Espacios. Vol. 32 (2) 2011. Pág.19

Determinantes da propensão ao endividamento: Um estudo nas mulheres da Mesorregião Centro Ocidental Rio-Grandense

Propensión a determinantes de endeudamiento: Un estudio de la mujer en la región Centrooccidental Riograndense

Determinants of propensity to debt: A study of women in theMesorregião Centro Ocidental Rio-Grandense

Larissa de Lima Trindad, Kelmara Mendes Vieira, Paulo Sérgio Ceretta, Everton Anger Cavalheiro


3. Método

A pesquisa se desenvolveu na Mesorregião Centro Ocidental Rio-grandense, formada pela união de 31 municípios agrupados em 3 microrregiões (Microrregião de Santa Maria, de Restinga Seca e de Santiago) que juntas formam uma área total de 25.997 km2 e uma população total de 541.027 habitantes (IBGE, 2007).  A população gaúcha de acordo com do censo realizado pelo IBGE em 1º de agosto de 2000 era de 10.582.887 e a população da Mesorregião Centro Ocidental Rio-grandense era de 541.027, sendo 77,97% da população urbana e considerando-se o percentual de 51,10% de mulheres,

Aplicando-se o percentual de 51,10% sobre o total de habitantes da Mesorregião Centro Ocidental Rio-grandense (541.027) constata-se que o universo da pesquisa é de 276.465 mulheres. A amostra total para um erro de 2% é de 2.500 casos. Ressalta-se que os questionários foram aplicados nos 31 municípios, respeitando a distribuição populacional feminina de cada cidade.

O questionário contemplou questões abertas e fechadas, sendo que na parte inicial estão contidos dados de identificação e na segunda parte questões específicas sobre o tema, divididas em dois blocos. O primeiro centrado no endividamento, e o segundo nos fatores que influenciam na propensão endividamento. Para as questões sobre endividamento foi utiliza a escala de Moura (2005), para as questões de valores utilizou-se a Escala de Significado do Dinheiro de Schwartz (1992) adaptada por Moreira (2000).

Para a análise dos dados foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), Para definir os fatores determinantes na propensão ao endividamento foi utilizada a Análise Fatorial Exploratória, tendo como método para a estimação das cargas fatoriais os componentes principais. Para definir o número de fatores, conforme recomenda Hair et al. (2005), foi utilizado o critério de autovalores superiores a um, e para rotação o método varimax normalizado. Para avaliar a confiabilidade dos fatores utilizou-se o Alpha de Cronbach. Após a análise da consistência dos fatores, os mesmos foram gerados para as análises seguintes a partir da média das variáveis com altas cargas fatoriais em cada fator. Para avaliar se em média as mulheres apresentam diferenças entre os fatores foi aplicado um teste t emparelhado de diferenças de médias.

Posteriormente, para a avaliação da influência das variáveis culturais, sociais, pessoais e psicológicas foram realizados o teste t para amostras independentes e a análise de variância. Para determinar se o teste t é homocedástico ou heterocedástico, aplicou-se o teste de igualdade de variâncias. Para variáveis com mais de dois grupos foi aplicada a análise de variância.

Para verificar os pressupostos de normalidade, autocorrelação, multicolinariedade e homocedasticidade do modelo de regressão utilizou os teste de Kolmogorov-Smirnov (KS), Durbin Watson (DW), fator de inflação (FIV) e Pesarán–Pesarán, respectivamente.

4. Resultados e Discussões

Este estudo foi aplicado em 2.500 mulheres da Mesorregião Centro-Ocidental Rio-grandense. A idade média das entrevistadas é de 37,22 anos, 50% das mulheres são casadas/amigadas, possuem filhos (58,1%) e 20,9% delas possuem apenas 1 filho. No que se refere à dependência financeira, ressalta-se que 55% não possuem dependentes, com relação à moradia 66,2% possuem residência própria e 22,3% alugada. No que tange a religião e escolaridade, consta-se que 69,2% das mulheres respondentes são católicas e 42,8% possuem o Ensino Médio completo e 35% já concluíram o Ensino Superior. Com relação à questão racial, 2.046 mulheres se consideram da raça branca (81,8%), 187 da raça negra (7,5%) e 240 (9,6%) se consideram pardas. As ascendências predominantes foram brasileira (33%) e italiana (32,8%). Observa-se, também que a maioria da amostra pesquisada é empregada assalariada (35,2%) e apenas 12,6% não trabalha fora.

No que se refere à renda familiar das entrevistadas 42,2 % encontram-se na faixa de renda de R$ 1.195,00 a 3.479,00, o que representa um bom nível de renda familiar. Entretanto no que se refere à renda individual destas mulheres, esta faixa diminui, pois 42,8% apresentam renda individual de R$ 488,00 a R$ 1.194,00. Outro dado relevante é que 81,8 % da amostra pesquisada não recebe nenhum tipo de ajuda financeira e as que recebem declararam receber em média R$ 200,00.

Com relação aos gastos 60,2% admitiram possuir algum tipo de dívida e as principais modalidades de dívidas assumidas são respectivamente: crediário em lojas (39,2%), supermercados e outros estabelecimentos (39,2%), compras através do cartão de crédito (19%) e empréstimos pessoais (12,6%). Destaca-se ainda que 66,1% das entrevistadas declaram não estar em atraso com nenhuma de suas dívidas e 12,5% assumiram possuir dívidas em atraso.

A razão principal para assumir a dívida foi o acesso ao crédito (24,6%). Apenas 6,2% das mulheres declaram que possuem dívidas em função da falta de planejamento e 3,5% devido à alta propensão ao consumo. Outro ponto relevante desta questão é que 10,6% das mulheres identificaram mais de uma razão para dívida, principalmente a alta propensão ao consumo, empréstimo do nome, acesso ao crédito e problemas de saúde.

Com relação ao perfil dos seus gastos 15,4% das mulheres afirmaram gastar mais do que ganham, 39% dizem gastar igual ao que ganham e 44,3% asseguram gastar menos do que ganham. Entretanto, quando questionadas em relação à frequência com que conseguem poupar 33,1% das mulheres pesquisadas relatam que conseguem poupar algumas vezes e 21,5% raramente e 12% nunca conseguem poupar. Desta forma, constata-se que algumas das entrevistadas podem apresentar dificuldades para assumir seus gastos, uma vez que apesar de a maioria declarar que gasta menos do que ganha, apenas 12,8% sempre economizam. Este dado corrobora com os resultados encontrados por Livingstone; Lunt (1992); Brusky, Fontura (2002) e Moura (2005) que identificaram que nem sempre o crediário ou o carnê de lojas é entendido como uma dívida pela população em geral, uma vez que os indivíduos entendem dívida como inadimplência. Para os autores esta visão distorce a atitude para o endividamento, uma vez que o indivíduo declara apresentar atitude desfavorável para dívida, mas com saldo devedor em cartões de crédito e carnês de lojas. Este comportamento também pode ser explicado pelas finanças comportamentais, através da dissonância cognitiva onde o indivíduo evita reconhecer as dívidas quando estas não refletem diretamente no seu bolso. A fim de identificar com quem e como estas mulheres gastam sua renda, foi elaborada a Tabela 1.

Tabela 1- Média, mediana e desvio padrão da relação dos gastos.

Relação dos gastos

Exemplos de gastos

Média

Mediana

Desvio padrão

Com a casa

Móveis, decoração, alimentação e outros

0,277

0,300

0,191

Com os filhos

Escola, roupa, médico, lazer e outros

0,134

0,050

0,169

Com o marido

Roupas, presente, médico e outros

0,051

0,000

0,081

Com os outros

Presentes, ajuda financeira, doações

0,072

0,050

0,093

Consigo

Lazer, médico, roupas, acessórios

0,467

0,450

0,272

A Tabela 1 demonstra que em média as mulheres entrevistadas gastam mais consigo mesmas (46,7%), através do lazer, médico, roupas e acessórios e com a casa (27,7%), através da aquisição de bens e gastos alimentícios. Os filhos ficaram em terceiro lugar, chegando a um percentual de 13,4% da relação dos gastos.

Em busca dos construtos para a escala de valores do dinheiro, para o materialismo e para a atitude ao endividamento foram aplicadas análises fatoriais. Para que a variável fosse mantida sua comunalidade deveria ser superior a 0,50. Das 60 variáveis iniciais, 32 variáveis foram excluídas por não atender o critério da comunalidade, foram elas: 8, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 27, 31, 32, 33, 34, 42, 43, 44, 47, 48, 49, 50, 53, 56, 57, 60. Os testes de adequação e especificidade da amostra dos dados também foram satisfatórios, uma vez que o teste KMO apresentou índice de 0, 868 e a especificidade de Bartlett assumiu o valor de 2.5156,833 significativos a 1%.  Foram excluídos da análise 26 fatores  por apresentarem autovalores menores que um. O primeiro fator sozinho explicou 21,84% da variância total.

O primeiro fator chamado de Status Social, apresentou 5 questões relevantes. Este fator demonstra que o dinheiro é uma forma de reconhecimento social. Já o segundo fator, denominado Preocupação, apresenta uma dimensão negativa associada ao dinheiro, demonstrando inquietações ao lidar com o dinheiro, este fator, também foi formado por cinco questões, sendo que a mais significativa dentro deste foi à angústia que é associada ao fato de lidar com dinheiro.

O terceiro fator, chamado de Estabilidade, apresenta um aspecto positivo associado ao dinheiro, as mulheres reconhecem o dinheiro como forma de trazer estabilidade emocional e financeira. Para elas o dinheiro ao mesmo tempo em que provoca preocupações, também auxilia no convívio familiar e até mesmo no campo pessoal, pois muitas reconhecem o dinheiro como forma de promoção de maior auto-estima.

O quarto e quinto fator, chamados respectivamente de Prazer e Poder refletem duas dimensões positivas associadas ao dinheiro. O Fator Prazer associado ao dinheiro reflete o fato de que as entrevistadas reconhecem o dinheiro como forma de conforto e bem estar, evidenciando a satisfação e a realização em possuir dinheiro. Já o Fator Poder aborda principalmente a questão da influência que o dinheiro trás e o domínio que os indivíduos que o possuem apresentam sobre os demais.

O sexto fator foi denominado Fator Orçamento e reflete as necessidades de planejamento dos gastos e da contenção ao consumo, envolve aspectos da necessidade dos indivíduos em orçar e se manter financeiramente, sem ter prejuízos financeiros.

O último Fator é o Fator Ilusão e atenta para as ilusões e os riscos que o dinheiro promove. Semelhante ao fator Preocupação, este fator demonstra que as entrevistadas reconhecem que o dinheiro provoca fantasias no indivíduo e sempre envolve riscos. Destaca-se que os fatores encontrados neste estudo se assemelham encontrados por Moreira (2000); Trindade; Ribeiro; Mallmann e Vieira (2009). Na Tabela 2, são apresentadas as variáveis e seus respectivos Alpha de Cronbach.

Tabela 2 - Variáveis, Alpha de Cronbach, média, mediana e desvio padrão de cada fator

Fator

Variáveis

Alpha de Cronbach

Média

Mediana

Desvio Padrão

1

1, 2, 3,4 e 6

0,8266

6,542

7,000

2,403

2

37, 38, 39, 40 e 41

0,8348

3,821

3,600

2,662

3

25, 28, 51, 52 e 60

0,7453

5,917

6,200

2,293

4

54, 55, 58 e 59

0,7524

7,606

8,000

1,930

5

5, 7, 9 e 12

0,7508

5,142

5,250

2,593

6

29, 30 e 35

0,6582

7,731

8,333

2,144

7

45 e 46

0,7108

6,291

7,000

2,852

Segundo Hair et al. (2005) para que um fator apresente consistência interna satisfatória deve possuir Alpha de Cronbach superior a 0,60, portanto todos os sete fatores apresentaram consistência interna e foram extraídos. Cada fator corresponde à média das variáveis predominantes para o mesmo. Por exemplo, o Fator Ilusão foi construído a partir da média das respostas dadas nas questões 45 e 46, para cada entrevistado.

A maioria das respondentes concorda com as questões propostas, demonstrando a dimensão positiva do questionário no que se refere a ESD, pois em 6 fatores as mulheres concordam preponderantemente. O fator Orçamento com maior média, 7,731 está associado mais fortemente aspectos da importância e necessidade de se controlar no uso do dinheiro, o que vai ao encontro das questões que envolvem o consumo de gastos e a propensão ao risco, onde as mulheres demonstram ser bastante cautelosas e aversas ao risco.  Por outro lado, o fator com menor média foi Preocupação (3,821) demonstrando que a maioria das respondentes não associam este valor negativo com o significado do dinheiro. Estes resultados de modo geral são confirmados nos estudos Furnham, (1984) e Trindade; Ribeiro; Mallmann e Vieira (2009) que também encontraram maiores médias para os fatores ligados a Orçamento.

Na Escala de Materialismo seis variáveis, foram excluídas, por apresentarem comunalidades menores que 0,50. Foram mantidas as questões 72, 74 e 76 que formaram um único fator com autovalor de 1, 936, que explicou 64,545% da variância e Alpha de Cronbach de 0, 7237.

Em função do pequeno número de variáveis desta escala e dos resultados apresentarem em um único fator aspectos das três dimensões do materialismo (sucesso, centralidade e felicidade) e conforme destacou Richins (2004) que apesar de existirem três dimensões esta escala, apenas mensura o materialismo na sua totalidade, optou-se por eliminar o modelo de medida das três dimensões, e considerar que as nove variáveis medem diretamente o construto materialismo. O Alfa de Cronbach das nove questões é 0,8418 superior ao da análise fatorial.

Tabela 3 - Média, mediana e desvio padrão das questões da Escala de Materialismo e do Fator Materialismo.

Escala de Materialismo

Média

Mediana

Desvio
Padrão

Fator Materialismo (9 Questões)

4,387

4,389

2,250

62. Eu admiro pessoas que possuem casas, carros e roupas caras.

5,444

6,000

3,484

64. Eu gosto de gastar dinheiro com coisas caras.

4,212

4,000

3,490

66. Minha vida seria muito melhor se eu tivesse muitas coisas que não tenho.

5,112

5,000

3,470

68. Comprar coisas me dá muito prazer.

5,780

6,000

3,308

70. Eu ficaria muito mais feliz se pudesse comprar mais coisas.

5,857

6,000

3,451

72. Eu gosto de possuir coisas que impressionam as pessoas.

3,203

2,000

3,366

74. Eu gosto de muito luxo em minha vida.

3,082

2,000

3,273

76. Fico incomodada quando não posso comprar tudo que quero.

4,059

4,000

3,406

78. Gastar muito dinheiro está entre as coisas mais importantes da vida.

2,735

1,800

3,146

Os resultados encontrados para o fator materialismo (TABELA 3), composto pela média de todas as nove questões da escala, refletem um nível baixo de materialismo, uma vez que o valor máximo ligado ao materialismo poderia ser 10, entretanto a média do fator resultou em um valor de 4,387.  A teoria preconiza que os indivíduos com maiores índices de materialismo apresentam maior propensão ao endividamento (PANCHIO, 2006). Destaca-se que as variáveis com maiores médias foram às questões 70 e 68, representado que ainda que de forma fraca, as mulheres associam a compra de bens como forma de satisfação pessoal.

Para a escala de atitude ao endividamento formada por 9 questões o teste de KMO resultou em um coeficiente de 0,628 e o teste da especificidade de Bartlett assumiu valores de 2.230,938 significativo a 1%. Na análise das comunalidade duas questões foram excluídas (61 e 77). Três fatores apresentaram autovalores superior a um e explicaram 65,16% da variância total.

Tabela 4 - Cargas fatoriais obtidas com a rotação varimax normalizada e Alpha de Cronbach de cada fator.

Questão

Fatores

1

2

3

69. Prefiro comprar parcelado do que esperar ter dinheiro para comprar à vista.

0,827

 

 

73. Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.

0,827

 

 

67. Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas coisas.

0,700

 

 

71. É importante saber controlar os gastos da minha casa.

 

0,792

 

65. Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.

 

0,752

 

63. É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar.

 

 

0,712

75. As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que tenho dívida

 

 

0,834

Alpha de Cronbach

0,711

0,489

0,174

 O Fator Propensão ao Endividamento, único comAlpha de Cronbach maior que 0,60, é formado por três questões chaves, demonstra que as mulheres apresentam uma tendência para o consumo via parcelamento, preferem o pagamento parcelado ainda que no final seu resultado seja mais caro e não se incomodam com o fato de se endividarem para pagar suas dívidas. Este resultado corrobora com o estudo de Livigstone; Lunt, (1992) que afirmam haver uma correlação positiva entre atitude para a dívida e volume de dívida, ou seja, quanto mais favorável à dívida é o indivíduo maior é o volume de dívidas.

Para verificar as relações existentes entre a Propensão ao Endividamento e as demais variáveis foi aplicada à análise de variância (Anova).  Os resultados demonstram que apenas para o estado civil e moradia aceitou-se H0, nas demais variáveis a hipótese nula foi rejeitada, conforme a Tabela 5.

Tabela 5 - Valores do Teste F e significância

Variável

Categorias

Médias

Teste F
Valor e sig

Religião

Católica

3,776

5,398

(0,000)

Evangélica Pentecostal

4,266

Religião

Espírita

4,041

 

Evangélica outra

4,853

Protestante

3,201

Sem religião

4,012

Outra

3,481

Escolaridade

Ensino Fundamental Incompleto

4,102

6,635

(0,000)

Ensino Fundamental Completo

4,249

Ensino Médio

4,008

Ensino Superior

3,573

Ascendência

Italiana

3,744

6,859

(0,000)

Alemã

3,527

Brasileira

4,194

Outras

3,834

Raça

Branca

3,821

3,838

(0,000)

Negra

4,307

Outras

4,136

Renda Familiar

Até R$ 487,00

4,700

13,167

(0,000)

De 488,00 a R$ 1.194,00

4,206

De R$ 1.195,00 a R$ 3.479,00

3,783

De R$ 3.480,00 a R$ 6.564,00

3,304

Acima R$ 6.565,00

3,033

Renda Individual

Até R$ 487,00

4,005

6,183

(0,000)

De 488,00 a R$ 1.194,00

4,073

De R$ 1.195,00 a R$ 3.479,00

3,523

De R$ 3.480,00 a R$ 6.564,00

3,663

Acima R$ 6.565,00

2,320

Ocupação

Não trabalha fora

3,822

4,44

(0,000)

Funcionária pública

3,831

Conta-própria

4,959

Aposentada

3,591

Empregada assalariada

4,059

Empresária

3,450

Trabalha no Plantio

3,453

Outra

3,170

Frequentemente

3,047

 

Variável

Categorias

Médias

Teste F
Valor e sig

Ajuda Financeira

Não recebe ajuda

3,951

8,366

(0,000)

Do governo

5,122

Dos filhos

3,356

De parentes ou amigos

3,600

De cooperativas ou arrendamento rural

1,939

De outros

3,296

Frequência em economiza

Sempre

2,437

57,948

(0,000)

Frequentemente

3,047

Raramente

4,708

Algumas vezes

3,903

Nunca

5,276

A religião que apresentou maior média no Fator Propensão ao Endividamento foi a Evangélica outra, estes resultados corroboram com os encontrados em Keng et al. (2000), onde os indivíduos com maior afiliação religiosa que os católicos apresentaram maiores escores para o materialismo e consequentemente para o endividamento.  As mulheres que possuem ensino fundamental completo são as que apresentam maiores médias para a Propensão ao Endividamento e o mesmo ocorreu com a ascendência brasileira e com a raça negra.

Os resultados demonstram que as mulheres que possuem menores rendas familiares e individuais apresentaram maiores médias na Propensão ao Endividamento. Estes resultados corroboram com os estudos de Brusky e Fontana (2002) e Zerrenner (2007). As entrevistadas com ocupação de empregada doméstica apresentaram as maiores médias na Propensão ao Endividamento que as demais ocupações e o mesmo ocorreu com as que recebem ajuda financeira do governo.

No quadro abaixo realizou-se um resumo dos resultados encontrados, utilizados para confirmar ou refutar os pressupostos esperados segundo as teorias para o fatores comportamentais que influenciam na propensão ao endividamento. Percebe-se que os resultados encontrados, na amostra da Mesorregião Centro Ocidental Rio-grandense corroboram com os pressupostos teóricos e apenas para dois aspectos, estado civil e situação da residência, os resultados não foram significativos.

Quadro 2 – Pressupostos esperados para as variáveis comportamentais estudadas e os resultados encontrados na amostra pesquisada.

Fatores

Dimensões

Expectativa na propensão ao endividamento segundo teoria

Resultados significativos encontrados

Valores

Status Social

Positivo

Positivo

Preocupação

Negativo

Positivo

Estabilidade

Positivo

Positivo

Prazer

Positiva

Positiva

Poder

Positiva

Positiva

Orçamento

Negativa

Negativa

Ilusão

Positiva

Positiva

Renda

Maior renda

Negativa

Negativa

Menor renda

Positiva

Positiva

Aspectos demográficos

Mais velhos

Negativa

Negativa

Mais jovens

Positiva

Positiva

Maior grau de instrução escolar

Negativa

Negativa

Menor grau de instrução escolar

Positiva

Positiva

Casados

Negative

Resultados não significativos

Solteiros

Positiva

Raça branca

Negativa

Negativa

Raça negra

Positiva

Positiva

Residência Própria

Negativa

Resultados não significativos

Residência Alugada

Positiva

Trabalho

Maior Ocupação

Negativa

Negativa

Menor Ocupação

Positiva

Negativa

Cultura

Católicos

Negativa

Negativa

Demais religiões

Positiva

Positiva

Ascendência Estrangeira

Negativa

Negativa

Ascendência Brasileira

Positiva

Positiva

No intuito de verificar a influência do fato de possuir ou não filhos, assim como dependentes e dívidas em atraso no Fator Propensão ao Endividamento, aplicou-se o teste t de diferença de média. O Teste F que apresentou um valor de 7,153 e sig. 0,008, assim, rejeitou-se a hipótese da homocedasticidade do teste e analisou-se o teste t heterocedástico. O resultado (-12.052 e sig 0,00) demonstra que em média as mulheres que possuíram dívidas em atraso (1,7288) apresentam maior propensão ao Endividamento do que as mulheres que não possuem dividas em atraso (1,322). Para Zerrenner (2007) o atraso nas dívidas, ainda que por pouco período, é um dos fatores que contribui para o aumento da inadimplência do consumidor, principalmente nos indivíduos de baixa renda.

Ainda, a fim de identificar o comportamento do Fator Propensão ao Endividamento nas regiões que foram pesquisadas aplicou-se o teste t para amostras independentes, onde também rejeitou-se a hipótese da homocedasticidade (Teste F 17,45 e sig. 0,000). O resultado do teste t (-3,683 e sig 0,000) reflete que as mulheres das regiões do entorno de Santa Maria apresentaram maiores médias (4,0862) na disposição à divida do que as da cidade de Santa Maria (3,686), este fato pode ser explicado, pelo próprio perfil da Mesorregião estudada, onde predominam mulheres que, diferente da região de Santa Maria, trabalham com ocupações que auferem menores rendas, geralmente nos lares, ou em pequenos negócios comerciais ou ainda na lida do campo, o fator de se estarem mais propensas ao endividamento pode residir no fato de possuírem poucos rendimentos e a as próprias características econômicas das cidades do interior muito pequenas, conforme ressalta Brena, 1998.

Finalmente realizou-se uma análise de regressão múltipla, onde, a propensão ao endividamento, representa a variável dependente e os fatores encontrados para ESD, para o materialismo, bem como a variável idade e sete variáveis binárias representam as variáveis independentes. As variáveis binárias foram as seguintes: Dummy filhos, onde, 0 significa ausência de filhos e 1 presença; Dummy dependentes, onde, 0 significa ausência de dependentes e 1 presença; Dummy dívidas, onde, 0 representa inexistência de dívidas e 1 existência; Dummy dívidas em atraso, onde, 0 representa inexistência de atraso e 1 representa existência; Dummy religião, onde, 0 representa outra religiões e 1 religião católica; Dummy ascendência, onde, 0 representa outras ascendências e 1 ascendência brasileira e Dummy raça, onde, 0 representa outras raças e 1 representa a raça branca.

Para a estimação do modelo de regressão linear utilizou-se os Mínimo Quadrados Ordinários (MQO) e optou-se pelo método stepwise e a estimação robusta para correção da heterocedasticidade dos resíduos, conforme Tabela 6.

Tabela 6 - Valores significativos e significância dos coeficientes do modelo de regressão estimado para a propensão ao endividamento.

Modelo

Coeficientes

Teste t

VIF

Valor

Sig

Constante

1,473

6,029

0,000

 

Dummy Dívidas (DD)

0,868

8,396

0,000

1,079

Dummy Dívidas em atraso (DDA)

0,420

2,857

0,000

1,220

Dummy Ascendência (DA)

0,228

2,198

0,000

1,008

Fator Materialismo (FM)

0,380

15,615

0,000

1,261

Fator Preocupação (FPR)

0,226

10,392

0,000

1,410

Fator Poder (FP)

0,133

6,242

0,003

1,294

Fator Orçamento (FO)

- 0,189

-7,907

0,029

1,107

O resultado apresenta sete variáveis independentes, com um R2 ajustado de 0,391, ou seja, as variáveis independentes em conjunto explicam 39,1% da variável dependente. Verifica-se que todas as Dummy  e os fatores Materialismo, Preocupação e Poder influenciam positivamente na Propensão ao Endividamento. O Fator Orçamento, ao contrário, dos demais indica que na medida em que tais níveis de concordância aumentam há uma queda na Propensão ao Endividamento (TABELA 6).

Os Valores de significância do teste t, menores que 0,05 indicam que todos os coeficientes são significativos. Já o teste F (180,363e sig 0,000) demonstra que pelo menos uma das variáveis independentes exerce influência sobre a variável dependente, considerando o modelo significativo como um todo.

No que se refere ao pressuposto da normalidade o teste KS (0,884 e sig 0,415), aceitou a hipótese nula, ou seja, atendeu-se o pressuposto da normalidade dos resíduos. É verificada a ausência de autocorrelação serial, pois o do Teste de Durbin Watson (1,891) encontra-se no intervalo de 1,7557 < d < 2,243, considerado como âmbito para o atendimento do pressuposto. Todos os valores de VIF são próximos a um, o que permite concluir pela ausência de multicolinearidade.

Assim a análise de regressão comprovou a influência positiva aos valores associados ao dinheiro, Poder e Preocupação, causam na propensão ao endividamento, demonstrando que, quanto mais presente a visão do dinheiro como domínio e a ansiedade associada ao uso do dinheiro, mais propenso ao endividamento o indivíduo está. No entanto o Fator Orçamento apresenta relação inversa aos demais, isto é, quanto mais presente os aspectos de controle e equilíbrio no uso do dinheiro, menor será a Propensão ao Endividamento. Outro aspecto confirmado neste estudo foi o efeito do Materialismo na Propensão ao Endividamento, conforme proposto por Moura (2005), sendo que, quanto mais materialista a pessoa for mais propenso à dívida ela será. Ressalta-se, também a influência do fato do indivíduo já possuir dívidas, bem como ocorrência de estarem em atraso, contribuindo para a atitude ao endividamento, reforçando a teoria de Zerrenner (2007) de que dívidas atraem mais dívidas.

Por fim, constata-se que dos fatores comportamentais estudados nesta pesquisa, tais como religião, renda, idade, estado civil e outros, apenas ascendência demonstrou influência direta na propensão ao endividamento. O estudo levantou que a ascendência brasileira provoca um aumento 0,228 na Propensão ao Endividamento.

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Vol. 32 (2) 2011
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