Espacios. Espacios. Vol. 30 (2) 2009. Pág. 20


Fatores que Impactam o Desempenho de um Programa Estadual de Inovação Tecnológica sob o Enfoque Macroergonômico

Factors who impacts the Performance of a State Program of Technological Innovation under a Macroergonomic Approach

Factores que impactan el desempeño de un programa estadal de innovación tecnológica bajo un enfoque macroergonómico

Carlos Fernando Jung, Lia Buarque de Macedo Guimarães, José Luis Duarte Ribeiro y Carla Scwenberg ten Caten

Recibido: - Aprobado


3. Estudo aplicado

3.1 Contexto

O Estado do Rio Grande do Sul está divido em 24 regiões correspondentes aos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES). Atualmente, 21 destas regiões contam com Pólos de Inovação Tecnológica implantados (SCT/RS, 2007). Jung, Ribeiro e Caten (2007) afirmam que um Pólo de Inovação consiste em uma região (formada por vários municípios) reconhecida pela Secretaria da Ciência de Tecnologia do Rio Grande do Sul (SCT/RS).

Cada região é caracterizada por um determinado sistema ou arranjo produtivo local (APL), uma comunidade de pesquisa (existente em universidades, centros ou institutos de pesquisa) voltada para o desenvolvimento tecnológico e outros parceiros sociais interessados na difusão e utilização das tecnologias, como: Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), municípios, associações comerciais, industriais e de serviços, cooperativas, associações de produtores, sindicatos e outros. O objetivo do Programa é apoiar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que sejam aplicáveis aos diversos setores produtivos do Estado do RS, propiciando maior competitividade, diversificação da produção, aumento do nível de renda da população e novos postos de trabalho, enfim, desenvolvimento regional sustentável (Souza, 2006).

Anualmente, após a determinação de uma demanda regional escolhida por votação em um processo de participação popular, realizado pelo Governo do Estado na região de cada Pólo de Inovação, é elaborado um termo de referência que fixa a prioridade a ser atendida pelo processo de P&D. Posteriormente, é lançado um edital pela Divisão de Pólos da SCT/RS que prevê e fixa os recursos financeiros para custear a aquisição de materiais permanentes (equipamentos) e de consumo (material de expediente) destinados à execução de um ou mais projetos de pesquisa e desenvolvimento, para cada Pólo que integra o Programa (Jung, Souza, Ribeiro e Caten, 2008).

3.2 Método de pesquisa

O método de pesquisa utilizado foi qualitativo. A abordagem qualitativa prioriza uma visão interpretativa da realidade do ponto de vista dos indivíduos ou contexto pesquisado (Silva, Gobbi e Simão, 2005). Nesse estudo, foram utilizados dados resultantes de uma análise realizada no ano de 2006 pela equipe da Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da Secretaria da Ciência e Tecnologia do RS que teve a finalidade de evidenciar os problemas relacionados a casos de insucesso em P&D ocorridos no período de 1989 a 2005.

Os procedimentos realizados em campo para a coleta de dados consistiram na aplicação de dez entrevistas individuais realizadas com pesquisadores de diferentes Pólos de Inovação. Foi elaborada uma entrevista que apresentava uma questão aberta. Essa entrevista foi enviada por e-mail aos pesquisadores. A questão aberta possuía a seguinte redação: “Quais os problemas que podem afetar seu desempenho profissional e gerar casos de insucesso em P&D no Programa de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS?”.

Os dados coletados foram relacionados, interpretados, categorizados e são apresentados da seguinte forma: (i) quadro com os problemas relatados pela equipe da Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS; (ii) quadro com a categorização dos problemas relatados pela equipe da Divisão; (iii) quadro com os problemas relatados pelos pesquisadores entrevistados dos Pólos de Inovação Tecnológica; (iv) quadro com a categorização dos problemas relatados pelos pesquisadores relacionados aos subsistemas: ambiente externo, social, organização e técnico.

Foram considerados como subsistemas neste estudo: (i) o Programa de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS como subsistema organização; (ii) as instituições (unidades executoras) dos Pólos de Inovação e as Associações, Sindicatos, Clubes, Prefeituras Municipais, Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES), Partidos Políticos e empresas como subsistema ambiente externo; (iii) a comunidade em geral, membros da família e colegas de trabalho dos pesquisadores, fornecedores e clientes dos Pólos de Inovação Tecnológica como subsistema social; e (iv) os equipamentos, instrumentos, máquinas e infra-estrutura física (laboratórios etc.) como subsistema técnico.

Para a análise dos dados resultantes das entrevistas dos pesquisadores e das informações disponibilizadas pela equipe da Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS, foram utilizados os princípios do método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2002).

Este método baseia-se em operações de desmembramento do texto em unidades, envolvendo descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a comunicação para posteriormente realizar o seu reagrupamento em categorias. No recorte de conteúdos, tem-se a etapa da codificação, na qual são feitos recortes em unidades de contexto e de registro; e a fase da categorização, onde os requisitos para uma categoria são a exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade e fidelidade e produtividade (Silva, Gobbi e Simão, 2005).

Por fim, foi proposto um mapa conceitual que apresenta uma síntese que relaciona e inter-relaciona as competências dos pesquisadores e o desempenho do Programa de Pólos de Inovação com os problemas relatados pelos pesquisadores associados aos subsistemas social, técnico, organização e ambiente externo. O método para elaboração dos mapas conceituais foi baseado em Heimlich e Pittelman (1990), Cossette e Audet (1992), Fiol e Huff (1992). Para a construção dos mapas, foi utilizado o software CMap Tool, que é uma ferramenta distribuída gratuitamente pela University of West Florida.

3.3 Análise

A análise dos conteúdos coletados passou inicialmente pela etapa do recorte, na qual os relatos da equipe da Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS e dos pesquisadores dos Pólos de Inovação foram decompostos para, em seguida, serem recompostos para melhor expressar seu significado. Os recortes viabilizam o entendimento do sentido do conteúdo e das idéias essenciais (Laville e Dionne, 1999). Os elementos recortados foram interpretados e categorizados, e são apresentados em quadros.Os quadros foram elaborados a partir de frases ou ainda idéias referentes aos temas recortados.

Os dados obtidos junto a Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS são apresentados na Figura 1. Estes problemas, segundo a equipe da Divisão, estão relacionados às competências dos pesquisadores e podem ter gerado os casos de insucesso no Programa de Pólos de Inovação.

Figura 1

Figura 1
Problemas relatados pela Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS

Na análise foram adotados os conceitos sobre competências individuais propostos por Parry (1996) e Perrenoud (2000). Assim, considera-se que as competências são formadas pelo conjunto de conhecimentos (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (querer e saber agir) que determinam o desempenho e resultado de um trabalho.

Para a interpretação e categorização dos problemas quanto aos aspectos referentes às habilidades, foi considerada como base a Teoria Cattell-Horn-Carroll (Teoria CHC das Habilidades Cognitivas). Esta teoria foi proposta por McGrew e Flanagan (1998), que integraram novos elementos a teoria de Catell (1971), Horn (1991) e Carroll (1993), resultando em uma visão hierárquica multidimensional da inteligência, organizando-a em dez fatores amplos, a saber: (i) inteligência fluida, (ii) conhecimento quantitativo, (iii) inteligência cristalizada, (iv) leitura e escrita, (v) memória de curto prazo, (vi) processamento visual, (vii) processamento auditivo, (viii) armazenamento e recuperação da memória de longo prazo, (ix) velocidade de processamento e (x) rapidez de decisão.

Desta forma, foram determinadas como categorias de análise: (i) falha na definição do escopo, (ii) falha na definição da metodologia, (iii) falta de liderança, (iv) falta de motivação, (v) falta de iniciativa, (vi) falta de interação, (vii) falta de concentração, (viii) falta de visão e (ix) falta de criatividade.

Por fim, para a interpretação e categorização dos aspectos relativos às atitudes e aos conhecimentos, foram utilizados os conceitos de Chiavenato (1999) e Maximiano (1997). Na Figura 2, é apresentada a categorização dos problemas relatados pela Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS.

figura 2

Figura 2
Categorização dos problemas relatados pela Divisão de Pólos de Inovação Tecnológica da SCT/RS

Na Figura 3 são apresentados os problemas relatados pelos pesquisadores dos Pólos de Inovação Tecnológica entrevistados.

Figura 3

Figura 3
Problemas relatados pelos pesquisadores entrevistados dos Pólos de Inovação Tecnológica

Para a interpretação e categorização dos problemas apresentados na Figura 4 foram considerados como categorias os subsistemas: (i) ambiente externo, (ii) social, (iii) organização e (iv) técnico. No subsistema ambiente externo, foram inseridos todos os problemas que abrangem os elementos e componentes externos aos limites da organização (no caso a organização é representada pelo Programa de Pólos de Inovação da SCT/RS).

Figura 4

Figura 4
Categorização dos problemas relatados pelos pesquisadores entrevistados dos Pólos de Inovação Tecnológica considerando os subsistemas: ambiente externo, social, organização e técnico

No subsistema social, foram incluídos os problemas relacionados à comunidade e família dos pesquisadores. Ainda neste subsistema foi proposta uma divisão para o enquadramento específico dos problemas relatados, sendo: (i) comunidade e (ii) família. No subsistema organização, foram inseridos os problemas que possuem causa no Programa de Pólos de Inovação. No subsistema técnico, foram contemplados os problemas condizentes a infra-estrutura tecnológica que os pesquisadores dispõem e utilizam para as atividades de P&D. A análise revelou que a maioria dos problemas relatados pela Divisão de Pólos da SCT/RS em relação as competências dos pesquisadores relacionam-se as “atitudes” pela existência de problemas relativos a: (i) falta de liderança, (ii) falta de motivação, (iii) falta de iniciativa e (iv) falta de interação. Em segundo lugar pode-se inferir que a categoria “habilidades” contribui de forma importante a partir dos problemas relativos a: (i) falta de concentração, (ii) falta de visão e (iii) falta de criatividade. Também foi possível constatar problemas referentes ao “conhecimento” através da evidência dos problemas de falha na definição do escopo e falha na definição da metodologia.

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