Espacios. Vol. 33 (2) 2012. Pág. 22


Rede de empresas e estratégia de inovação: o caso do Arranjo Produtivo Local têxtil e de confecção paulista – Brasil.

Enterprise network and innovation strategy: a case study of Local Productive Arrangement textil São Paulo - Brazil.

Red de empresas y estrategia de innovación: El caso del Arreglo Local Productivo Textil y de confección Paulista - Brasil

Cibele Roberta Sugahara y José Eduardo Rodrigues de Sousa


3. Procedimentos metodológicos

Para a investigação optou-se pelo método de Estudo de Caso, a partir de uma amostra de empresas têxteis associadas ao POLOTECTEX. A investigação empírica analisou as estratégias adotadas pelos empreendedores no contexto da vida real – como fenômeno contemporâneo – conforme preconizado por Yin (2001). O universo de estudo compreendeu os proprietários de cinco micro e pequenas empresas têxteis e de confecção da Região do Polo Têxtil (RPT).

O Polo Tecnológico Têxtil e de Confecção – POLOTECTEX – fundado em 2002, por meio de lei estadual, reúne mais de 2000 indústrias têxteis dos municípios de Americana, Hortolândia, Nova Odessa, Santa Bárbara D’Oeste e Sumaré. Em 2006, o POLOTECTEX criou o projeto APL – Arranjo Produtivo Local - maior programa do gênero do setor têxtil do Brasil, atendendo mais de 2000 empresas têxteis formais de toda cadeia produtiva da Região do Polo Têxtil.

Como referência para discussão das ações estratégicas adotadas por empresas da RPT optou-se pela pesquisa da CNI (2005) “Estratégia tecnológica das empresas industriais” cujo enfoque dizia respeito às estratégias então definidas pelos gestores de empresas e que seriam trabalhadas no período de 2006 a 2008. Os resultados divulgados pela pesquisa da CNI subsidiaram o levantamento de informações sobre as empresas têxteis selecionadas, neste trabalho, principalmente no que se refere às estratégias adotadas. Para a coleta dos dados, elaborou-se um questionário com perguntas abertas visando apoiar a condução das entrevistas realizadas, identificando as estratégias utilizadas pelas empresas têxteis da amostra.

Vale ressaltar que as orientações realizadas aos empreendedores da amostra fazem são ações do Projeto de Extensão PUC Campinas, tendo em vista a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Além disso, a pesquisa para levantamento de informações sobre as estratégias adotadas pelas empresas da RPT obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da PUC Campinas (CEP designado pela CONEP). Os empresários da amostra autorizaram a publicação das informações desse estudo com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

3.1. Análise dos Estudos de Caso

Organização A

A organização A é uma micro empresa (07 funcionários) que atua há 16 anos na atividade de Facção. Como estratégia a empresa tem investido na qualificação de seus funcionários por meio de cursos ofertados pelo SEBRAE e POLOTECTEX. Nessa indústria, a cultura da cooperação está bem difundida e até mesmo os gestores recorrem aos cursos como forma de melhorar as relações de cooperação entre as empresas. Uma dificuldade apontada pela organização A é a ausência de pessoal qualificado, principalmente na atividade de costura. Tudo isso tem implicações para a empresa que realça o treinamento interno e as oficinas de costura externas como mecanismos importantes para superação do desafio da falta de qualificação do setor. Quanto ao esforço inovativo a organização tem investido em métodos de produção visando melhoria na qualidade do produto e aumento da produção, tendo em vista as práticas adotadas pelos concorrentes, ou seja, a empresa tem investido em métodos de produção melhorados com mudanças nos equipamentos. O alto grau de aproximação da empresa com o Polo e outras empresas da rede resultou em melhoria na qualidade dos produtos principalmente no que tange ao design.

Organização B

A organização B é uma pequena empresa (10 funcionários) atuando há 6 anos na atividade de confecções de peças de vestuário exceto roupas íntimas e as confeccionadas sobre medida. Como estratégia a organização tem investido em design de novos produtos e na expansão de sua capacidade produtiva. O envolvimento da organização B no Projeto APL tem propiciado a troca de informações com outras empresas de moda feminina que atuam no segmento de malharias. A empresa investe na inovação de novos produtos a partir da combinação de tecnologias existentes em busca do desenvolvimento de novos materiais.

Para aprimorar técnicas de gestão e produção os funcionários participaram de programas de capacitação ofertados pelo POLOTECTEX sobre Qualidade Total e Layout. Como resultado da participação da empresa no Projeto APL destaca-se a relação de confiança estabelecida entre outras empresas do mesmo segmento e a expansão da capacidade produtiva da organização.

Uma dificuldade apontada pela organização B é a limitação do mercado interno para absorver o volume de produção da empresa. Assim, a empresa tem recorrido às empresas parceiras associadas ao Pólo em busca de ações conjuntas que possam resultar em melhores condições de competitividade. As parcerias permitem, por exemplo, que outras empresas utilizem o estoque de mercadorias da organização B em momentos de sazonalidade. Ao participar do Projeto APL espera encontrar formas de lidar com a oscilação da carteira de pedidos por meio de ações de colaboração entre os elos da rede.

O estreitamento das relações entre os empreendedores da rede e a organização B ocorreu a partir de encontros temáticos realizados pelo Polo envolvendo toda a cadeia produtiva têxtil e de confecções. Dentre as ações conjuntas praticadas pela organização B destaca-se o compartilhamento de informações com empresas do mesmo segmento visando patrocínio de eventos técnicos e feiras.

Organização C

A organização C é uma pequena empresa (30 funcionários) que atua na atividade de confecção de roupas profissionais. Como estratégia para aprimorar as técnicas de gestão e produção a empresa recorre a cursos específicos ofertados pelo SENAI e SENAC por meio do POLOTECTEX. A organização ampliou o número de departamentos e o quadro de funcionários na atividade de design. A principal dificuldade apontada pela organização C também é a ausência de pessoal qualificado e a alta rotatividade de profissionais para exercer a atividade de costura. Essa lacuna tem sido superada com apoio do Polo por meio do Projeto de Cooperativa de Costureira e com a montagem de uma célula de produção interna com máquinas eletrônicas para até quatro funcionários e produção simultânea dos produtos. Além disso, a empresa recorre à terceirização da atividade de costura, assim, as parcerias com indústrias de camisetas propiciam custo menor ao comparado com o custo da produção interna à organização. Outras estratégias adotadas são as oficinas externas e a aquisição de máquinas para montagem de moldes por sistema de informação.

Com o envolvimento no Projeto APL a organização C pretende continuar explorando novos mercados de atuação que dependam menos da atividade de costura. A empresa vem investindo em inovação de produto voltada para melhoria nas suas propriedades com o uso, por exemplo, de materiais alternativos.

O estreitamento das relações entre os empreendedores da rede e a organização C pode alavancar a iniciativa da organização de contratação de micro empresas de costura para suprir a demanda. Espera-se que as oficinas de costura forneçam um serviço de assistência e exclusividade à empresa contratante suprindo o mercado em caso de absenteísmo nessa atividade ou dos seu aquecimento.

Organização D

A organização D é uma pequena empresa (35 funcionários) que atua na atividade de confecção de roupas femininas. Como estratégia a empresa troca informações com indústrias de Tecelagem, Tinturaria e Fiação e acompanha as tendências mundiais da moda por meio de visitas e participação de eventos no Brasil e exterior. Com o intuito de investir em inovação de produtos a organização recorre a ABIT- Associação Brasileira da Indústria Têxtil, ao POLOTECTEX e eventos de moda de outros países. A organização D participa dos treinamentos e cursos ofertados pelo POLOTECTEX. Como estratégia de crescimento a empresa limita-se a fazer parcerias com fornecedores, assim, as parcerias são estabelecidas apenas entre indústrias de confecção e tecelagens e não entre confecções.

A principal dificuldade apontada pela organização D é a existência de empresas de tecelagem de grande porte. Nesse aspecto, a capacidade produtiva dificultam a alavancagem das tecelagens de menor porte. Outra dificuldade refere-se à falta de mão de obra qualificada da atividade de costura, assim, a Cooperativa de Costureiras é uma alternativa para atender a mão de obra das empresas da região, geração de renda e ampliação do leque de atuação das costureiras que podem trabalhar para outras empresas de forma autônoma. É nesse cenário que o estreitamento das relações entre a organização D e os empreendedores do Projeto APL se viabiliza.

Organização E

A organização E é uma média empresa (230 funcionários) que atua na atividade de confecção de roupas femininas. Como estratégia a empresa troca informações com empresas fornecedoras de matéria-prima para produção de visco lycra. Para aprimorar suas técnicas de gestão e produção utiliza a rede de empresas do Projeto APL mantendo contato com confecções da região de Americana e o SEBRAE. O envolvimento da organização E no Projeto APL propiciou a realização de compra conjunta de matéria-prima e a participação em feiras com empresas do mesmo segmento da Região do Polo Têxtil.

A organização também relatou a dificuldades em encontrar mão de obra qualificada principalmente para a atividade de costura. Essa lacuna tem sido superada com apoio do Polo por meio do Projeto de Cooperativa de Costureira, e com a participação dos funcionários em cursos, treinamentos e oficinas ministrados no POLOTECTEX. Como alternativa para diminuir o índice de absenteísmo das costureiras a organização adotou a atividade laboral. O esforço inovativo da empresa envolve mudanças nos equipamentos visando melhorar os prazos de entrega e, consequentemente, atender à demanda de seus consumidores.

Considerações finais

As estratégias adotadas pelas organizações estudadas permitem observar a importância de instituições de governança como, por exemplo, o Polo Tecnológico Têxtil, na criação de vínculos e relações de cooperação e inovação em um ambiente em rede. Esse cenário estimulado pelo Projeto APL do POLOTECTEX de Americana abre novas e estimulantes possibilidades de ações conjuntas com vistas à cooperação entre organizações.

Como observado anteriormente, quatro organizações investiram em capacitação dos funcionários por meio do Projeto APL do POLOTECTEX. Todos os gestores dessas organizações utilizam a rede APL para visando promover mudanças no ambiente interno da empresa e atender o mercado. Para acompanhar as tendências ditadas pelo mercado ainda há espaço para inovação de produto e processo visando melhorias no processo de produção, custo, qualidade e design dos produtos. Como foi discutido nesse trabalho a Cooperativa de Costura parece ser uma boa alternativa para superar as dificuldades em relação à falta de qualificação das costureiras, resultando em um ritmo de produção que possa atender aos pedidos dos clientes.

Pode-se apontar a importância de instituições públicas ou privadas como elemento determinante para superação de problemas comuns bem como o apoio à qualificação dos funcionários e gestores. Confirma-se que o papel desempenhado pelo POLOTECTEX impulsiona a articulação de ações entre as organizações e preenchendo a lacuna de carência de pessoal qualificado em determinadas atividades.

Também não restam dúvidas que as orientações estratégicas dos esforços inovativos das organizações estudadas têm como foco melhorias em processos e produtos e não a introdução de inovações radicais no setor. A disposição para inovação em melhoria de processo ainda não é suficiente para a construção de um diferencial competitivo.

Como evidenciado, os esforços de articulação institucional entre agentes do setor público e privado podem reafirmar a necessidade da criação de políticas de mobilização e apoio aos pequenos empreendedores. Entretanto, a constituição de arranjos de empresas de forma auto-organizada pode contribuir para o seu declínio. Em outras palavras, a visão que emerge do Projeto APL parece indicar que o declínio desse tipo de rede de empresa deve-se também ao isolamento institucional, ausência de capacitação, baixa esforço inovativo, dificuldade de acesso ao mercado.

Referências bibliográficas

ANSOFF, H. Igor & McDONNELL, Edward J. Implantando a Administração Estratégica. 2ª ed. Tradução Antônio Zoratto Sanvicente, Guilherme Ary Plonky. São Paulo: Atlas, 1993.

CASSIOLATO, J. E & SZAPIRO, M. Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In.: LASTRES, H. M. M. , CASSIOLATO, J. E. & MACIEL, M. L. (Org.). Pequena empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará: UFRJ. Instituto de Economia, 2003.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura; vol. 1. Tradução Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 698 p.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. «Estratégia tecnológica das empresas industriais». Brasília, Sondagem Especial da CNI, Ano 3, n.2, set 2005. Disponível em <http://www.cni.org.br/produtos/econ/src/sondagem_especial_estrategia_tecno.pdf>. Acesso em 24 de setembro de 2007.

COUTINHO, L.; FERRAZ, J. C. (Coord). Estudo da competitividade da indústria brasileira. 3ª ed. Campinas: Papirus, 510p. 1995.

DEITOS, M.L.M. de. A gestão da tecnologia em pequenas e médias empresas: fatores limitantes e formas de superação. Cascavel: Edunioeste, 2002.

DRUCKER, Peter Ferdinand. Desafios gerenciais para o século XXI. Tradução Nivaldo Montingelli Junior. São Paulo: Pioneira, 1999.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Industrial: inovação tecnológica 2000 (PINTEC). Rio de Janeiro: IBGE, 114 p., 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. «PINTEC Pesquisa de Inovação Tecnológica 2008». Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatística/economia/industria/pintec/2005/default.shtm Acesso em: Mar. 2011.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA (MCT). Ciência, tecnologia e inovação – Livro Verde. Brasília, 2001.

OECD Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica — Manual de Oslo,segunda edição (OECD/EC/Eurostat, 1997).

ROSA, E. «A rede de inovação no cluster de biotecnologia de Belo Horizonte: um estudo sobre interações sociais, ambiente e a capacidade tecnológica das empresas». 2004. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) não publicada. Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

SCHMITZ, H; NADVI, K. «Clustering and Industrialization: Introduction». World Development, v. 27, n.9, p. 1503-1514, 1999.

SOARES, M. M. Inovação tecnológica em empresas de pequeno porte. Brasília: SEBRAE, p.7-24, 1994.

STORPER, M. «The regional world: territorial development in a global economy: Perspectives on economic change». New York: Guilford Press, xiv, p. 338, 1997.

VARGAS, M.; CASSIOLATO, J.E. (coord). Arranjos produtivos locais de MPE: uma nova estratégia de ação para o Sebrae. Termo de Referência para Estratégia Piloto Centrada em Arranjos Produtivos Locais. Rio de Janeiro, 2002.

WELLMAN, Barry. Are personal communities local? A dumpatarian reconsideration. Social Networks, Amsterdam, v.18, p.347-354, 1996.

YIN, Robert K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Informações retiradas do site HTTP://www.polotectex.com.br


[anterior] [inicio]

Vol. 33 (2) 2012
[Índice]