Espacios. Vol. 32 (1) 2011. Pág. 37

Estratégia, inovação e desempenho: Uma análise da relevância da Inovação de Valor no desempenho das empresas

Strategy, innovation and performance: An analysis of the importance of value innovation in the performance of companies

Estrategia, innovación y desempeño: Un análisis de la relevancia de Innovación de Valor en el desempeño de las empresas

Roberto Sbragia y Rodrigo Boscolo


V - Conclusões e considerações finais

O presente trabalho procura contribuir para a integração das perspectivas de gestão estratégica e inovação através de análises empíricas com base em tipologias e diferentes dimensões de desempenho. Além disso, o estudo visa a proporcionar uma avaliação inicial de um novo modelo estratégico baseado na Inovação de Valor, abrindo uma série de novos questionamentos que devem ser aprofundados por pesquisas posteriores.

Para essa finalidade, uma investigação empírica foi conduzida por meio de um e-survey, envolvendo 34 empresas, cujos executivos responderam um questionário sobre a ênfase dada pela empresa à Inovação de Valor. Treze indicadores foram usados para essa avaliação. Paralelamente, utilizando-se de bases de dados secundárias, as empresas foram ordenadas segundo três critérios principais de desempenho (Média do ROE Anual, Média da Variação Anual do Valor de Mercado e Média da Evolução Anual de Market Share).

À luz das premissas iniciais, pode-se considerar que os resultados encontrados neste estudo foram encorajadores e ofereceram suporte parcial à hipótese de trabalho H1, isto é, de que o desempenho médio de empresas Inovadoras de Valor é superior ao desempenho médio de empresas Convencionais. Com efeito, as diferenças de desempenho apontadas nas análises preliminares foram corroboradas por testes posteriores de maior poder estatístico.

A análise das diferenças entre os grupos de empresas de alto e baixo desempenho com respeito às dimensões da Inovação de Valor mostrou que algumas variáveis atinentes a essas dimensões discriminam mais do que outras em função do critério de desempenho utilizado. Assim, determinar com clareza o conceito de desempenho para a empresa pode ajudá-la a atingir seus objetivos. Viu-se que as organizações que visam o ganho de market share podem ser particularmente beneficiadas ao adotarem uma perspectiva da indústria que transfira o foco da competição para a criação de novos espaços de mercado, por meio da busca de saltos de valor e da influência ativa sobre as tendências conjunturais. Da mesma forma, foi possível identificar que o questionamento profundo da proposta de valor além das dimensões básicas de preço e benefício central pode ser especialmente relevante para empresas que tenham por objetivo o crescimento de seu valor de mercado ou a maximização do retorno para os acionistas.

Os resultados também trouxeram à tona diversos argumentos da literatura estratégica que contrapõem o modelo prescritivo em voga. A despeito da inquestionável importância da dinâmica setorial, observou-se que a forma como a empresa se orienta e organiza suas competências tem papel determinante para seu desempenho. Além disso, pôde-se notar que o sucesso empresarial não se restringe a algumas posições de mercado e que uma ampla gama de direcionamentos estratégicos permite que se chegue ao desempenho superior.

De modo geral, constatou-se que um modelo estratégico que esteja permeado de noções que articulem a inovação e a criação de valor pode, efetivamente, contribuir para o desempenho das empresas em diversos aspectos. Cabe à organização, portanto, o desenvolvimento de dimensões que a permitam se desvencilhar da competição, por meio de inovações que produzam saltos de valor para a empresa e para os consumidores.

Dentre as limitações discutidas, salienta-se a existência de diversas barreiras metodológicas que restringem a confiabilidade e o poder de generalização das conclusões do trabalho, adequadas somente dentro do contexto investigativo do estudo exploratório. Assim, foram postas em evidência a dificuldade associada à caracterização precisa do respondente e de seu perfil, assim como a possível subjetividade dos mesmos, que representam empresas complexas. Da mesma forma, deve ser visto como restrição o viés que ocorre tanto em função das características das associações de onde se extraíram os dados primários, quanto em decorrência das particularidades impostas pela base de dados secundários (empresas restritas às edições de Melhores e Maiores da Revista Exame), as quais, ademais, não podem ser consideradas representativas das empresas em geral.

Em virtude de tais limitações, e como sugerido ao longo do corpo de trabalho, existem diversos caminhos para estudos que complementem e aprofundem as idéias aqui discutidas. Primeiramente, existe uma importante lacuna na literatura no que tange ao desenvolvimento de testes empíricos que validem ou rejeitem por meio de métodos científicos mais rigorosos a miríade de modelos estratégicos propostos ao longo dos últimos anos.

Um segundo caminho diz respeito à necessidade de que surjam novas propostas de integração da teoria estratégica, incluindo principalmente contribuições de outras linhas de pensamento que não aquelas desenvolvidas por escolas norte americanas.

Um terceiro caminho ocorre a partir da importância de relacionar o processo de formação de estratégias empresariais e a necessidade de desenvolver métodos que incluam a inovação neste processo, de modo que as empresas tenham modelos que as auxiliem na prática e implementação de direcionamentos estratégicos diferenciados, que influam positivamente em seu desempenho.

Finalmente, um quarto caminho decorre do fato de que algumas diferenças de desempenho estão sujeitas à variabilidade atribuída às particularidades de cada setor, como já mostrado anteriormente na literatura (Mcgahan e Porter, 1997). Além disso, a Propensão à Inovação de Valor varia sensivelmente em função dos setores em que as empresas se encontram, cabendo, portanto, estender as análises ao nível setorial, de modo a controlar eventuais efeitos decorrentes desta variável.

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Notes.

  1. Este trabalho foi originalmente apresentado e aceito para integrar os Anais do XXV Simpósio de Gestão da Inovação Tecnologica, ANPAD, Rio de Janeiro, 2008. Os autores agradecem a doutoranda em Administração Franciane Silveira, da FEA/USP, pelo trabalho de revisão técnica do presente texto.
  2. Bestsellers como “In the Search for Excellence” e “Built to Last” são exemplos.
  3. Probabilidade associada à ocorrência, sob H0, de um valor tão extremo quanto ou mais extremo do que o valor observado (Siegel, 1981).
  4. As ressalvas, neste caso, relacionam-se a certa flexibilização dos resultados estatísticos (da probabilidade aceita de que ocorra um erro tipo I) em função do baixo número de elementos na amostra.
  5. Os cargos originais foram agrupados quando similares, para possibilitar uma análise adequada das freqüências.
  6. Empresas que eram as únicas representantes do setor tiveram seu desempenho comparado à média geral.
  7. Uma exceção ocorre para a variável Média da Variação Anual do Valor de Mercado. Neste caso, a variação média de todas as empresas da amostra foi utilizada como parâmetro para a divisão entre os grupos.
  8. Segundo Siegel (1981), o poder estatístico de uma prova é definido pela probabilidade de se rejeitar H0 quando H0 é, de fato, falsa.
  9. Apesar da variável independente de tipologias se apresentar em duas classes (Inovadora de Valor e Convencional), o fato dos elementos apresentarem uma relação entre si – mais ou menos propenso à Inovação de Valor - permite defini-la em escala ordinal.
  10. O teste de significância unicaudal foi utilizado, dado à natureza direcional de nossa hipótese de trabalho.

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