Espacios. Vol. 33 (1) 2012. Pág. 47


Tecnologia Social e Políticas Públicas: O Caso do Projeto Seda Justa da Comunidade Vila Rural Esperança

Social Technology and Public Policies: The Seda Justa project case in the community of Esperança

Tecnología Social y Políticas Públicas: El caso del Proyecto Seda Justa en la Comunidad Rural Esperanza

Maria Iolanda Sachuk y Maíra Coelho Bonilha


4. Sistematização, Interpretação e Apresentação dos Dados Coletados

4.1 Projeto Seda Justa

O projeto Seda Justa, considerado socialmente responsável, iniciou-se no ano 2007 e é composto pela Associação dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança e por parceiros que ajudaram no seu desenvolvimento, como: as fiações de Seda BRATAC S/A e Fujimura do Brasil S/A, que são responsáveis por toda a produção brasileira e pela compra dos casulos dos Produtores Rurais da comunidade da Vila Rural Esperança; Prefeitura Municipal de Nova Esperança (apoio institucional e não financeiro); Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM); Incubadora Tecnológica de Maringá; e fiação artesanal de Seda O Casulo Feliz (ARTISANS..., 2009).

O projeto Seda Justa foi concebido pelo senhor João Berdu Garcia Júnior, agrônomo, consultor da Associação dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança, presidente da Bisa Overseas Representações Comerciais Ltda. – do setor de têxtil e especialista da cadeia da seda, a comercializa desde 1991. Ele constatou que a maior parte da produção de casulos do bicho da seda no Brasil era exportada em forma de fios com baixo valor agregado, visto que 90% da produção eram exportados em forma de fio cru.

Segundo o consultor dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança, o projeto Seda Justa tornou-se viável, pelo fato de que dez moradoras se interessaram e aderiram a ele. Assim iniciou-se o projeto Seda Justa e surgiram as artesãs da comunidade Vila Rural Esperança. Das 10 mulheres, 09 continuam no projeto Seda Justa. Apenas uma saiu, pois se mudou para a cidade. Foi possível desenvolver esta atividade na comunidade Vila Rural Esperança, pois algumas das moradoras da comunidade Vila Rural Esperança detinham o conhecimento/técnica do tricô e o repassou para as demais mulheres por meio de treinamentos.

De acordo com o coordenador da EMATER, a ideia do projeto Seda Justa é proporcionar, por meio de parceiros, uma alternativa de renda, remunerar de forma justa e digna pequenas artesãs que trabalham em seus lotes, criando bicho da seda que rende, apenas em média, R$ 1,50 o quilo. O projeto Seda Justa busca promover a inclusão social e a melhoria das condições de vida dos participantes.

Para isso, o consultor da associação relatou que a comercialização dos produtos artesanais via exportação é feita dentro de um sistema chamado de comércio justo ou “fair trade, que prega a transparência e onde a maior parte do lucro volta para as artesãs. Pelo fato de se encontrar nas “mãos” delas, o valor principal: a força do trabalho e o conhecimento, por ser a confecção de cachecol uma atividade artesanal, há agregação de valor ao produto. As artesãs desenvolvem seu trabalho manualmente e com máquinas de fiação (teares).

O comércio justo é uma parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca uma melhor distribuição da riqueza gerada pelo comércio internacional, contribuindo para o desenvolvimento sustentável por meio de melhores condições de troca e a garantia dos direitos para produtores e trabalhadores marginalizados, em sua maioria, localizados no hemisfério sul (ARTISANS..., 2009, p. 2).

De acordo com o coordenador da EMATER, estes produtores e trabalhadores devem receber pelo seu produto um preço que garanta uma renda digna e que contribua para a aquisição de conhecimentos e habilidades que proporcionem novas oportunidades de obtenção de renda.

Em relação ao gênero, as mulheres são a totalidade por enquanto no projeto e a base do comércio justo:

80% das voluntárias nas lojas são mulheres, assim como uma boa parte dos produtores. Quase todas as organizações de comércio justo, tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul, incluem em seus estatutos o respeito pelo papel da mulher e se comprometem a realizar atividades destinadas à formação delas. Estas organizações pretendem reconhecer o trabalho da mulher, oferecendo a elas um emprego seguro, melhorando a sua renda, acesso à tecnologia e ao crédito e participação na tomada de decisão (ARTISANS..., 2009, p.2).

Os casulos são fiados pelo O Casulo Feliz, que cobra um preço mais em conta em favor do projeto. Lá, os fios de seda grossos como fios de lã são preparados e tingidos com produtos naturais, como: a cebola – cor amarelo ouro obtida com cascas de cebola; o pinhão – cor marrom tijolo obtida com cascas de pinhão do Paraná; a natural – cor natural da seda que apresenta a mesma tonalidade e brilho das pérolas naturais; o mate – cor verde obtida com o uso da erva mate utilizada no chimarrão; a amoreira – cor amarela obtida com o uso de excrementos do bicho da seda. Estes corantes naturais são utilizados, pois agregam mais valor ao produto (idem, ibidem).

Segundo o consultor da associação, após o preparo e o tingimento dos fios, estes retornam para as artesãs da comunidade Vila Rural Esperança. Quando o novelo chega, a fabricação dos cachecóis 100% de seda se inicia e são vendidos por R$ 27,00 (vinte e sete reais) a unidade, na França, por meio do sistema do comércio justo. Desta forma, R$ 15,00 (quinze reais) do valor total retornam para as artesãs – renda bruta apurada.

Os cachecóis, de acordo com o consultor da associação, são produzidos na própria comunidade Vila Rural Esperança. Cada artesã trabalha em sua própria residência. A remuneração por hora recebida pelas artesãs do projeto Seda Justa corresponde a mais que o dobro do salário local. Recebem R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais) por 11 dias trabalhados, sendo a carga horária de 08 horas.

As artesãs conseguem confeccionar 02 cachecóis por dia, um a cada quatro horas. Nos demais dias do mês, elas possuem tempo livre para que possam desenvolver outras atividades que complementem a sua renda mensal.

O consultor da associação menciona que os cachecóis são exportados diretamente pela Associação dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança para seus clientes - lojas da rede Artisans du Monde, na França, a qual vende artigos para presentes, onde o projeto Seda Justa foi credenciado em 2007, após a efetivação dum contrato, havendo a primeira exportação e comercialização de cachecóis.

Segundo o consultor da associação, a Artisans du Monde conta com 154 lojas em toda a França, que trabalham somente com artigos produzidos dentro do sistema de comércio justo. Esta rede de lojas atende a clientes que querem ter a certeza de que o seu ato de compra vai causar um impacto produtivo e diferença na vida de pequenos produtores de pequenas cidades de países em desenvolvimento.

O consultor da associação relatou que a relação de comercialização com a França foi estabelecida, após um contato dele com a rede. Representantes da rede vieram até o Brasil para visitar a comunidade Vila Rural Esperança, por meio do conhecimento das atividades desenvolvidas, da confiança nas redes, do capital social e da constatação de ausência absoluta de trabalho infantil firmaram o contrato.

Quanto ao selo de certificação, por este ser dispendioso e pago anualmente, a associação só o terá quando o volume de vendas aumentar e quando esta já tiver sido transformada de fato em cooperativa.

Segundo o consultor da associação, as lojas francesas realizam o pagamento dos produtos diretamente para a Associação dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança na conta do vice-presidente da comunidade, que se encarrega de pagar as artesãs e demais parceiros envolvidos. 59% da renda bruta é destinado para as artesãs; 9,8% para casulos; 16,2% para fiação; 5,3% para embalagem; 5,0% para gestão; 1,6% para transporte; e 3,1% para impostos.

O consultor da associação disse que o pagamento é efetuado numa conta de pessoa física e não jurídica, pois associações não podem desenvolver ações comerciais, não havendo, desta forma, a existência de uma conta jurídica, ao contrário de cooperativas. Isso realça o laço de confiança estabelecido entre os parceiros desde o início do projeto Seda Justa.

De acordo com o consultor da associação, o depósito das vendas futuramente será realizado na conta da cooperativa, que deverá entrar em vigor em julho de 2009. Com isso, ao invés de existir apenas uma Vila Rural participante, o projeto Seda Justa contará com as Vilas Rurais do entorno do Município de Nova Esperança, o que deve gerar aumento de participantes, tanto criadoras do bicho da seda como artesãs, e benefícios sociais e econômicos para a região.

Com o credenciamento em 2007, a Associação dos Produtores Rurais da comunidade Vila Rural Esperança produziu e comercializou 108 cachecóis na “campanha de Natal de 2007” para as lojas da Artisans du Monde nas cidades de Mulhouse, Romans, Nice e Foix. A partir da constituição da cooperativa, os parceiros pretendem aumentar ao longo dos anos o número de lojas com as quais comercializam na França, já que das 154 lojas, venderam até agora apenas para 04, como mencionado acima (PROJETO..., 2009).

E também, de acordo com o consultor da associação, a cooperativa realizará comercializações de produtos via internet com os seguintes países: Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e Brasil, tanto que o site da cooperativa já se encontra confeccionado e disponível em todas estas línguas. Os cooperados pretendem alcançar estes objetivos por meio da continuidade das “campanhas de Natal”, bem como pelo desenvolvimento de novos produtos e treinamento das artesãs para a produção de novos artigos.

Segundo o consultor da associação, a Cooperativa dos Produtores de Artesanato de Seda Ltda. – Artisans Brasil - Seda Justa (COPRASEDA) será uma cooperativa formada por agricultoras residentes na zona rural do município de Nova Esperança que fazem parte do projeto de extensão tecnológica empresarial: Programa Universidade sem Fronteiras, que possui vínculo com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) - Departamento de Economia - e conta com o apoio da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Governo do Estado do Paraná e da Incubadora Tecnológica de Maringá, assim como da Prefeitura de Nova Esperança, da Secretaria de Ciência e Tecnologia.

Por intermédio destes apoios institucionais é que o projeto Seda Justa se viabilizou numa política pública e receberá apoio financeiro para a compra de maquinários – financiamento pelo Banco do Brasil: Pronaf Mulher. E também das empresas de fiação BRATAC S/A, Fujimura do Brasil S/A, O Casulo Feliz – Fiação Artesanal de Seda e da Bisa Overseas Representações Comerciais Ltda. que é a empresa responsável pela comercialização dos produtos confeccionados.

A cooperativa será criada na cidade de Nova Esperança, onde está localizada a comunidade Vila Rural Esperança e as atividades de confecção continuarão a ocorrer na residência (propriedade rural) de cada artesã. A Artisans Brasil - Seda Justa (COPRASEDA) conta com a assessoria técnica de docentes e discentes da Universidade Estadual de Maringá – UEM (Engenharia Têxtil e Economia) e do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR (Moda), assim os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de produtos ocorrerão nos municípios de Maringá - PR. e Goioerê – PR. (PROJETO..., 2009).

Serão desenvolvidos artigos que possam ser produzidos e comercializados pela Cooperativa Artisans Brasil, contribuindo para o adensamento regional da cadeia produtiva da seda. Dentre estes novos produtos estão: cachecóis artesanais de seda; fios industriais de seda para tricô e crochê; vestuário e artigos para bebês, feitos de seda; produtos para decoração em patchwork de tecido de seda; assessórios em patchwork de tecido de seda e assessórios em tecido de seda pintados a mão ou tintos em tie dye (PROJETO..., 2009, p. 3).

Até o momento, foram desenvolvidos e produzidos cachecóis de forma ambientalmente responsável e comercializados de forma socialmente justa. Futuramente, além do tecido – fios de seda para a confecção de cachecóis e lenços -, os casulos também serão utilizados para a produção de artesanato, como, por exemplo, colares (ARTISANS..., 2009).

O projeto Seda Justa tem por objetivo desenvolver uma fonte complementar de renda e aumentar esta para os produtores de casulo de bicho da seda em Nova Esperança, por meio de uma atividade artesanal, contribuindo para a geração de novos postos de trabalho, assim como: constituir a Artisans Brasil - Seda Justa – Cooperativa de Artesãos de Seda de Nova Esperança (COPRASEDA); ampliar o número de produtoras rurais que hoje se dedicam à confecção de cachecóis; desenvolver novos produtos de seda e processos de tecelagem; ampliar o número de lojas da Artisans du Monde que adquirem os produtos das artesãs (PROJETO..., 2009).

4.2 Benefícios oriundos do projeto Seda Justa às artesãs

O maior benefício oriundo do projeto Seda Justa, segundo a maioria das entrevistadas, foi o de cunho financeiro, pois com o aumento da renda familiar, conseguiram comprar e pagar coisas materiais. Em seguida vem a ocupação, pois elas se tornaram mais ativas e valorizadas por estar desenvolvendo uma atividade cujos produtos são exportados, o que fez com que sua autoestima se elevasse em razão das reportagens, e visitações e incentivasse a produção dos criadores do bicho da seda. Sentem-se honradas por pessoas tão distantes estarem comprando seus produtos.

Foi a partir do reconhecimento internacional que o nacional foi possível, pois o contato com o meio externo, a comunidade Vila Rural Esperança surgiu a partir da comercialização dos produtos para a França, por meio do sistema de comércio justo.

Os benefícios mencionados são os efeitos positivos gerados pela tecnologia social citados por Dagnino, Brandão e Novaes (2004), como: geração de renda, saúde, emprego, nutrição, habitação, relações sociais e meio ambiente.

4.3 Trabalho desenvolvido pelas artesãs no projeto Seda Justa

Notou-se nos relatos das artesãs o fato de que realizam um trabalho genuinamente manual, conciliado com os serviços domésticos. Em princípio, parece ser uma atividade autônoma, visto que cada uma das entrevistadas desenvolve seu trabalho dentro de sua própria residência, mas isto é mero engano, pois a afinidade pelas atividades desempenhadas e a criatividade das artesãs, futuramente terão que se envolver diretamente no processo produtivo, como mencionado no depoimento de uma das senhoras.

Segundo os relatos, há apenas o trabalho com cachecóis na agulha e no tear e o início do aprendizado para a confecção em máquina e o tingimento de lenços. Posteriormente, as artesãs aprenderão fazer “bijuterias”.

Confirmou-se que o trabalho das entrevistadas é pautado, sobretudo, pela simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social. O que remete às ideias de Lassance Junior e Pedreira (2004), onde a comunidade é quem escolhe a tecnologia, o produto ou serviços finais, respeitando sua cultura e possível capacitação local, os quais possuem proporção de pequena ou média escala e fazem uso de recursos renováveis ou naturais, de maior intensidade de mão-de-obra.

As artesãs possuem a liberdade na escolha do como fazer seus produtos, pois cada uma os faz do seu modo. Procuram uma forma na qual se adaptem, que as deixem satisfeitas e rápidas no tricotar, pois assim relatam que a confecção “rende mais”, sentindo menores dificuldades no seu labor.

4.4 Compradoras francesas

As artesãs ressaltam que as francesas compram seus produtos, por eles serem naturais, feitos por um artigo de qualidade como a seda, além da preferência destas por produtos artesanais e por estarem de acordo com os propósitos do sistema do comércio justo, valorizando, assim, diretamente, o produtor rural. Com isso, a exportação dos produtos pelo sistema de comércio justo lhes rendeu prestígio e uma boa reputação dentro e fora do país.

Tal situação vem reafirmar que a tecnologia social não reside necessariamente em seu ineditismo, mas sim no seu efeito inovador (processos, serviços e produtos relacionados à satisfação das necessidades sociais) (GUSHIKEN, 2004).

As tecnologias sociais são alternativas de desenvolvimento que se originam das experiências inovadoras, que tendem a ser locais, mas que podem ter repercussão em nível nacional e expandir por meio das redes (DAGNINO, 2008).

Para o sucesso deste tipo de empreendimento, os procedimentos e métodos das tecnologias sociais precisam ser estruturados em modelos flexíveis para que as tecnologias sociais possam ser reaplicadas. Nem tudo que é viável em um lugar pode ser da mesma forma em outro. Por isso é importante a possibilidade de se fazerem adaptações. A tecnologia social não poderá se disseminar se não houver um padrão tecnológico cujos elementos essenciais permitam escala. Este padrão pode ser um programa de formação e capacitação (LASSANCE JÚNIOR; PEDREIRA, 2004).

4.5 Organização do projeto Seda Justa

De acordo com os depoimentos, percebeu-se que, pelo projeto Seda Justa conter vários parceiros, aqueles sujeitos que possuem contatos pessoais mais diretos e constantes com as artesãs foram visualizados por elas como “chefes”. O consultor dos Produtores da comunidade Vila Rural Esperança foi mencionado como o “chefão” do projeto Seda Justa, assim como à senhora, responsável pelo projeto Seda Justa na comunidade Vila Rural Esperança.

As entrevistadas também mencionaram que é o consultor da associação dos produtores da comunidade Vila Rural Esperança quem determina a quantidade a ser distribuída, confeccionada, e, desta forma, seguem as orientações dele.

Todavia, a proposta da tecnologia social é desenvolver e disseminar uma tecnologia que seja: não promovedora do controle, segmentação, hierarquização e dominação nas relações patrão-empregado, incentivadora do potencial e da criatividade dos usuários e capaz de viabilizar economicamente os empreendimentos como cooperativas populares (RTS, 2008, p. 19).

4.6 Relacionamento com os parceiros

Segundo as artesãs, o relacionamento entre elas e os parceiros é bom, divertem-se juntos e todos se ajudam, por meio de orientações de aprendizagem.

Uma das entrevistadas lembra que os encontros são sempre divertidos, o local de trabalho acaba sendo para elas um espaço de trabalho e diversão. São nestes momentos também que as artesãs aproveitam para “colocarem a conversa em dia”, trocarem experiências e fortalecerem os laços culturais comunitários e de grupo.

Tais situações reforçam o encontrado na literatura sobre as parcerias serem a base das tecnologias sociais que, para Gushiken (2004), significam empreendimentos, organizações associativas, redes e iniciativas de cooperação, que geram emprego e renda.

As artesãs mencionaram não possuírem contato com todos os parceiros. Alguns como as fiações são intermediados pelo consultor da associação dos produtores da comunidade Vila Rural Esperança.

5. Conclusão

Pelos relatos das participantes da pesquisa e parceiros do projeto Seda Justa, notou-se que desde o início do projeto, no ano de 2007, este possui um aspecto socialmente responsável, preocupado em utilizar recursos naturais e proporcionar uma alternativa de renda às artesãs, por meio do trabalho. No entanto, o projeto Seda Justa é também visualizado como um negócio por todos, pois visam à obtenção de lucro por meio dele.

Notou-se que o projeto Seda Justa é composto apenas por mulheres. O próprio site do projeto e o idealizador mencionam que as mulheres são à base do comércio justo e, reconhece o trabalho da mulher, oferecendo a elas um emprego seguro, melhorando a sua renda e acesso à tecnologia, o que também contribuiu para que se escolhesse este grupo de mulheres.

Percebeu-se que, ao contrário do que a literatura apregoa, a tecnologia social estudada é promovedora do controle, da segmentação, da hierarquização e das relações patrão-empregado. As artesãs cumprem dentro do projeto Seda Justa, uma programação, que é monitorada. Apesar disso, ela é incentivadora do potencial e da criatividade das artesãs, pois estes viabilizam economicamente os empreendimentos da cooperativa.

Além disso, a tecnologia inserida na comunidade trouxe transformações ao meio ambiente onde se encontra, e está de acordo com a capacidade dos sujeitos locais. Os envolvidos buscaram uma tecnologia que fosse compatível com a sua realidade e seus conhecimentos, resolvendo assim os seus problemas. O reconhecimento de suas capacidades e suas especificidades foi considerado como prioritário na hora de implementar a tecnologia social, e por isso obteve êxito.

Quanto às características da tecnologia social, percebeu-se, pelas afirmações das artesãs, que realizam um trabalho genuinamente manual, onde impera a troca de conhecimento entre os atores envolvidos nos processos. As artesãs procuram conciliar a confecção de cachecóis com os serviços domésticos, onde impera o aprendizado, a atividade em grupo, a afinidade pelas atividades desempenhadas e a criatividade das artesãs.

Apesar de esta pesquisa ter cumprido os objetivos a que se propôs, não foi possível captar toda a realidade, posto que foi realizado apenas um recorte dela. Assim, sabe-se que possui algumas limitações. Desta forma, sugere-se que sejam realizados estudos futuros com artesãs de outros lugares, para se fazer comparações e verificar se as bases também permitem que os projetos se transformem em políticas públicas.

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