Espacios. Vol. 33 (3) 2012. Pág. 17


Do conhecimento científico à Inovação: Uma análise da construção de uma Agrotecnologia

From Scientific Knowledge to Innovation: Analysing the Construction of an Agrotecnology

Desde el conocimiento científico hasta la innovación: un análisis de la construcción de una agrotecnología

Dany Flávio Tonelli 1; André Luiz Zambalde 2 y Mozar José De Brito 3

Recibido: 26-05-2011 - Aprobado:25-09-2011


Contenido

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RESUMO:
Diversos trabalhos acadêmicos destacam a relevância de políticas de integração entre universidades-empresas e da influência disso sobre o surgimento de inovações. Entretanto, poucos estudos discutem iniciativas individuais de acadêmicos como agentes de desenvolvimento tecnológico. Este trabalho procurou compreender o surgimento de inovação agrotecnológica a partir da iniciativa do pesquisador. Foi utilizado o método de estudo de caso e empregaram-se, como técnicas de coleta de dados, entrevistas semi-estruturadas e pesquisa documental. Os resultados evidenciaram algumas singularidades do processo de inovação, relacionados com a experiência técnica-científica do pesquisador-empreendedor e com transformações institucionais não controladas por intenções políticas ou estratégicas.
Palavras-chave: Empreendedorismo acadêmico; Pesquisa e Inovação; Agrotecnologia.

 

ABSTRACT:
Many academic papers highlight the importance of policies of integration between University and Industry as well as their influence on the increase in innovation processes. However, few studies discuss initiatives of individual researchers as agents of technology development. This study sought to understand the rise of agro-technological innovation from the initiative of the researcher. We used the method case study and were employed to collect data, semi-structured interviews and document analysis. The results showed some singularities of the innovation process, related techno-scientific experience of the researcher and entrepreneurial and institutional changes not controlled by political or strategic intentions.
Keywords: Academic Entrepreneurship; Research and Innovation; Agrotecnology.

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RESUMEN:
Varios estudios académicos ponen de relieve la importancia de políticas de integración entre universidades-empresas y la influencia que esto tiene en la aparición de innovaciones. No obstante, pocos estudios discuten las iniciativas individuales de académicos como agentes de desarrollo tecnológico. Este estudio buscó comprender el surgimiento de la innovación agro-tecnológica desde la iniciativa del investigador. Se utilizó el método de caso y se emplearon, como técnicas para la recopilación de datos, entrevistas semi-estructuradas y la investigación documental. Los resultados mostraron algunas particularidades del proceso de innovación,relacionados con la experiencia técnico-científica del investigador-emprendedor y con las transformaciones institucionales no controladas por intenciones políticas o estratégicas.
Palabras clave: Emprendedorismo académico; Investigación y innovación, Agrotecnología

1. Introdução

Os formuladores de políticas científicas e tecnológicas têm defendido a necessidade de se criar as condições necessárias à construção de um ambiente institucional que favoreça a emergência, construção e disseminação das inovações tecnológicas. Eles reconhecem a necessidade de se produzir um contexto institucional que estimule a transformação do conhecimento científico gerado pelas universidades em inovações tecnológicas que produzam efeitos produtivos e mercadológicos de alto valor agregado. Esta concepção tem sido fortemente influenciada pelos pressupostos das abordagens econômicas que destacam o papel do Estado, universidades, governos locais, empresas, centros de pesquisa no processo de inovação tecnológica (Gibbons et al., 1994; Cozzens et al., 1990; Etzkowitz, Leydesdorff, 2000; Etzkowitz, 1989, 2004; Martin, Etzkowitz, 2000). No Brasil, onde as mudanças institucionais recentes são intensas, o foco na dimensão institucional do processo de inovação pode obscurecer o papel dos pesquisadores como participantes ativos da construção de inovações no contexto universitário. Numa análise lógica, a trajetória e a atuação dos pesquisadores universitários no processo de construção da inovação podem revelar muito das nossas reais necessidades aos formuladores de políticas científicas e tecnológicas e estratégias universitário-organizacionais, uma vez que o contexto institucional em transformação exige muito destes pesquisadores na geração e desenvolvimento de processos inovadores e de iniciativas empreendedoras.

Schumpeter (1942) já destacava à sua época a relevância das ações empreendedoras na construção do processo de desenvolvimento econômico e social. Esse autor considerava os empreendedores como os principais  agentes indutores da inovação e da geração de novas iniciativas que contribuem para processo de desenvolvimento. As formulações Schumpeterianas serviram de ponto de partida para diversos estudos que procuraram explicar o fenômeno empreendedorismo e suas repercussões sócio-econômicas. Entretanto, a compreensão sobre o empreendedorismo  permanece turva. Exemplo disso se tem observado no que se refere ao fato de muitos confundirem a simples iniciativa de abrir um negócio como se isso, por si só, revelasse uma iniciativa empreendedora.

Quando essa discussão alcança o âmbito da Universidade e dos Centros de Pesquisa, especialmente no atual contexto da lei de inovação e dos editais induzidos, pode-se notar a retórica que conduz à valorização de certo perfil empreendedor, revelado na perspicácia do pesquisador em estreitar laços com o mercado, desenvolver patentes e gerar inovações. Entretanto, como afirmado acima, busca-se criar antes de tudo uma dimensão institucional e organizacional receptiva às atitudes empreendedoras, sem, no entanto, compreender o básico necessário sobre o que vem a ser a ação empreendedora e, mais especificamente, o que é o empreendedor brasileiro, uma vez que tipos ideais importados não encontram aderência na cultura local.

A reflexão sobre a dimensão individual expressa na atitude empreendedora e as dimensões institucional e organizacional dos processos de inovação leva a questionar sobre como realmente ocorrem os processos de inovação na prática e sobre como atuam os pesquisadores com inventos patenteados e transferidos para o mercado. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi investigar as características específicas de um caso de inovação ocorrido no contexto universitário, com ênfase na atuação singular exercida pelo pesquisador/empreendedor e o contexto no qual ele se inseriu.

Para alcançar o objetivo deste trabalho foi investigada a trajetória histórica de evolução de um produto biotecnológico de fertilização do solo conhecido como Biotech. O estudo de caso valeu-se de análise documental e entrevistas que resgataram desde pesquisas preliminares que possibilitaram o desenvolvimento de uma fórmula patenteável, até a exploração comercial, que ocorreu a partir de 2004 com a produção em escala reduzida a fim de atender o mercado local.

Como marco teórico buscou-se identificar as dimensões de análise organizacional e institucional dos processos de inovação, assim como a dimensão individual, obscurecida dentro da teoria da inovação. Na seqüência estão os direcionamentos metodológicos utilizados; a análise dos resultados e as reflexões finais.

2.  Fudamentação teórica: dimensões dos processo de inovação

2.1 Dimensão organizacional

O estudo da inovação como um processo organizacional tem origem na teoria de Schumpeter, quando ele aborda a importância da ação das grandes empresas para a inserção de novos ciclos de desenvolvimento (Schumpeter, 1942). Para este autor, em grandes unidades capitalistas, a inovação toma a forma organizada, centrada na pesquisa e no desenvolvimento.

A partir da contribuição de Schumpeter, o foco principal de estudo do processo de inovação da dimensão organizacional se centrou no fato de tratar as condições para o sucesso da inovação basicamente dentro dos limites endógenos da própria organização. Isso implica em afirmar que: (i) a grande empresa é o agente central de inovação e (ii) a variável organizacional é o fator chave de capacidade de inovação (Coriat, Weinstein, 2002).

            Para Coriat e Weinstein (2002), essa estrutura analítica leva ao fato de considerar o processo de inovação relacionado a duas principais perspectivas: (i) aos modos de distribuição e circulação da informação e conhecimento dentro da organização e (ii) à ligação complexa existente entre as atividades de pesquisa e processo de inovação.

            Outra perspectiva alternativa às estruturas formais valoriza a capacidade organizacional de permitir a formação de redes de relacionamento entre membros como meio para que o conhecimento flua mais facilmente, favorecendo assim, o empreendedorismo e a inovação. Tais redes promoveriam confiança, envolvimento e dependência entre os membros das organizações, possibilitando a geração de coesão social (Kelley et al., 2009). Em síntese, cada uma dessas perspectivas enfatiza a dimensão organizacional em detrimento de outros aspectos exógenos às organizações ou intrínsecos dos indivíduos.

2.2 Dimensão institucional

Os sistemas nacionais de inovação (SNI) expressam um complexo arranjo institucional que, ao impulsionar o progresso tecnológico, determina a riqueza das nações. Freeman (1994), ao estudar sobre o exemplo de progresso tecnológico do Japão, cunha a primeira referência explícita sobre o tema. Outros autores aprofundaram esse conceito. Nelson e Winter (1977), Lundvall (1992) e Fagerberg e Srholec (2008) investigaram inúmeras dimensões do progresso tecnológico e colocaram os SNI e a preocupação com ciência e tecnologia como temas decisivos da economia, estimulando assim uma vasta e diversificada produção teórica e empírica. 

De maneira geral, sob a influência do conceito de racionalidade limitada de Simon (1957), a abordagem evolucionista enfatiza o fato de que a organização tem pouca ou quase nenhuma capacidade de prover a ferramenta analítica mais adequada para interferir e gerir com eficiência a variedade de emergências externas. Também, freqüentemente, a organização – na maioria das abordagens institucionais - assume uma posição passiva diante dos determinantes macrossociais do ambiente em que ela esta inserida. Surgem novos conceitos como o ambiente seletivo e resgata-se a concepção de sistemas que se desequilibram com a inserção de uma nova tecnologia, tendendo a constante busca pelo equilíbrio a partir disso (Nelson, Winter, 1977).

Coriat e Weinstein (2002) indicam que uma contribuição essencial da abordagem dos SNI reside no fato de indicar claramente a existência de trajetórias nacionais de inovação, que são determinadas pelo contexto social no qual os vários agentes e organizações operam. A concepção da abordagem se baseia em duas principais premissas: (i) a inovação deve ser vista como o resultado da interação entre diferentes tipos de organização e não como o produto da ação individual de uma organização apenas e (ii) as instituições desempenham um papel crucial na definição dos sistemas de inovação. Portanto, a inovação não é concebida como um produto de criatividade excepcional de uma organização, mas um produto de condições pré-estabelecidas do ambiente (Coriat, Weinstein, 2002).

A abordagem SNI continua em franco aprimoramento por meio de diversos estudos recentes. Ela tem sido empreendida como meio de compreensão da institucionalização de varias políticas e estratégias de desenvolvimento econômico, social, científico e/ou tecnológico em países como Coréia (Seo, 2009), Taiwan (Tsai et al.,2009), Estados Unidos (Hart, 2009) China (Hu, 2008) e Alemanha (Lehrer et al., 2009).

Embora menos influenciada pelas concepções evolucionistas, a abordagem da Tripla Hélice (Etzkowitz, Leydersdorff, 1995, 1997, 2000) também busca relacionar os ambientes favoráveis e a geração de inovação e desenvolvimento. Por meio dela, a dinâmica da inovação é interpretada a partir de redes de comunicação que remodelam permanentemente os arranjos institucionais criados pela interação entre: Universidade, Indústria e Governo, a partir das expectativas demandadas pelo ambiente. Como afirmam Conde e Araújo-Jorge (2003), no modelo da Tripla-Hélice, as fontes da inovação seriam um problema para os analistas, participantes e policy makers resolverem. Cada sistema seria definido e redefinido à medida que novas expectativas e necessidades fossem redesenhadas pelo contexto institucional.

Embora tanto a dimensão organizacional como a dimensão tenham trazido importantes contribuições para compreender o desenvolvimento econômico por meio das mudanças técnicas, Coriat e Weinstein (2002) afirmam que modelos que possibilitem a análise concomitante de ambas as dimensões são muito necessários. Além disso, uma abordagem mais ampliada deveria também inserir uma terceira dimensão, além das duas já citadas – a dimensão individual.

2.3 Dimensão individual

Diferentemente da fase primitiva do capitalismo, quando a atuação de empreendedores individuais era muito mais perceptível e relevante, as empresas modernas assumiram uma dimensão tão extensa que levou ao processo de extinção, a figura lendária do empreendedor criativo, capaz de inovar e de assumir riscos. Para muitos economistas, à medida que se desenvolve o capitalismo financeiro, o pequeno negócio perde importância. A preeminente tecnoestrutura se expandiu tanto que quase não sobrou espaço entre os modelos do mainstream econômico mundial para o pequeno empreendedor (Leite, 2002). Como afirma Leite (2002: 326), o problema foi que a maioria dos economistas seguiu Schumpeter quando ele previu o inevitável fim do micro ou pequeno empreendimento.

Atualmente, tem-se retomado a análise da atuação relevante do pequeno empreendedor dentro da estrutura econômica. No Brasil, o tema tem conquistado diversos adeptos. De fato, os pequenos negócios, em vez de desaparecerem, contribuem de maneira crescente e significativa para a geração de riqueza econômica. Entretanto, apesar da existência de muitos pequenos e micro empresários, ainda é raro encontrar um empreendedor inovador, que realmente atua de forma singular e criativa no mercado. Ainda é limitada a compreensão sobre, por exemplo, o que faz determinada pessoa perceber oportunidades inovadoras onde outras pessoas com habilidades suficientes não conseguem (Michel, Shepherd, 2008). Isso desperta a curiosidade acadêmica sobre as características inatas ou não as quais fazem o empreendedor ser o que ele é.

McClelland (1961) explicou o fenômeno do empreendedorismo a partir de um valor que ele categorizou como necessidade de realização. Essa necessidade deriva do entendimento de McClelland da pré-existência de uma “correlação positiva entre a ciência do comportamento e o progresso econômico e social” (Silva, Bassani, 2007: 63). Para embasar esse argumento, McClelland (1961) afirmou que a necessidade de realização explicava, por exemplo, o sucesso nos negócios dos emigrantes judeus nos EUA, para o motivo de algumas poucas tribos serem dominantes economicamente na África Ocidental e para a predominância dos chineses no comércio do sudeste asiático. Embora as dificuldades e as barreiras fossem grandes, determinados povos, ao se organizarem em sociedades, subestimavam as barreiras erguidas contra eles e “lançavam empreendimentos que, quanto aos fatos, pareciam apresentar toda probabilidade de fracassar” (Leite, 2002: 80).

Em síntese, as abstrações de McClelland condizem com o fato de considerar o empreendedor como aquele que tem sucesso nos negócios e isso se explicaria pela necessidade de realização. Fillion (1999), citado por Bartholo et al.(2005),  segue linha semelhante de discurso, ao afirmar que qualquer discussão sobre pequenas empresas deveria ser precedida por outra discussão em torno dos proprietários-gerentes  desses negócios. Para Bartholo et  al.(2005), esse fato realça o vínculo que tem sido estabelecido na literatura entre a existência de um pequeno negócio e a existência de um empreendedor que o criou. Para esses autores, essa visão deixa turva a distinção entre pequeno empresário e empreendedor.

Bartholo et al. (2005) afirmam que o empreendedor brasileiro têm características próprias, arraigadas na sua cultura, o que torna necessário o rompimento com uma boa parte da literatura hegemônica que considera o empreendedor como aquele que age sempre de forma cartesiana e racional. Citando a tese de doutoral de Souza Neto (2003), Bartholo et al.(2005) afirmam que o metamodelo do empreendedor brasileiro é o  “virador”. O virador é um artesão da vida, um empreendedor de si mesmo. A afirmação de si na vida vivida é seu alfa e ômega. Contrariamente ao virador, a literatura corrente ressalta a necessidade de sucesso individualista, nutrindo assim um imaginário de poder e de vitória, convergente com o modo de vida norte-americano.

Ao levar essa discussão para o contexto universitário (onde, como visto, há certa valorização da ação empreendedora por parte de pesquisadores) é importante destacar a importância de se desenvolver teorias que reflitam o contexto onde de fato esses fenômenos ocorrem, em vez de apenas reproduzir abordagens hegemônicas, as quais nem sempre encontram aderência na cultura local. 

3. Metodologia

A metodologia adotada por este trabalho foi o estudo de caso e fundamentou-se em análises eminentemente qualitativas. Embora exista o fato de este estudo não apoiar os seus resultados em técnicas estatísticas não significa que as análises qualitativas sejam especulações subjetivas. Entretanto, é verdade o fato de que a pesquisa qualitativa tem, em geral, uma dimensão subjetiva maior. Isso, porém, não implica em impossibilidade de estabelecer procedimentos cientificamente aceitáveis (Vieira, 2004).

O corte da pesquisa seccional com uma perspectiva longitudinal. Sobre este tipo de corte e perspectiva, Vieira (2004, p. 21) afirma que a coleta de dados se dá em “um determinado momento, mas resgata dados e informações de outros períodos passados. O foco está no fenômeno e na forma como se caracteriza no momento da coleta, e os dados resgatados do passado são, normalmente, utilizados para explicitar a configuração atual do fenômeno”.

O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo de um objeto, uma análise intensiva realizada sobre fenômenos reais, reunindo numerosas e detalhadas informações, de forma a apreender a totalidade do fenômeno pesquisado, promovendo a ampliação e a precisão do conhecimento sobre o mesmo. A metodologia do estudo de caso é apropriada para responder a perguntas do tipo “como” e “por que” e pode ser adequada para induzir teorias em uma área sobre a qual há poucos dados (Joia, 2004).

Assim, o estudo de caso tem um objetivo prático e utilitário, seja porque procura realizar o diagnóstico ou avaliação do fenômeno, ou porque objetiva propor uma terapêutica mudança nas bases que o sustentam (Bruyne et al., 1991; Gil, 1994).

De acordo com o que é sugerido por Bogdan e Biklen (1994) para estudos de caso com perspectiva histórica, as técnicas mais apropriadas para a investigação envolvem, basicamente, investigação documental-histórica, entrevistas com pesquisadores e técnicas observacionais. 

A unidade de análise está delimitada por um processo específico de inovação desenvolvido, em grande parte, por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras - MG (UFLA), um produto biotecnológico desenvolvido pela ciência agronômica do solo conhecido como Biotech. Trata-se de um aperfeiçoamento tecnológico, considerado como inovações incremental (Freeman, 1994) ou evolucionária (Kline, Rosenberg, 1986).

O período de realização da pesquisa foi de abril de 2006 a setembro de 2006. As entrevistas gravadas foram feitas com o pesquisador-empreendedor e outros três pesquisadores da área. A pesquisa documental concentrou-se em dissertações, artigos científicos e artigos diversos, utilizando, para isso, fontes como a internet, acervo da biblioteca da Universidade Federal de Lavras e documentos cedidos pelos próprios entrevistados. Os dados foram reunidos em forma de anotações, gravações, documentos e fotografias.

4. Resultados

A ciência do solo busca o desenvolvimento de meios adequados para o alcance da melhora do desempenho do solo e do seu uso adequado. Este fato cria uma grande convergência entre pesquisa e aplicabilidade.

Silva et al. (2001) afirmam que a utilização pelas plantas da disponibilidade dos nutrientes do solo constitui uma porta aberta para pesquisas acerca do melhoramento e a nutrição mineral de plantas. Neste caso, há duas interfaces de pesquisas que se complementam: uma relacionada à adição de fertilizantes químicos e outra relacionada com a maximização dos recursos naturais do solo. No que se refere a essa última, existe um processo em que, quando as plantas crescem em ambientes com deficiência de nutrientes, as raízes exsudam substâncias funcionais, como os ácidos orgânicos, contribuindo, então, para a formação de um importante mecanismo adaptativo de absorção de elementos (Li et al., 1997). É nesse ponto que entra a atuação do ácido orgânico.

 Os ácidos orgânicos, como o ácido cítrico, por exemplo, podem ser utilizados na reação da solubilização de fósforo de reservas naturais pouco disponíveis para as plantas. Esse ácido, aplicado no solo, reage com outros elementos, permitindo a sua utilização pelas plantas, o que, até então, não era possível, uma vez que, apesar dos elementos estarem presentes no solo, eles estavam inativos. Para que seja possível tornar esses elementos disponíveis, torna-se necessário o uso de mecanismo bioativador que não implique na alteração de forma negativa da acidez do solo (Silva et al., 2001). Esse mecanismo atua interagindo com a planta, no sentido de maximizar o aproveitamento de nutrientes.

É nesse contexto que se desenvolveram as pesquisas que deram origem ao produto conhecido no mercado especializado como Biotech. Materializando um vasto conhecimento empírico e científico acumulado durante muitos anos, o Biotech surgiu como um produto que possibilita a adubação orgânica de larga escala. Este fato une o interesse da atual onda ecológica mundial ao interesse econômico, uma vez que a viabilização do seu uso apresenta importante redução nos custos com adubação química.

O Biotech é constituído por ácidos orgânicos de baixo peso molecular e mais um complexo enzimático obtido pela fermentação de tecidos vegetais. Trata-se, portanto, de um produto orgânico, não tóxico, ambientalmente seguro, biodegradável, que tem por função ativar a microbiota do solo.

Entre os seus benefícios estariam: a) aumento da disponibilidade de macro e micronutrientes para as plantas; b) liberação de nutrientes acumulados no solo por adubações sucessivas ao longo de anos; c) redução do custo de adubação, e; d) melhora da relação custo/benefício para o agricultor.

O Biotech segue o mesmo princípio da adubação com material orgânico como, por exemplo, o esterco. A diferença está na equivalência, pois o resultado que se alcança com um litro de Biotech requer uma quantidade muito maior de esterco, tornando a utilização deste último inviável para grandes escalas de produção.  Entretanto, os seus princípios cientificamente desenvolvidos não deixam de estar conectados a uma prática empirista milenar, tornando válida, neste caso, a definição de ciência feita por Zawislak (2006), de que ela seja a decomposição epistemológica da ação.

Apesar do amplo conhecimento existente a respeito do assunto, o desenvolvimento do Biotech não deixa de ser original, uma vez que, antes dele, não havia sido desenvolvido nenhum produto similar no Brasil.

Já em  outros  países,  segundo  o   que   relata o principal pesquisador e   criador   do   produto,  o uso de ácidos orgânicos como bioativadores do solo não é uma novidade. Na Índia, por exemplo, essa prática assumiu uma enorme dimensão e importância para a agricultura daquele país. Também nos EUA, um produto parecido com o Biotech pode ser encontrado na Califórnia. Esses fatos, aliados à inexistência de iniciativas parecidas no Brasil, encorajaram o pesquisador a explorar essa oportunidade

A retomada da adubação orgânica, seja de forma exclusiva, seja sua utilização mista, conjugada com a adubação química, torna a sua utilização, por meio do Biotech, uma inovação incremental. Enquanto a adubação orgânica tradicional apresenta desvantagens que a inviabilizam economicamente, as vantagens oferecidas pelo Biotech possibilitam a melhora da performance econômica desse tipo de adubação.

Diversas pesquisas foram e continuam sendo realizadas em todo o mundo, buscando aferir a viabilidade de utilização dos ácidos orgânicos no solo. A subseção seguinte abordará o assunto da evolução histórico-científica do produto.

4.1 Evolução longitudinal das pesquisas

A evolução das pesquisas que tornaram possível o processo de inovação do produto Biotech está sintetizada na Figura 1, em que foram separadas as fases desta evolução até o momento que a invenção se torna inovação, por meio da produção industrial e comercialização.

FIGURA 1: evolução longitudinal das pesquisas e processo de inovação do Biotech
Fonte: desenvolvido pelos autores

Na Figura 15 estão indicadas as etapas que tornaram possível o processo de inovação do Biotech. Elas foram as seguintes: a) resgate; b) aproximação; c) interconexão e d) inovação. As subseções abaixo abordam cada uma dessas fases. 

4.1.1 Resgate

Somente em 1937, com o bioquímico alemão Hans Krebs, foi possível avançar na exploração científica da ação dos ácidos orgânicos no condicionamento do solo. Krebs (1937) descobriu o fenômeno que veio a ser conhecido como ciclo de Krebs ou ciclo do ácido tricarboxílico, como são o cítrico e outros de cadeias orgânicas similares. A partir deste momento, passou-se a reconhecer que o ciclo de Krebs revelava a mais importante via metabólica celular. Sob a regência de enzimas produzidas nas mitocôndrias das células, desencadeava-se um processo por meio do qual se processava uma cadeia de reações químicas fundamentais para a respiração dos organismos vegetais. Esta descoberta foi fundamental para os futuros estudos científicos sobre os ácidos orgânicos, embora esse tipo de estudo tenha perdido a partir da metade do século XX, quando necessidade imposta pelo mercado e os avanços do agronegócio exigiam a produção em quantidades cada vez maiores e suprimiu a preocupação a respeito dos problemas relacionados ao uso de elementos químicos prejudiciais à vida. Entretanto, a partir do ano de 1970, observa-se um resgate, na literatura, da busca pela utilização dos meios orgânicos como forma de minimizar os problemas relacionados ao uso indiscriminado de elementos tóxicos. Inicia-se então uma fase marcada pelo aprofundamento científico sobre o tema, uma vez que os estudos realizados até então eram relativamente superficiais. 

4.1.2 Aproximação

No período entre os anos de 1980 e 1990 o pesquisador desenvolveu suas primeiras pesquisas as quais serviram de aproximação definitiva entre ele e a temática dos bioativadores orgânicos. No ano de 1979, o pesquisador já havia orientado a sua primeira dissertação, cujo tema estava ligado à utilização de meios orgânicos de fertilização (Nogueira, 1979). No entanto, foi o ano de 1983 que se tornou fundamental pois foi quando o pesquisador orientou três pesquisas de mestrado abordando o assunto. Em suma, estas pesquisas buscavam explorar a viabilidade dos solos para fornecer os nutrientes necessários para cultivos distintos (Alfaia, 1983; Arantes, 1983; Davide, 1983).

4.1.3 Interconexão

Entre os anos de 1990 e 2004 houve a aliança entre o contexto sócio-econômico e a temática adotada pelo pesquisador. Percebia-se a existência de uma preocupação crescente com a questão ambiental e o desenvolvimento sustentável de longo prazo. Diversos países buscaram o diálogo no sentido de elaborar acordos de proteção à natureza e à vida.  Os temas relacionados à camada de ozônio e ao aquecimento global, assim como os resíduos tóxicos da agricultura e a redução da água potável do planeta, foram colocados no centro do debate mundial. Cresce a importância dada aos meios agrícolas de produção limpa. Estes meios são caracterizados por proporcionarem a não contaminação do solo e da água por resíduos tóxicos, prejudiciais.

            O conhecimento científico que estava sendo desenvolvido pelo pesquisador atendia plenamente a essas emergências. Ele proporcionaria duas possibilidades. A primeira seria viabilizar o cultivo totalmente orgânico por meio da ativação dos nutrientes inativos, presentes no solo, na forma de precipitados químicos ou adsorvidos às superfícies coloidais. A segunda seria diminuir a necessidade de aditivos químicos por meio da melhora do nível de nutrientes disponíveis para as plantas, os quais seriam então disponibilizados por compostos orgânicos.

            Entre as pesquisas de mestrado, orientadas ou co-orientadas pelo pesquisador/criador do produto nesse período, estavam: Carvalho (1995), Marques (1995), Mesquita (1993), Melo (1997), Silva (1995) e Silva (1999). Entre as de doutorado estavam: Andrade (1997), Cirilo (2001), Guimarães (1995), Neto (2000), Reis (1997), Silva (1999), Souza (1997), Souza (1999), Souza (2000).

Essas pesquisas se dedicavam a estudar o comportamento de solos em resposta à fertilização e à nutrição mineral.  Elas, segundo o que relata o pesquisador, forneceram as bases fundamentais para o desenvolvimento do produto. Em suma, o produto é o resultado de todos estes conhecimentos e experiências prévias acumuladas.

4.1.4 Inovação

Em 2004, a partir da combinação dos conhecimentos científicos e da experiência adquirida em campo, o pesquisador conseguiu sintetizar uma fórmula que julgou suficiente para depositar o pedido de patente do novo produto. O eixo dos acontecimentos desse período se firmou, fundamentalmente, em torno do know-how do pesquisador. A fórmula do Biotech, em suma, é uma mistura de ácidos orgânicos e de uma substância enzimática. O segredo do produto está justamente nesta substância.  A esse respeito, o pesquisador/criador do produto afirma que, além do conhecimento desenvolvido em diversas pesquisas científicas “tem o nosso conhecimento paralelo, que buscamos em outro baú, que possibilitou associar ácidos orgânicos e um complexo enzimático” (Relato de entrevista – principal pesquisador, 2006).

A partir dessa afirmação, pode-se dizer que o conhecimento tácito, adquirido durante o vasto período de experiência do pesquisador e que não pode ser mensurado por experimentos científicos ou transmitidos facilmente por meio de publicações, desenvolveu um importante papel para a materialização do produto. Sob a forma de uma solução líquida, que deveria ser diluída em água, o produto passou a ser produzido em laboratório construído com investimentos privados pertencentes ao principal pesquisador, em sociedade com outro pesquisador e suas esposas. Assim, passou-se a comercializar o produto por meio da organização de um canal de vendas diretas.

4.2 Processo de inovação

A existência de vasta literatura a respeito do aproveitamento de ácidos orgânicos como vetores de ativação dos nutrientes naturais do solo, assim como a existência de inúmeras pesquisas que se coadunam com a interface das pesquisas que partem para a defesa da adubação biológica, tornam-se o pano de fundo para o surgimento do Biotech.

A história do produto confunde-se com a história do seu principal pesquisador. A sua atuação individual contrasta com a forma “tipo ideal” encontrado na literatura, em que ambiente institucional assume um papel determinante no processo de inovação tecnológica, o que, de certa forma, facilita a ação daqueles que desejam agir de forma empreendedora. Características pessoais do pesquisador o distinguem do escopo tradicional dos teóricos habituais. Sua vida sempre esteve relacionada com a busca de soluções práticas. A necessidade de aliar, desde cedo, estudo e trabalho exerceu grande influência que veio marcá-lo para o restante de sua vida profissional. As dificuldades da infância pobre e da formação profissional dificultada pelas vicissitudes podem ter-lhe levado a desenvolver o que McClelland (1961) denominou “necessidade de realização”.

Na sua trajetória de vida, o pesquisador não se conformou com o produzir ciência sem aplicabilidade prática, algo comum nas instituições nas quais trabalhou. A esse respeito, o pesquisador afirma: “...muito resultado de pesquisa, pesquisa em cima de pesquisa, repetição de pesquisas, pesquisas engavetadas e não saía tecnologia” (Relato de pesquisa – principal pesquisador, 2006).

Com o despertar da importância dada à agricultura orgânica, o pesquisador aderiu definitivamente à busca científica por processos de cultivo dessa natureza. O despertar foi primeiramente percebido na sociedade. Sucessivamente, o mercado veio a demonstrar interesse em atender a uma demanda específica por produtos diferenciados. Por tal motivo, o pesquisador percebeu na busca por melhora da performance do processo de fertilização orgânica, uma  oportunidade de contribuir efetivamente para atender ao interesse da sociedade. Segundo ele, as suas pesquisas basearam-se em conhecimentos bastante difundidos na área. O que demonstra que muitos outros pesquisadores já poderiam ter desenvolvido produto semelhante, mas apenas ele percebeu essa oportunidade.

Além do fato de estar atento aos atributos técnicos da adubação orgânica, outra questão que mereceu a atenção do pesquisador e contribuiu para a decisão de investir comercialmente no produto se relacionou com a questão econômica. No que se refere ao potássio, por exemplo, cerca de 85% de todo o potássio utilizado como fertilizante na agricultura brasileira é importado (ANDA, 1997). Uma tecnologia que favorecesse a utilização dessas reservas presentes no solo, porém indisponíveis para as plantas, poderia representar uma saída para diminuir a dependência externa do elemento.

Durante o período que se sucedeu ao interesse inicial do pesquisador/criador do produto a respeito do tema, até o desenvolvimento do produto para a comercialização no mercado, diversas pesquisas foram desenvolvidas com a sua participação.  Essas pesquisas, indistintamente, desenvolveram-se dentro de uma estrutura intradisciplinar e centraram-se na questão da comprovação da efetividade das enzimas para a ativação dos nutrientes para as plantas, ou seja, na comprovação da hipótese inicial.

Não se observaram, em períodos posteriores ao interesse no desenvolvimento do produto, tipos diferentes de pesquisa alinhando-se a fases diferentes da evolução do processo de inovação. Ao contrário, a pesquisa desenvolvida no período de existência do produto realimenta, mais uma vez, a procura por confirmar as mesmas hipóteses trabalhadas em períodos anteriores. 

A busca pela resolução de problemas relativos ao desenvolvimento de mercados e adequação dos processos de produção não se emoldurou pelo aparato científico. Mesmo na fase atual, em que o foco deveria estar na criação de mercados pela difusão tecnológica e na viabilização da produção em maior escala, a preocupação científica, ainda assim, está centrada na confirmação da viabilidade técnica do produto. Esse fato revela as limitações que os pesquisadores empreendedores têm de reconhecer a necessidade de outras áreas do conhecimento para a efetivação de qualquer processo inovativo.

Apesar disso, o pesquisador têm ciência do foco de suas ações nesta atual fase de produção. O apelo comercial do produto encontra-se apoiado em três questões. A primeira está relacionada à necessidade crescente de se produzir em grande escala a partir da fertilização orgânica, para um número cada vez maior e exigente de consumidores. Essa meta não pode ser atingida pelos métodos tradicionais de fertilização orgânica, como a utilização de esterco, por exemplo. Nesse sentido, a viabilização do cultivo orgânico em grande escala, por meio de um produto que tenha o transporte e a aplicação similares aos adubos químicos encontrados no mercado, representa uma grande transformação para o setor de alimentos orgânicos.

A segunda questão está relacionada à preocupação, também atual, que diz respeito ao aspecto ambiental. A utilização da adubação química, além de prejudicar a preservação da integridade do solo, tem sérias implicações no que se refere à manutenção da saúde pública. Em contraposição, a adubação orgânica revitaliza o solo e proporciona às pessoas alimentos mais saudáveis e livres de resíduos químicos.

A terceira questão se relaciona ao aspecto econômico. Como observado, o Brasil poderia reduzir substancialmente a importação que faz de fertilizantes. Isso seria possível com o aproveitamento de recursos naturais próprios e de outros que poderiam ser desenvolvidos biotecnologicamente para o suprimento de nutrientes às plantas. Ainda no aspecto econômico, a utilização de uma fertilização mista (organomineral) poderia fazer com que houvesse uma redução na necessidade de alguns nutrientes, gerando, portanto, economia por meio de sua adoção como maximizador da eficiência dos fertilizantes.  

Além dos aspectos positivos observados que dão ao produto um alto potencial de mercado, soma-se o fato de que ele pode ser utilizado no cultivo de qualquer planta. A esse respeito o pesquisador comenta: “(...) não é um produto desenhado para uma cultura específica. Ele tanto serve para o cultivo de cogumelos como para o cultivo de eucaliptos” (Relato de pesquisa – principal pesquisador, 2006).

Os atributos verificados no produto se coadunam com os atributos atribuídos por Kline & Rosenberg (1986) para uma inovação comercial. Nesse caso, a inovação alia, por um lado, a viabilidade técnica comprovada por meio de diversos estudos científicos nacionais e internacionais, e, por outro, a possibilidade de inserção no mercado, numa condição a ela favorável, positivada por melhoras econômicas e sociais. Dessa forma, a inovação passa a operar num sistema técnico e social, chamado por Kline & Rosenberg de “sistema sociotécnico”.

Diante da combinação de tantos aspectos positivos da inovação, seria natural que se observassem, durante o período de desenvolvimento do conhecimento que antecedeu ao desenvolvimento do produto, parcerias com empresas que encontrassem tanto nos resultados das pesquisas como no potencial de mercado, uma oportunidade explorável. Entretanto, essas parcerias ainda não ocorreram. Uma explicação para o fato poderia ser o desconhecimento por parte dos possíveis parceiros a respeito dos benefícios do produto. Esse desconhecimento pode ter sido causado pela preocupação excessiva dos pesquisadores em comprovar viabilidade técnica, em detrimento da disseminação eficiente das descobertas.

É necessário, no entanto, esclarecer o que se quer dizer quando se propõe uma disseminação eficiente. Esta disseminação pode ser tanto por meio da divulgação científica, ou por meio da participação em congressos e encontros não necessariamente técnicos. A finalidade da disseminação seria a criação de uma rede que difundiria os aspectos positivos da descoberta, tanto aqueles que atendam necessidades técnicas como aqueles que atendam a outras necessidades sócio-econômicas. O destino da disseminação pode estar situado, por exemplo, nas empresas, entre os investidores ou em qualquer outro elemento que possa se tornar aliado, seja participando diretamente do desenvolvimento do produto, seja contribuindo indiretamente por meio da promoção.

Com o desenvolvimento do produto, seria de se esperar que as parcerias com investidores privados poderiam surgir com maior facilidade, uma vez que o investimento realizado até o momento tenha sido apenas partido da iniciativa do pesquisador e de um outro sócio no empreendimento. O principal pesquisador afirma que, incentivadas pela comprovação de resultados da aplicação do produto, algumas empresas estão demonstrando interesse em desenvolver parcerias para a comercialização ampla do produto. Por enquanto, essa comercialização está limitada pela produção ainda pequena, se comparada à demanda inerte.

No entanto, no que se refere à parceria com o governo, pôde-se identificar uma com o governo municipal. Também neste caso a iniciativa partiu do pesquisador que, por meio de convênio entre a empresa criada a partir do desenvolvimento do produto e a prefeitura local, pôde-se viabilizar um terreno destinado às futuras instalações de uma unidade produtora. A partir dessa nova unidade, a meta é expandir a comercialização do produto.

5. Conclusão

Motivado por uma reflexão sobre o predomínio das dimensões organizacionais e institucionais na teoria da inovação, assim como pelo afastamento da dimensão individual expressa na atitude empreendedora, o que poderia promover maior compreensão a respeito de processos de inovação específicos, o presente trabalho buscou explorar possibilidades de compreensão sobre como eles realmente ocorrem na prática e sobre o papel exercido pelo pesquisador com invento patenteado e transferido para o mercado. Nesse sentido, o trabalho buscou contribuir com a temática da atuação individual empreendedora dos pesquisadores no contexto universitário, investigando as características singulares de um caso de inovação ocorrido nesse contexto.

Ficou evidenciado que, embora houvessem sido encontradas algumas contribuições importantes vindas do contexto institucional, essas contribuições não foram afetadas nem por estratégias organizacionais, nem por políticas públicas de incentivo à inovação. A maior dessas contribuições está ligada à consolidação das temáticas da sustentabilidade e do cultivo orgânico. Conforme pôde ser visto nas descrições empíricas, o pesquisador estava preparado e informado sobre o momento favorável à sua temática de pesquisa. De maneira nenhuma a inovação poderia ter acontecido sem a sua atuação ativa, atenta e dedicada, embora, em uma análise ex-ante, o conhecimento das propriedades positivas da possível-tecnologia e da sua adequação sócio-técnica potencial não ter sido exclusividade única apenas desse pesquisador. Isso indica que as singularidades específicas e individuais; a vasta experiência técnica-científica e as transformações institucionais não controladas por intenções políticas ou estratégicas tenham sido os vetores da inovação estudada.

Acredita-se que o presente trabalho, embora apresente as limitações típicas de estudos de caso, abra espaço para futuras discussões sobre os processos de inovação em contextos locais específicos e sobre a investigação da prática da inovação que possibilita o resgate do nível micro de análise. Também se acredita que o resgate da dimensão individual e do nível micro seja um passo essencial para se discutir o papel da Universidade na geração de desenvolvimento e a promoção de políticas públicas de incentivo à inovação nas universidades que reflitam as necessidades locais e culturais específicas, em vez de replicar os modelos dominantes suscetíveis em contextos sociais e econômicos distintos.

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1. Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: danytonelli@gmail.com; danytonelli@dae.ufla.br
2. Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: zamba@dcc.ufla.br
3. Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: mozarjdb@dae.ufla.br


Vol. 33 (3) 2012
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