Espacios. Vol. 33 (9) 2012. Pág. 9


Práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável e seus impactos na performance empresarial

Practice-oriented technological innovation for sustainable development and its impact on business performance

Uiara Gonçalves de Menezes 1 e Clandia Maffin Gomes 2

Recibido: 04-02-2012 - Aprobado: 22-05-2012


Contenido

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RESUMO:
Essa pesquisa tem dois objetivos: a) identificar quais são as principais práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável desenvolvidas pelas empresas pesquisadas; e b) verificar quais os principais impactos percebidos pelas indústrias no que se refere à performance empresarial. Os dados do estudo foram obtidos através de uma survey e analisados por meio estatística descritiva e permitiram identificar que a maioria das empresas avalia o possível impacto do desenvolvimento de seus produtos e processos no capital natural e social; desenvolve ativamente parcerias com stakeholders para geração de inovações; adotam práticas que buscam a criação e a projeção de novas necessidades sustentáveis no mercado; e investem na disseminação dos conceitos relacionados à sustentabilidade por parte de gestores e de colaboradores. Sobre os impactos percebidos em relação à performance empresarial parte das organizações podem não apresentar indicadores para a mensuração do seu desempenho econômico de uma forma mais abrangente ou não percebem nenhum impacto nessa dimensão de análise. As indústrias pesquisadas parecem perceber e concordar acerca da relevância dos impactos sociais. Entretanto, são os indicadores relativos aos impactos ambientais que apareceram de forma significativa em função da preocupação constante em relação ao meio ambiente, trazendo, consequentemente, maiores investimentos nessa área.
Palavras-chave: inovação tecnológica, desenvolvimento sustentável e performance empresarial

 

ABSTRACT:
This research has two objectives: a) to identify what are the main practices of technological innovation-oriented sustainable development practiced by the companies surveyed, and b) verify that the main perceived impacts by industries in relation to business performance. The study data were obtained through a survey applied and was analyzed using descriptive statistics and identified that most companies assessing the likely impact of the development of its products and processes in natural and social capital; actively develops partnerships with stakeholders to generate innovations, adopt practices that seek to creation and projection of new sustainable market needs, and invest in the dissemination of concepts related to sustainability on the part of managers and employees. About the perceived impacts in relation to business performance of the organizations may not have indicators to measure the economic performance of a more comprehensive or do not see any impact in this dimension of analysis. The industries surveyed seem to know and agree about the relevance of social impacts. However, the indicators relating to environmental impacts which appeared more significantly due to the constant concern for the environment, bringing, consequently, greater investments in this area.
Key-words: technological innovation, sustainable development, management performance


1. Introdução

O processo de inovação tem se tornado fundamental no cotidiano das organizações empresariais, principalmente no que se refere à crescente competitividade do mundo dos negócios. Em busca de competitividade e de diferenciação, as empresas têm recorrido à gestão de práticas inovadoras. Essa característica se reflete em pesquisas na área de administração, sensíveis a esta problemática, uma temática relevante e em elevado crescimento na literatura (Machado et al., 2008).

As práticas de gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável contribuem para o incremento da performance empresarial (De Menezes, 2011), nesse sentido os objetivos dessa pesquisa são: a) identificar quais são as principais práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável desenvolvidas pelas empresas indústrias pesquisadas; e b) verificar quais os principais impactos percebidos pelas industrias no que se refere à performance empresarial.

O setor foco dessa pesquisa é o industrial químico brasileiro. A escolha dessa população se justifica pelo seu esforço no desenvolvimento de atividades que buscam a sustentabilidade das suas operações, principalmente no que se refere às questões sociais e ambientais, a chamada segurança-química. Além disso, seus produtos são fornecidos para quase todos os tipos de indústrias, o que reflete a importância do setor para o sistema produtivo como um todo. Devido a essa abrangência de seus produtos, qualquer transformação na composição de determinados componentes químicos, visando a menor agressão ao ambiente, permeará em quase toda a cadeia de produção da indústria e esse resultado será percebido por meio da redução do impacto ambiental (Abiquim, 2010).

2. Referencial teórico

2.1. Inovação Tecnológica Orientada para o Desenvolvimento Sustentável

Algumas inovações que surgiram ao longo dos anos apresentam impactos bastante danosos no meio ambiente e na vida humana, como por exemplo, o uso de agrotóxicos, descarte de pilhas e baterias, uso intensivo de combustível fóssil entre outros. A utilização e o descarte desses produtos têm gerado impactos tanto na natureza (flora e fauna) como na saúde das pessoas. Nesse sentido, as inovações tecnológicas têm requerido análises criteriosas antes de serem lançadas no mercado.

Os modelos de gestão ambiental são desenvolvidos para reduzir os impactos ambientais e cumprir a legislação vigente, através da redução de desperdícios dos insumos, da redução do consumo de energia e por meio de uma gestão mais eficiente das práticas operacionais da organização. Assim, as empresas reduzem investimentos em tecnologias de elevado custo e complexas, de tratamento ao final da produção e dos serviços e, ao mesmo tempo, garantem o cumprimento da legislação ambiental, além de reduzir custos (Daroit et al., 1999). Conforme Porter e Linde (1995), essa economia contribuiu para estimular o desenvolvimento de inovações.

Esses programas privilegiam a dimensão econômica sob o enfoque do aumento da lucratividade da empresa, através da diminuição dos custos operacionais. Entretanto, as inovações sustentáveis não somente precisam estar focadas na demanda de mercado, mas também considerar as necessidades da sociedade, visando tanto o bem estar financeiro da organização como de qualidade de vida (Daroit; Nascimento, 2004). O que é corroborado por Feldmann (2003) ao argumentar que o impacto ambiental pode ser reduzido por meio da utilização eficiente dos recursos naturais e da minimização dos resíduos pós-consumo. A inovação, entretanto, precisa ser compreendida no contexto social, visto que desencadeiam suas próprias necessidades.

Juntamente com a inovação tecnológica aparecem aspectos relacionados à inclusão da gestão ambiental e social. O modelo de desenvolvimento econômico do planeta, utilizado por muitas décadas, degradou e poluiu o meio ambiente, visto que estava calcado na exploração de recursos naturais. Esses recursos foram extraídos de forma predatória e, em consequência dessa exploração, diversos problemas ambientais surgiram. Devido a importância que as empresas têm dado à atividade de inovação, é que as questões relativas ao desenvolvimento sustentável se tornam cada vez mais relevante.

Aliando as temáticas da inovação tecnológica e da sustentabilidade tem-se a inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável, ou inovação tecnológica sustentável. Seu conceito foca nas inovações que a mantém ou aumentam o capital global (econômico, ambiental e social) de uma empresa (Hansen et al., 2009).

A sustentabilidade tem sido discutida tanto na comunidade empresarial como na acadêmica, e ainda não apresenta um conceito completamente definido. O conceito, desenvolvido por Elkington (2001), sobre o Triple Bottom Line (Planet, Profit and People), se refere às esferas social, ambiental e econômica. A esfera social inclui a questão da justiça social, na qual o objetivo maior é o desenvolvimento de um mundo mais justo, através das relações com todos os stakeholders (colaboradores, clientes, fornecedores, governo). Essa dimensão contempla o capital humano, na forma de saúde, habilidades e educação, e deve abranger medidas mais amplas de bem-estar da sociedade e do potencial de criação de riqueza. Na esfera ambiental, ressalta-se a utilização dos recursos de forma a não prejudicar as gerações futuras, reduzindo impactos da ação das indústrias e utilizando de forma sustentável os recursos naturais. Na perspectiva econômica tem-se a preservação da lucratividade da organização e o não comprometimento do seu desenvolvimento econômico. Torna-se indispensável compreender como as empresas mensuram suas atividades econômicas do ponto de vista sustentável.

Hall e Vredenburg (2003) entendem que as inovações devem agrupar as necessidades sociais e ambientais, assim como considerar as gerações futuras, com o intuito de alinhar-se ao desenvolvimento sustentável, o que se reflete em um caráter complexo e ambíguo dessas inovações, pois podem proporcionar diversos tipos de vantagens e desvantagens, necessitando atender a um número maior de stakeholders com demandas conflitantes. Como exemplo pode ser citado: produtos sintéticos que não se degradam facilmente e entulham os aterros, produtos de limpeza que poluem as águas, produtos químicos lançados nas lavouras e que desencadearam problemas de saúde na população, entre outros. Em resumo, observa-se que alguma das dimensões social ou ambiental pode sofrer algum prejuízo em detrimento dos lucros que advém destas inovações. Por estas características, os autores consideram a inovação como uma “Espada de Dois Gumes” (The Double-Edged Sword of Innovation). 

O risco direcional das inovações justifica-se, pois o conceito de inovação orientada para o desenvolvimento sustentável expressa somente uma declaração de intenção individual, sendo que a direção dos reais efeitos de uma inovação para o desenvolvimento sustentável é desconhecida. Por essa característica, ainda se considera que esse tipo de inovação é de alto risco, entretanto de grande interesse para as empresas e a sociedade (Hansen et al., 2009).

A Produção mais Limpa (P+L) é uma estratégia ambiental preventiva aplicada aos processos, produtos e serviços, em busca de minimizar os impactos sobre o meio ambiente e instrumentalizar os conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável. A P+L é considerada um modelo de produção e tem sido desenvolvido desde a década de 80 pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI). A P+L é baseada no conceito de Tecnologia Limpa (Clean Technology) que tem três propósitos distintos: lançar menos poluição ao meio ambiente, gerar menos resíduos e consumir menos recursos naturais, principalmente os não-renováveis (Barbieri, 2004).

A ecoeficiência se trata de um modelo de gestão ambiental empresarial introduzido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 1992). Alguns anos após, os ministros dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) identificaram a ecoeficiência como uma proposta promissora para as empresas, os governos e as famílias reduzirem a poluição e o uso de recursos nas suas atividades e passaram a recomendá-la. Baseia-se na ideia de que a redução de materiais e de energia por unidade de produto ou serviço aumenta a competitividade da empresa.

Outro sistema de gestão ambiental aplicável aos bens e serviços refere-se à análise do ciclo de vida (ACV). A ACV refere-se aos aspectos ambientais de um bem ou de um serviço desde a origem dos recursos no meio ambiente até a disposição final dos resíduos de materiais e energia após o uso, passando por todas as etapas intermediárias, como beneficiamento, transporte, estocagem, entre outros.

Os rótulos ou selos ambientais visam informar os consumidores ou usuários sobre as características benéficas ao meio ambiente presentes em produtos ou serviços específicos: biodegrabilidade, retornabilidade, uso de material reciclado, eficiência energética e outras características (Barbieri, 2004). Além de informar, esses rótulos podem estimular a procura de produtos e serviços com baixos impactos ambientais através da disponibilização de informação relevante sobre os seus desempenhos ambientais.

A adoção desses selos busca também proteger o ambiente; encorajar a inovação ambientalmente saudável na indústria e desenvolver a consciência ambiental dos consumidores, além de diferenciar produtos. A rotulagem ambiental pode se materializar por meio de símbolos, marcas, textos ou gráficos.

A diminuição dos impactos ambientais de uma empresa não depende apenas de esforços organizacionais internos. Produtos e os resíduos poluentes também decorrem das características dos insumos obtidos. Assim sendo, incrementar o desempenho ambiental significa conectar esforços entre empresas compradoras e fornecedoras.

Parcerias entre integrantes de uma cadeia de suprimentos podem reduzir o risco de acidentes, passivos ambientais, bem como propiciar melhorias em produtos e processos produtivos das organizações envolvidas. Essas iniciativas podem evitar que os problemas ambientais de empresas fornecedoras, distribuidoras e varejistas afetem o desempenho do negócio da organização, seja pela oferta de produtos inadequados, seja perda de legitimidade (Dias et al., 2008).

2.2. Performance Empresarial

O desempenho de um negócio é, a partir de uma visão mais abrangente, um ponto principal das pesquisas concernentes às diversas estratégias administrativas, propiciando uma busca contínua, dos pesquisadores, por um melhor desempenho para a condução das estratégias das organizações, através de uma variedade de métodos que visam a operacionalizar este desempenho (Venkatraman; Ramanujan, 1986).

Mensurar o desempenho organizacional se tornou fundamental para que as organizações possam comparar sua gestão ao longo do tempo. Segundo Bititci et al. (1997) as medidas não-financeiras constituem indicadores de tendência e são capazes de oferecer informações que proporcionam algumas projeções, de forma a prevenir, antecipar e influenciar resultados futuros. Essas medidas conseguem interpretar a complexidade e os valores contidos no ambiente empresarial, ao contrário das financeiras. Quando o objetivo das empresas é avaliar as estratégias organizacionais, identificar oportunidades, mensurar a velocidade de aprendizado, a inovação, a flexibilidade, a confiabilidade e a capacidade de resposta, o uso dessas medidas é fundamental.

Originado pela organização holandesa Global Reporting Initiative, o modelo Global Reporting Initiative (GRI), define um padrão internacional para elaboração de relatórios de desempenho sustentável, propondo uma discussão com stakeholders para a determinação dos indicadores relevantes. Busca fornecer uma estrutura confiável para relatar a sustentabilidade que pode ser usada por organizações de qualquer tamanho, setor ou localização. Os indicadores estruturados pelo GRI para avaliação da sustentabilidade se dividem em três grupos: sociais, econômicos e ambientais (GRI, 2006).

  • Desempenho econômico: faz referência aos impactos da organização sobre as condições econômicas da sociedade como um todo. Busca apresentar a contribuição da organização à sustentabilidade de um sistema econômico mais amplo, além do que já é tratado tradicionalmente nas demonstrações financeiras.
  • Desempenho social: está ligado aos impactos da organização nos sistemas sociais nos quais atua. Os indicadores dessa categoria identificam aspectos de desempenho referentes a diferentes atividades, como práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo produto.
  • Desempenho ambiental: refere-se aos impactos da organização sobre os sistemas naturais vivos e não-vivos, incluindo ecossistemas, terra, ar e água. Os indicadores dessa categoria abrangem o desempenho relacionado à utilização de insumos (como material, energia, água) e a produção (emissões, efluentes, resíduos), além de tratarem temas como biodiversidade, conformidade ambiental entre outros.

O modelo de mensuração da sustentabilidade empresarial Global Reporting Initiative apresenta abrangência em suas dimensões e é utilizado mundialmente em empresas de diversos segmentos e países proporcionando um entendimento global dos efeitos sustentáveis nas organizações.

3. Metodologia

A pesquisa caracterizou-se como uma investigação de natureza quantitativa, por meio de uma pesquisa survey, que de acordo com Babbie (1999) permite analisar de forma descritiva uma população. A pesquisa descritiva visa, além de detalhar as características de uma população e fenômeno, estabelecer a relação entre variáveis (Gil, 1999).

Para realização do estudo foi adotado um modelo conceitual relacionando as variáveis que compõem a dimensão da gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável e a dimensão da performance empresarial. Sua execução se deu por meio da aplicação de um instrumento de coleta de dados, composto por questões fechadas, em empresas industriais do setor químico brasileiro, visando a identificar principais estratégias de inovação orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais indicadores que compõem a performance empresarial.

Para alcançar os objetivos da pesquisa as variáveis do modelo foram definidas e categorizadas em grupos de análise apresentados no quadro a seguir. O Quadro 1 apresenta a descrição da dimensão de gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável.

Quadro 1
Variáveis e indicadores da dimensão gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável

Gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável

Integração do critério da sustentabilidade

Conceito: Potencial de sustentabilidade das inovações. Os critérios de sustentabilidade devem ser integrados no processo de inovação para orientar o desenvolvimento e a criação de inovações e assegurar que as possibilidades de que a sustentabilidade seja levada em consideração ao longo do caminho do processo de produção, incluindo critérios sociais e ambientais.

Indicadores analisados: avaliação do impacto potencial do processo ou do produto no capital natural; e avaliação do impacto potencial do processo ou do produto no capital humano.

Integração de stakeholders e usuários

Conceito: refere-se à necessidade de integração dos stakeholders para o desenvolvimento de um novo produto ou processo, pois através da integração entre os stakeholders afetados diretamente no processo inovação é possível reduzir os riscos. A integração do conhecimento dos stakeholders no processo de inovação pode inspirar novas inovações.

Indicadores analisados: envolve de clientes/consumidores; desenvolve de parceria com organizações e institutos; envolve os empregados; acionistas; comunidade financeira; concorrentes; fornecedores; governo; associações comerciais; grupos ativistas e políticos; grupos de defesa dos consumidores; e sindicatos.

Marketing direcionado para a inovação sustentável

Conceito: Criação e projeção de novas necessidades sustentáveis que possam mudar o curso dos atuais estilos de vida, a fim de melhor desenvolver os serviços de produtos e modelos de negócios, argumentando que foca que um entendimento único de gestão da inovação tecnológica pode excluir potenciais de sustentabilidade. Assim, o marketing constitui um dos principais motores da inovação tecnológica sustentável, pois aumenta a possibilidade de sucesso das inovações no mercado, ilustrando uma ferramenta crucial para a gestão da inovação.

Indicadores analisados: Análise do ciclo de vida dos produtos; análise do comportamento do consumidor; comunicação da vantagem sócio-ecológica dos produtos sustentáveis; incentivo ao consumo sustentável; rotulagem ambiental; fornecer informações aos clientes sobre os efeitos ambientais dos produtos e processos de produção; coopera com clientes e fornecedores na questão ambiental; e adaptação dos produtos às normas ambientais do país importador.

Sensibilização no contexto da sustentabilidade

Conceito: Está ligada à sensibilização dos responsáveis pela tomada de decisão, que pode levar a uma redução dos riscos direcionais de inovações sustentáveis. Quanto mais os decisores estiverem sensibilizados, melhor se pode identificar e avaliar potenciais de sustentabilidade.

Indicadores analisados: investimento em treinamento dos gestores de inovação sobre sustentabilidade; investimento em treinamento dos funcionários sobre sustentabilidade; e grau de compreensão e interatividade dos conceitos de sustentabilidade.

Fonte: Baseado em Hansen et al. (2009)

Para avaliar a performance empresarial das empresas do estudo, o Quadro 2 apresenta a descrição das variáveis e indicadores utilizados.

Quadro 2 - Variáveis e indicadores da dimensão performance empresarial

Performance empresarial

Impactos sociais

Conceito: Impactos da organização nos sistemas sociais nos quais atua. Os indicadores dessa categoria identificam aspectos de desempenho referentes a diferentes atividades, como práticas trabalhistas, direitos humanos, sociedade e responsabilidade pelo produto.

Indicadores analisados: Redução da taxa de rotatividade dos empregados; Aumento no percentual de empregados abrangidos por acordos de negociação coletiva; Redução das taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e óbitos relacionados ao trabalho; Desenvolvimento de programas sobre saúde e segurança no trabalho; Investimento na capacitação dos funcionários; Redução da desigualdade de salário base entre homens e mulheres; Aumento no percentual de empresas contratadas e fornecedores que foram submetidos a avaliações referentes a direitos humanos; Desenvolvimento de medidas que visam reduzir casos de discriminação; Desenvolvimento de medidas a fim de contribuir com a abolição do trabalho infantil e/ou escravo; Avaliação dos programas e práticas que buscam reduzir os impactos das operações nas comunidades; Investimento em medidas anticorrupção;    Participação na elaboração de políticas públicas; Redução de multas significativas e de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos da sociedade; Avaliação das fases do ciclo de vida de produtos e serviços em busca de reduzir os impactos na saúde e segurança dos usuários; Adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos; Desenvolvimento de programas de adesão às leis, normas e códigos voluntários relacionados a comunicações de marketing, incluindo publicidade, promoção e patrocínio; e       Redução no valor monetário de multas por não-conformidade com leis e regulamentos relativos ao fornecimento e uso de produtos e serviços.

Impactos econômicos

Conceito: Impactos da organização sobre as condições econômicas da sociedade como um todo. Busca apresentar a contribuição da organização à sustentabilidade de um sistema econômico mais amplo, além do que já é tratado tradicionalmente nas demonstrações financeiras.

Indicadores analisados: Valor econômico direto gerado e distribuído; Ajuda financeira significativa recebida do governo; Políticas, práticas e proporção de gastos com fornecedores locais em unidades operacionais importantes; e Desenvolvimento e impacto de investimentos em infra-estrutura e serviços oferecidos.

Impactos ambientais

Conceito: Impactos da organização sobre os sistemas naturais vivos e não-vivos, incluindo ecossistemas, terra, ar e água. Os indicadores dessa categoria abrangem o desempenho relacionado à utilização de insumos (como material, energia, água) e a produção (emissões, efluentes, resíduos), além de tratarem temas como biodiversidade, conformidade ambiental entre outros.

Indicadores analisados: Aumento do uso de materiais oriundos de reciclagem; Redução do consumo de energia direta e indireta; Redução do consumo de água na fonte; Redução da utilização de áreas protegidas ou áreas de alto índice de biodiversidade fora das áreas protegidas; Reduções de emissões, efluentes e resíduos; Iniciativas para abrandar os impactos ambientais de produtos e serviços; Aumento no percentual de produtos e embalagens recuperadas em relação ao total de produtos vendidos; e Redução no valor monetário de multas ou número de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos ambientais

Fonte: Baseado em GRI (2006)

O universo da pesquisa foi constituído de empresas industriais do setor químico brasileiro. Ao todo, foram contatadas 486 empresas industriais de vários segmentos desse setor e o número de questionários respondidos foi de 34. As bases cadastrais utilizadas foram: ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química); SINPROQUIM (Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo); SINDIQUIM (Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do Rio Grande do Sul); ASSOCIQUIM (Associação Brasileira dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos); ABIPLA (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins); e NEI (Cadastro de Fornecedores e Produtos Industriais - FIESP).

A escolha dessa população como foco de investigação é justificada pela sua elevada representatividade nacional e internacional, potencial de inovação tecnológica, importância na cadeia de produção industrial, impacto ambiental e natureza das atividades industriais.

A aplicação do instrumento de coleta de dados ocorreu no período de janeiro à junho de 2011 e os dados foram coletados junto aos departamentos responsáveis pelas áreas de inovação e/ou de desenvolvimento sustentável.

A coleta de dados foi iniciada a partir da utilização do utilizado o banco de dados da ABIQUIM, sendo os questionários enviados diretamente via associação para as indústrias. Devido ao baixo índice de retorno obtido nessa fase, o banco de dados foi ampliado e os contatos com as empresas passaram a ser efetuados através de contato telefônico com posterior envio do instrumento via e-mail, visando a obter maior número de respostas e ampliar a representatividade da amostra.

Para a análise, os dados inicialmente obtidos foram tabulados e processados com o auxílio dos softwares Excel e SPSS. A análise foi efetuada de forma univariada, através de estatísticas descritivas com o uso de média, desvio-padrão, coeficiente de variação e a determinação da frequência observada e percentual. As estatísticas descritivas foram aplicadas para descrever a amostra, assim como verificar a intensidade da gestão das práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais indicadores para a avaliação de performance empresarial.

4. Análise dos resultados

A análise dos resultados parte inicialmente da descrição das características que constituem o perfil das empresas que fazem parte do universo pesquisado. Na sequência são apresentados os valores assumidos pelas variáveis.  As análises são efetuadas de forma univariada buscando abranger detalhes específicos dos dados, assim como a obter uma visão integrada das variáveis estudadas.

 4.1. Caracterização do perfil das empresas

A maioria das indústrias pesquisadas caracteriza-se como sendo de pequeno e médio porte; investem, em média, 2,07% do faturamento bruto na atividade de P&D e não atuam no exterior. Além disso, observa-se que, na maioria dos casos analisados, são desenvolvidas atividades de inovação tecnológica, sendo que a própria empresa, a principal responsável pela atividade inovativa. As atividades de inovação em produto e em processo são desenvolvidas por uma parcela significativa das empresas, seguida da inovação somente em produto (29,41%). Esse dado encontra-se alinhado com dados da pesquisa do IPEA (2005) que indicam a tendência das empresas em inovar em produtos e em processos de forma conjunta. Esses resultados são pertinentes, na medida em que confirmam a existência de atividade inovativa na maioria das empresas analisadas, atestando a adequação desse grupo de empresas para a aplicação do estudo proposto. A revisão de literatura efetuada evidenciou a interface existente entre a atividade inovativa e as estratégias e práticas relacionadas a sustentabilidade. Ressalte-se, entretanto, que uma parcela das empresas pesquisadas não possui atividade de inovação.

A atividade de inovação em cooperação com outras empresas, institutos de pesquisa ou universidades ainda pode ser considerada uma prática restrita a uma pequena parcela de empresas (26,47%), revelando baixo investimento na realização de parcerias para o desenvolvimento da atividade inovativa. Esse resultado contraria a versão teórica que argumenta sobre a importância de descentralizar a responsabilidade pela atividade inovativa e expandir os mercados para o uso externo das inovações, possibilitando avanço tecnológico (Chesbrough et al. 2006). Ainda, esse tipo de parceria são as principais modalidades de acesso às tecnologias adotadas, visando à obtenção de um nível tecnológico superior (Gomes; Kruglianskas, 2009).

De acordo com os dados apontados pela PINTEC (2008) a atividade inovativa em cooperação com outras empresas ou com outras instituições consiste em uma prática que ainda tem de ser desenvolvida na indústria brasileira e que essa preocupação tende a ser ampliada na medida em que aumenta o número de pessoal ocupado. As indústrias que compõem a amostra da pesquisa são de pequeno e médio porte, em sua maioria, o que pode explicar inclusive o fato de a responsabilidade principal pela inovação ser da empresa.

4.2. Gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável

 A gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável foi analisada por meio das variáveis: integração do critério da sustentabilidade, integração de stakeholders e usuários, marketing direcionado para a inovação sustentável e sensibilização no contexto da sustentabilidade.

A seguir, a Tabela 1 apresenta os dados da variável integração do critério de sustentabilidade.

Tabela 1
Valores assumidos pela variável integração do critério de sustentabilidade

Integração do critério de sustentabilidade

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Avalia o impacto potencial no capital natural

8,80

5,90

20,60

8,80

17,60

38,20

100

Avalia o impacto potencial no capital humano

11,80

8,80

14,70

23,50

8,80

32,40

100

Os dados obtidos na pesquisa evidenciam que as empresas avaliam o possível impacto do desenvolvimento de seus produtos e processos no capital natural (38,20%) e social (32,40%), o permite concluir que as empresas têm se preocupado com o risco direcional que as inovações podem desencadear. Para Hansen, Grosse-Dunker e Reichwald (2009) os critérios de sustentabilidade devem ser integrados no processo de inovação de forma a orientar o desenvolvimento e a concepção de inovações e ampliar as possibilidades de que a sustentabilidade seja levada em consideração durante as etapas de produção, incluindo critérios sociais e ambientais.

A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos da variável integração de stakeholders e usuários.

Tabela 2
Valores assumidos pela variável integração de stakeholders e usuários

Integração de stakeholders e usuários

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Envolve os clientes/consumidores

5,90

11,80

2,90

17,60

17,60

44,10

100

Desenvolve parceria com organizações e institutos

14,70

20,60

17,60

11,80

5,90

29,40

100

Envolve os empregados

2,90

5,90

2,90

23,50

17,60

47,10

100

Acionistas

26,50

5,90

2,90

14,70

17,60

32,40

100

Comunidade financeira

50,00

17,40

8,80

8,80

11,80

5,90

100

Concorrentes

38,20

35,30

8,80

2,90

2,90

11,80

100

Fornecedores

8,80

5,90

11,80

17,60

23,50

32,40

100

Governo

44,10

29,40

5,90

11,80

2,90

5,90

100

Associações comerciais

41,20

29,40

8,80

5,90

5,90

8,80

100

Grupos ativistas e políticos

64,70

23,50

5,90

-

2,90

2,90

100

Grupos de defesa dos consumidores

55,90

29,40

5,90

5,90

-

2,90

100

Sindicatos

52,90

23,50

14,70

2,90

2,90

2,90

100

De acordo com os dados apresentados, as empresas pesquisadas têm como característica o desenvolvimento ativo de parcerias com clientes/consumidores (44,10%), empregados (47,10%), fornecedores (32,40%) e organizações e institutos (29,40%). Ou seja, em sua maioria, a participação desses stakeholders na tomada de decisões relacionadas aos investimentos em inovações sustentáveis é frequente. Essa característica é confirmada pelos resultados da PINTEC (2008) que identificou essa mesma relação de parceria, com fornecedores, clientes ou consumidores.

A importância do envolvimento dos stakeholders nas atividades de inovação empresarial é corroborada por diversos autores na revisão da literatura, em função de propiciar às empresas a compreender a sua gestão tecnológica a gestão socioambiental, o que pode resultar em uma mudança na cultura e nos valores organizacionais, convertendo esse novo conceito em um critério de desenvolvimento dos negócios.

Cabe ressaltar a elevada intensidade de não respostas (não se aplica), o que evidencia dificuldades na aplicação das práticas sugeridas pelo referido modelo teórico. Esse dado pode ser resultado da falta de internalização de conhecimentos sobre práticas de inovação tecnológica e de desenvolvimento sustentável, especialmente por se tratarem, em sua maioria, de empresas de pequeno e médio porte.

Os resultados obtidos da variável marketing direcionado para a inovação sustentável são apresentados na Tabela 3 a seguir.

Tabela 3
Valores assumidos pela variável marketing direcionado para a inovação sustentável

Marketing direcionado para a inovação sustentável

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Analisa o ciclo de vida dos produtos

8,80

8,80

14,70

8,80

14,70

44,1

100

Analisa o comportamento do consumidor

8,80

8,80

2,90

11,80

29,40

38,20

100

Comunica a vantagem sócio-ecológica dos produtos

8,80

11,80

8,80

23,50

11,80

35,30

100

 Incentiva o consumo sustentável

2,90

5,90

5,90

20,60

23,50

41,20

100

Adota a rotulagem ambiental

8,80

23,50

8,80

8,80

26,50

23,50

100

Informa o cliente a respeito dos efeitos ambientais dos produtos e processos de produção

-

8,80

-

17,60

14,70

58,80

100

Coopera com clientes e fornecedores na questão ambiental

-

2,90

-

8,80

29,40

58,80

100

Adapta os produtos às normas ambientais do país importador

41,20

5,90

2,90

-

5,90

44,10

100

As empresas analisadas apresentam alta concordância com relação à adoção das práticas relacionadas ao marketing direcionado para a inovação sustentável (acima de 35%). Os indicadores utilizados foram avaliados como de elevada frequência. Dentre esses indicadores, apenas a adoção de rotulagem ambiental apareceu em menor frequência (23,50%). A baixa frequência observada em a adaptação dos produtos às normas ambientais do país importador (41,20%) se justifica pelo fato de uma parcela significativa de empresas pesquisadas não apresentarem atividades no mercado internacional.

Os resultados da variável sensibilização no contexto da sustentabilidade são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4
Valores assumidos pela variável sensibilização no contexto da sustentabilidade

Sensibilização no contexto da sustentabilidade

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Investe em treinamento dos gestores de inovação sobre sustentabilidade

8,80

8,80

14,70

20,60

8,80

38,20

100

Investe em treinamento dos funcionários sobre sustentabilidade

8,80

8,80

14,70

17,60

20,60

29,40

100

Avalia o grau de compreensão e interatividade dos conceitos de sustentabilidade

8,80

8,80

11,80

26,50

20,60

23,50

100

As empresas apresentam elevada frequência em relação ao investimento na compreensão dos conceitos relacionados à sustentabilidade por parte do seu corpo de colaboradores e gestores (em torno de 30%). Porém a avaliação do grau de compreensão e interatividade desses conceitos apresentou intensidade média (26,50% das empresas pesquisadas). Esses investimentos refletem o quanto o tema tem se tornado estratégico para as empresas, principalmente para as pessoas que são responsáveis pela tomada de decisão sobre novos produtos ou processos nas organizações.

4.3 Performance empresarial

A dimensão da performance empresarial foi analisada por meio das variáveis: impactos econômicos e financeiros, impactos sociais e impactos ambientais. São apresentados por meio da intensidade em que seus efeitos são percebidos nas empresas.

Os resultados da variável impactos econômicos e financeiros são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Valores assumidos pela variável impactos econômicos e financeiros

Impactos econômicos e financeiros

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Valor econômico direto gerado e distribuído

20,60

11,80

17,60

14,70

11,80

23,50

100

Redução da ajuda financeira recebida pelo governo

58,80

17,60

8,80

-

11,80

2,90

100

Presença de políticas, práticas e proporção de gastos com fornecedores locais

35,30

17,60

14,70

8,80

14,70

8,80

100

Desenvolvimento e impacto de investimentos em infra-estrutura e serviços oferecidos

23,50

14,70

11,80

17,60

20,60

11,80

100

De acordo com os dados, percebe-se que poucas empresas entendem a elevação no valor econômico direto gerado e distribuído como impactos relevantes. Essa elevação inclui incremento das receitas, redução dos custos operacionais, melhor remuneração de empregados, doações e outros investimentos na comunidade, lucros acumulados e pagamentos para provedores de capital e governos, além de desenvolvimento e impacto de investimentos em infra-estrutura e serviços oferecidos. Porém, essas organizações podem não apresentar indicadores que mensurem seu desempenho econômico de uma forma mais abrangente, devido aos altos índices de não resposta. Essa situação pode ser respondida pelo argumento de que as empresas do estudo são, em sua maioria, de pequeno e médio porte e os indicadores de performance desta pesquisa, baseados no GRI, têm sido mais utilizados por empresas de porte maior.

A seguir a Tabela 6 apresenta os resultados da variável impactos sociais.

Tabela 6 – Valores assumidos pela variável impactos sociais

Impactos sociais

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Redução da taxa de rotatividade dos empregados

11,80

14,70

11,80

20,60

20,60

20,60

100

Aumento no percentual de empregados abrangidos por acordos de negociação coletiva

29,40

14,70

14,70

11,80

14,70

14,70

100

Redução das taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e óbitos no trabalho

11,80

11,80

8,80

8,80

17,60

41,20

100

Desenvolvimento de programas sobre saúde e segurança no trabalho

5,90

5,90

-

20,60

25,30

32,40

100

Investimento na capacitação dos funcionários

5,90

5,90

2,90

23,50

38,20

23,50

100

Redução da desigualdade de salário entre homens e mulheres

20,60

5,90

5,90

29,40

8,80

29,40

100

Aumento no percentual de empresas contratadas/fornecedores submetidos a avaliações referentes a direitos humanos

26,50

8,80

20,60

11,80

14,70

17,60

100

Desenvolvimento de medidas que visam reduzir casos de discriminação

23,50

11,80

8,80

8,80

17,60

29,40

100

Desenvolvimento de medidas em contribuição com a abolição do trabalho infantil e/ou escravo

23,50

11,80

2,90

2,90

20,60

38,20

100

Avaliação dos programas e práticas que buscam reduzir os impactos das operações nas comunidades

11,80

8,80

8,80

14,70

20,60

35,30

100

Investimento em medidas anticorrupção

29,40

14,70

11,80

5,90

20,60

17,60

100

Participação na elaboração de políticas públicas

29,40

23,50

8,80

20,60

8,80

8,80

100

Redução de multas resultantes da não-conformidade com regulamentos da sociedade

32,40

8,80

5,90

14,70

23,50

14,70

100

Avaliação das fases do ciclo de vida de produtos e serviços em busca de reduzir os impactos na saúde e segurança dos usuários

20,60

8,80

5,90

14,70

23,50

26,50

100

Adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos

8,80

8,80

2,90

11,80

14,70

52,90

100

Desenvolvimento de programas de adesão às leis relacionados à comunicação de marketing

11,80

14,70

14,70

17,60

8,80

32,40

100

Redução de multas por não-conformidade com leis relativos ao fornecimento e uso de produtos/serviços

26,50

8,80

5,90

11,80

17,60

29,40

100

De uma forma geral há concordância, por parte das indústrias pesquisadas, de que os impactos sociais são intensos. Essa percepção positiva pode estar relacionada à existência de maior adequação das empresas em termos de legislação trabalhista, mas também revelam um nível elevado de comprometimento com a adoção de práticas dessa natureza. É possível observar ainda que a adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos obteve um percentual elevado de resposta das indústrias. Esse dado reflete a relevância dada à informação de seus clientes e consumidores.

Os indicadores de investimento em medidas anticorrupção, participação na elaboração de políticas públicas e redução de multas significativas e de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos da sociedade, obtiveram maior frequência de não respostas. Isso pode significar que as empresas não apresentam indicadores para mensurar essas questões ou que essas práticas não costumam ocorrer na empresa.

Os resultados da variável impactos ambientais são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 – Valores assumidos pela variável impactos ambientais

Impactos ambientais

Intensidade (%)

0

1

2

3

4

5

Total

Aumento do uso de materiais oriundos de reciclagem

11,80

8,80

23,50

20,60

17,60

17,60

100

Redução do consumo de energia direta/indireta

5,90

5,90

8,80

17,60

23,50

38,20

100

Redução do consumo de água

8,80

5,90

5,90

20,6

23,5

35,3

100

Redução da utilização de áreas protegidas

44,1

5,90

5,90

2,90

20,60

20,60

100

Reduções de emissões, efluentes e resíduos

8,80

5,90

2,90

11,80

23,50

47,10

100

Iniciativas para abrandar os impactos ambientais

8,80

8,80

-

14,70

29,40

38,20

100

Aumento no percentual de produtos e embalagens recuperadas em relação aos produtos vendidos

23,50

5,90

5,90

11,80

29,40

23,50

100

Redução no valor monetário de multas resultantes da não-conformidade com regulamentos ambientais

29,40

8,80

5,90

14,70

14,70

26,50

100

A preocupação com a minimização dos riscos e de impactos ambientais se constitui em uma importante preocupação das empresas, que se reflete, inclusive, pela necessidade de se adequar à legislação ambiental. Os impactos ambientais são altamente percebidos, de uma forma geral, pelas indústrias analisadas. Ou seja, a redução de consumo de energia e água, emissão de efluentes, entre outros, são resultados que as empresas pesquisadas percebem em maior intensidade.

Ressalte-se que dentre os oito indicadores de impactos ambientais considerados no estudo, seis apresentaram concordância total de grande parte das empresas. Essa característica revela um elevado nível de comprometimento com a gestão ambiental, a exemplo do comportamento obtido em relação da avaliação dos impactos sociais.

5. Considerações finais

O objetivo da presente pesquisa é identificar as principais estratégias de inovação orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais impactos referentes à performance empresarial das empresas industriais do setor químico brasileiro. Com base na análise dos resultados pode-se concluir que a maior parte das empresas industriais do setor químico, que compõe a amostra do estudo, desenvolve as práticas de gestão da inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável de forma intensa.

Os dados evidenciam que a maioria das empresas avalia o possível impacto do desenvolvimento de seus produtos e processos no capital natural e social; desenvolve ativamente parcerias com clientes/consumidores, empregados, fornecedores e organizações e institutos para geração de inovações; adotam práticas que buscam a criação e a projeção de novas necessidades sustentáveis no mercado; e investe na disseminação dos conceitos relacionados à sustentabilidade por parte de  gestores e de colaboradores. Essas ações, de acordo com o modelo conceitual de Hansen et al. (2009), são implicações para a gestão das práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável.

A análise descritiva das variáveis de performance empresarial apresenta menor convergência entre o modelo teórico subjacente e dados empíricos obtidos na survey. Sobre os impactos econômicos e financeiros, a característica que se sobressai reflete que essas organizações podem não apresentar indicadores para a mensuração do seu desempenho econômico de uma forma mais abrangente. As indústrias pesquisadas parecem perceber e concordar acerca da relevância dos impactos sociais. Nesse sentido, destaca-se a adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos. Os indicadores relativos aos impactos ambientais parecem ser mais significativos para as empresas em função da sua preocupação constante em relação ao meio ambiente, trazendo, consequentemente, maiores investimentos nessa área.

De modo geral, foi possível observar que as empresas que compõem o estudo, pouco informaram acerca dos indicadores utilizados para avaliar os impactos referentes à performance empresarial. Esse comportamento diverge dos pressupostos teóricos que afirmam que apresentar meios para mensurar suas atividades é o ponto de partida para o aperfeiçoamento da própria empresa, visto que permitem ao administrador compreender e visualizar quais são as metas da organização (Harrington, 1993). Esse comportamento pode se justificar pela inexistência de indicadores capazes de mensurar a performance.

As limitações do estudo são decorrentes do número de empresas pesquisadas, pois apesar do longo processo de coleta de dados, o número de empresas que se disponibilizaram a responder o questionário da pesquisa foi pouco representativo em relação à população pesquisada. Nesse sentido não é possível fazer generalizações das conclusões obtidas com relação aos respondentes para toda a população. As conclusões e análises se referem apenas ao conjunto de empresas participantes da amostra.

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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil E-mail: uiara.menezes@gmail.com
2 Universidade de São Paulo Profesora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria Brasil E-mail: clandia@smail.ufsm.br


Vol. 33 (9) 2012
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