Espacios. Vol. 31 (2) 2010. Pág. 19


Transferência de informação na cadeia de autopeças: um estudo comparativo entre os segmentos de OEM e reposição

Transferencia de información en la cadena de piezas de automóvil: un estudio comparativo entre los segmentos de OEM y el de recambios

Information transfer in the chain of auto parts: a comparative study between the segments of OEM and replacement

Flávio Corrêa Rangel y Marco Antonio Pinheiro da Silveira


5 Conclusão

O objetivo deste trabalho foi identificar os principais fluxos de informação e as diferenças da transferência de informação no segmento de autopeças, comparando a cadeia OEM e a cadeia de reposição. Uma maneira de interpretar os fluxos de informação e suas ocorrências é elencar a ordem de importância em que aparecem durante as entrevistas com os profissionais das empresas entrevistadas:

Os fluxos identificados em OEM por importância foram: Informações de qualidade, Informações técnicas, Previsão de estoque, Redução de custos e Informações de mercado. Os fluxos de informação identificados no segmento de reposição, por ordem de importância, foram: Informações técnicas, Informações de mercado, Previsão de estoque, Informações de qualidade e Redução de custos.

Pode-se destacar em OEM os fluxos Informação de qualidade e Informações técnicas. A maior intensidade dos fluxos de informação sobre Informações técnicas e Informações de qualidade em OEM pode indicar que são eles que são utilizados para identificar se a indústria de autopeças vem obtendo sucesso em fornecer a peça para a montadora. Estes fluxos estão relacionados à capacidade tecnológica do fornecedor, sendo uma mescla entre qualidade e parte técnica: constantemente o fornecedor sofre auditorias da montadora, que o avaliam a fim de constatar se pode seguir fornecendo. Vê-se que é fundamental aumentar a credibilidade da indústria de autopeças perante a montadora, para obter novos contratos de fornecimentos.

Na reposição pode-se destacar os fluxos Informações técnicas e Informações de mercado. Por outro lado, a maior intensidade dos fluxos de informação na reposição na parte técnica e informações de mercado. Pode-se considerar que os distribuidores são avaliados pelo crescimento do faturamento financeiro da indústria de autopeças, mediante ações que levem os distribuidores a comprar mais. Essas trocas de informações com o mercado norteiam o fabricante automotivo quanto às ações estratégicas a serem tomadas.

Esta pesquisa indicou que os fluxos de informação em OEM são mais intensos na área técnica e os fluxos de informação em reposição são mais intensos na área mercadológica, um segmento é voltado para as exatas necessitando de profissionais introvertidos (formais) e o outro segmento é voltado a área de humanas necessitando de profissionais extrovertidos (informais). Assim, a pesquisa realizada indicou que os fluxos de informação em OEM são regidos pelas leis da engenharia e, os fluxos de informação na reposição, são regidos pelas leis da mercadologia. O fluxo de informação sobre Informações técnicas, quando associado ao desenvolvimento uma peça, pode vir acompanhado de uma ajuda financeira para o ferramental, o que fará com que a montadora a proíba o fornecedor de fornecer esta peça ao mercado de reposição até o final da vigência do contrato, ou que o ferramental seja amortizado financeiramente pela autopeça. O levantamento de Informações técnicas da peça na OEM é muito maior se comparado com o da reposição, pois a peça é inédita. No segmento de reposição, pelo fato da peça não ser inédita, os dados coletados são mais Informações de mercado, tais como - quantos são os concorrentes dessa peça, seu preço de comercialização, o custo do desenvolvimento desse ferramental e, o número de peças que o mercado está disposto a comprar, tudo com base em estimativas, porque o mercado não dispõe de dados para precisar tais informações. No segmento de OEM, a previsão da quantidade de peças a ser produzida pelo fabricante de autopeças baseia-se nos contratos com as montadoras, enquanto no segmento de reposição a estimativa é feita em função das informações colhidas junto aos distribuidores. O atual cenário econômico é marcado por intensa competitividade, pela necessidade de rápida adequação e pela exigência de maior integração entre as empresas. Nesse contexto, o EDI (intercâmbio eletrônico de dados) surge como um tipo de tecnologia de informação capaz de estreitar o relacionamento entre empresas.

Os fluxos identificados foram analisados de acordo com as facetas da comunicação identificadas na literatura: conteúdo, meio, direção, formalidade, estratégia de influência, intensidade, centralidade e complexidade. Entre as descobertas deste trabalho, chamou atenção o fato de a faceta formalidade na cadeia de reposição somente apresentar apenas duas trocas tácitas, quando a impressão no início da pesquisa fazia crer que no segmento OEM as trocas eram muito mais explícitas do que no segmento de reposição. Acreditava-se que no mercado de reposição, cujos profissionais possuem mais liberdade, a transferência de informação fosse predominantemente tácita, coisa que não ocorreu.

Neste trabalho foi realizada também associação dos fluxos identificados na pesquisa com os identificados na literatura. A análise da faceta Bidirecionalidade ou Feedback nesta pesquisa mostrou que nos fluxos identificados, a informação caminha nos dois sentidos, embora não se possa garantir que ocorra a discussão. Analisando as entrevistas, encontramos contradições no uso do EDI: a engenharia 1 e venda 2 afirmam que sua finalidade de uso é a troca de informações de logística a logística 1 afirma que o EDI é para ser usado em atividades comerciais. No caso da vendas 3 o entrevistado afirma que a troca de informação e a cultura da empresa pautam-se por uma transferência mais tácita. Os outros três entrevistados, porém afirmam que a cultura é explícita. Essa ocorrência caracteriza que a atividade de cada profissional não está totalmente padronizada pela empresa permitindo o surgimento de ruídos na transferência de informação. Isso talvez ajude a explicar por que grande parte dos entrevistados tenham dito que há muito que melhorar na transferência de informação. Um dos aspectos considerados importantes no desenvolvimento desta pesquisa foi a utilização das facetas de comunicação para análise dos fluxos de informação: o conteúdo da informação compartilhada, o meio utilizado para compartilhar, a direção ou feedback (indicando se a informação é bidirecional ou unidirecional). Estas 3 facetas são propostas por (Mohr e Nevin, 1990). A formalidade indica se a informação é tácita ou explícita, a Intensidade da informação indica se ela é freqüente ou esporádica, a centralidade e a complexidade indicando se ela é alta ou baixa ambas de (Vijayasarathy e Robey, 1997) e a estratégia de influência na comunicação indicando se ela é direta ou indireta de (Prahinski, 2001). Buscou-se comparar os fluxos identificados na pesquisa com os encontrados na literatura. No caso de “Informações técnicas”, considerou-se que há similaridade com “Aconselhamento Técnico” (Boyle e Alwitt, 1999) e (Dyer e Hatch, 2006). Os autores indicam que o fluxo de informação de conselho técnico ocorre e a troca de dados técnicos acarreta no desenvolvimento positivo. Com relação a “Redução de custo”, considerou-se que há similaridade com “cotação de preços pelo comprador e auxílio para o controle de custos” (Boyle e Alwitt, 1999) e (Dyer e Hatch, 2006) os autores afirmam que estes fluxos de informação resultam em melhoria no fabricante. Com relação ao fluxo “Previsão de estoque”, considerou-se que há similaridade com “assistência ao estoque e assistência para o controle do estoque” (Boyle e Alwitt, 1999) e (Dyer e Hatch, 2006) os autores elucidam que estes fluxos resultam em melhoria. Informações de qualidade possuem similaridade com (Dyer e Hatch, 2006) os autores pesquisaram em que medidas enviadas ao fornecedor automotivo resulta em melhoria na empresa. Informações de mercado possui similaridade com (Boyle e Alwitt, 1999) os autores afirmam que obter informações gerais do mercado é uma pratica de troca de informações. Pode-se dizer que a análise dos fluxos de informação e suas facetas permitem a identificação de características do segmento pesquisado. Considerou-se que a transferência de informação no segmento de OEM é mais formal, em função da ênfase nos aspectos técnicos e da qualidade. Por sua vez, a transferência no segmento de reposição foi considerada informal, em função da ênfase nos aspectos técnicos e das informações de mercado. Como sugestão para novas pesquisas sobre o tema é interessante refazer esta pesquisa utilizando o ponto de vista dos distribuidores e das montadoras, ou seja, os compradores e posteriormente comparar os resultados com os encontrados neste trabalho a fim de se construir uma percepção comparativa sobre os fluxos de informação entre o fabricante de autopeças e o consumidor.

6. Referencias bibliográficas

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Vol. 31 (2) 2010
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