Espacios. Vol. 33 (8) 2012. Pág. 9


Aplicação do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições para o desenvolvimento sustentável: Uma proposição teórica

Application of Theory of Constraints Process Thinking to sustainable development: A theoretical proposal

Tito Armando Rossi Filho 1, Isaac Pergher 2, Daniel Pacheco Lacerda 3 y Luis Henrique Rodrigues 4

Recibido: 09-01-2012 - Aprobado: 12-05-2012


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RESUMO:
O presente artigo apresenta uma aplicação do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições (Theory of Constraints - TOC) para contribuir no desenvolvimento de ações que resultem na sustentabilidade das indústrias. Para que isso ocorra são utilizadas algumas ferramentas do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, dentre elas a Árvore da Realidade Atual, o Diagrama de Dispersão das Nuvens e a Árvore da Realidade Futura. Foram formulados possíveis efeitos indesejados organizados por meio da Árvore da Realidade Atual (ARA) para identificação das causas básicas. A partir da ARA se procurou expor os possíveis pressupostos que sustentam uma situação de conflito e, por consequência, impedem a implementação de potenciais soluções. Por fim, foi construída uma Árvore da Realidade Futura para vislumbrar os possiveis desdobramentos das soluções sugeridas. Nesse sentido, o Processo de Pensamento da TOC serviu como fio condutor para a reflexão das possibilidades que uma organização reduza seu impacto ambiental.
Palavras-chave: Teoria das Restrições, Processo de Pensamento, sustentabilidade, impactos ambientais.

 

ABSTRACT:
This article shows the application of Theory of Constraints Thinking Process to contribute in developing actions that result in sustainability of industries. In order to achieve this objective, some tools from the Theory of Constraints Thinking Process were used,more specifically the Current Reality Tree, the Evaporation Clouds and Future Reality Tree. Undesired effects were identified and structured through the Current Reality Tree (CRT) to identify the underlying causes. The CRT exposed the assumptions that underlie a possible conflict situation and therefore hamper the implementation of potential solutions. Finally, it was built a Future Reality Tree to glipmse the possible ramifications of the solutions suggested. In this sense, the thinking process served to possibility that a reflection of the organization to reduce its environmental impact.
Key-words: Theory of Constraints, Thinking Process, Sustainability, Environment Impacts.



1. Introdução

O termo sustentabilidade tem sido utilizado para expressar a necessidade de viver no presente sem colocar em perigo o futuro (SENGE et al., 2008). Ao mesmo tempo, a idéia de sustentabilidade se expressa pela elevação de expectativas em relação ao desempenho social e ambiental (HART & MILSTEIN, 2003). Dessa maneira, para que a empresa possa ser considerada sustentável, esta deve prover benefícios econômicos, ambientais e sociais; conhecidos como os três pilares do desenvolvimento sustentável (ELKINGTON, 1994; HUBBARD, 2009).

Um dos principais obstáculos para a obtenção do desenvolvimento sustentável nas empresas está relacionado os benefícios ambientais por meio da redução de impactos ambientais. Tais obstáculos ocorrem, de acordo com Lockhart e Taylor (2007), devido a objeções de que a redução dos impactos ambientais agregariam custos adicionais às empresas. Por um lado, isso pode significar uma desvantagem econômica, especialmente, quando elas competem globalmente. Por outro lado, tem aumentado a pressão de organismos regulatórios, dos acionistas e da sociedade para redução dos impactos ambientais. Procedimentos de avaliação das “Pegadas Ecológicas” das empresas, ou seja, os seus impactos abientais de forma mais sistêmica, vem se tornando cada dia mais usuais em organizações modernas, bem como os seus compromissos em eliminação dos respectivos impacots ambientais (ANDERSON, 2009). Nesse sentido uma parte das empresas está descobrindo que as percepções dos consumidores quanto à responsabilidade ambiental, ou a sua falta, afetam as vendas (LOVINS, LOVIS & HAWKEN, 1997).

Outro aspecto considerado é que as ações de redução do impacto ambiental melhoram a competitividade da empresa por meio da inovação e melhorias na eficiência na utilização de recursos (PORTER & VAN DER LINDE, 1995). Tal abordagem, nomeada por Schmiedheiny et al., (1992) como “eco-eficiência”, tem como conceito central o “fazer mais com menos” (WBCSD, 2000). Porém, esta abordagem parte da premissa básica de que a empresa identificaria as inovações e melhorias necessárias para aumentar a eficiência da utilização de recursos, o que não necessariamente acontece.

Este artigo apresenta uma proposta de contribuição para o tema, no sentido de direcionar a identificação de potenciais soluções inovadoras e/ou criativas que possam ser adotadas para a redução de impactos ambientais gerados por indústrias. O método utilizado é o Processo de Pensamento da Teoria das Restrições (Theory of Constraints – TOC). Durante a fase de pesquisa no foco de trabalho, observou-se a ausência de artigos e pesquisas específicas que aplicam o Processo de Pensamento da Teoria das Restrições em questões ambientais (REID & CORMIER, 2003; HSU & SUN, 2005; CHOE & HERMAN, 2007; KIM, MABIN & DAVIES, 2008). Optou-se por utilizar o Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, aplicado em outros casos (RAHMAN, 2002; TAYLOR III, MURPHY & PRICE, 2006; TAYLOR III, THOMAS, 2008), para auxiliar no desenvolvimento de abordagens com foco em redução de impactos ambientais.

A seguir, se apresenta os elementos básicos para a compreensão do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições (PP-TOC). Em seguida, se realiza a aplicação do PP-TOC para as questões relativas ao desenvolvimento sustentável. Por fim, as considerações finais são tecidas.

2. Processo de Pensamento da Teoria das Restrições (PP-TOC)

A Teoria das Restrições (TOC) foi criada pelo físico Eliyahu M. Goldratt e difundida através de livros, jogos, vídeos, entre outros. Segundo Wong et al., (2009) a TOC é uma filosofia de gestão empresarial que conduz a objetivos de melhoria contínua e metas da organização. Sua aplicabilidade tem sido relatada em diversas áreas, como por exemplo: produção (GOLDRATT, 2009), marketing (BLACKSTONE, 2001), projetos (HERROELEN & LEUS, 2001), serviços (REID & CORMIER, 2003). Um exemplo de aplicação dessa abordagem, é o trabalho de Moellmann et al., (2006) que utilizaram os princípios da Teoria das Restrições para melhoria da produtividade em um processo de fabricação. A aplicabilidade da Teoria das Restrições em diversas áreas é sustentada pelo Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, no qual contribui para a condução dos esforços de aprimoramento contínuo nas organizações.

Segundo Cox & Spencer (2002), o Processo de Pensamento é um conjunto de ferramentas que podem ser utilizadas individualmente ou podem ser interligadas logicamente. Essas ferramentas permitem a identificação de problemas centrais, a determinação de soluções do tipo ganha-ganha e a determinação e superação dos obstáculos possíveis para implantação da solução (LACERDA, RODRIGUES & SILVA, 2009).

Questão Central

Ferramenta

O quê mudar ?

Árvore da Realidade Atual (ARA)

Para o quê mudar ?

Diagrama de Dispersão das Nuvens (DDN)

Árvore da Realidade Futura (ARF)

Como provocar a mudança ?

Árvore dos Pré-Requisitos (APR)

Árvore de Transição (AT)

Quadro 1 – Cinco ferramentas do processo de pensamento - Adaptado de (COX & SPENCER, 2002)

As ferramentas que constituem o Processo de Pensamento da TOC possibilitam o diagnóstico de problemas, o desenvolvimento das possíveis soluções e, a construção de planos de ação (KIM, MABIN & DAVIES, 2008). Este método busca responder a três questões: O quê mudar ?; Para o quê mudar?; e Como provocar a mudança ?. Segundo Cox & Spencer (2002), o Processo de Pensamento é formado, entre outras, por cinco ferramentas que visam responder estas três perguntas fundamentais. O Quadro 1 mostra a questão central e a ferramenta a ser utilizada. Para atender aos objetivos propostos por este trabalho, foram utilizadas as ferramentas relativas às questões de: “O quê mudar ; e Para o quê mudar ?”.

2.1 O que mudar? - Árvore da Realidade Atual (ARA)

O objetivo da Árvore da Realidade Atual (ARA) é a caracterização dos problemas centrais encontrados em um determinado sistema (ANTUNES et al., 2004). Para Cox & Spencer (1998), a Árvore da Realidade Atual fornece mecanismos para: i) identificar o impacto de políticas, procedimentos e ações em uma determinada área ou em toda a organização (BOYD, GUPTA & SUSSMAN, 2001); ii) comunicar, clara e concisamente, a causalidade dessas políticas, procedimentos e ações; iii) identificar claramente o problema central frente a uma situação (CHOE & HERMAN, 2007); iv) formar uma equipe de trabalho direcionada a resolver o problema (TAYLOR III, MURPHY & PRICE, 2006).

Para Alvarez (1995) e Cox & Spencer (1998), a ARA descreve o estado atual do sistema ou de uma determinada realidade. O processo de construção da ARA inicia com a identificação dos Efeitos Indesejáveis (EIs) e uma conexão lógica do tipo: “Se..., Então...” dos (EIs). Durante o processo de construção da ARA, o problema raiz é identificado e, por consequência, devem-se concentrar esforços em direção à causa do problema e não aos efeitos do problema (GOLDRATT, 1994). Uma vez identificado o problema raiz, necessita-se de uma solução para que ele deixe de ocorrer e os efeitos indesejáveis sejam eliminados.

Figura 1 – Como interpretar a ARA - Adaptado de (Alvarez, 1995)

Conforme Alvarez (1995) o arranjo representado pela letra A na Figura 1 é interpretado da seguinte maneira: se ocorrer a causa, então o efeito se manifesta. A leitura para o arranjo da letra B, no qual representa uma causa adicional, deve ser feita assim: se ocorrer a causa ou ocorrer à causa adicional, então o efeito se manifesta. Por fim, o arranjo da letra C representa uma suficiência ou insuficiência de causa, logo, realiza-se a leitura da seguinte forma: se causa e causa necessária, então ocorre o efeito. A seguir se apresentará o Diagrama de Dispersão de Nuvens.

2.2 Para o quê mudar? - Diagrama de Dispersão das Nuvens (DDN)

Segundo Alvarez (1995) a técnica de Dispersão das Nuvens, constitui-se em um dos pontos marcantes da abordagem do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições. O foco central desta ferramenta é forçar a formalização de idéias e pressupostos, para que seja possível a resolução dos conflitos existentes (GOLDRATT, 1994). Segundo Antunes et al., (2004) a Dispersão das Nuvens procura formular uma solução com eficiência para eliminar o problema central, que limita uma melhor performance da organização. O Diagrama de Dispersão de Nuvens pode ser representada na Figura 2.

Figura 2 – Representação genérica do diagrama Dispersão das nuvens -

Adaptado de (COX & SPENCER, 2002) & Alvarez (1995)

O ponto base desta técnica é a verbalização dos pressupostos não verbalizados, que causam os problemas centrais, os quais têm origem em um conflito de posições (ANTUNES  et al., 2004). Segundo Lacerda, Cassel e Rodrigues (2010) busca-se falsear os pressupostos que sustentam as necessidades para que os conflitos possam ser efetivamente resolvidos. A solução deve emergir a partir da introdução de novas idéias ou o falseamento de pressupostos, chamadas de Injeções (COOPER & LOE, 2000).

Uma característica distintiva deste método é a busca de Injeções que sejam soluções inovadoras e capazes de quebrar os trade-offs. As injeções devem ser simples e criativas, introduzindo elementos novos, capazes de invalidar os pressupostos existentes. Assim se evita a solução de problemas através de soluções de “compromisso” (TAYLOR III, MURPHY & PRICE, 2006). As soluções de compromisso surgem na tentativa de conciliar aspectos conflitantes por meio da cessão de cada uma das partes. Na sequência, se apresenta, brevemente, alguns elementos relativos a Árvore da Realidade Futura.

2.3 Para o quê mudar? - Árvore da Realidade Futura (ARF)

Segundo Alvarez (1995), para a construção da (ARF), o ponto de partida é a Injeção (definida na Dispersão das Nuvens), a partir da qual se conecta os efeitos desejáveis (EDs), segundo uma relação de causa e efeito. O processo de construção da (ARF) é finalizado quando são conectados a árvore os efeitos desejáveis, em geral, opostos aos efeitos indesejáveis identificados na ARA. Uma vez identificados os efeitos desejáveis, atesta-se a eficácia da Injeção, ou do conjunto de Injeções (NOREEN et al., 1996; TAYLOR & THOMAS, 2008). A combinação das ferramentas (DDN e ARF), tem o intuito de responder a segunda pergunta, apresentada no Quadro 1.

Com o objetivo de verificar a situação futura provida da implementação das soluções obtidas para eliminar o problema-raiz, deve-se utilizar a ARF para transformar os efeitos indesejáveis em efeitos desejáveis, através de Injeções que são implementadas (DETTMER, 1997). Segundo Goldratt (1994) a construção da ARF permite visualizar os ramos negativos que poderão surgir, elaborando ações para neutralizá-los. Em seguida, é realizada a aplicação do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições para o problema específico do desenvolvimento sustentável.

3. Aplicação do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições

Na aplicação do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições que está sendo proposta neste trabalho, o efeito indesejado que se exploraé a seguinte: a indústria não reduz os impactos ambientais.  A proposta apresentada neste trabalho irá sugerir através da ARA uma representação genérica do estado de um sistema no qual uma indústria se insere.

3.1 Aplicação da Árvore da Realidade Atual (O quê mudar?)

Ao iniciar a elaboração da ARA, buscou-se listar os potencias impactos ambientais gerados pelas indústrias. Para tanto, os impactos foram classificados de acordo com as potenciais causas decorrentes de processos produtivos (Figura 3) e/ou gerenciais.

Figura 3 – Potenciais fontes de impacto ambiental de um processo produtivo - Fonte: autores

Por meio dessa classificação, obteve-se os primeiros Efeitos Indesejáveis (EIs), ou seja, as próprias fontes de impacto ambiental na indústria propostas na classificação anterior. Posteriormente, buscou-se identificar as causas para esses EIs e relacioná-las adequadamente, conforme prescrito na utilização da ferramenta. Isso foi realizado recorrentemente até que foram encontradas causas raiz. A Figura 4 mostra a Árvore da realidade atual (ARA) proposta. A classificação apresentada no Quadro 2 foi utilizada na construção da ARA.

Tipo de Impacto Ambiental

Descrição

Matéria-prima

Ineficiências no processamento da matéria-prima (utilização de mais matéria-prima do que o necessário para a mesma quantidade de produto)

Recursos energéticos e hídricos

Ineficiências na utilização dos recursos energéticos e hídricos (água, luz, combustivel, etc)

Resíduos e subprodutos

Ineficiências no aproveitamento de resíduos e subprodutos gerados pelo processo produtivo

Tecnologia definida

Escolha das tecnologias utilizadas para o tratamento de resíduos e subprodutos

Recurso energético definido

Escolha dos tipos de recursos energéticos utilizados pela indústria

Quadro 2 – Tipos de Impactos Ambientais de acordo com a origem na indústria - Fonte: autores

A ARA deve ser interpretada conforme foi expresso anteriormente (Figura 1). Assim, SE A empresa não investe em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental ENTÃO Não é melhorada a eficiência dos processos utilizados para o consumo de recursos.

Figura 4 – Árvore da Realidade Atual de indústria que não reduz o impacto ambiental. Fonte: autores

3.2 Aplicação da Dispersão das Nuvens (O quê mudar?)

Um conflito que dificulta a redução de impactos ambientais tem sido entre as pressões econômicas para manter a competitividade da empresa e as pressões ambientais, oriundas de órgãos reguladores e da percepção de clientes. Este conflito retrata a essência das duas causas-raiz identificadas na ARA: “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental” e “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição”. A seguir é apresentado os diagramas de dispersão das nuvens para a causa raiz “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental”.

Figura 5 – Diagrama de Dispersão de Nuvens para Causa Fundamental 1 (CF1) - Fonte: autores

Para a causa-raiz “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição”, o Diagrama de Dispersão de Nuvens é similar ao utilizado para a causa-raiz “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental”, por isso não é necessário representá-lo neste trabalho. Basta substituir o pré-requisito C por um novo pré-requisito, denominado pré-requisito E: “Utilizar tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que possuam menor impacto ambiental”. Da mesma forma, o pré-requisito “Não C” é substituído pelo pré-requisito “Não E”: “Não utilizar tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que possuam menor impacto ambiental”. Já o Pressuposto 2 deve ser substituído pelo Pressuposto 5: “Os investimentos para substituir a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos visando reduzir o impacto ambiental não resultam em outros ganhos financeiros”. A Figura 5 mostra o diagrama de dispersão das nuvens para a causa-raiz “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental”.

A solução para ambas as Causas Fundamentais (“5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental” e “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição”) passa necessariamente, conforme descrição anterior do método, pela identificação das chamadas Injeções.

As Injeções atuarão sobre o sistema que não reduz os impactos ambientais, tendo por objetivo, buscar soluções do tipo ganha-ganha e transformando os EIs (efeitos Indesejáveis) em EDs (Efeitos Desejáveis). Uma vez que a essência para “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental” e “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição” são as mesmas, um único conjunto de injeções (Injeção 1) será proposta.

O conjunto de possíveis injeções propostas, agrupadas como Injeção 1, foi identificado através da técnica de brainstorming, tomando como ponto de partida os 5 pressupostos identificados. A validação inicial de tais injeções ocorreu na verificação do impacto de tais injeções nos pressupostos mapeados, conforme previsto no método de Dispersão das Nuvens. O conjunto de iniciativas que compõe a Injeção 1 pode ser visto no Quadro 3.

Injeções

Pressuposto Invalidado

Realizar periodicamente um estudo para identificar potenciais multas às quais a empresa estaria sujeita, relacionando com os eventuais custos de prevenção

Pressuposto 1

Implementar um programa que estimule identificação e implementação de idéias criativas na empresa para reduzir os impactos ambientais através de pequenos investimentos ou nenhum investimento

Pressupostos 2 e 3

Avaliar a sensibilidade do mercado de atuação da empresa, com relação a aspectos ambientais através de pesquisa

Pressuposto 4

Realizar periodicamente estudo para avaliar o custo-benefício da utilização de novas tecnologias ou recursos energéticos e hídricos alternativos

Pressuposto 5

Quadro 3 – Conjunto de iniciativas que compõe a “Injeção 1” - Fonte: autores

A Injeção 1, conforme identificado, poderia representar os alicerces do Sistema de Gestão Ambiental da empresa, adicionalmente a indicadores para monitorar a situação atualizada dos  impactos ambientais. Dessa forma,  a obtenção de injeções específicas poderia ser estimulada de maneira sistemática e contínua na empresa.

Através do Diagrama de Dispersão de Nuvens, foi possível identificar a Injeção 1, que potencialmente invalidaria os pressupostos relacionados às causas-raiz “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental” e “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição”, transformando-as em efeitos desejáveis (EDs). No entanto, a causa-raiz “20 – Em geral, as tecnologias com menor custo de aquisição não possuem menor impacto ambiental” também precisa ser abordada por meio de uma possível solução (Injeção 2). Nesse caso a proposta é a seguinte: Criar subsídios para que os custos dos recursos renováveis e tecnologias com menor impacto sejam também, de menor custo. Nesse caso, a Injeção atua diretamente na “20 – Em geral, as tecnologias com menor custo de aquisição não possuem menor impacto ambiental”, não sendo necessário ter que resolver diretamente um conflito através do método de Dispersão das Nuvens para identificar a solução. 

Figura 6 – Diagrama de Dispersão de Nuvens para o
novo Efeito Indesejável - Fonte: autores

Ao se aplicar uma Injeção podem ser criados novos Efeitos Indesejáveis que precisam ser eliminados (DETTMER, 1997). Analisando a Injeção 2, ao criar os subsídios propostos, o governo poderia causar impactos econômicos negativos na sociedade, uma vez que esses recursos deixariam de ser investidos em outras áreas como a de infra-estrutura, por exemplo. Este fato reforça a importância de que a sustentabilidade, seja ela de uma empresa, ou de uma sociedade, seja abordada globalmente, observando os aspectos econômicos, ambientais e sociais. Dessa forma, este efeito indesejável também pode ser caracterizado como um conflito. Se o governo criar subsídios, as empresas poderão gerar menores impactos ambientais. Ao mesmo tempo, se o governo não criar subsídios, não deixará de investir em outras áreas os recursos que seriam utilizados para os subsídios, contribuindo para menores impactos sociais e econômicos. Este conflito é ilustrado através de um novo diagrama de dispersão das nuvens, conforme a Figura 6.

A aplicação de mais uma solução (Injeção 3) procura atuar sobre o novo efeito indesejável e, por conseqüência, resultar em Efeitos Desejáveis, conforme será ilustrado na Árvore da Realidade Futura (ARF). Para a Injeção 3 é proposto o conjunto de iniciativas apresentadas no Quadro 4.

Injeções

Pressuposto Invalidado

Criar incentivos para adaptação da tecnologia e uso de recursos que provocam reduzidos impactos no meio ambiente (sustentáveis)

Pressuposto 6

Definir políticas de subsídios para redução dos custos de tecnologias através da avaliação global da sustentabilidade da sociedade, que considere aspectos econômicos, ambientais e sociais

Pressuposto 7

Quadro 4 – Conjunto de iniciativas que compõe a “Injeção 3”.  Fonte: autores

A seguir se apresenta uma visão de futuro em relação à aplicação das soluções sugeridas. Essa Árvore da Realidade Futura procura vislumbrar os efeitos desejados e verificar se algumas ramificações negativas (KIM, MABIN & DAVIES, 2008).

3.3 Aplicação da Árvore da Realidade Futura (Para o que Mudar?)

Uma vez identificadas as Injeções, a construção da Árvore da Realidade Futura (ARF) é realizada por meio da definição dos Efeitos Desejáveis (EDs). Esses EDs são obtidos a partir dos Efeitos Indesejáveis (EIs) mapeados na Árvore da Realidade Atual (ARA). Na Figura 7 é apresentada a Árvore da Realidade Futura (ARF), representando os Efeitos Desejáveis encontrados, assim como as 3 injeções.

Esse efeitos desejáveis são expectativas a partir da implementação das injeções. Não foi fruto desse trabalho a elaboração da Árvore de Pré-Requisitos e da Árvore de Transição, também ferramentas do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições (Como causar a mudança?). Essas ferramentas auxiliariam para formulação de um plano de ação que suporte a realização da mudança.

A confecção da Árvore da Realidade Futura possibilitou a identificação de uma ramificação negativa em relação aos aspectos do investimento governamental. Essa ramificação negativa procurou ser tratada por meio da construção da Evaporação das Nuvens anteriormente explicitada e, por conseqüência, a solução (injeção) também evidenciada.

Possívelmente, uma das principais injeções seja “Definir políticas de subsídios para redução de custos de tecnologias e recursos energéticos através da avaliação global da sustentabilidade da sociedade, que considere aspectos econômicos, ambientais e sociais”. Possivelmente essa injeção abra caminho para abordagens ou métodos que sustentem uma avaliação global do uso de recursos que suporte ações sustentáveis.

Figura 7 – Árvore da Realidade Futura de indústria
que irá reduzir os impactos ambientais - Fonte: autores

A seguir, as considerações finais são explicitadas. Além disso, se procura abrir o debate sugerindo outros trabalhos que possam complementar o esforço empreendido até o momento.

4. Considerações Finais

O presente artigo buscou aplicar o conjunto de ferramentas do processo de pensamento da Teoria das Restrições (TOC) para a identificação e solução de problemas relacionados ao desenvolvimento sustentável das indústrias. Por meio da Árvore da Realidade Atual (ARA), foram identificadas três causas fundamentais que, em tese, dificultam a redução de impactos ambientais. A primeira delas, de responsabilidade principal da empresa, é o fato dela não implementar melhorias de processo que resultam na redução dos impactos ambientais. Para a segunda e terceira causas fundamentais identificadas, as responsabilidades se dividem entre a empresa e o governo. Por um lado, a empresa não utiliza tecnologias ou recursos energéticos com menor impacto ambiental, uma vez que o custo dos recursos energéticos e tecnologias existentes são mais altos do que as que resultam em menor impacto ambiental. Por outro, lado o governo poderia fornecer subsídios pontuais que viabilizassem o uso de tecnologias com menor impacto ao patrimônio ambiental nacional.

Com a utilização do Diagrama de Dispersão das Nuvens, definiu-se um conjunto de ações agrupados como a primeira Injeção, que potencialmente invalidaria os pressupostos relacionados às causas-raiz “5 – As Empresas não investem em melhorias de processo que reduzam o impacto ambiental” e “10 – As empresas utilizam a tecnologia ou recursos energéticos e hídricos que apresentam menor custo de aquisição”, transformando-as em efeitos desejáveis (EDs). A causa–raiz “20 – Em geral, as tecnologias com menor custo de aquisição não possuem menor impacto ambiental”, foi abordada por meio de duas Injeções, as quais podem ser resumidas como um conjunto de políticas públicas sustentáveis.O resultado desse trabalho é a apresentação de uma proposta, no sentido de direcionar um conjunto de ações que possam ser adotadas por uma ampla gama de indústrias. Nesse caso, Indústrias que tenham dificuldade em reduzir os impactos ambientais sem a contrapartida da perda de competitividade.

Ao aplicar as questões relativas ao escopo do projeto nas ferramentas do Pensamento da Teoria das Restrições (TOC), as informações obtidas contribuem com o posicionamento da empresa e ajudam a nortear investimentos “eco-eficientes”. A possibilidade de avaliar e testar a aplicabilidade de possíveis Injeções obtidas através da ferramenta de Dispersão das Nuvens, assim como compará-las com a realidade vivenciada da empresa, são algumas das possíveis contribuições do trabalho..

Como possibilidade para outras pesquisas cabe sugerir algumas questões que podem ser abordadas. Primeiro, poderia haver um desdobramento do presente trabalho no sentido de construir a Árvore de Transição e a Árvore de Pré-requisitos como meio de gerar um plano de ação a ser implementado nas organizações. Segundo, seria importante a construção de um instrumental para avaliação das ações de sustentabilidade sob um aspecto global. Isso significa considerar, ao mesmo tempo, as questões ambientais, sociais e econômicas. Eventualmente, arcabouços teóricos como o Pensamento Sistêmico, em geral, e a Dinâmica de Sistemas, em particular, poderiam ser úteis (MABIN, DAVIES & COX, 2005; MUSA, EDMONSON & MUNCHUS, 2009). Terceiro, outros aspectos não contemplados nesse trabalho poderiam complementar Árvore da Realidade atual, por exemplo. Quarto, outras soluções (injeções) podem ser propostas para, com menor esforço, romper os pressupostos explicitados.

Enfim, trata-se de um primeiro esforço de aplicação de um processo de raciocínio sistemático sobre um problema complexo. O trabalho não teve por objetivo ser definitivo ou fechado, mas sim, tem como meta contribuir a essa discussão a partir de um ponto de vista distinto.

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1. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas – PPGEPS/UNISINOS. Email: rossitito@hotmail.com
2.
Bacharelado em Engenharia de Produção – EP/UNISINOS. Email: eng.isaac@hotmail.com
3. Grupo de Pesquisa em Modelagem para Aprendizagem – GMAP | UNISINOS. Email: dlacerda@unisinos.br
4. Grupo de Pesquisa em Modelagem para Aprendizagem – GMAP | UNISINOS. Email:lhr@unisinos.br


Vol. 33 (8) 2012
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