Espacios. Vol. 24 (2) 2003

Política e gestão da inovação tecnológica: Estudo comparativo da evolução da disciplina no Brasil e na Ibero-América

Política y gestión de la innovación tecnológica: Estudio comparativo de la evolución de la disciplina en Brasil y en Iberoamérica

Policy and management in technological innovation: comparative study of the discipline in Brazil and Iberoamerica

Roberto Sbragia, Ivete Rodrigues, Maria Selma Baião y Tarcízio Rego Quirino


4. Conclusões

A análise comparativa dos presentes dados, conjugada com os resultados dos trabalhos anteriores (Quirino e Baião, 1987; Quirino et alii., 2000 e 2001), traçam um quadro pormenorizado da evolução da disciplina “Política e gestão da inovação tecnológica” no Brasil e nos demais países ibero-latinoamericanos.

A comparação entre a evolução da disciplina no Brasil e nas demais áreas da região sugere, a principio, uma forte liderança brasileira. O Brasil tanto iniciou e manteve com vigor a organização da primeira série de encontros em território nacional (SIGITEC) quanto estimulou a criação do novo fórum na região ibero-latinoamericana (ALTEC). Além disso, tem mantido um índice superior no que diz respeito à produção de artigos para os dois fóruns. Essa conclusão, todavia, deve ser considerada com ressalvas, já que a metodologia do estudo compara  resultados em outros paises que  não o Brasil somente vinculados aos evento da ALTEC. Ao se desconhecer com a profundidade apropriada as dinâmicas existentes nesses paises, não se leva em conta a natureza e freqüência de eventos nacionais de importância similar ao SIGITEC que eventualmente necessitariam ser considerados para efeito de uma melhor conclusão a respeito da liderança brasileira neste campo.

O envolvimento da Espanha no movimento a favor da fortificação da disciplina fez com que o encontro transcendesse a América Latina, mas fez também saltar aos olhos a ausência completa de Portugal.  A presença deste país não só completaria a circunscrição geográfica anunciada pelo título da ALTEC, como poderia chamar a atenção para os laços que nos unem aos demais países do mundo ibérico, como a África lusófona, as Filipinas as e demais regiões asiáticas de fala ibérica. Abrir diálogo sobre um assunto tão central ao mundo globalizado, onde a gestão e a política da inovação tecnológica é um empreendimento inescapável e descolonizante, certamente seria uma contribuição de primeira ordem para um futuro melhor, um mundo mais equânime e mais propenso à prática da ajuda mútua.  Espera-se que os organizadores de futuros encontros venham a incentivar o interesse da outra parte da Península Ibérica para que esta falta seja sanada.

Se, por um lado, o envolvimento de países importantes na região ibero-americana é bem vindo, por outro, lamenta-se a permanência da divisão, no que diz respeito à produção do conhecimento para os dois eventos, entre regiões mais ou menos desenvolvidas. No caso do SIGITEC, é clara a ausência da região norte do Brasil. No caso do ALTEC, nota-se a baixa ou quase nula produtividade de países economicamente periféricos da América Latina, como Peru e Equador. Sugere-se que os organizadores adotem mecanismos que propiciem uma maior produção e participação das citadas regiões nos fóruns analisados. À exemplo do que já vem ocorrendo com o simpósio brasileiro que tem realizado o evento em regiões menos desenvolvidas do país, o ALTEC também poderia fazer algo semelhante. Esta medida é importante porque a análise dos dados mostra que, ao sediar o evento, a produção da região anfitriã é alavancada.

O número de trabalhos dos 20 eventos analisados mostra a importância que a disciplina alcançou na área em um quarto de século, assim como a crescente difusão do interesse. As análises, nos trabalhos anteriores, dos primeiros encontros brasileiros indicam como o movimento partiu quase do zero. O material produzido para os encontros recentes, pelo contrário, demonstra como o mesmo vem sendo cada vez mais procurado pelos especialistas, a ponto de, em diversas oportunidades, ter sido impresso em formato de livro de ampla circulação na comunidade acadêmica e, mais recentemente, ter sido amplamente difundido por meio de Cd-rom. O congresso da ALTEC, que explicitamente integra todos os países da área, já ganhou seu impulso próprio e, desde 1996, tem superado em número de trabalhos seu congênere brasileiro, mais especializado.

Nos congressos brasileiros a prática da co-autoria é mais freqüente de que nos da ALTEC, o que sugere um avanço do SIGITEC em termos de trabalho socialmente compartilhado. O fator regional certamente colabora com essa tendência, uma vez que os eventos brasileiros estão circunscritos a um espaço geográfico relativamente menor, o que facilitaria a interação entre os especialistas.

Apesar dessa expansão de participantes e de cooperação entre diversos autores em ambos os eventos, o núcleo central permanece entre um número relativamente pequeno de autores (especialmente nos congressos SIGITEC), a maioria dos quais pertencente a instituições acadêmicas (especialmente nos congressos da ALTEC) e, em números bem menores, a instituições de pesquisa (especialmente nos do SIGITEC).

A participação de um número bem maior de instituições nos congressos da ALTEC é outra indicação de que seu impulso tem vida própria. A formação acadêmica dos participantes nas duas seqüências de congressos é também concentrada nas áreas da Engenharia e da Administração de empresas, embora outras especialidades venham ganhando terreno, como mostraram análises anteriores.

O campo da gestão e política da inovação tecnológica tem demonstrado tendência para a multidisciplinaridade, como a participação de pessoas de crescente número de áreas tem mostrado, assim como para a interdisciplinaridade, como demonstra a prática da cooperação, em um mesmo trabalho, de pessoas de diferentes origens disciplinares. Outra característica da expansão está na crescente inclusão de novos assuntos e novos interesses nas listas de temas de cada um sos congressos.

Estas constatações apontam para a importância crescente que o estudo da política e gestão da inovação tecnológica vem ganhando no Brasil e na península ibérica e para o adensamento desta área de conhecimento que, embora registre menos de três décadas de existência na região, vem mostrando vigor e tendência de expansão.

Referências Bibliográficas

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