Espacios. Vol. 33 (4) 2012. Pág. 16


A influência das Relações Interorganizacionais no Estabelecimento de uma Aglomeração Produtiva na Microrregião de Campo Belo (MG)

The influence of Interorganizational Relations in Establishing a Productive Agglomeration in Microregion of Campo Belo (MG)

Wellington Tavares 1 y Cleber Carvalho de Castro 2

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RESUMO:
El entorno competitivo actual establecido en los mercados regionales y mundial ha llevado a las organizaciones a asumir una nueva postura de la actuación, que se caracteriza por la participación constante con otras organizaciones en la búsqueda de una mayor competitividad. Este estudio tiene como objetivo caracterizar los procesos de interacción y cooperación entre los distintos actores (públicos y privados) en el sector textil y su influencia en la formación de la aglomeración industrial en la microregión de Belo Campo (MG). Se observó que el bajo nivel de cooperación existente expone los riesgos de exclusión en permanecer en el mercado.
Palabras claves: Aglomeración Industrial, Relaciones interinstitucionales, cooperación, competencia, confianza.

 

ABSTRACT:
The current competitive environment established in regional and global markets has led organizations to assume a new posture of performance, characterized by constant involvement with other organizations in pursuit of greater competitiveness. This study aims to characterize the processes of interaction and cooperation between different actors (public and private) in the textile sector and its influence on the formation of industrial agglomeration in the microregion of Campo Belo (MG - Brazil). It was noticed that the low level of existing cooperation exposes the risks of crowding in remaining on the market.
Keywords: Industrial Cluster; Interorganizational Relations; Cooperation; Competition; Trust.


1. Introdução

Na atual realidade dos mercados - regional, nacional ou global - destaca-se cada vez mais a importância das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) para a economia, principalmente pelo seu foco na geração de emprego e renda para as comunidades onde se inserem. Diante disso, analisa-se por vezes a problemática da sobrevivência de tais empresas diante de fatores como problemas ao entrar e permanecer no mercado, em virtude de dificuldades relacionais. Contudo, esta realidade pode ser alterada quando as empresas se inserem em aglomerações produtivas por meio de cooperação com demais empresas e instituições de apoio.

Fala-se então nas redes interorganizacionais, as quais apresentam benefícios competitivos para as organizações, por meio, principalmente, da incorporação do fator “cooperação” entre elas. Tais relações procuram somar forças entre duas ou mais delas por meio de confiança mútua e o desenvolvimento conjunto de projetos variados. Porém, há que se falar de demais aspectos que permeiam as relações tais como a confiança e o oportunismo que podem servir de base para o entendimento da forma como as relações são estabelecidas e na maneira como influem na existência de situações de cooperação, competição e na capacidade competitiva de cada organização e da coletividade.

Desse modo, as empresas preocupam-se cada vez mais em criar mecanismos relacionais para que a interação com outros parceiros, mesmo incorrendo em custos, facilite a entrada em certos mercados e aumente sua competitividade.

Como se nota, a capacidade competitiva surge, em partes, como resultado da interação com demais agentes. Por isto, as ações do setor público e agentes de apoio, bem como a localização das empresas, apresentam-se como fatores a serem considerados para a obtenção de competitividade de empresas e setores, em especial na relevância com que estes têm se apresentado no estabelecimento das aglomerações produtivas. Assim, a geografia econômica passa a ter maior visibilidade, assumindo mudanças em relação às correntes econômicas tradicionais que desconsideravam ou reduziam a relevância de tais aspectos.

Novas formas de relacionamento entre as empresas foram surgindo, traduzindo-se como estratégias de compartilhamento para fortalecimento de empresas no mercado, como por meio destas aglomerações, que podem ser definidas como uma concentração de empresas e instituições em regiões geográficas, apresentando alguma especialização produtiva e formas de articulação entre os agentes. Deste modo, a proposta de estudo é analisar as relações interorganizacionais dos agentes da aglomeração industrial do setor têxtil na microrregião de Campo Belo, situado no sudoeste de Minas Gerais.

1.1 Questão de pesquisa e objetivo

Observa-se um forte crescimento no número de indústrias do setor têxtil na microrregião de Campo Belo, situada no sudoeste de Minas Gerais. Este crescimento favorece a concentração de mais empresas que se torna responsável por gerar empregos e renda, impactando diretamente na estrutura econômica e social da região. A aglomeração apresenta benefícios para a região, porém torna-se necessário identificar os principais elementos existentes nas relações para se compreender a dinâmica e a capacidade competitiva da aglomeração, bem como as perspectivas de organização do setor na região e os principais benefícios advindos deste processo. Neste sentido, o presente estudo busca elucidar a seguinte questão de pesquisa: quais os principais elementos presentes nas relações interorganizacionais e os mecanismos de coordenação existentes na aglomeração industrial do setor têxtil na microrregião de Campo Belo (MG)?

A partir desta questão de pesquisa, definiu-se como objetivo deste estudo caracterizar os processos de interação e cooperação entre os diferentes agentes (públicos e privados) no setor têxtil e sua influência na formação da aglomeração industrial na microrregião de Campo Belo (MG).

1.2 Justificativas

O estudo se justifica uma vez que a microrregião de Campo Belo tem se despontado como núcleo de produção de peças de vestuário. Os municípios da microrregião apresentam um considerável desenvolvimento do setor têxtil, em especial na produção de peças do vestuário por meio de empresas de confecção (marcas próprias) e das facções (empresas que atuam apenas no processo produtivo como terceirizadas das empresas de confecção). A interação entre estas empresas e agentes públicos e privados de apoio ao setor se mostra essencial para o desenvolvimento do mesmo, sendo responsável por grande parte dos empregos gerados nos municípios e por novos postos de trabalho em uma região composta por sete municípios, com população total estimada em 116.377 residentes, segundo dados do IBGE/2009.

Esta relevância de atividades ligadas ao setor têxtil no município e microrregião fica mais claramente comprovada diante da diferenciação por meio da qual o setor desponta perante outros, transformando as tendências da economia que imperavam em tal localidade, conforme demonstrado na Tabela 1, em uma relação do número de empregos gerados pelo setor têxtil e pelos demais setores da economia microrregional e dos municípios.

Tabela 1
Comparativo do número de empregos nos municípios
da microrregião de campo Belo (MG)

Municípios

Número de estabelecimentos

Cidades

*C/F

1998

*C/F

2008

Crescimento em 10 anos %

*DS

1998

DS

2008

Crescimento em 10 anos %

Aguanil

76

270

255,26

270

415

53,70

Campo Belo

478

1.171

144,98

5.395

7.711

42,93

Cana Verde

0

88

-

320

473

47,81

Candeias

01

170

16600,00

1.299

1.706

31,33

Cristais

171

1.241

615,73

592

1.101

85,98

Perdões

76

141

85,53

1.927

3.181

65,08

Santana do Jacaré

07

07

0,0

378

468

23,81

Microrregião

809

3.088

281,71

10.181

15.055

47,87

*C/F – Confecções e Facções / DS – Demais Setores
Fonte: Dados da RAIS/MTE (2008)

Ao se analisar o número de empregos na microrregião no período de 10 anos, nota-se o distanciamento em termos percentuais que o setor têxtil apresenta em relação aos demais setores. Nesta perspectiva de análise, pode-se perceber a influência do setor para os vários municípios. Em termos teóricos, o estudo pode indicar caminhos para o entendimento da competitividade por meio das aglomerações industriais e de como elas podem contribuir para o alcance de benefícios sociais e econômicos para as regiões por meio do fortalecimento das relações entre seus agentes.

2. Referencial teórico

No atual contexto competitivo do mercado, as pequenas empresas, em especial, requerem novas formas de organização e interação com demais parceiros com vistas a melhorar suas condições de permanência no mercado (Cassaroto Filho, Pires, 2001; Ring, 1999). Assim, o novo contexto econômico da modernidade tem sido acompanhado pela necessidade crescente de integração entre os agentes no mercado visando capacitá-los e ampliar as chances de manutenção das empresas no mercado. Esse fato pode ser entendido diante das alterações que se percebem na organização das empresas no mercado, afetada por elementos relacionados à maior integração das empresas em cadeias de suprimento, à forte terceirização das atividades não essenciais nas empresas de médio e grande porte e a privatização de atividades econômicas até então induzidas e dirigidas pelo Estado (Amato Neto, 2001).

Neste sentido, ao se falar de competitividade é inevitável relacioná-la à maneira como as empresas se organizam internamente em termos de conjugar atividades e recursos com vistas a alcançar os objetivos traçados de maneira eficiente, bem como elas se utilizam dos aspectos e elementos externos necessários para o seu desenvolvimento.

Deste modo, e por entender as organizações como um conjunto de fatores e recursos, Burt (1992) define as empresas como portadoras de três grandes fatores que as levam a melhor se relacionarem no mercado e alcançarem as posições almejadas, por meio da competição. O autor define tais fatores como: a) capital financeiro: dinheiro em caixa, reservas em bancos; b) capital humano: atributos naturais combinados às habilidades adquiridas por meio de educação formal e experiência em empregos anteriores; c) capital social: adquirido por meio de amigos, colegas e contatos gerais, ganhando assim, oportunidade de utilizar seu capital financeiro e humano. Portanto, os dois primeiros tipos de capitais permitem a realização do trabalho e o último possibilita auferir lucros e obter oportunidades por meio de relações dentro e fora das empresas.

O capital social, entendido como um elemento fundamental no relacionamento entre as empresas, mostra-se extremamente relevante para que elas conquistem com maior facilidade seus espaços no mercado, de modo a se fortalecerem e não se tornarem vulneráveis à ação de seus concorrentes. Assim, as empresas que estabelecem relações de maior proximidade com outras organizações, normalmente, tornam-se mais fortes e capacitadas para enfrentar melhor a competitividade (Amato Neto, 2001; Malafaia et. al. 2007).

O desenvolvimento do modelo de rede baseou-se desde o início nas mudanças ocorridas nos processos produtivos e na forma como as organizações passaram a se relacionar, não apenas como clientes e fornecedoras de insumos e produtos, mas numa lógica embasada na troca de informações e na cooperação para desenvolvimento de projetos em conjunto. Uma nova ordem no mercado internacional foi estabelecida, na qual a prioridade de ação das organizações volta-se para uma economia informacional global, pressupondo maior contato e transferência de informações entre as organizações, bem como na utilização de estruturas flexíveis para acompanhar a dinâmica das instituições, culturas, tecnologias e mercados (Castells, 2007). Deste modo, as redes podem apresentar grande relevância no oferecimento de condições adequadas para que se desenvolvam os processos de criação do conhecimento e, assim também, seu refino e compartilhamento (Balestrin, Fayard, 2003).

Além disto, segundo Amato Neto (2001), as redes passam a se apresentar como elementos de grande relevância para as organizações, ao servir como base para o fortalecimento de suas atividades sem, necessariamente, envolver laços financeiros entre elas. Nesse sentido, outras atividades normalmente constituem-se nos focos de interesse das redes, como: compras, exportação, logística, marketing e aspectos técnicos e operacionais.

A lógica de funcionamento das redes baseia-se em pressupostos e elementos de cooperação, no entanto, muitas formas estruturais passaram a existir de acordo com as contingências do ambiente e com as necessidades surgidas nas relações entre as organizações, estabelecendo-se várias formas como as empresas horizontais, as redes multidirecionais, as redes de subcontratação e as alianças corporativas (Castells, 2007).

Entre tantas tipologias e formatos das redes, a discussão encaminha-se para reconhecimento e utilização de outros elementos, focando-se, principalmente em fatores como: atores das redes; atividades e funções que desempenham; obtenção e utilização de recursos compartilhados; formas de interações; aspectos como confiança e oportunismo entre outros fatores relacionais entre as organizações (Gulati, 1998). Os aspectos ressaltados anteriormente levam ao reconhecimento sobre a percepção dos elementos envolvidos na cooperação entre as organizações e assim, acredita-se que, quando essas são heterogêneas em relação às percepções dos indivíduos e seus interesses, maiores serão as dificuldades de se ajustar condutas de acordo com o que se espera alcançar coletivamente. Para isso, algumas ações surgem como tentativas de se criar incentivos individuais - econômicos ou sociais - e buscar alinhamento dos interesses individuais e coletivos, bem como o desenvolvimento de um maior nível de confiança e da reciprocidade entre os envolvidos, fatores gerados no longo prazo (Lourenzani et. al. 2006).

2.1 Elementos presentes nas relações interorganizacionais

Como se observa, a abordagem de rede organizacional traz, a todo o momento, a condição de cooperação como elemento-chave nas interações entre as organizações. Desse modo, os indivíduos envolvidos nos grupos agem coletivamente, ou mesmo individualmente no sentido da criação de redes, independentemente de suas diferenças concernentes à classe social, gênero, entre outras variáveis. Por esse mesmo motivo, observadas as diferenças culturais e comportamentais, as intenções e ações dos agentes podem se desvirtuar no decorrer do processo, descaracterizando e prejudicando o desenvolvimento sadio e natural das redes. Em conseqüência ao exposto anteriormente, o principal interesse na formação de grupos deve basear-se no fato de que os interesses grupais sejam maiores que os individuais, eliminando-se elementos oportunísticos (Lourenzani et. al. 2006).

Os relacionamentos cooperativos, portanto, são fortalecidos pela troca de informações entre os agentes de uma dada cooperação, o que contribui ainda, para a diminuição do oportunismo que possa vir a existir. Entretanto, para que isso ocorra, a confiança entre os agentes deve ser trabalhada para colaborar com a melhoria da manutenção das ações coletivas, seja em nível de relações horizontais ou em nível de relações verticais entre organizações (Lourenzani et. al. 2006).

Entretanto, e como já tratado anteriormente, ao analisar as interações entre as organizações, Williamson (1991) ressalta a existência de fatores como a racionalidade limitada dos sujeitos envolvidos nas transações e o oportunismo que pode surgir por meio das ações de tais agentes. Desse modo, ao se priorizar a cooperação entre organizações, deve-se observar que essas relações apresentam certos aspectos relacionais bem mais complexos que os fatores relacionados especificamente aos custos (Williamson, 1991).

Entre tantos aspectos que permeiam as relações interorganizacionais, estas também apresentam diferentes configurações de acordo com o tipo de interação existente e com os objetivos que se pretendem alcançar coletivamente. Contudo, indiferentemente do tipo de relação estabelecida entre as organizações, pode-se afirmar que todas são permeadas por aspectos como a racionalidade dos agentes, os níveis de confiança existentes, elementos oportunísticos e demais aspectos que influenciam as relações e o capital social que cada organização utiliza para interagir no mercado.

As aglomerações industriais surgem como um formato de rede de maior abrangência, normalmente em grandes áreas geográficas, apresentando características e benefícios peculiares que os diferenciam dos demais formatos de redes interorganizacionais, em especial quanto à complementaridade das atividades e do alcance de competitividade via cooperação entre os agentes. Estas aglomerações são conceituadas de diferentes maneiras conforme a estrutura produtiva e demais fatores relacionados à produção e inserção no mercado. Entre as denominações mais comuns podem ser encontrados os distritos industriais (Marshall, 1966; Brusco, 1982; 1986; 1990), clusters (Krugman, 1991; Porter, 1998; 1999; Ciccone, Cingano, 2003; Parrilli, 2007), os Milieux Innovateur (Lastres, Cassiolato, 2003) e os Arranjos Produtivos Locais - APLs (Sebrae, 2003; Santos, Ferreira Júnior, 2006; Crocco et. al. 2006; Cassiolato, Lastres, 2003).

Contudo, neste trabalho não se foca a definição de um dos formatos ou modelos sugeridos na literatura, apenas considerou-se a concentração de empresas da microrregião como uma aglomeração em virtude dos dados econômicos encontrados na base de dados de 2008 da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho. Deste modo, considerou-se neste trabalho os principais elementos normalmente encontrados nas aglomerações industriais quanto às relações interorganizacionais, conforme se verá adiante.

3. Métodos e procedimentos

O presente estudo foi desenvolvido com base na perspectiva da pesquisa qualitativa, que tem se apresentado como uma das mais utilizadas na literatura internacional no campo das relações interorganizacionais (Betts, Stouder, 2003). Segundo Bogdan e Bilken (1982), pode-se citar entre suas principais características que o ambiente natural (realidade social) apresenta-se como fonte direta dos dados, os quais são analisados e interpretado de acordo com a percepção do pesquisador quanto ao fenômeno estudado.

O estudo de casos, utilizado neste trabalho, é um dos mais importantes estudos dentro da pesquisa qualitativa, sendo muito utilizado na atualidade nas ciências sociais, após ter sido amplamente utilizado nas áreas da saúde humana, ao se estudar ‘caso a caso’ as patologias dos pacientes (Becker, 1993). Este estudo normalmente é utilizado para responder as questões “como” e “por quê” certos fenômenos acontecem e não se requer controle sobre o comportamento dos eventos (Yin, 1994). O estudo de casos não permite que se façam generalizações, mas, ao servir de base para o entendimento de um fenômeno específico, pode dar base para replicações para uma quantidade maior de casos (Yin, 1994).

3.1 Coleta de Dados

Os dados foram coletados em fontes secundárias e fontes primárias. Os principais dados secundários foram obtidos das Prefeituras Municipais e Associações Comerciais, Industriais e Setoriais dos municípios da microrregião, SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Relação Anual de Informações Sociais e das empresas envolvidas na pesquisa.

As fontes dos dados primários foram as entrevistas realizadas com as empresas participantes com atuação nos municípios da microrregião de Campo Belo, conforme já apresentados neste trabalho. A coleta de dados contou com três roteiros de entrevista que buscaram, sobretudo, identificar quais fatores caracterizavam a aglomeração de empresas do setor têxtil na microrregião. Foram necessários três diferentes roteiros, visto que os entrevistados foram agrupados em três grupos: empresários, representantes do setor público e instituições de apoio. Realizou-se as quantidades de entrevistas em cada município que compõe a região considerada, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 Número de entrevistas com empresários por município

Cidades

Número de estabelecimentos

Empresários

Setor Público

Instituições de apoio

Aguanil

06

01

01

0

Campo Belo

85

06

01

02

Cana Verde

02

01

01

0

Candeias

12

01

01

01

Cristais

72

07

01

0

Perdões

05

0

01

0

Santana do Jacaré

04

01

01

0

Microrregião

186

17

07

03

Fonte: Elaborado com base nos do MTE/RAIS (2008)

O número de empresas estudadas em cada município, relativo ao CNAE “Confecção de artigos de vestuário e acessórios” da base de dados da RAIS/MTE, foi executado conforme o número de estabelecimentos demonstrados no quadro acima. A definição da quantidade de empresas pesquisadas teve por base a quantidade de estabelecimentos do setor em cada município segundo dados da RAIS/MTE. Contudo, estes dados não fazem separação entre estabelecimentos caracterizados como confecções ou como facções.

Esta pesquisa não teve por base o trabalho com uma amostragem estatística. A pesquisa de campo se fez necessária para entender as perspectivas dos atores locais relacionados ao setor foco deste trabalho. Para isto, definiu-se o número de empresas pesquisadas com base em 10% (dez por cento) do número de estabelecimentos de cada município, fazendo-se os arredondamentos para cima o número apresentava casas decimais. Para os municípios com menos de 10 estabelecimentos definiu-se o número de 01 (uma) empresa entrevistada, escolhida, como nos demais casos, de forma aleatória.

As empresas entrevistadas neste estudo foram definidas a partir dos bancos de dados das prefeituras municipais, associação e/ou outras instituições relacionadas ao setor industrial. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas, formando (junto com os dados secundários) um banco de dados dos casos para posterior análise. Os empresários entrevistados foram denominados nesta pesquisa pela letra “E”, seguida de um número com duas casas decimais para classificá-los.

Além das empresas do setor, foi entrevistado 01 (um) representante de cada uma das sete prefeituras dos municípios que compõem a microrregião, sendo denominados nesta pesquisa pela letra “P”, seguida de um número com duas casas decimais. Além destes foram ouvidos os representantes das Associações Comercial e Industrial, dos municípios que as apresentam, a saber: Campo Belo e Candeias. Outra instituição pesquisada foi o SEBRAE, com representação no município de Campo Belo, mas sede no município de Formiga (MG). Para o mesmo efeito de sigilo das informações, adotou-se como denominação para estes entrevistados a letra “I”, seguida de um número com duas casas decimais. Apesar de estas instituições não terem um foco específico de atuação para este setor, buscou-se conhecer as ações executadas pelos mesmos em relação às empresas do setor têxtil.

A partir destes esclarecimentos, parte-se, na sequência, para a apresentação dos principais dados obtidos na pesquisa, organizados em cinco seções, conforme a relação existente entre os dados e como forma de responder a cada um dos objetivos específicos apresentados anteriormente neste trabalho, respectivamente.        

3.4 Plano de Análise dos Dados

Após a transcrição das entrevistas gravadas, foi realizada a análise de conteúdo, que, de acordo com Quivy e Campenhoudt (1992, p. 28-29), refere-se à escolha de termos utilizados pelos entrevistados, sua frequência de citações e o modo como são dispostas, permitindo que, a partir da formação do discurso, se retire informações que possibilitem construir conhecimentos.

Contudo, a objetividade que se pretende alcançar via Análise de Conteúdo não se afasta da “neutralidade” buscada pelo analista, que se mune de instrumentos para obter a significação profunda dos textos. Além disto, esta metodologia busca afastar as chances de se incorporar a subjetividade na análise, reforçando a tentativa de se neutralizar a análise e evitar que esta se invalide, tornando-a mais precisa e cientificamente sustentada (Bardin, 2004).

Segundo Rocha e Deusdará (2005, p. 307), “o objetivo do tipo de análise preconizado pela Análise de Conteúdo é alcançar uma pretensa significação profunda, um sentido estável, conferido pelo locutor no próprio ato de produção do texto”. Para tal, busca-se analisar de forma lógica o sentido do texto por meio da semântica, bem como o sentido das palavras por meio da hermenêutica.

Para a análise das argumentações feitas pelos entrevistados quanto aos aspectos relacionais dos agentes na aglomeração, procurou-se evidenciar os principais fatores apresentados pela literatura do tema trabalhado no decorrer deste trabalho. Estes fatores foram organizados em um protocolo, que dá base para analisar os principais elementos das relações, bem como seus principais aspectos, como se nota no Quadro 1.

Quadro 1 Protocolo das principais vertentes analíticas do estudo

Relações Interorganizacionais

Elementos de análise

Aspectos analisados

Interação entre os agentes

Existência, nível e formas como ocorre

Cooperação

Existência, nível e formas como ocorre

Oportunismo

Existência, nível e formas como ocorre

Confiança

Existência, nível e formas como ocorre

Conflitos

Existência, nível e formas como ocorre

Atores

Conhecimento dos atores, nível da integração

Atividades e funções

Identificação e clareza das divisões existentes

Conhecimentos

Como se dá a criação, o refino e o compartilhamento

Impactos na estrutura interna das empresas

Elementos de análise

Percepções

Capital Financeiro

Alterações na captação e utilização de recursos financeiros

Capital Humano

Especialização e capacitação da mão-de-obra

Capital Social

Influência, nível de utilização e ganhos relacionais

Competitividade

Alterações no nível competitivo da empresa

Empreendedorismo

Surgimento de novas empresas

Inovação

Alterações em processos, produtos e serviços

Impactos globais na aglomeração

Elementos de análise

Percepções

Tecnologia

Geração, benchmarking e implementação

Renda

Geração, circulação e spillovers

Competitividade

Alterações no nível competitivo da aglomeração

Fonte: Elaborado pelo autor

A análise dos dados foi realizada de forma a não ser possível identificar individualmente as empresas participantes, garantindo a confidencialidade dos dados obtidos por cada uma destas empresas.

Deste modo, parte-se a seguir para a análise dos resultados encontrados na pesquisa realizada nos municípios que formam a microrregião de Campo Belo (MG).

4. Resultados e discussão

Nesta seção são demonstrados os principais resultados referentes às relações interorganizacionais de empresas do setor têxtil na microrregião de Campo Belo (MG). São apresentadas as considerações dos entrevistados, tanto dos empresários quanto dos representantes das instituições públicas e de apoio. As argumentações dos entrevistados foram organizadas em categorias para posterior análise e interpretação, conforme segue no Quadro 2.

Quadro 2 Repertório Interpretativo – Processos de interação e cooperação entre os diferentes agentes

Categorias de análise

Fragmentos ilustrativos

Baixo nível de interações e relações esporádicas

01

[...] É muito esporádico as empresas se relacionarem. (E16)

[...] O nível de interação é baixo. Eu acho que as pessoas preferem ficar cada uma no seu canto e aí ficam mais isoladas. Talvez também porque cada um trabalha com um serviço diferente e isso dificulta, um trabalha com malharia, outros com modinha. (E09)

[...] Olha, eu acho que o problema dos empresários é a falta de tempo. É um setor que gasta muito tempo, por que geralmente ele trabalha na parte de produção. Tem interação, de pegar coisas emprestadas, aparelhos, falar para o outro, eu acho que tem. (E06)

[...] Geralmente uma procura a outra para saber se tem serviço, como é que está, preço, se tal firma está tendo serviço se não está. É mesmo só nessa hora, e também são poucas pessoas. A maioria fica cada um por si. (E03)

[...] A gente troca informação. Por exemplo, se um fornecedor é ruim a gente abre os olhos dos outros para não errar também. Mas se o fornecedor é bom a gente fica caladinho. (E15)

[...] Existe, mas não é tanta não. Podia ter uma proximidade muito maior. (E06)

[...] O pessoal deveria gastar um tempo nessa parte de interação. Eu acho que é cada um sofrendo no seu canto. Eu acho que poderia ter mais interação para diminuir, por exemplo, se um fez errado, aprender com o erro do outro. (E06)

Dualidade: Competição e Cooperação

02

[...] Se você for procurar no meio do setor, você vai encontrar pessoas que vão tentar te derrubar, vai achar pessoas que também te ajudam. (E05)

[...] Tem uns aí que é competição, outros é mais cooperação. Depende da pessoa. (E02)

[...] Eu acho que as duas convivem de mãos dadas. Normalmente num dia você precisa aí está junto, no outro dia você precisa do funcionário e tira o funcionário do outro. (E08)

[...] Eu acredito que existe as duas. A cooperação acontece quando emprestamos equipamentos para os outros e a competição é pela mão-de-obra. (E13)

Situações de competição

03

[...] Tem muitos aqui que compete, para atrair funcionários. Não em termos de serviço não, porque cada um já tem a sua firma. (E02)

[...] Tem em relação aos funcionários. Paga dez reais a mais, cinco reais a mais. Se o funcionário for bom ele tira ele da sua firma por causa de dez reais. (E05)

Situações de cooperação

04

[...] A gente conversa muito com os outros. Muitos chegam perto de mim para saber como que está. Sempre que algum está com problema, pega e liga para ter um apoio. (E02)

[...] Tem muita cooperação. Às vezes se eu preciso de uma máquina que outra fábrica tem, eles não importam de me emprestar, se eles também precisam de uma máquina minha eu empresto. (E04)

[...] Quando alguém coopera é emprestando máquinas e indicando fornecedores. (E15)

Percepções de oportunismo e desconfiança

05

[...] Esse ramo é uma máfia. Ninguém passa para o outro. Aqui eu não tenho parceria com ninguém. Aqui a única parceria que eu tenho é que eu dou a terceirização, dou para as pessoas costurarem. (E01)

[...] Quando está com dificuldade, tem pouco serviço, é um querendo engolir o outro. Se tem serviço, se é para o bem de todos, aí beleza. Se algum deles estiver ruim, estiver com pouco serviço ele vira as costas e vai lá em São Paulo na sua firma para pedir serviço para ele, e fala até mal da sua. (E05)

[...] Da parte de quem emprega não, mas entre os funcionários tem sim. Às vezes eles acham que em outras empresas vão ficar melhor e começam a exigir as coisas pra continuar com a gente. (E09)

Percepções de confiança nas relações

06

[...] Existe confiança com os fornecedores. Eu tenho o mesmo desde que eu comecei. Eles têm outras fábricas aqui que trabalham para eles. É tudo na conversa mesmo. Não tem contrato. (E02)

[...] Tem mais confiança hoje porque, por exemplo, um pede opinião para os outros e antigamente já não tinha pelo medo talvez de perder, mas hoje já tem confiança. (E03)

[...] Acredito que rola uma certa ética. Existe uma questão de “deslealdade” do funcionário mesmo, da mão-de-obra. (E08)

Fluxo de informações e tecnologia entre os empresários na aglomeração

07

[...] Essas trocas de informações se dão mais por telefone. De acordo com a necessidade da gente. (E04)

[...] Eles divulgam o trabalho da máquina. Se acha bom ou não. Vem divulgar o produto dele e quem tiver condição compra. É pessoalmente. (E05)

[...] Só na hora da necessidade. Não existe, assim, um costume de eu ligar para um outro faccionista aqui para conversar, para marcar reuniões para melhorar o frete ou a roupa, não. (E08)

[...] Acontece mais é entre os empresários mais próximos e de maneira informal. (E13)

 Fonte: Elaborado com base nos dados da pesquisa

A primeira categoria apresenta argumentos que expressam o baixo nível de relações existentes entre as empresas e quais são os principais fatores que influem para este restrito envolvimento entre elas. Conforme apontado na primeira fala desta categoria, a maior parte dos entrevistados afirma que o nível de envolvimento entre as empresas é muito baixo e esporádico. Como justificativa para validar esta afirmação um dos entrevistados argumenta que esta situação se dá visto que as empresas da aglomeração apresentam focos diferenciados em suas atuações quanto a fornecedores, produtos e atividades, e por este motivo não tem necessidade de se envolverem mais intensamente.

Outra entrevistada complementa a justificativa para o baixo nível de envolvimento ressaltando que os empresários deste setor se envolvem muito com o negócio, atuando, muitas vezes, no processo de produção no interior das fábricas, o que consome muito tempo e impede participar de reuniões, cursos e demais eventos direcionados para o setor.

Apesar destas justificativas, a maior parte dos entrevistados acredita que o baixo nível de interação é resultado do costume de cada empresário ficar no ‘seu canto’, conforme expressão bastante utilizada por eles. Esta situação pode ser reforçada pela fala de um representante de uma prefeitura municipal, ao argumentar que: [...] Aqui é cada um pra si e Deus pra todos. (P07) Nesta expressão fica exposto que já existe um costume de cada empresário atuar ‘isolado’ do restante do grupo, se relacionando apenas quando há uma real necessidade, conforme aponta a quarta e quinta argumentação desta categoria. Nas argumentações seguintes, nota-se pela fala de alguns entrevistados que eles percebem o valor da interação e assumem que seria interessante que os empresários elevassem o nível de relações com os demais.

A segunda categoria demonstra que boa parte dos entrevistados acredita que situações de competição e cooperação coexistam dentro da aglomeração. Esta visão também é compartilhada por uma das instituições de apoio, conforme fala de seu representante: [...] As duas coexistem. Eu acho que no momento, pelo que a gente percebe, a cooperação prevalece. (P04) A percepção do mesmo é de que existe uma dualidade no comportamento dos agentes, mas com predominância de comportamentos cooperativos. Porém, como se nota na primeira e segunda argumentação da categoria, as entrevistadas creditam os comportamentos de competição e cooperação a certas pessoas e não a situações específicas. Neste caso, já se percebe que existe confiança e desconfiança com relação a agentes específicos, o que será mais bem tratado em outras categorias.

Por outro lado, outros dois entrevistados assumem que as relações de competição e cooperação estão relacionadas. Neste caso, afirmam que assumem um comportamento competitivo quando se trata da atração de mão-de-obra especializada para suas empresas, enquanto a cooperação está presente no empréstimo de maquinários e peças que porventura fazem aos empresários que necessitam. Deste modo, procurou-se demonstrar nas próximas categorias os principais fatores envolvidos nas situações de competição e de cooperação.

Na terceira categoria são demonstradas as situações em que, normalmente, ocorre competição nas relações entre as empresas. O principal motivo ressaltado pelos entrevistados é exposto nas duas afirmações que formam esta categoria: a competição por mão-de-obra. Contudo, essa competição não acontece entre todos, visto que a mão-de-obra disputada é a especializada em determinados produtos ou tecidos.

Esta também é a percepção de uma representante de uma das instituições de apoio pesquisadas ao afirmar que: [...] Eu acredito que a competição entre eles ainda é grande. Eu acredito que existe competição por mão-de-obra. (I03)

De acordo com o explicitado nas argumentações da quarta categoria, a cooperação ocorre, predominantemente, nas situações de empréstimos de peças, maquinários e aviamentos. Porém, ela também está presente quando algum empresário mais próximo está com algum problema ou procura referências sobre fornecedores. Pelo que se observa, a busca por referências se dá apenas com relação aos fornecedores dos cortes para as facções, com relação à mão-de-obra isto não se verifica.

Na quinta categoria são expressas as principais argumentações com relação aos comportamentos oportunísticos dos agentes na aglomeração. O primeiro argumento expressa a total desconfiança e isolamento de um empresário ao afirmar que não se relaciona com nenhum outro empresário da região, a não ser em relações de negócios ao terceirizar parte de sua produção para empresas menores. Outra entrevistada afirma que quando o momento está ruim para o setor, os empresários agem como ‘predadores’ para se manterem no mercado, se importando apenas com sua empresa sem considerar a coletividade. Talvez neste momento é que se deveria se unir mais para enfrentar em conjunto as adversidades do mercado, conforme uma entrevistada demonstra a redução de oportunismo diante do fortalecimento da união dos mesmo: [...] Reduziu (o oportunismo), as reuniões foram muito boas nesse sentido, a gente passou a olhar mais o lado um do outro sem ficar um querendo comer o outro pela perna. (E04)

Ainda nesta categoria, uma entrevistada ressalta que alguns empresários procuram fornecedores de outros empresários da região, não se detendo nem de fazer comentários maldosos dos demais para ganhar para si as peças para confeccionar. Diferente desta situação é a apresentada por uma empresária ao afirmar que em alguns momentos os trabalhadores são oportunistas com os empregadores tentando obter vantagens, como por exemplo, quando são sondados por concorrentes para se transferirem para suas empresas.

Neste mesmo sentido, procurou-se compreender a percepção de um representante de uma instituição de apoio, que se referiu à esta situação da seguinte maneira:

[...] Não acredito que exista isso, essa intenção de oportunismo. Se por acaso a gente percebe que possa surgir alguma coisa nesse sentido a gente procura imediatamente banir essa idéia da pessoa. A gente não quer nenhum oportunista aqui no nosso grupo, a gente quer que o benefício seja coletivo, seja bom para todo mundo. (I01)

Buscou-se também compreender em que situações predominam os comportamentos baseados em confiança entre os empresários, conforme demonstrado na sexta categoria. Deste modo, compreende-se que, na grande maioria dos casos pesquisados existe uma grande confiança entre os empresários da região e os fornecedores das peças. Conforme ressaltado por um dos entrevistados, que reflete a percepção da grande maioria, os fornecedores das peças para a produção costumam acompanhar as empresas desde a criação das mesmas, chegando, em alguns casos, a períodos superiores a dez ou quinze anos.

Esta realidade pode ainda ser entendida diante das citações encontradas quando foram questionados sobre a utilização de formas contratuais para gerir as relações entre eles. Na maior parte dos casos os entrevistados disseram não trabalhar com contratos (confiança calculada), mas baseiam suas relações na confiança sistêmica criada na aglomeração pelos próprios agentes, conforme segue adiante:

i. [...] Não, contrato não existe não. Como se diz é no boca-a-boca mesmo. Contrato não existe é só na palavra. Você confia, arrisca. Mas isso ai é com o tempo também, você vai conhecendo a firma. (E03)

ii. [...] No inicio é só em cima de contrato, de nota fiscal. Depois que você pega uma confiança já fica mais no boca-a-boca já nem manda mais nota. (E05)

iii. [...] Nada de contrato, nada. É tudo na confiança. (E06)

iv. [...] Funciona tudo de maneira informal, no famoso boca-a-boca. (E16)

Conforme se observa a confiança se dá de maneira sistêmica, crescendo à medida que amadurecem as relações entre os agentes. O único contraponto encontrado novamente está relacionado á desconfiança quanto às atitudes dos funcionários com os empregadores.

Na sétima e última categoria desta seção, procurou-se encontrar informações sobre as condições encontradas na aglomeração para a transferência de informações, conhecimentos e tecnologias. Deste modo, os dois primeiros trechos demonstram os meios utilizados para estas transferências. O primeiro ressalta, em concordância com a percepção dos demais entrevistados, a grande utilização dos telefonemas para a interação e troca de informações, justificada pela falta de tempo para se deslocarem. O segundo argumento demonstra que os contatos pessoais também são utilizados neste processo, tanto em reuniões agendadas como em encontros informais.

Complementando a análise desta categoria, os últimos argumentos informam que, independentemente do instrumento utilizado para a troca de informações, eles se dão, normalmente, entre empresários mais próximos e nos momentos que enfrentam dificuldades nos negócios, de maneira informal. Esta realidade também entra em concordância com a percepção de uma representante de uma instituição de apoio, descrita na seguinte citação: [...] Eu acho que a circulação de informações entre as empresas é muito restrita, por que eles não têm organização nenhuma. Então não dissemina, eu acredito que não dissemina. (I03)

A disseminação de informações é um dos principais benefícios da aglomeração de empresas conforme a literatura deste tema apresenta. Conforme observado, este é um dos pontos deficientes desta aglomeração.

5. Conclusões

Este trabalho buscou investigar uma série de elementos relacionados a uma aglomeração de empresas, buscando responder à seguinte questão de pesquisa: quais os principais elementos presentes nas relações interorganizacionais e os mecanismos de coordenação existentes na aglomeração industrial do setor têxtil na microrregião de Campo Belo (MG)? Para responder a esta pergunta, o trabalho pautou-se de uma investigação que propiciasse, além da resposta, a descoberta de outros elementos encontrados nas relações entre os agentes da concentração de empresas que pudessem dar condições para o entendimento do atual nível de organização do setor, das formas como se relacionam e seus desdobramentos, dos aspectos relacionados à dinamização da aglomeração e capacidade competitiva, além de diversos fatores atuais que influem no desenvolvimento atual e futuro das empresas e aglomeração.

Visto a realidade do desenvolvimento do setor e as formas como ele se desenvolve, pode-se verificar o baixo envolvimento dos demais agentes que complementam as atividades dos empresários. O setor público e as instituições de apoio tem servido em alguns casos, mas de maneira bastante insuficiente se comparado ao tamanho do setor na atualidade. De forma geral, não se pode falar que as ações isoladas de algumas prefeituras são responsáveis pelo crescimento do setor nos últimos anos, mas apenas favorecem empresas isoladas em algumas situações. Desta forma, se fala em desenvolvimento espontâneo e não induzido.

Quanto às características normalmente pontuadas na literatura, a aglomeração apresenta alguns elementos, como a grande especialização produtiva, concentração de empresas deste setor e diversidade de agentes, que se bem conduzidos podem favorecer ainda mais seu desenvolvimento. Contudo, só estes elementos não tornam a aglomeração arranjada, sendo necessário o maior envolvimento de outros agentes e o fortalecimento das relações dos que já estão inseridos para que se possa agir com vistas a galgar melhores condições competitivas para a aglomeração.

Quanto às instituições públicas, identificou-se uma pequena e insuficiente atuação das prefeituras municipais para as empresas da aglomeração. De forma geral, elas têm atuado de forma reativa quanto às demandas do setor e incipiente quanto às ações que realiza, muitas vezes com apoio direcionado a determinados empresários e não ao setor como um todo. Apenas no município de Campo Belo se notou uma atuação mais ampla por meio de cursos de capacitação de mão de obra e no apoio ao pagamento de aluguéis, o que ainda pode ser melhorado. Por valorizarem muito as demais atividades e setores econômicos de seus municípios, bem como diante da insegurança demonstrada quanto ao futuro do setor têxtil, as prefeituras não têm atuado com parceiros estratégicos da aglomeração.

Além disto, a aglomeração necessita apresentar mecanismos de governança como forma de torná-la mais organizada e propensa a se desenvolver e se tornar mais arranjada como na condição de APL. Ou seja, torna-se necessária a presença e atuação de pessoas e instituições capazes de liderar os atores em busca dos objetivos comuns, coordenar ações, negociar processos decisórios e promover processos de criação e circulação de conhecimentos. As atuais instituições de apoio empresarial presentes na região não têm atuado constantemente em favor do setor e se mostram em número e em condições insuficientes para apoiar o desenvolvimento do setor. Ao invés de buscar aproximação com o setor, elas se mostraram reativas às demandas do mesmo, que dificilmente surgem em razão do isolamento dos empresários.

Enfim, o estudo demonstrou que existem evidências de uma grande desorganização do setor, impossibilitando, pelo menos no curto prazo, que a aglomeração de empresas se torne mais arranjada. Apesar disto, mesmo que se apresente como uma aglomeração ainda desarranjada é possível identificar benefícios econômicos e sociais claros para empresários, trabalhadores, municípios e a população de forma geral.

Este estudo colabora, em termos teóricos, para o entendimento de uma diferente concentração ou aglomeração industrial que tem como foco principal a prestação de serviços para outras regiões. Obviamente, os modelos tradicionais dão ênfase aos arranjos que buscam tornarem-se mais competitivos e à frente de demais empresas de um mesmo mercado por meio de aspectos como cooperação e inovação. Contudo, faltam estudos que exponham as fragilidades que tornam vulneráveis a continuidade das aglomerações e do desenvolvimento regional como esta que se baseia eminentemente no aproveitamento da vocação produtiva local e do baixo custo da mão-de-obra, e no isolamento dos agentes que a formam.

Em termos empíricos, este estudo possibilita que se conheçam as limitações do modelo de aglomeração atual para as empresas, instituições de apoio e setor público a fim de que, em posse de informações como as disponibilizadas, possam entender a dinâmica atual do grupo de agentes e as necessidades de mudanças estruturais e relacionais. Mostra-se relevante para a elaboração de planos, políticas e ações individuais e coletivas dos agentes para alcançar índices mais elevados de integração, competitividade e sustentação dos negócios, da aglomeração e do desenvolvimento regional.

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1 Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Brasil. Email: wellington@cead.ufop.br
2 Universidade Federal de Lavras (PPGA/UFLA), Brasil. Email: clebercastro@dae.ufla.br


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