Espacios. Vol. 32 (4) 2011. Pág. 30


Aplicação e utilização da Análise do Ciclo de Vida na indústria

Aplicación y utilización del análisis de ciclo de vida en la industria

Implementation and use of life cycle assessment of the industry


4. Benefícios e Limitações da ACV

A ACV apresenta vários benefícios quando aplicada na indústria. Segundo Ferreira (2004), esta metodologia permite identificar a transferência de impactos ambientais de um meio para outro e/ou de um estágio do ciclo de vida para outro. Por exemplo, no primeiro caso, as emissões atmosféricas podem ser reduzidas aumentando as emissões de efluentes líquidos, no segundo caso, os impactos ambientais podem ser transferidos da fase de aquisição de matérias-primas para a fase de utilização.

O autor ainda ressalta que,

quando selecionamos entre dois produtos concorrentes pode parecer que a “opção-1” é melhor para o ambiente porque necessita de menos matérias-primas, na fase de fabricação, que a “opção-2”. Porém, porque na elaboração de um estudo ACV são considerados todos os estágios do ciclo de vida, os resultados finais podem mostrar que é a “opção-1” que causa mais impacto no ambiente, dada a necessidade que tem de um maior consumo de eletricidade, na fase de utilização, que a “opção-2”. Sem a elaboração de um estudo ACV estes fatos não serão detectados (Ferreira, 2004, p.10).

Além disso, a elaboração de um estudo de ACV permite aos pesquisadores: 

  • Desenvolver uma sistemática avaliação das consequências ambientais associadas com um dado produto.
  • Analisar os balanços (ganhos/perdas) ambientais associados com um ou mais produtos/processos específicos de modo a que os visados (estado, comunidade, etc.) aceitem uma ação planejada.
  • Quantificar as descargas ambientais para o ar, água, e solo relativamente a cada estágio do ciclo de vida e/ou processos que mais contribuem.
  • Assistir na identificação de significantes trocas de impactes ambientais entre estágios de ciclo de vida e o meio ambiental.
  • Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de materiais e descargas ambientais para a comunidade local, região e o mundo.
  • Comparar os impactos ecológicos e na saúde humana entre dois ou mais produtos/processos rivais ou identificar os impactes de um produto ou processo específico.
  • Identificar impactos em uma ou mais áreas ambientais específicas de interesse (USEPA, 2001 apud FERREIRA, 2004):

Apesar se sua ampla possibilidade de aplicação, assim como outras ferramentas a ACV apresenta algumas limitações que estão ligadas a sua complexidade de aplicação. De acordo com Tibor e Felderman (1996), estes estudos são intensivos em tempo e recursos, a coleta dos dados necessários pode ser complexa e a qualidade dos dados obtidos pode não ser satisfatória.

Para o autor, as relações de causa e efeito no processo de avaliação de impactos são difíceis de descobrir, pois, mesmo sendo possível medir ou estimar as entradas e saídas de um sistema industrial, nem sempre fica clara a ligação existente entre estes fatores e os impactos ambientais.

Além disso, Costa (2007, p.53) menciona que, algumas etapas da ACV como o estabelecimento das fronteiras do sistema, a seleção das fontes de dados e a definição de categorias de impacto, são questionáveis devido a natureza das escolhas e suposições feitas e pelo fato de envolverem certo grau de subjetividade. Segundo o autor “a exatidão dos estudos também pode ser limitada pela acessibilidade ou disponibilidade de dados coerentes ou pela qualidade dos dados relacionada ao período de tempo e a área geográfica cobertos, as tecnologias abordadas, a precisão e a representatividade dos dados”.

Apesar do estudo de ACV apresentar algumas limitações e necessitar de tempo e recursos, Ferreira (2004, p.11) ressalta que “os recursos financeiros deverão ser balanceados com os benefícios previsíveis do estudo”. Desta forma os benefícios obtidos pela ACV se sobressaem, minimizando as limitações referentes a este aspecto.

Além, disso as informações obtidas no estudo podem auxiliar no processo de tomada de decisão na indústria, podendo desta forma contribuir para o planejamento estratégico da organização.

5. Considerações finais

Como pode ser observado no referencial teórico, a ACV pode ser empregada na indústria por diversos motivos, dentre eles: comparar produtos disponíveis no mercado, mostrar a carga ambiental associada ao ciclo de vida de um produto, ou mostrar a importância relativa dos estágios do ciclo de vida do produto. Independente de qual seja o motivo de sua aplicação, sempre pode trazer algum tipo de benefício para a organização.

Mas, para obtenção dos benefícios que a ACV pode proporcionar, sua aplicação na indústria envolve uma série de etapas – definição do objetivo e escopo, análise do inventário do ciclo de vida, avaliação de impacto e interpretação – que necessitam de tempo e recursos para serem executadas.

No entanto, devido ao fato de que a ACV envolve várias questões ambientais ao mesmo tempo, esta ferramenta possibilita obter uma visão geral dos aspectos e impactos ambientais associados ao produto, fornecendo desta forma subsídios que permitam a implementação de melhorias em todo o seu ciclo de vida.

Assim, apesar da complexidade que a aplicação da ACV possa ter no setor industrial, está é uma boa opção para o acompanhamento das questões ambientais relacionadas aos produtos, e pode contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Referencias

COLTRO, L. (org). (2007); “Avaliação de Ciclo de Vida como Instrumento de Gestão”. Campinas: CETEA/ITAL, 72 p.

ROBLES JUNIOR, A.; BONELLI, V. V. (2006); “Gestão da qualidade e do meio ambiente: enfoque econômico, financeiro e patrimonial”. São Paulo: Editora Atlas.

SILVA, G. A. da; KULAY, L. A. (2006); Avaliação do ciclo de vida. In: VILELA JUNIO, A.; DEMAJOROVIC, J. “Modelos de ferramentas de gestão ambiental: desafios e prespectivas para as organizações”. São Paulo: Editora Senac.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2001); NBR ISO 14040: Gestão Ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Princípios e estrutura. Brasil.

SANTOS, L. M. M. dos. (2002); “Avaliação ambiental de processos industriais”. Ouro Preto: ETFOP.

USEPA, (2001) Environmental Protection Agency and Science Applications International Corporation. LCAccess - LCA 101. 2001. Disponível em: http://www.epa.gov/ORD/NRMRL/lcaccess/ lca101.htm. In: FERREIRA, José V. R. Análise de ciclo de vida dos produtos. 2004. Disponível em: <http://www.estv.ipv.pt/PaginasPessoais/jvf/Gest%C3%A3o%20Ambiental%20-%20An%C3%A1lise% 20de%20Ciclo%20de%20Vida.pdf>  Acesso: em 03 novembro 2009.

GUINÉE, J. B. (2001); “Handbook on life cycle assessment: operational guide to the ISO standards”. kluwer academic publishers.

MIETTINEN, P,; HAMALAINEN,R. P. (1997); How to benefit from decision analysis in environmental life cycle assessment (LCA). European Journal of Operational Research, Amsterdam, v. 102, p. 279-294.

CHEHEBE, J. R. B. (1997); “Análise do ciclo de vida de produtos: ferramenta gerencial da ISO 14000”. Rio de Janeiro: Qualitymark.

FERREIRA, J. V. R. (2004); Análise de ciclo de vida dos produtos. Disponível em:< http://www.estv.ipv.pt/PaginasPessoais/jvf/Gest%C3%A3o%20Ambiental%20-%20An%C3%A1lise%20de%20Ciclo%20de%20Vida.pdf> Acesso: em 03 novembro 2009.

COSTA, M. S. V. (2007); O enfoque de ciclo de vida como estratégia para a gestão sustentável: um estudo de caso sobre pneus. 2007. 158f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção) – Universidade federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.  

PASSUELO, A. C. B. (2007); Aplicação da Avaliação do ciclo de vida em embalagens descartáveis para frutas: estudo de caso. 2007. 148f. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

PEREIRA, C. L. F. (2008); Avaliação da Sustentabilidade Ampliada de Produtos Agroindustriais: estudo de caso suco de laranja e etanol. 2008. 290f. Tese (Doutorado em Engenharia de Alimentos) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

UNEP - UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. (2003); Evaluation of Environmental Impacts in Life Cycle Assessment.

LOBO, Y. R. O. (2000); Proposta e metodologias de concepção e projeto do produto considerando os aspectos ambientais no ciclo de vida. 2000. 191f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

VALT, R. B. G. (2004); Análise do ciclo de vida de embalagens de pet, de alumínio e de vidro para refrigerantes no Brasil variando a taxa de reciclagem dos materiais. 2004. 208f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

SILVA, P. G. S. (2002); Inovação ambiental na gestão de embalagens de bebidas em Portugal. 20 02. 175f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão Tecnológica) - Instituto Superior Técnico – Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(CAPES) pelo financiamento da pesquisa.


[anterior] [inicio]

Vol. 32 (4) 2011
[Índice]