravos negros e, diretamente, ao comercio, pois o escravo além de gerador de riquezas (mercadorias) produzidas pelas ricas minas e no trabalho pesado em áreas agricultáveis das colônias, eram em si mesmo uma mercadoria altamente lucrativa, apesar das doenças e mortes a que eram acometidos nas travessias dos mares.

Nenhum povo se beneficiou tanto da escravidão quanto os ingleses, pois inicialmente lucraram no rentável comércio em que trocavam suas manufaturas por ouro e prata – extraídos da terra por mão de obra escrava – que Portugal e Espanha levavam para a Europa, Depois lucraram com o desenvolvimento agrícola de suas colônias na América, o que possibilitou a incrementação do comércio entre colônias e metrópole inglesa, e, em terceiro lugar, lucraram com o comercio direto de escravos, pois apesar dos protestos veementes dos liberais ingleses, os britânicos se transformaram nos maiores comerciantes de escravos no séculos XVIII e XIX.

Conforme já dissemos antes, a Igreja católica já havia encontrado fundamentações bíblicas para a escravidão e, a partir de Santo Agostinho, argumentos teológicos que justificassem a escravidão de “raças inferiores”. Diante da necessidade do trabalho escravo na economia das colônias, o próprio Lutero não titubeou a buscar também ele os fundamentos bíblicos que aplacassem qualquer sentimento de culpa nos fieis adeptos das doutrinas reformistas. Segundo Blackburn (2003, p. 85), a reforma não apoiou menos “a validade da escravidão do que a teologia renascentista ou católica. Tanto Lutero quanto Calvino enfatizaram a necessidade de respeitar a subordinação secular e a propriedade privada. Lutero chegou a instar os escravos cristãos em mãos turcas a não tentar fugir de seus senhores.” (BLACKBURN, 2003 p. 85).

Tanto os católicos quanto os protestantes encontraram na Bíblia e nas tradições da interpretação bíblica idéias que justificavam a escravização, idéias que podiam tranqüilizar o proprietário ou comerciante de escravos caso ele fosse piedoso – e talvez, mesmo que não fosse. A Bíblia também podia ser lida como fonte de uma genealogia dos povos que formavam toda a humanidade e, como afirmavam alguns autores, de pistas sobre os povos que estavam destinados à escravidão. O Gênese afirma dramaticamente que toda a humanidade descende de Adão e Eva. Mas as conseqüências universalistas desta crença foram solapadas quando os povos não-europeus foram acusados de terem rejeitado os princípios de seus ancestrais. O gênese contém uma história expressiva em que Noé, o “bom homem” primordial, condena um de seus netos à escravidão. Junto com outras passagens, dá a impressão de que o Gênese não sanciona a escravidão apenas no sentido abstrato como fez São Paulo na primeira carta aos Coríntios, mas sim a escravização de grupos de descendência específica.
(BLACKBURN, 2003 p. 86-7).

Os debates sobre a legitimação ou ausência de legitimidade da escravidão percorre toda a história da humanidade, e foram retomados com vigor por todos os setores  em pleno nascimento do capitalismo, mas venceram as razões econômicas, pois a massa de desapropriados de suas terras (que viraram mendigos e criminosos) e exportados para o trabalho nas plantations das colônias  britânicas, além de não resolverem os problemas do trabalho pesado, acabaram gerando outras contradições como afirma Blakburn (2003 p. 383): “A pena de servidão acabou sendo considerada fonte insatisfatória de mão de obra para as plantations; era imprevisível e perigosa, e os prisioneiros não eram suficientes em termos de qualidade e quantidade”.

Diante desta realidade não faltaram argumentações filosóficas, teológicas, científicas e jurídicas para justificar a escravidão dos povos africanos nas Américas. Estavam então postas na mesa todas as cartas que possibilitaram aos novos ricos europeus e às elites da colonização nas Américas o uso do trabalho escravo em larga escala. Os setores comerciais e da indústria naval auferiram altíssimos lucros no transporte de mercadoria tão preciosa; as classes dominantes oriundas da Europa poderiam utilizar uma força de trabalho privilegiada no trabalho árduo das colônias, e tudo com as “bênçãos de Deus”. Adam Smith (apud BLACKBURN, 2003, p. 373) resume da seguinte forma a questão colonial:

A fortuna nunca exerceu de modo mais cruel seu império sobre a humanidade do que ao sujeitar essas nações de heróis ao refugo dos objetivos da Europa, a miseráveis que não possuem as virtudes nem dos países de onde vêm, nem daqueles para onde vão, cuja leviandade, brutalidade e depravação os expõem com tanta justiça ao desprezo dos vencidos.

A expansão da crescente economia inglesa estava presente ostensivamente em todos os setores lucrativos da humanidade e não poderia ser de forma diferente no tráfico de escravos, segundo Paul E. Lovejoy(apud BLACKBURN, 2003 p. 465), “A marinha mercante inglesa efetuou entre os anos de 1701 a 1800 o comércio de 2.532.300 escravos, totalidade maior que qualquer outra grande nação traficante de escravos no mesmo período”.

Do ponto de vista econômico, pode-se observar a importância da escravidão a partir dos dados também citados porRoger Anstey (apud BLACKBURN, 2003 p.620).Segundo os dados apresentados “entre os anos de 1761 a 1807 os ingleses dedicados ao tráfico de escravos efetuaram 5.693 viagens marítimas, transportando uma carga total 1.428.701 escravos desembarcados, propiciando uma renda bruta de 60.005.356 libras”.

Assim, as contradições advindas da combinação do trabalho livre com o trabalho escravo no progresso dos Estados Unidos da América sobreviveram à luta pela independência  das Colônias Inglesas, cuja declaração foi assinada em 04 de julho de 1776. Esta hibridez sobreviveu nas colônias Britânicas na América quase um século a mais, além da independência, e somente uma guerra de colônias contra colônias (Guerra de Secessão), combinando a luta por interesses geopolíticos com a disputa de modelo de desenvolvimento assentado no capitalismo industrial, contra o modelo de desenvolvimento baseado na agricultura sustentada com o trabalho escravo e de visão de mundo liberal contra visão de mundo em que se permitia a concepção da servidão humana, é que se aboliu a escravatura nestas colônias.

A guerra de Secessão durou de 1861 a 1865, e segundo André Martin (2006, p. 219) custou a vida de 620 mil soldados e ainda deixou mais 400 mil mutilados ou feridos. No entanto, a herança da escravidão não foi extinta com a guerra. Hoje quase 150 anos após, o período da escravatura ainda deixa seus sinais no racismo presente nas mais diversas camadas sociais da América, mesmo após a ousadia da eleição de um presidente negro.

O império britânico – fortalecido a partir de sua própria produção industrial e comercialização com as ilhas britânicas, entre elas Irlanda e Escócia, nas relações econômicas com suas colônias na América, incluindo o tráfico de escravos, e o comércio com outras nações Européias – diante da necessidade em aumentar o contingente de pessoas livres e consumidoras nas mais diversas nações, não teve a menor dificuldade de, a partir do século XIX, se transformar em vanguarda da luta pela substituição do trabalho escravo em força de trabalho assalariada, estabelecendo para isto campanhas abolicionistas em todo o mundo. Também não teve nenhuma dificuldade em superar a perda das colônias livres da América do Norte, estabelecendo com elas posteriormente lucrativos laços comerciais, pois, ao mesmo tempo , expandia sua colonização por territórios da África, Austrália, Índia e China (em várias colônias, a Inglaterra permaneceu até o final do século XX e em algumas ainda hoje, em pleno século XXI). Logo, pode-se dizer que, em um primeiro momento, a Inglaterra foi a principal responsável pela expansão da língua inglesa pelos quatro continentes do planeta, graças à sua vocação industrial, comercial e colonialista. 

A expansão da língua inglesa para todo o globo terrestre contou inicialmente com a contribuição do desenvolvimento industrial na Inglaterra e Reino Unido e a expansão deste desenvolvimento para as colônias inglesas na América. Contou também com a ocupação de outros territórios (com forças militares)  na África, Ásia e Oceania. Em todos estes territórios as religiões de origem cristã e a língua inglesa seguiram acompanhando os rastros dos impérios britânicos e americano. A consolidação deste processo vai acontecer exatamente com o desenvolvimento da revolução tecnológica.

3. A sociedade capitalista americana e a emergência da língua inglesa

Para Fernandes (2007), nos Estados Unidos, além das características naturais da região, que contribuíram para a definição do modelo econômico, o tipo de sociedade e de interesses existentes foi determinante.  Apesar de o Sul ser agrícola, escravagista e com grandes propriedades, o oposto ocorreu na região Centro-norte, onde a colonização foi efetuada por um grupo caracterizado por homens que pretendiam permanecer na colônia (ideal de fixação), sendo alguns burgueses com capitais para investir; outros trabalhadores braçais, livres, caracterizando elementos do modelo capitalista, onde havia a preocupação do sustento da própria colônia, uma vez que havia grande dificuldade em comprar os produtos provenientes da Inglaterra.

A agricultura intensiva, a criação de gado e o comércio de peles, madeira, e peixe salgado, foram as principais atividades econômicas, sendo que se desenvolveu ainda uma incipiente indústria de utensílios agrícolas e de armas. Em várias cidades litorâneas, houve o desenvolvimento do comércio externo, integrando-se às Antilhas, onde era obtido o rum, trocado posteriormente na África por escravos, que, por sua vez, eram vendidos nas colônias do Sul.

Assim nasceu o "Comércio Triangular", responsável pela formação de uma burguesia colonial e pelo Capitalismo. Este cenário foi o campo fértil para que ao longo de sua história os Estados Unidos caminhassem rumo a certa democracia, crescimento e desenvolvimento, escrevendo sua história como país onde ocorreu a segunda Revolução Industrial. Isso ocorreu com o Fordismo e seu método de produção, que foi o marco inicial para a era pós-industrial e conseqüente hegemonia americana.

A maior escala de produção imposta pelo processo industrial de novos bens (energia elétrica, automóvel, química, petróleo, aço entre outros) requeria, por consequência, grandes aportes de investimento e elevada escala de produção, somente realizados através de um significativo movimento de centralização e de concentração do capital. O surgimento de grandes empresas, através de fusão e cartéis e a união dos capitais industrial e bancário (financeiro), viabilizou, para poucos empresários, a possibilidade de produção e difusão de uma nova onda de inovação tecnológica.
(POCHMAN, 2009 p.6)

Em um tempo distinto da Inglaterra, os Estados Unidos atingiram o padrão Inglês de industrialização (segunda metade do século XIX). Para atingir as elevadas escalas de produção requeridas com a era Ford (que aprimorou a organização de Taylor com a introdução da esteira e da linha de produção à indústria) eram necessários altos graus de investimento.  Isso só foi possível com a concentração de capital. Surge aí o capitalismo industrial que teve como protagonista as grandes fábricas metalúrgicas e automotivas, grandes empresas que fizeram com que a produção e a difusão de uma nova onda de inovação tecnológica ficasse concentrada nas mãos de poucos, dando início à Segunda Revolução Industrial e à formação da sociedade industrial.

Nascida da acumulação primária da economia colonial inglesa, da utilização da energia do vapor e da eletricidade, da conquista burguesa das liberdades parlamentares e da confiança iluminista no racionalismo, a organização científica estava destinada a evoluir por todo o século XIX, até encontrar o seu apogeu nas grandes fábricas metalúrgicas e automobilísticas dos Estados Unidos.
(DE MASI, 2010, p. 126).

Junto com o triunfo da sociedade industrial se produzem três fenômenos novos: a tendência dos países industrializados de prescindir dos próprios regimes políticos, o crescimento das classes médias, no nível social e o terceiro fenômeno descrito por alguns autores como fase extrema do capitalismo maduro, a difusão do consumo de massa e da sociedade de massa, marco significativo na transição da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial,
(DE MASI. 2010 p.160-161).

Como ensina Kuenzer (1989) em seu livro A pedagogia da fábrica, a Educação não deixou de ser influenciada pelo modelo capitalista.  De um modo geral, ela passa a servir a ao modelo industrial de produção. A sociedade, de uma forma geral, é regida pelo modo de produção capitalista, no qual os trabalhadores necessitam aprender apenas uma parte do trabalho, dividido no próprio trabalho, sem necessidade de educação escolar para além dos limites do saber ler, escrever e contar. O homem se torna alienado, sua formação prioriza a destreza, os modos de fazer, o disciplinamento baseado na submissão e na obediência, que eram centrais no princípio educativo taylorista/fordista.

Os interesses capitalistas, ainda consoante Kuenzer (1989), determinam uma prática pedagógica escolar fundamentada na rigidez, na repetição e na memorização. Era importante apenas compreender os movimentos necessários a cada operação, memorizá-los e repetí-los ao longo do tempo, não exigindo outra formação escolar e profissional. A pedagogia, como muitas outras ciências tornou-se fragmentada. Em decorrência, propõe conteúdos que, fragmentados, organizam-se em seqüências rígidas, tendo por meta, a uniformidade de respostas para procedimentos padronizados.

Com a implementação do modelo taylorista/fordista na fábrica, na escola e até mesmo na vida, os Estados Unidos surgem sem concorrentes como país protagonista na economia mundial capitalista e ocupam papel de hegemonia. Vários símbolos são representativos na história da humanidade. A cruz, com o cristianismo, é um deles. Expressão da fé cristã que norteou o pensamento vigente durante vários séculos; a foice e o martelo, como símbolo do comunismo, etc. Nos anos 50, temos a imagem aterrorizante do cogumelo atômico que, talvez até inconscientemente tenha orientado as relações internacionais. Na era capitalista, temos o símbolo da coca-cola, classificado como a marca mais conhecida mundialmente. Segue-se a esse o símbolo do Mickey Mouse cujas orelhas se tornaram a imagem mais popular no mundo.

A popularidade destes dois últimos símbolos representa a proeminência da cultura popular americana e do capitalismo global. O mundo imita os padrões, o modo de vida da sociedade americana. Os americanos vendem a imagem da sociedade do bem-estar, com seus carrões e embalada pelo rock and roll. “The american way of life”.

Essa dominação que EUA exercem às vezes é sutil, silenciosa como a que vemos nos  países em desenvolvimento. Outras vezes, mais direta, através das guerras pela posse do petróleo. De uma forma ou de outra, é constante a tentativa de fazer com que os cidadãos dos países dominados pensem política, religiosa, econômica, cultural e socialmente conforme seus preceitos, enquadrem-se no seu padrão de consumo. Não podemos deixar de dizer que tudo isso é reforçado pela mídia, favorecendo suas transações comerciais e reduzindo drasticamente as chances das empresas locais.

No Brasil, ao longo do século XX, vimos crescer esta influência e com ela a importância atribuída à língua inglesa, que é privilegiada em detrimento à  língua francesa nos currículos das escolas. A princípio no Ensino Médio, depois no Ensino Básico, chegando até à pré-escola.Vieram também as escolas bilingues. O ensino da língua inglesa é amplamente disseminado. Cursinhos de idiomas se multiplicam Brasil afora. Padronizam seus materiais didáticos para facilitar a expansão, através de redes de franquias. Associações de professores de língua inglesa são criadas para fundi-la em todo território nacional.

Phillipson (1992) em seu livro Linguistic Imperialism fez um longo estudo sobre o desenvolvimento e alastramento do ensino de Inglês no mundo. Este estudo foi recebido com muita atenção. Ele avançou no tema imperialismo linguístico, isto é, o avanço do Inglês como um protagonista pós-colonial por parte dos países falantes de língua inglesa como forma de manter o domínio sobre os países em desenvolvimento (periféricos).

Outro termo introduzido por Phillipson foi “linguicismo”, uma situação onde a imposição de uma língua, neste caso, o Inglês, estava ao lado da teoria de imposição das normas culturais, sociais, emocionais, linguísticas da sociedade dominante sobre a sociedade dominada. Com isso mantendo uma alocação desigual de poder e recursos.

Pennycook (1994) vai ainda mais longe na discussão sobre imperialismo linguístico. Ele desenvolve a noção do mundianismo do Inglês. Para ele, o Inglês é o remanescente do imperialismo ocidental agindo globalmente em conjunto com as forças capitalistas, principalmente aquelas de corporações multinacionais. Além de ser a língua da ciência e desenvolvimento econômico, é também a língua da distribuição desigual de riquezas.

Hollywood, com sua indústria cinematográfica, também tem seu papel na expansão da língua inglesa, pois “inunda” o mundo com seus filmes e séries de TV (uma concorrência cruel e desigual com os produtores locais de cultura). Tudo isso influencia e interfere  na produção cultural local . Aparecem também ritmos musicais como o funk, que é uma mistura da música eletrônica americana com influência da música brasileira. A cultura negra americana penetra, profundamente, nas nossas raízes. A produção científica internacional adota a língua inglesa também como porta-voz. (a referencia sobre o cinema está aqui)

Na academia, o resumo de um trabalho científico é sempre feito  na língua mãe e outro em Inglês (abstract). O Inglês se torna a língua das ciências e da tecnologia. Vemos a absorção de vocabulário da língua inglesa no idioma pátrio a ponto de não nos causar estranheza várias palavras inglesas em uma conversação coloquial. Zeca Baleiro, compositor e cantor popular brasileiro mostra claramente isso em uma de suas músicas. “Samba do Approach”.

Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat

Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
Minha casa é hi-tech
Toda hora rola um insight
Já fui fã do Jethro Tull 5
Hoje me amarro no Slash 6

Minha vida agora é cool
Meu passado é que foi trash

Fica ligado no link
Que eu vou confessar my love
Depois do décimo drink
Só um bom e velho engov
Eu tirei o meu green card
E fui prá Miami Beach
Posso não ser pop-star
Mas já sou um noveau riche...

Eu tenho sex-appeal
Saca só meu background
Veloz como Damon Hill
Tenaz como Fittipaldi
Não dispenso um happy end
Quero jogar no dream team
De dia um macho man
E de noite, drag queen...

No final do século XX e início do século XXI, os Estados Unidos, apesar da crise, seguem na hegemonia do mundo capitalista globalizado; dominam a tecnologia e a pesquisa e ocupam lugar de destaque no mundo científico.  O progresso científico e tecnológico alcançado por eles e suas empresas do Vale do Silício mudaram o mundo. Exerceram papel propulsor na sociedade pós–industrial. A partir daí, vemos a produção industrial e o desenvolvimento tecnológico moldar cada vez mais o modo de vida da sociedade, ditar os comportamentos mesmo fora da fábrica. Esta crescente incorporação de ciência e tecnologia ao mundo do conhecimento amplia ainda mais os poderes dos Estados Unidos. A hegemonia já alcançada no meado do século XX se intensifica no século XXI. E com isso, a dependência absoluta da língua inglesa como instrumento de acesso à informação, à tecnologia. 

Saber se comunicar em Inglês, mesmo sem gostar desta língua, é de fundamental importância no mundo em que vivemos. Para ter acesso à informática precisamos conhecer vocabulário na língua inglesa. É necessário ter algum conhecimento básico de Inglês para se ter acesso a computadores. É importante saber Inglês para nos comunicarmos com o mundo através da Internet.

A língua inglesa se torna um instrumento importante ao mundo do trabalho,  cada vez mais competitivo. Significa melhores chances de empregabilidade.  O domínio do idioma Inglês proporciona uma melhor condição de acompanhar as mudanças que vêm ocorrendo no século XXI. O Inglês se torna o idioma oficial do mundo globalizado, a língua franca, indispensável à sobrevivência e integração global, já que possui status de língua oficial em sessenta países e lugar de destaque em mais vinte. (JOHNSON, 1996). As ex-colônias da Ásia, mesmo temendo perder sua identidade étnica decidiram manter a língua inglesa como primeira língua, pois entenderam que era ela que facilitaria o desenvolvimento econômico de seus países.

As políticas do Banco Mundial consolidam a difusão do Inglês. Há seis línguas oficiais de iguais direitos na ONU, mas, na prática, o Inglês é a língua de trabalho dominante de fato,e isso é ocultamente aceito na ONU. Não saber Inglês é excludente. A pessoa que não sabe Inglês se sente como uma pessoa não alfabetizada, diante de situações que tem que viver no cotidiano e sobre as quais não tem domínio. A língua inglesa está presente na economia, na música, na escrita, na moda, nas telecomunicações, no avanço da tecnologia e no turismo, dentre outras áreas.

O domínio sobre o idioma da comunidade global é hoje indispensável como instrumento acadêmico e ferramenta profissional. Se quisermos ter acesso às recentes pesquisas, somente encontraremos bibliografia em Inglês; os manuais de aparelhos eletrônicos são em Inglês, as bulas dos remédios de ponta também.

A economia capitalista, juntamente com a Revolução eletrônica, cujo berço foi o vale do Silício, transformaram os Estados Unidos em um império econômico, com o Inglês cumprindo seu papel de língua franca imposta aos países dominados pelo país dominador. Num mundo em que a desigualdade é estruturada e legitimada pelo linguicismo, a língua "internacional", o Inglês, é vista como universalmente importante.

Nos governos imperiais, a língua sempre foi um instrumento de dominação do colonizador sob o povo dominado. É possível traçar um paralelo entre o Império Romano e o chamado imperialismo americano e a hegemonia exercida pela  língua latina e pela língua inglesa sobre os “povos dominados"

O Império Romano ocupou espaço territorial. Dominou toda a península Itálica. Saqueou e escravizou os conquistados. A capital do Império Romano enriqueceu e a vida dos romanos mudou.  A língua de Roma, o latim se tornou a língua oficial do Império Romano. E após, tal língua  se tornou a língua franca nas províncias ocidentais, mais tarde evoluindo para as românicas  modernas: italiano, francês, português, espanhol e romeno,evidência  de sua hegemonia.

O Império americano se expande ocupando, principalmente, mercados através das suas indústrias e redes, mas não deixa de ocupar espaço territorial, haja vista as guerras do petróleo. A diferença é que por causa da tecnologia, essa ocupação é mais eficiente. Tal qual o Império Romano, impõe sua língua como língua franca nos países por eles colonizados, por isso a língua inglesa é hoje ferramenta essencial ao mundo do trabalho e chave fundamental na educação do indivíduo, extremamente importante neste mundo globalizado, mesmo que o indivíduo nunca saia do lugar onde nasceu, ele tem acesso às mais diversas culturas através da rede de computadores e mídias televisivas. Como afirma Michel, (1992, p. 48), a hegemonia cultural, sobrevive a todos os vaivens da história americana. Melhor ainda, não cessa de fortalecer-se. É como se a americanização do planeta fosse um processo irresistível, ganhando força com seu próprio movimento, sobrepujando sem fraquejar as críticas ou as resistências locais. Para bilhões de pessoas pelo mundo, “e talvez na China comunista mais do que em qualquer outro lugar, o acesso à modernidade identifica-se com o modo de pensar americano. Ainda seguindo Michel (1992, p. 48), esta hegemonia cultural assenta-se sobre pelo menos três fatores, que são a língua, as universidades e a mídia:

No que diz respeito à língua, é bem evidente, o inglês é um esperanto quase universal no mundo. Utilizado, claro, pelos turistas, mas sobretudos pelos cientistas e pelos homens de negócios... Mais precisamente, existe hoje, nos campos dos negócios ou da tecnologia, uma linguagem universal que não somente utiliza o inglês, mas que toma seu conteúdo a partir dos conceitos desenvolvidos nas universidades americanas. Trata-se de um conjunto de valores, de hábitos, de esquemas de pensamento que estão sendo difundidos, permanentemente, por todo o planeta.

Para este crítico, além da língua outros dois fatores influem decisivamente para estabelecer esta hegemonia cultural: de um lado a qualidade de inúmeras universidades americanas, como poderoso instrumento e local privilegiado de formação de uma grande parte da elite intelectual de todo o mundo, e, de outro lado, outro instrumento de imenso alcance, a mídia com seus diversos braços que vão da televisão ao cinema, “com seu profissionalismo e produção em massa permitiram aos Estados Unidos imporem-se em quase todos os mercados.” (MICHEL, 1992,  p. 49)

4. Considerações finais

Ao longo de toda a explanação, atestamos a relevância do Inglês no mundo como conseqüência da hegemonia americana na economia. Mas, acreditamos que nós países que temos o Inglês como uma segunda língua, devemos pensar globalmente e tirar proveito dessa situação e não ficarmos mais na condição de países a serviço do imperialismo capitalista americano. É fato que uma língua que é falada em todos os cantos do mundo facilita imensamente a globalização.

Assim, como os ambientalistas encorajam as pessoas a pensar globalmente e agir localmente, os países devem conciliar preocupações globais com assuntos locais. O ícone de nossa era é o grande globo azul. Esse ícone mundial representa um sinal que denota um conjunto de idéias, culturas diversas e tecnologias, que fazem parte da globalização. Este ícone é símbolo de uma nova consciência, sugere importantes preocupações econômicas, políticas e sociais que devem ser implementadas para uma mudança mundial, sobretudo no aspecto da distribuição de renda.

Sugere que o paradigma dominante de concentração capitalista a qualquer custo (inclusive com a destruição planetária) mude para uma mentalidade global ambiental, que priorize o desenvolvimento social. Os avanços tecnológicos que facilitaram enormemente o movimento de pessoas e idéias removeram as barreiras que mantinham as pessoas isoladas e ignorantes. Se gostamos disso ou não, a era do isolamento terminou, pelo menos para os que estão incluídos neste mundo globalizado, já que não perdemos de vista, que ele é globalizado, mas também socialmente excludente.

O avanço do uso do Inglês no mundo deu aos países falantes de língua inglesa uma primeira vantagem. Mas isso foi relevante durante certo período de tempo. À medida que falantes não nativos de Inglês começam a aprendê-lo desde cedo, cresce o número de pessoas que falam Inglês e não são falantes nativos. Hoje temos muito mais falantes de Inglês não-nativos que nativos que começam a competir com os falantes nativos nos prêmios de literatura e  jornalismo. Eventualmente, os modelos e normas vão ter as histórias e identidades culturais dos que a usam, (KACHRU, 1985). Podemos dizer sim para o Inglês e todas as oportunidades inerentes ao domínio desta e não para a cultura americana. Podemos “tirar as vantagens econômicas” desta língua franca, valorizando a nossa cultura. Enquanto o paradigma capitalista dominar o mundo, o inglês será língua franca, como fora o latim, na época imperial romana. Como diria Chua and Chew (1993), o domínio do inglês neste momento conjuntural é um meio para chegar a um objetivo, e não um emblema cultural.

O Inglês deve ser visto como a língua que trará investimentos estrangeiros, acesso facilitado à educação fora do país, sucesso acadêmico trocas internacionais e negócios.“Um capital lingüístico”(BOURDIEU & PASSERON, 1977). Para eles, o domínio do Inglês,  facilmente se converteria em outras formas de capital, tais como qualificações acadêmicas e melhor renda. A melhor forma para o desenvolvimento e crescimento econômico de uma nação.

A língua Inglesa deve ser considerada uma língua a serviço das pessoas que a usam e não como dominação cultural. Há um multilinguismo pragmático ocorrendo globalmente e que, certamente, é a chave para a distribuição de poder simbólico no mundo. Tal multilinguismo é indicação de acumulação cultural, política e econômica do capital. Sob este ponto de vista, a melhora na qualidade do ensino de Inglês em nossas escolas é de extrema importância para a promoção da diminuição da desigualdade social, para a melhor distribuição de riquezas e consequente desenvolvimento de nosso país.

5. Referências

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BLACKBURN, Robin. Trad. Maria Beatriz de Medina. A construção do escravismo no Novo Mundo:
Do barroco ao Moderno 1492-1800. Rio de Janeiro: Record, 2003.

D’ARAUJO, Maria C. S. Capital Social. 2. ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

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1 Colégio Militar do Rio de Janeiro. Coordenadora do SEAN - Sistema de Ensino e Aprendizagem por Níveis em Língua Inglesa.
2 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local da UNISUAM
3 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local da UNISUAM
4 Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local da UNISUAM. Email: desenvolvimentolocal@ unisuam.edu.br
5 Jethro Tull é uma banda inglesa de rock progressivo formada em Blackpool nos anos 60. Jethro Tull significa agricultor.
6 Slash foi guitarrista da banda de rock americana Guns'n Roses, formada nos anos 80. Considerado um dos melhores de todos os tempos, seu "git solo" na música "Sweet child o'mine" é tido como perfeito.




Vol. 34 (2) 2013
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