Espacios. Espacios. Vol. 30 (3) 2009. Pág. 8

Adoção de Novas Tecnologias e os Determinantes do Processo Inovativo: o caso da Indústria Alimentícia no Estado do Paraná

Sustenability and accountability: proposal of social and environmental diagnostic model based in empirical survey

Sustentabilidad y responsabilidad social: propuesta de un modelo de diagnóstico socio-ambiental basada en investigación empírica

Marlete Beatriz Maçaneiro, Christiane Hiromi Tanabe Ogassawara y Débora Andrea Liessem Vigorena

Recibido: 16-04-09 - Aprobado: 13-07-09


5. Caracterização do Setor Alimentício e Análise dos Resultados do Estudo

Inicialmente, serão apresentados dados do setor de alimentos, visando mostrar sua relevância na economia do país e, conseqüentemente, justificar a escolha desse setor no presente estudo. O desenvolvimento tecnológico do setor de alimentos no Brasil teve início há cerca de 100 anos, quando a produção artesanal cedeu espaço para a de larga escala, juntamente com a introdução de novos processos de conservação e rápidos sistemas de distribuição. Iniciou-se, assim, um ciclo de mudanças que, juntamente com o crescimento do poder aquisitivo da população, incentivou o desenvolvimento de produtos. (MENDEZ, 2004).

A indústria de alimentos pode ser considerada um dos principais setores da economia brasileira, sendo de grande importância no desenvolvimento do país (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2003). Segundo dados da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (2008), a indústria de alimentos participou, no período de 2002 a 2006, com uma média de 9,4% no PIB total do país (Tabela 2).

Tabela 2

O setor se difere dos demais devido a algumas características estratégicas importantes. De acordo com Oliveira e Oliveira (2003), esse setor industrial é altamente representativo na economia brasileira, exercendo um papel relevante em termos macroeconômicos para as contas externas brasileiras. Quanto às exportações para os principais países, a Tabela 3 apresenta o período de janeiro a dezembro de 2005, onde a Rússia aparece como o país que tem uma quantidade maior de produtos do setor de alimentos exportados pelo Brasil, com um total de US$ 2,587 bilhões (ABIA, 2008).

Tabela 3

Por outro lado, “[...] a ocupação média da capacidade instalada coloca em evidência que o setor possui margem para crescer nos próximos anos, sem a necessidade de novos investimentos imediatos no parque produtivo.” (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2003, p. 5). Além disso, o mercado brasileiro oferece grande potencial para crescimento dessa indústria.

No que concerne à inovação, constitui-se em uma mola propulsora no desenvolvimento do setor, devido à competitividade gerada pela globalização, exigências dos clientes e fortes concorrentes internos. Sendo assim, a indústria de alimentos no Brasil, visando tornar-se cada vez mais competitiva, está se reestruturando comercial, produtiva e tecnologicamente. De acordo com Forcellini (2002), apud Mendez (2004), o Brasil com sua grande quantidade de matéria-prima agropecuária, pode, desenvolvendo tecnologias, tornar-se grande produtor de alimentos com alto valor agregado.

Devido à relevância desse setor no país e seu potencial de desenvolvimento tecnológico, foram utilizados neste trabalho os dados da PINTEC 2003/2005, relativos ao setor de alimentos. A PINTEC 2003/2005 envolveu um total de 91.055 empresas industriais em todo o Brasil, com dez ou mais pessoas ocupadas. Dentre essas, 30.377 (cerca de 33%) implementaram inovações de produtos/processos no período abrangido pela pesquisa. No Estado do Paraná, foco deste estudo, 3.154 empresas aparecem como inovativas, implementando inovações no produto e/ou no processo. Essas empresas representam cerca de 40% do total das pesquisadas no Paraná (7.792 empresas), conforme pode ser visualizado na Tabela 4.

Tabela 4

Dentre as empresas que fazem inovação no produto e/ou no processo no Estado do Paraná, cabe o destaque para as de fabricação de produtos alimentícios, que compõem o segundo maior número das pesquisadas, perfazendo um total de 348 empresas (Tabela 4). Portanto, esse é o número total que será utilizado como base para este estudo, a partir do qual serão analisados os indicadores do processo inovativo paranaense no setor de alimentos.

Visando uma melhor compreensão das atividades inovativas no setor de alimentos, podem-se considerar os dispêndios das empresas nessas atividades. Na Tabela 5 são demonstradas as despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D). Percebe-se que das 142 empresas paranaenses que implementaram inovações no ano de 2005, apenas 33 realizaram P&D interno. Isso demonstra que a inovação ainda não é endogenamente desenvolvida pela grande maioria das empresas analisadas e que elas dependem de aquisição externa à empresa. Por outro lado, pode-se considerar que o desenvolvimento tecnológico caracterizado pela abordagem technology-push, com altas despesas em P&D interno, conforme mostrado na Tabela 1, não se verifica nesse setor no Paraná. Esse valor baixo sugere que as empresas podem realizar a recolocação ou a substituição de produtos, e não esforços em desenvolver pesquisa interna ou externamente para inovação em produtos e/ou processos.

TAbela 5

Um fator a destacar é a importância das atividades relacionadas à inovação no setor de alimentos paranaense mencionada pelas 348 empresas. Apesar de serem consideradas como empresas inovativas, a Tabela 6 demonstra que tanto o desenvolvimento da P&D interna, quanto a aquisição externa não tem importância ou não foram realizadas no período de 2003 a 2005 (cerca de 90% e 99% respectivamente). O fator determinante para aproximadamente 76% das empresas é a aquisição de máquinas e equipamentos, como forma de realizar inovações, com alto grau de importância. Esses dados caracterizam então inovação no processo, bem como, em alguns casos inovações no produto como uma causa ou conseqüência. Por outro lado, o fator treinamento é bastante considerado, onde cerca de 51% das empresas consideram de grande importância às atividades inovativas.

Tabela 6

Nesse sentido, nota-se que as empresas voltam seus esforços inovativos em aquisição de máquinas e equipamentos e treinamento de pessoal, o que poderia caracterizar como um fator vinculado à technology-push, nesse esforço da empresa desenvolver tecnologia internamente gerando a inovação. Mas, quando analisada a atividade “introdução das inovações tecnológicas no mercado” (Tabela 6), nota-se um grau de importância baixo ou não realizada (12%) dessa atividade no período. Dessa forma, acredita-se que as empresas se esforçam para melhorias internas, porém não no intuito de introduzir inovações no mercado, mas pode sugerir que esses esforços estejam voltados principalmente para incrementar um produto já existente. Essa relativa falta de incremento às inovações que parte das empresas não deve ser causado pela falta de pessoal qualificado ou por falta de equipamentos e máquinas, pois conforme dados da Tabela 6, verifica-se que as empresas consideram esses dois fatores como importantes.

Outra questão a ser destacada é a fonte de informações empregada para a adoção de inovações na indústria de alimentos do Paraná. A Tabela 7 apresenta as fontes mencionadas pela pesquisa e o grau de importância que as empresas do setor atribuíram a cada uma delas. Para o objeto de estudo pretendido por este trabalho, destacam-se e são analisadas a partir do Gráfico 1 as principais fontes extraídas dessa tabela, que podem caracterizar os modelos technology-push e demand-pull.

Tabela 7

No Gráfico 1, tendo como base o referencial teórico, foram separadas as fontes de informações entre o modelo technology-push e demand-pull de acordo com as características sugeridas em cada modelo, resultando na seguinte divisão:

  1. technology-push é caracterizado pelas fontes de: P&D interno; universidades e institutos de pesquisa; instituições de testes, ensaios e certificações; licenças, patentes e know how; conferências, encontros e publicações especializadas.
  2. demand-pull: clientes ou consumidores; fornecedores; concorrentes; feiras e exposições.

Na visualização do Gráfico 1, percebe-se que as fontes que caracterizam o modelo technology-push não foram evidenciadas pelo setor de alimentos como de importância ao processo inovativo. O que se destaca desses dados é que os graus mais altos de importância são as fontes que caracterizam o modelo demand-pull. Isso demonstra que os fatores relacionados ao mercado são mais importantes para as empresas do setor de alimentos do que as fontes de conhecimento advindas da pesquisa.

Considerando esse setor como tradicional, os fatores relacionados ao mercado, voltados para as necessidades dos clientes, estão mais caracterizados como fontes de informação empregadas no processo inovativo dessas empresas. Assim, essa questão pode ser influenciadora na opção pelo modelo demand-pull pela maior parte das empresas.

Grafico 1

No entanto, como salientam Mowery e Rosenberg (1979) e Brem e Voicht (2007), focar em apenas um desses modelos pode ser prejudicial às empresas, bem como não caracteriza as influências secundárias do processo de inovação. No caso do setor em estudo, o foco no modelo demand-pull tende a inovações nos produtos e serviços atuais, com forte tendência a ameaças de um competidor com inovações tecnológicas. Apesar de esse setor ter se configurado como tendencioso para o modelo demand-pull, também não se pode ignorar completamente a influência de fatores da base científica e as condições tecnológicas internas e externas ao mercado (CAMPOS, 2006).

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