Espacios. Vol. 27 (2) 2006. Pág. 11

Culture and corporate knowledge

Cultura y conocimiento corporativo

Culture and corporate knowledge

Luana Maia Woida, João Vítor Vieira Gelinsky y Marta Ligia Pomim Valentim


3  Construção de conhecimento

Para compreender de forma efetiva o processo de criação do conhecimento no ambiente corporativo, torna-se essencial o entendimento do que se constitui a construção do conhecimento independentemente de sua natureza.
Quando se discutem assuntos do campo da ciência cognitiva, duas são as correntes filosóficas que sobressaem às demais: internalismo e externalismo.
Uma visão computacional do processamento mental é adotada para a explicação defendida pelo internalismo, já a aceitação da sobreposição dos fatores externos (sociedade e cultura) à mente do homem é norteadora do externalismo.

Internalismo
Externalismo
  • Posicionamento intelectual;
  • Ciência cognitiva tradicional;
  • Psicologia computacional;
  • Abstrato;
  • Máquina virtual;
  • Experiência idealizada;
  • Representacionalismo.
  • Mediação mente/ação social externa;
  • Ciências humanas e sociais;
  • Psicologia cultural;
  • Fatos;
  • Máquina real;
  • Experiência vivida;
  • Conexionismo.



Fonte: Adaptado de FRAWLEY, 2000.

O internalismo é totalmente compatível com o mentalismo ou com o não-mentalismo, com o materialismo ou com o idealismo, com o conexionismo ou com o representacionismo. James-Brentano (apud FRAWLEY, 2000, p.26) aponta cinco propriedades que delineiam a atividade mental:

1. Intencionalidade – pensamentos sendo crenças sobre coisas;
2. Consciência – experiência somada á subjetividade;
3. Privacidade – estados mentais (únicos e íntimos);
4. Continuidade – subjetivo unificado;
5. Seletividade – somente algumas características do mundo externo são gravadas no mental.

O autor argumenta que, mesmo se a mente prestasse atenção aos fatores externos de forma exaustiva, ainda assim esses fatores externos continuariam exigindo o trabalho mental (internalizado). Partindo desse raciocínio, aceita-se – uma vez que as atenções estão voltadas para o aspecto mental—, que ocorra uma aproximação e, em conseqüência, maior percepção do funcionamento do sistema interno.

Conforme Frawley (2000, p.24), essa situação evoca o ‘Problema da Estrutura’, resultante das limitações mentais às quais são provenientes das condições, crenças e atitudes que restringem a tomada de decisão por um sistema inteligente. A estrutura é composta por conhecimentos, e, por esta razão, alguns autores da corrente “internalismo” defendem que a solução desse problema está relacionada à necessidade de equipar as máquinas com estruturas de conhecimento, ao passo que o “externalismo” opõe-se à essência desse raciocínio, adota as crenças globais como parte do processamento central da mente.

Vygotsky (apud FRAWLEY, 2000, p.39) enfoca as teorias da cognição sob uma ótica de internalização, na qual se busca absorver os fatores externos, ou seja, promover uma integração entre o interno e o externo, a fim de consolidar uma explicação consistente, ou seja, alguns estados mentais requerem estados de mundo, os que estão associados à evidência, à relevância, a atitudes e a todas as idéias que as escolas atuais da “Teoria da Mente” tomam como sendo cruciais à fundamentação da mente representacional (FRAWLEY, 2000, p.39).

Vygotsky (1998, p.166) define a fala como instrumento de controle do pensamento, visto que , por meio dela descartam-se opções e torna-se possível orientar o pensamento representacional. A fala contribui também para permitir a compreensão consciente e ajudar a superar dificuldades.

Os seres humanos conversam consigo mesmos – na maior parte do tempo em silêncio, mas, às vezes, previsivelmente de forma explícita – durante a resolução de problemas. Essa fala privada codifica a internalização individual única da significação social e cultural externa – as perspectivas significativas, a evidência, a relevância e as atitudes que estruturam as decisões dos indivíduos (FRAWLEY, 2000, p.38).

Frawley (2000, p.42) resgata a essência do problema de Platão, qual seja: “De que forma sabemos tanto a partir de tão pouco?” A filosofia internalista concebe a mente como uma máquina virtual e aceita a idéia de que todos os indivíduos herdam a mesma arquitetura. O que sabemos e como sabemos? A mente é uma estrutura equipada com um sistema rico e predeterminado de verdades necessárias: formas atemporais, idealizadas, imutáveis, absolutas e auto-evidentes, levadas à consciência pela introspecção não desenvolvida, através de imitação ou de outro tipo de cópia do mundo externo (FRAWLEY, 2000, p.43).

O sistema acima, descrito por Platão, tem por base as “gramáticas universais”, as quais podem ser encontradas nos avanços do trabalho com a linguagem, com a visão, com a música, com a ação e com outras áreas cognitivas.

Apesar de não haver contradições, a corrente filosófica do externalismo acredita que “a gramática universal deixa muita coisa implícita e estabelece uma ligação demasiadamente estreita para ser uma hipótese psicobiológica plausível” (FRAWLEY, 2000, p.51).

Verifica-se que há uma predileção ou tendência, por parte da ciência cognitiva tradicional, às explicações internalistas.

Modificações recentes na gramática formal são respostas instrutivas a esses problemas de viabilidade porque revelam a tendência da ciência cognitiva, sob ataque, de traçar a linha entre mente e mundo ainda mais próxima do lado da mente e, portanto, de acentuar a tensão entre as explicações internalistas e externalistas (FRAWLEY, 2000, p.51).

Trata-se de estudos voltados ao problema de Wittgenstein pois “da mesma forma que Platão legitima os fatores internos, o problema de Wittgenstein liga a mente central e a ação através da linguagem” (FRAWLEY, 2000, p.55).

“De que forma coordenamos a experiência idealizada e a experiência vivida?” Na busca de uma resposta para essa questão, Wittgenstein seguiu dois raciocínios distintos. Em uma obra publicada denominada “Tractatus” ele se volta para as experiências não-deliberadas, assumindo a auto-evidência da conexão entre linguagem e mundo. Em “Investigações filosóficas” o autor resgata as disposições por causas externas, e mostra entender a auto-evidência como mediada pelo mundo social. Wittgenstein (apud FRAWLEY, 2000, p.60) não eliminou a centralidade das relações entre linguagem e mundo, ao contrário, além delas também se preocupou com as representações simbólicas e modelos, porém modificou seus mecanismos de verificação.

Uma das principais convergências entre Wittgenstein e Vygotsky é explicada por Wertsch (apud FRAWLEY, 2000, p.62), quando afirma que a teoria sociocultural vygotskyana explica a mente como uma ação humana situada em contextos culturais, históricos e institucionais, e a chave para tal explicação consiste em que a pessoa aja com meios mediacionais, principalmente a fala.

O pensamento sociocomputacionalista aqui é entendido como o resultado da junção das características internalistas aplicadas à situação da mente no mundo, ou também a unificação dos apontamentos externalistas aplicados ao indivíduo enquanto ser racional, pensante e único. Desse modo, percebe-se que há um forte vínculo entre linguagem, contexto e conhecimento. Relativamente à gestão do conhecimento, a cultura organizacional pode apropriar-se dessa relação para gerar conhecimento no âmbito corporativo.

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