Espacios. Vol. 33 (4) 2012. Pág. 15


As certificações como mecanismo de inovação: uma análise no setor de produção de rosas para exportação

Certifications as a mechanism for innovation: an analysis in manufacturing export of roses.

Byron Acosta 1, Antônio Domingos Padula 2 y Douglas Wegner 3

Recibido: 25-07-2011 - Aprobado:17-11-2011


Contenido

Gracias a sus donaciones esta página seguirá siendo gratis para nuestros lectores.
Graças a suas doações neste site permanecerá gratuito para os nossos leitores.
Thanks to your donations this site will remain free to our readers.

RESUMO:
Na procura por melhorar a qualidade dos produtos as empresas implementam sistemas de gestão da qualidade, sistemas de gestão ambiental ou práticas socialmente responsáveis. Esse conjunto de práticas é validado pelos consumidores por meio de selos ou certificações. Como conseqüência, no decorrer do processo para a obtenção da certificação, as empresas desenvolvem inovações, motivadas pela busca em atingir esse credenciamento. O presente artigo tem como objetivo identificar se empresas que possuem certificações são mais propensas a inovar do que aquelas que não adotaram tais credenciamentos. A pesquisa foi desenvolvida a partir da análise da quantidade de variedades de rosas cultivadas – considerado como indicador da inovatividade – por 62 empresas produtoras de rosas no Equador, divididas em dois grupos: 44 empresas com-certificações e 18 empresas sem-certificações. Para isso, foi utilizado o teste de diferença entre medias (teste-t), comparando o número de variedades de rosas cultivadas pelos dois grupos. Os resultados mostram que, mesmo existindo uma diferença da quantidade de variedades produzidas entre os dois grupos, essa diferença não é estatisticamente significativa. Assim, empresas que optam por certificar seus produtos, processos ou práticas de gestão possuem uma propensão a inovar equivalente às empresas que não adotaram sistemas de certificações.
Palavras-chave: certificações, inovação, produtor de rosas.

 

ABSTRACT:
In seeking to improve the products quality, companies implement quality management systems, environmental management systems and socially responsible practices. This set of practices is validated by consumers trough of certifications. As a consequence, in the process for obtaining the certification, companies develop innovations, motivated by the quest to achieve this accreditation. This article aims to identify if companies that have certifications are more innovate than those that have not adopted such accreditations. The survey analyzed the amount of rose varieties - considered as an innovativeness indicator - by 62 rose farms in Ecuador, divided into two groups: 44 farms with-certifications and 18 farms without-certifications. For this, we used the test of difference between means (t-test), comparing the number of rose varieties by the two groups. The results show that, even if there is a difference in the number of varieties between the two groups, this difference is not statistically significant. Thus, companies that choose to certify their products, processes or management practices have an equal propensity to innovate to companies that did not adopt certification systems.
Key-words: Certifications, innovation, rose farms.


1. Introdução

Inovação, seja de produto, processo ou mercadológica, é a busca constante das empresas. Essa procura por inovações faz com que organizações integrem processos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em suas práticas de gestão, de maneira formal, criando centros de P&D, ou informalmente, a partir das interações entre as diferentes áreas funcionais da empresa.  Assim a P&D torna-se indispensável para que novos produtos cheguem ao mercado, gerando ganhos diferenciados para as empresas que investem nesse tipo de ações. Em quanto mais inovações lançadas ao mercado por uma mesma empresa, maior será a brecha tecnológica dela com relação a seus competidores.    

Por sua vez, os consumidores cada vez mais exigem produtos de melhor qualidade, ecologicamente corretos, fabricados por empresas que não utilizem trabalho escravo nem infantil. Como resultado, empresas de vários setores consideram como um fator competitivo crítico, o efeito do impacto sócio-ambiental de suas atividades (JOHANSSON, 2006). Nesse contexto, empresas buscam credenciar seus produtos, processos ou práticas de gestão, através de certificações, com o objetivo de demonstrar aos consumidores sua preocupação em seguir elevados padrões técnicos, ambientais e éticos.

Atualmente, as certificações relacionadas à qualidade e/ou gestão sócio-ambiental se tornaram requisitos indispensáveis para que as empresas possam exportar produtos agrícolas para determinados países. Esse credenciamento pode envolver o atendimento a critérios específicos, relacionados ao sistema de controle e monitoramento de processos de qualidade (normas ISO), rastreabilidade, tipo de matéria-prima utilizada e métodos de processamento aplicados (produção integrada, produção orgânica), adoção de sistemas produtivos de baixo impacto no ambiente (Eco-Management and Audit Scheme) e inocuidade dos produtos (APPCC1), entre outros.

Deste modo, no decorrer do processo para a obtenção da certificação, as empresas são levadas a desenvolver novas práticas de gestão e inovações em produtos e/ou processos, motivadas pela busca em atingir esse credenciamento. Portanto, a certificação visa preencher com as demandas dos consumidores por produtos de alta qualidade e sócio-ambientalmente corretos, garantindo que cumpram com padrões que a certificação valida. Além das inovações desenvolvidas em decorrência da certificação alcançada, a mesma certificação como tal é considerada uma inovação se poucas ou nenhuma empresa do setor a têm. Porém, na medida em que mais empresas do setor adquirem determinada certificação, ela deixa de ser considerada uma inovação, pelo fato de que mais empresas empregam as mesmas práticas e padrões que esse credenciamento exige.

Assim, é questionável até que ponto as certificações são ferramentas catalisadoras de inovação nas empresas, visto que todo processo de certificação envolve certo grau de padronização de processos e produtos, e sobre todo a rotinização de atividades. Nesse contexto, esta pesquisa analisa, de forma exploratória, a relação entre a adoção de certificações e o grau de inovação das empresas adotantes. Coloca-se a seguinte questão de pesquisa: empresas que possuem certificações são mais inovadoras do que empresas que não têm nenhum tipo de certificação?

A pesquisa foi realizada em empresas produtoras/exportadoras de rosas do Equador, a escolha desse objeto de estudo deve-se a que no país se produzem aproximadamente 410 variedades de rosas, convertido-lo no país com o maior número de hectares cultivamos (3.500 ha), gerando 70 mil empregos diretos e 100 mil empregos indiretos (HOY, 2008). Além disso, a rosa é o primeiro produto não-tradicional de exportação, e o quarto em importância pelos ingressos gerados – 3% do PIB em 2010 – (BCE, 2011). Equador é o terceiro exportador mundial cobrindo o 7 % do mercado internacional (SBE, 2006). As rosas são exportadas para 103 países, principalmente para os Estados Unidos (38%), Rússia (28%) e Holanda (8%) (BCE, 2011).

O artigo está estruturado da seguinte forma: i) inicialmente é apresentado o referencial sobre capacidades de inovação, as justificativas e características das certificações, e a relação entre certificações e inovação; ii) em um segundo momento, se detalhada a metodologia aplicada na pesquisa; e iii) posteriormente, são apresentados os resultados, discussões, limitações do estudo e indicações para futuras pesquisas.

2. Referencial teórico

2.1 Capacidade de inovação

A inovação tem como o objetivo tornar as empresas mais competitivas, ampliar sua participação de mercado, ser mais eficientes, melhorar a qualidade dos produtos, e em certos casos sobreviver. Assim, para inovar, as empresas precisam desenvolver competências por meio da inclusão de novos sistemas de gestão e de parcerias com outras organizações. A inclusão dessas novas práticas e relacionamentos faz com que a empresa desenvolva uma capacidade para inovar que nenhum ou só poucos concorrentes as têm.

Deste modo, a capacidade de inovação é formada por um conjunto de fatores que as empresas, possuem ou não, e da forma em como esses fatores são combinados para que o processo de inovação resulte na geração de novos produtos, serviços ou processos (WINTER, 2003). Assim, a inovação se converte em um processo iterativo, em que a empresa além de adquirir conhecimentos pela própria experiência, aprende também em relações de parceria com fontes externas, seja, com fornecedores, clientes e instituições de P&D.

Empresas consideradas inovadoras têm certas características que as distingue das outras no mercado. Para a OECD (2005), essas características podem ser agrupadas em duas categorias:

  • Estratégicas: que compreendem uma visão ao longo prazo, aptidão para identificar e antecipar tendências do mercado, e competência para coletar, processar e assimilar informação tecnológica e econômica.
  • Organizacionais: como empresas que correm riscos controlados, têm cooperação interna entre as diferentes áreas da organização, e cooperação externa com centros de P&D, clientes e fornecedores.

Para atender a necessidade de medir a capacidade de inovação das empresas, um segmento de pesquisas com foco em inovação tem desenvolvido diversos critérios para mensurar essa habilidade. Um conjunto desses critérios é apresentado no Quadro 1.

QUADRO 1 – Indicadores para medir a capacidade de inovação

  • Originalidade: na media em que esses produtos fossem novos em termos de conhecimento, dado o estado da arte correspondente;
  • Utilidade: tendo um valor aparente para a área cientifica e comercial;
  • Aplicabilidade: quando sua viabilidade de utilização pudesse ser demonstrada e testada empiricamente;
  • Número de produtos, processos ou serviços novos lançados no mercado;
  • Número de patentes obtidas ou solicitadas;
  • Quantidade de artigos ou livros técnicos publicados;
  • Royalties recebidos por outras instituições;
  • Aumento da taxa de participação de mercado;
  • Reduções de custo obtidas.

Fonte: Sbragia (2002), (OECD (2005)

Esses critérios e indicadores objetivam medir todo o processo de inovação que vai desde as práticas de gestão criadas e implementadas, até o produto/serviço final pronto para ser disseminado ao mercado.

O porquê das Certificações

A certificação é a confirmação de que um produto, processo ou serviço, cumpre com os padrões de uma determinada norma. Em alguns mercados, a certificação é obrigatória e, em outros, é voluntária. As certificações surgem em resposta à crescente demanda dos consumidores de produtos de mais alta qualidade, no que diz respeito a seus componentes ou as suas matérias-primas, seus processos de transformação e de distribuição (INCONTEC, 2008). A certificação de produtos consiste em um procedimento, mediante o qual uma terceira parte – além do produtor ou do comprador – assegura que um produto atende ou possui requisitos previamente estabelecidos (De CARLOS, 2007; INCONTEC, 2008).

O objetivo dos sistemas de certificação é o de reforçar a autenticidade dos produtos e evitar as fraudes, mediante o estabelecimento de sistemas mais rigorosos de controle, que sejam capazes de gerar confiança no consumidor (CRUZ et al., 2004). A certificação é um sistema de reforço dos atributos do produto, que requer a existência de um padrão, um sinal, um procedimento e uma penalização em caso de descumprimento das normas (COMPÉS, 2002).

As certificações tornam-se para o cliente um aval que confirma que um produto, suas matérias-primas, seus processos de extração, transformação, distribuição e manuseio têm características que determinam a decisão ou rejeição de compra do mesmo. Portanto, em função das informações a que os consumidores têm disponibilidade podem-se estabelecer três grupos de atributos (COMPÉS, 2002):

  • Atributos de busca: são conhecidos antes da compra, aqui se inclui tudo que identifique ou diferencie um produto de outro, e que é facilmente reconhecível pelo consumidor no ato de compra. Por exemplo, o tipo de produto, a marca comercial, o peso ou o tamanho, o tipo de embalagem, entre outras;
  • Atributos de experiência: atributos que são conhecidos uma vez consumido o produto. Esses atributos são os que fazem com que um consumidor volte a adquirir um determinado produto uma vez que o experimentou e tenha comprovado que satisfez suas necessidades;
  •  Atributos de confiança: características que não podem ser conhecidas pelo cliente, nem antes nem depois de consumido o produto. Uma das formas para o consumidor identificar se um produto apresenta determinados atributos de valor é mediante as certificações.

Existem dois tipos de atributos do produto que se relacionam com as certificações. Os atributos intrínsecos que estão associados às características físicas dos produtos, como tamanho, cor, sabor ou aroma (GRUNERT et al., 1997).  E os atributos extrínsecos que se referem aos aspectos que não estão fisicamente relacionados a ele, como preço, marca, rótulo, propaganda ou loja em que estão sendo vendidos (ZEITHAML, 1988), bem como imagem da empresa e origem (SCHIFFMAN, 1987).

A certificação é particularmente pertinente para atestar fatores extrínsecos ao produto, que representam uma qualidade credencial (GRUNERT et al., 1997) ou atributos de confiança (COMPÉS, 2002). São características que não podem ser conhecidas pelo consumidor, nem antes nem depois de adquirir ou consumir o produto. O consumidor precisa confiar na informação transmitida pela embalagem ou selo de qualidade, pela mídia e outras formas de comunicação (DARBY; KARNI, 1973).

À medida que a certificação reforça os atributos de confiança, o logotipo ou etiqueta adjunta ao produto tenta conseguir que “os atributos de confiança” se convertam em “atributos de busca” para o consumidor (COMPÉS, 2002), ou seja, que possam ser conhecidos antes da compra. O Quadro 2 apresenta os benefícios da certificação de produtos.

QUADRO 2 – Benefícios da Certificação de produtos

Vantagens da certificação de produtos

  • Confiança para os clientes, recebendo lotes de produtos certificados e avaliados por organizações imparciais e reconhecidas;
  • Maior valor agregado para o cliente;
  • Facilita a comercialização dos produtos que estão submetidos ao cumprimento de regulamentações técnicas;
  • Facilita as exportações de produtos que cumpram com regulamentos técnicos exigidos por outros países;
  • Facilidades para o comércio internacional;
  • Oferta de produtos diferenciados, apontando para um nicho de mercado específico e com a possibilidade de obter um preço especial pelo produto;
  • Melhora da imagem corporativa;
  • Maior controle dos processos mediante sistemas de rastreabilidade implementados;
  • Produto seguro para o consumidor;
  • Processos de certificação harmonizados e simplificados no âmbito nacional e internacional;
  • Melhora da eficiência na gestão dos recursos;
  • Melhora da qualidade do produto;
  • Instrumento de mercado e difusão.

Fonte: INCONTEC, 2008

Para Compés (2002), mediante a certificação a empresa adquire a reputação e a confiança que ela não pode oferecer por si própria para seus clientes. Assim, a certificação é um sistema de reforço dos atributos do produto, que requer a existência de um padrão, um sinal, um procedimento e uma penalização em caso de não cumprimento.

Inovação e certificações

O fato de empresas certificarem seus produtos com selos de qualidade e/ou responsabilidade sócio-ambiental era considerado como uma ação inovadora por parte da empresa. Essa visão de certificação como uma inovação surgia porque nem todas as empresas de um setor certificavam seus produtos. Dessa forma, o selo obtido pela empresa poderia ser considerado uma característica ganhadora de pedido por parte do cliente (WHEELWRIGHT, 1984). Contudo, à medida que mais empresas obtêm os mesmo credenciamentos, estas passam de uma característica ganhadora de pedido para uma característica qualificadora de produto

Assim, algumas certificações tornaram-se requisitos mínimos indispensáveis para que as empresas possam vender seus produtos em mercados específicos. Este é o caso de produtos agrícolas para exportação, cujas exigências são impostas pelos países importadores, os quais estabelecem critérios que devem ser cumpridos. Para que as empresas demonstrem que seus produtos têm tais características, precisam de credenciamentos (selos) que avaliem esses critérios. Visto que quase todos os produtos agrícolas têm características relevantes que não podem ser reconhecidas pelo consumidor, mesmo depois de um consumo repetitivo (COMPÉS, 2002).

Quando as empresas desejam ou se vêem obrigadas a certificar seus produtos por exigências de mercado, elas devem mudar características como design do produto, processos de produção, tipo de matéria-prima utilizada, e métodos de extração. Além disso, precisam estabelecer novas relações com seus atuais fornecedores ou contratar novos. Assim, o credenciamento de produtos através de uma certificação pode ser um fator motivador para que processos de inovação aconteçam dentro de organizações, tanto em produtos quanto em processos (REHFELD et al., 2007).

Alguns tipos de selos, como as certificações ambientais, exigem que as empresas criem inovações de produto/processo, desenvolvendo bens ambientalmente corretos, reduzindo custos e melhorando a qualidade dos bens, combinando o cuidado ao ambiente com benefícios orientados ao consumidor (REHFELD et. al, 2007). Para Fernández (2005), as certificações representam uma inovação para as empresas, por impactarem em diferentes áreas e aspectos da organização. Assim, as certificações relativas a produtos e a sistemas de gestão ambiental são importantes para aumentar a eficiência empresarial, gerar inovações de produto/processo e reduzir o impacto ambiental de suas atividades, incrementando a imagem positiva dos consumidores, em relação à organização (PREUSS, 2005).

O estudo desenvolvido por Rehfeld et al. (2007) na Alemanha, mostrou que certificações de sistemas de gestão ambiental, como a ISO 14001 ou EMAS, têm um efeito positivo significativo sobre inovações de produtos. Assim, esse tipo de credenciamentos faz com que a empresa reveja seus procedimentos existentes, com o objetivo de encontrar possibilidades de melhoria com respeito a inovações de produto (REHFELD et al., 2007). Deste modo, empresas com selos socioambientais consideram a proteção do meio ambiente como um elemento integral da sua estratégia de inovação.

Embora certificações como as da série ISO tragam benefícios para as empresas, esse sistema é limitado para garantir um alto padrão de qualidade para o cliente (MEZHER, AJAM, 2006). Esses credenciamentos se tornam o início e não o fim da melhoria na qualidade nos produtos. Segundo Mezher e Ajam (2006), não existem evidências empíricas para comprovar que empresas certificadas com ISO 9000 tenham produtos superiores aos produtos de empresas sem certificações.

As certificações são ferramentas catalisadoras de inovação nas empresas, visto que sua obtenção gera inovações até o momento em que a empresa adquire esse credenciamento. Posteriormente, suas práticas tornam-se similares às dos concorrentes que seguem os mesmos padrões, e seus processos podem se engessar, virando rotinas. A empresa preocupa-se mais em manter a certificação do que em continuar com o nível de capacidade de inovação gerado no processo de certificação.

A Figura 1 apresenta a estrutura analítica desenvolvida em base ao referencial teórico apresentado, relacionando os conceitos de capacidade de inovação com os benéficos de adotar certificações. A estrutura parte do pressuposto de que as empresas de um mesmo setor por pressões dos consumidores decidem ou não pela adoção de sistemas de certificação. Essa decisão segmenta as empresas em dois grupos, um grupo com-certificações e outro sem-certificações.

Figura 1: Estrutura Analítica da Capacidade de Inovação & Certificações.
Fonte: elaborado pelos autores.

Divididos os grupos, a estrutura aponta identificar se empresas que optam por implantar certificações têm uma maior capacidade para inovar do que empresas que não aderem a tais credenciamentos. A quantidade de variedades produzidas foi o critério utilizado para mensurar a capacidade de inovação em cada grupo de empresas. Para isso a seguinte hipótese foi estabelecida:

H0: Não existe diferença no grau de inovação de empresas que possuem certificações, com relação a empresas que não possuem nenhuma certificação.

3. Metodologia de pesquisa

A estratégia de pesquisa utilizada foi a análise estatística de dados secundários de empresas que cultivam e exportam rosas no Equador. A escolha desse objeto de estudo se deve a dos motivos. O primeiro é que as rosas equatorianas são mundialmente consideradas as primeiras em qualidade, pela situação geográfica do país que permite contar com micro-climas e luminosidade que proporcionam características únicas -talos grossos e compridos, maior tamanho da flor, cores mais fortes e maior número de dias de vida no vaso (SBE, 2006). O segundo motivo é a importância do setor na economia do país, ocupando a quarta posição no ranking de exportações, por trás de produtos como o petróleo, bananas e camarão (BCE, 2011).

Do total de produção de rosas, o 90% se destina à exportação. Em 2010 as exportações se concentraram principalmente nos Estados Unidos (38%), Rússia (28%) e Holanda (8%) (BCE, 2011), a Figura 2 apresenta a distribuição total de exportações de rosas em 2010.

Figura 2: Exportações de rosas a nível mundial
Fonte: BCE (2011)

A coleta dos dados foi realizada em duas etapas. A primeira foi o levantamento da base de dados das empresas produtoras de rosas no Equador, obtida no cadastro da Associação de Exportadores de Flores do Equador (EXPOFLORES) no segundo semestre de 2008. As informações de 154 empresas foram cruzadas com o cadastro de empresas afiliadas à Câmara de Agricultura do Equador (CAE), confirmando que as 154 empresas estão ativas e que este número corresponde a toda a população de empresas produtoras de rosas no país.

A segunda etapa da coleta consistiu em pesquisar em cada um dos portais de internet das empresas, as informações referentes ao tipo e o número de certificações que elas adotaram, além do número de variedades de rosas que plantam. Cabe ressaltar que as variedades de rosas são os diferentes tipos de cores que as empresas cultivam. Essa abordagem justifica-se, considerando que todas as empresas do setor são exportadoras e os portais de internet representam um meio fundamental para informar a clientes externos, sobre os tipos de certificações adotadas (caso possuam) e as variedades de rosas produzidas.

Uma vez realizada a coleta de dados, verificou-se que das 154 empresas do setor somente se obtiveram os dados de 62 produtores de rosas, os quais correspondem a 40,8% da população. Dessas 62 empresas, 44 têm pelo menos uma certificação e as 18 restantes não tem nenhum credenciamento.

Para contextualizar e ter clareza da informação coletada foram usadas medidas de tendência central (média e distribuição de freqüências). Posteriormente, foi usado o teste de diferença entre médias (teste-t), relacionando o número de variedades de rosas cultivadas pelas empresas com-certificações, versus o resultado das empresas sem-certificações, para identificar se existem diferenças significativas entre os dois grupos.

Em seguida, no grupo de empresas com-certificações se calculou o nível de correlação entre o número de certificações (variável independente) e número de variedades de rosas cultivadas (variável dependente). Utilizou-se o coeficiente r de Pearson, e o coeficiente de determinação (r2).

4. Resultados e discussão

4.1 Empresas certificadas

No caso das empresas com-certificações foram encontradas 13 tipos de credenciamentos, classificados em cinco grupos dependendo do objetivo da certificação: (i) uma de gestão de qualidade (ISO 9001); (ii) três de gestão ambiental (ISO 14001, Milieu Programma Sierteelt, outro2); (iii) sete de gestão sócio-ambiental (FlorEquador®, GLOBAL-GAP & EUREP-GAP, VERIFLORA, Flower Label Program, Fair Flowers and Plants, Fair Trade Certification, Rainforest Alliance Certification); (iv) uma de comércio justo (Fairtrade Label Organizations); e (v) uma de Seguridade do comércio (BASC).

Segundo as dados obtidos, as 44 empresas possuem um total de 109 credenciamentos, com uma média por empresa de 2,47 certificações. Desse total, 63,3% (69 certificações) são de gestão sócio-ambiental, 19,2% (21 certificações) de segurança do comércio, 10% (11 certificações) de gestão ambiental, 4,6% (5 certificações) de gestão da qualidade, e 2,7% (3 certificações) de comércio justo. Se considerarmos como um único grupo as empresas certificadas com programas de gestão ambiental e gestão sócio-ambiental, 73,4% (80 certificações) das certificações se enquadram na área sustentável. O Quadro 3 apresenta todas as certificações, divididas por grupo, bem como  o número de empresas que estão certificadas por cada tipo.

      QUADRO 3-  Natureza da certificação e número de empresas certificadas

Natureza da Certificação

Certificação

Número de empresas certificadas

Total de certificações por tipo

Gestão da qualidade

ISO 9001

5

5

Gestão ambiental

ISO 14001

2

11

Milieu Programma Sierteelt (MPS)

7

Outros

2

Gestão sósio-ambiental

FlorEcuador®

35

69

Flower Label Program (FLP)

18

GLOBAL-GAP & EUREP-GAP

5

VERIFLORA (Certified Sustainable Grown)

3

Fair Flowers and Plants (FFP)

4

Fair Trade Certification – Flowers (FTF)

3

Rainforest Alliance Certification (RAC)

1

Comercio justo

Fairtrade Label Organizations (FLO)

3

3

Seguridade do comércio

BASC (Business Alliance for Secure Commerce)

21

21

Fonte: elaborado pelos autores.

A última coluna do Quadro 3 indica o número total de certificações segundo a natureza de credenciamento: por exemplo, existem 69 certificações de natureza sócio-ambiental. Não se pode dizer que existem 69 empresas com certificações desse tipo, visto que o número de empresas que têm pelo menos uma certificação é de 44. Assim, pode-se concluir que uma mesma empresa pode ter mais de uma certificação da mesma natureza e em nenhum dos casos elas são excludentes.

Analisando os tipos de certificações de forma individual (Figura 1) se observa que três tipos predominam nas empresas: FlorEcuador® em 32% das empresas, BASC em 19% das empresas e Flower Label Program em 16% das empresas. A certificação FlorEcuador® é a mais utilizada pelos produtores de rosas, provavelmente porque é um programa desenvolvido por EXPOFLORES entidade na qual quase a totalidade das empresas são membros.

FIGURA 3: Percentual de empresas certificadas por tipo
Fonte: elaborado pelos autores.

4.2 Variedades produzidas

Respeito aos tipos de rosas cultivadas, existem 11 variedades classificadas por cor: vermelho, amarelo, bicolor, salmão, lavanda, violeta, laranja, rosa, verde, branco-creme, verde e outras. Cada uma das variedades tem sub-variedades, ou seja, diferentes tonalidades da mesma cor. Por exemplo, na variedade de rosa vermelha, existem 19 diferentes sub-variedades, e em média, cada empresa cultiva 7,4 sub-variedades de rosas vermelhas diferentes. O número total de sub-variedades representa a totalidade dos diferentes produtos ofertados pelas empresas. Nessa pesquisa, o número de sub-variedades é considerado como o fator indicador do grau de inovação de cada organização (Tabela 1). 

TABELA 1– Variedades de rosas produzidas

*62 empresas analisadas
Fonte: elaborado pelos autores.

Como se apresenta na Tabela 1 a rosa vermelha é a mais cultivada pelos produtores de rosas, sendo que 100% (62 empresas) a plantam, 97% (60 empresas) cultivam rosas amarelas e branco&creme, 95% (59 empresas) cultivam rosas bicolor, e 94% (58 empresas) cultivam rosas pink, como os resultados mais relevantes.

Para o total sub-variedades se identificou quantos desses produtos são cultivados por empresa – nos grupos com-certificação e sem-certificação. A Figura 4 apresenta o histograma de freqüências. O eixo “X” representa as variedades de rosas produzidas por empresa, e o eixo “Y” indica a quantidade média de sub-variedades cultivadas. Os dados mostram que, das 11 variedades de rosas, em oito variedades, a média de sub-variedades produzidas é maior nas empresas com-certificações. Só nas variedades lavanda(3,7), violeta (3,4) e outras(10,1), a média é maior nas empresas sem-certificações. 

Figura 4: Média de sub-variedades produzidas, por grupo de empresas.
Fonte: elaborado pelos autores.

Apesar dos resultados mostrarem que existe uma diferença entre os grupos, em relação à quantidade de sub-variedades produzidas, essa diferença não pode ser considerada significativa. Assim, para identificar se existem diferenças significativas entre os dois grupos de empresas foi testada a hipótese de pesquisa (Tabela 2).

TABELA 2 – Teste-t de Empresas Certificadas e Não-Certificadas.

Nível de significância α = 0,05
Fonte: elaborado pelos autores.

Como se observa na Tabela 2 existe uma diferença entre as médias das sub-variedades de rosas cultivadas pelas em empresas sem-certificações (54,56) e com-certificações (63,95). Mesmo que existe essa diferença entre os grupos, o resultado do teste-t (t=-1,539) não é estatisticamente significativo, a um nível de significância de α = 0,05. Com base nesse resultado, se aceita a hipótese nula (H0) e se rejeita a hipótese da pesquisa. Portanto, considerando as sub-variedades de rosas produzidas, como indicador de inovação, não existe diferença no grau de inovação de empresas com-certificações, com relação a empresas que não possuem nenhum credenciamento.

Tomando em consideração somente o grupo de empresas com-certificações. Se determinou a correlação entre o número de certificações (variável independente) e o número de sub-variedades de rosas cultivadas (variável dependente), coeficiente de correlação de Pearson (r). O resultado foi um r = 0,128, que explica uma correlação fraca entre as duas variáveis.  O valor do coeficiente angular -2,1736 explica que o número total de sub-variedades pode diminuir 2,1736 unidades por  unidade de certificação incrementada.

O resultado do coeficiente de determinação (r2=0,0164) explica que somente 1,64% das variações da quantidade de sub-variedades cultivadas são explicadas pelas variações do número de certificações. Dado esse valor do coeficiente, não se pode explicar uma relação causa-efeito do tipo: quanto maior o número de certificações, maior o número de variedades cultivadas.

Embora os resultados mostrem que existe uma diferença entre os dois grupos de empresas, em relação ao número de sub-variedades produzidas, essa diferença não é estatisticamente significativa. Assim, no setor analisado, empresas que optam por certificar seus produtos, processos ou práticas de gestão são tão inovadoras quanto as empresas que não têm certificações, considerando-se o número de produtos diferentes (tipos de rosas) como indicador de inovação.

Analisando apenas o grupo das 44 empresas com-certificações, não existe uma correlação forte, negativa ou positiva, entre o número de certificações e a quantidade de rosas produzidas. Esse resultado contraria a noção de que o número de certificações influenciaria positivamente o número de rosas que as empresas produzem - visto que o número de certificações poderia facilitar a exportação das flores a um número maior de países, o que demandaria uma linha mais completa de produtos. 

5. Conclusões

O objetivo do artigo foi identificar se empresas que possuem certificações são mais propensas a inovar do que aquelas que não adotaram tais credenciamentos. Para isso se relacionou o tipo e a quantidade de variedades de rosas produzidas como indicador de inovação. Os resultados mostraram que não existe diferença estatisticamente significativa entre empresas que certificam ou não seus produtos, processos, ou práticas de gestão. O fato das empresas optarem por certificações em certos casos pode estar ligado a cumprir exigências impostas pelos países para o qual o produto é comercializado.

No entanto, o processo de inovação pode estar focado nas características próprias do produto. Segundo EXPOFLORES (2008) o P&D é baseado em critérios como: (i) desenvolvimento de variedades altamente produtivas, (ii) novas variedades cuja vida no vaso seja de até 16 dias, (iii) rosas que absorvam a água com facilidade, (iv) variedades com fragrância, e (v) variedades resistentes a danos físicos durante a coleta e transporte. Assim, a inovação tem mais peso na melhora das características das variedades já existentes, do que no desenvolvimento de novos tipos de rosas (rosas de outras cores)

Os resultados apresentados neste trabalho, embora não possam ser generalizados para o setor produtor de rosas do Equador, tornam-se relevantes para que mais estudos sejam feitos, objetivando estabelecer como as empresas do setor estão inovando, qual é o foco de inovação do setor (produto, processos ou produto-processo), e através do que e de quem esse processo de inovação começa.

O estudo apresenta duas limitações. Primeiro, as análises realizadas basearam-se em dados secundários e, mesmo sendo informações obtidas de fontes relativamente confiáveis e atualizadas -os portais de internet das empresas–, esses dados não foram confirmados in loco. Em pesquisas futuras será importante a coleta de dados primários, obtidos através de entrevistas e surveys realizadas diretamente com os gestores das empresas.

Em segundo lugar, a pesquisa considerou como indicador de inovação somente as variedades de rosas produzidas. Esse indicador não reflete esforços internos de inovação que não se expressam, simplesmente, pelo número de produtos ofertados. Nesse grupo incluem-se inovações, incrementais ou radicais, de processo (produtivo e de gestão) e produto, que impactam no custo e qualidade dos produtos e serviços, mas não, no número de produtos ofertados.

6. Referências

BCE - Banco Central Del Ecuador (2011); Comercio Exterior. [Fecha de consulta: 08 abril, 2011]. Disponible  en: http://www.portal.bce.fin.ec/vto_bueno/comercio/consultaTotXNan

dinaPaisConGrafico.jsp

COMPÉS, R. (2002); “Atributos de confianza, normas y certificación. Comparación de estándares para hortalizas”, Economía Agraria y Recursos Naturales,  115-130.

CRUZ, J.C.; LUCENA, B.; MÉNDEZ, M.A.; CÁCERES, F. (2004); “Sistemas de certificación de la calidad en el sector agroalimentario español”, Distribución y Consumo,  23-39.

DARBY, M. R.; KARNI, E. (1973); “Free competition and the optimal amount of fraud”, Journal of Law and Economics, 67-88.

De CARLOS, M.. P. (2007); “Estudio integral del análisis de la calidad y seguridad alimentaria con el fin de definir acciones estratégicas por pare de la industria agroalimentaria”, Tese Doctoral (Doctorado en Agronomía) – Programa de Post-Graduación en Agronomía, Escuela Superior de Ingenieros Agrónomos, Universidad Politécnica de Madrid, Madrid.

EXPOFLORES. (2008); Associação de Exportadores de Flores do Equador. [Fecha de consulta: 11 noviembre. 2008]. Disponible en: http://www.expoflores.com/index1.php.

FERNÁNDEZ, J.M. (2005); “Certificaciones, innovación e indicadores.” Revista Red Seguridad. [Fecha de consulta: 11 noviembre 2008]. Disponible en: http://www.borrmart.es/articulo_redseguridad.php?id=659&numero=19

GRUNERT, K. G.; HARMSEN, H.; MEULENBERG, M.; TRAIL, B .(1997); “Innovation in the food sector: a revised framework”. In: TRAIL, B.; GRUNERT, K. G. Product and Process Innovation in the Food Industry. Suffolk: Chapman & Hall,   213-226 p.

HOY, Diario Hoy (2011); Quito una vitrina para el sector floricultor. [Fecha de consulta: 11 abril 2011]. Disponible en:< http://www.hoy.com.ec/noticias-ecuador/quito-una-vitrina-para-el-sector-floricultor 305923.html

INCOTEC- Instituto Colombiano de Normas Técnicas y Certificación.. (2008);[Fecha de consulta: 11 noviembre 2008].Disponible en: http://www.icontec.org/

JOHANSSON, Glenn. (2006); “Incorporating environmental concern in product development.: A study of project characteristics”, Management of Environmental Quality, Bingley, United Kingdom, 17( 4),  421-436.

MERZHER. Toufic; AJAM, Maher. (2006); “Integrating Quality, Environmental and Supply Chain Management Systems into the Learning Organization”. In: Sarkis, Joseph. Greening the Supply Chain. London: Springer. c. 3,  68-85 p.

OECD - Organization for Economic Co-operation and Development, (2005); Oslo Manual: The Measurement of Scientific and Technological Activities. European commission.

PREUSS, Lutz. (2005); The Green Multiplier: A Study of Environmental Protection and the Supply Chain.  Basingstoke; United Kingdom; Palgrave Macmillan.

REHFELD, K. M.; RENNINGS, K.; ZIEGER, A. (2007); “Integrated product policy and environmental product innovations: An empirical analysis”, Ecological Economics, Maryland Heights, USA, 61(1), 91-100.

SBE - Superintendencia de Bancos y Seguros, (2001); Análisis de la industria florícola y su comportamiento crediticio. [Fecha de consulta: 11 abril 2011]. Disponible en: http://www.superban.gov.ec/medios/PORTALDOCS/downloads/articulos_financieros/Estudios%20Sectoriales/analisis_industria_floricola.pdf .

SBRAGIA, Roberto. (2002); “Avaliação dos resultados de P&D na empresa: uma possível abordagem para o problema”. In: VASCONCELLOS. Eduardo (Coord). Gerenciamento da Tecnologia: um instrumento para a competitividade empresarial; São Paulo; Edgar Blucher, 139-169 p.

SCHIFFMAN, Leon G. (1997);  Consumer behavior. Englewood Cliffs; Prentice Hall.

WHEELWRIGHT, Steven C. (1984); “Manufacturing strategy: defining the missing link”, Strategic Managemente Journal, USA,  5, 77-91.

WINTER, Sindey, G. (2003); “Understanding Dynamic Capabilities”, Strategic Management Journal, 24(10),  991-995.

ZEITHAL, V. A. (1998); “Consumer perceptions of price, quality and value: a means-end mode and synthesis of evidence”, Journal of Marketing, Chicago, 52,  2-22.


APPC:Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle

A classificação outro foi designada para a certificação ambiental emitida pela prefeitura da cada estado onde a empresa desenvolve suas atividades.


1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, Brasil. Email:bfaandino@ea.ufrgs.br
2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, Brasill. Email: adpadula@ea.ufrgs.br
3. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Brasil. Email: dwegner@unisc.br


Vol. 33 (4) 2012
[Índice]

[En caso de encontrar algún error en este website favor enviar email a webmaster]