Espacios. Vol. 24 (2) 2003

Avaliação de impactos sociais de programas tecnológicos na agricultura do estado de São Paulo

Evaluación de impactos sociales de programas tecnológicos en la agricultura en el estado de Sao Paulo

Social Impact of Technological Programs in Agriculture, Sao Paulo

Maria Beatriz M. Bonacelli, Mauro Zackiewicz y Adriana Bin


3. Análise e tratamento dos dados e principais resultados alcançados

Foram realizadas 12 entrevistas no intuito de avaliar os impactos sociais do Procana: 10 em usinas de açúcar e álcool, uma no sindicato e uma na cooperativa dos produtores de cana-de-açúcar. O critério para a escolha dos entrevistados considerou as duas principais regiões sucro-alcooleiras do Estado – Ribeirão Preto e Piracicaba 6.

Na avaliação de impactos sociais do Programa de Produção de Borbulhas e Mudas Sadias de Citros foram realizadas 10 entrevistas, todas em viveiros produtores de mudas. Nesse caso, o critério para a escolha dos entrevistados considerou o tamanho dos viveiros em termos de produção de mudas: pequeno (até 100 mil mudas), médio (entre 110 mil e 300 mil mudas) e grande (acima de 310 mil mudas).

Nos dois casos a amostra foi intencional: foram entrevistadas 36% do número de usinas conveniadas ao Procana em São Paulo (28 em 2003), que juntas produzem cerca de 30 milhões de toneladas de cana (17% da safra 2001/2002 do Estado); e 2,5% do total de viveiros telados em São Paulo (424 no mês de abril de 2003) que juntos são responsáveis por 50% da produção de mudas em ambiente telado (também com referência ao mês de abril de 2004).

A seguir, são realizadas algumas considerações sobre os impactos sociais dos programas e apresentados gráficos sintetizando as transformações percebidas em diferentes componentes da estrutura de impactos, em diferentes níveis de agregação. São também discutidos e apresentados os impactos sociais gerais, que somam aos impactos dos programas aqueles decorrentes de outras causas, conformando um quadro mais abrangente sobre o contexto no qual se insere o objeto da avaliação. Contudo, pretende-se, além de apresentar os resultados, apontar as possibilidades de análises que a proposta metodológica permite, tendo como suporte informações qualitativas e quantitativas obtidas na pesquisa de campo.

3.1. Impactos sociais do Procana

A partir da aplicação da metodologia ESAC de avaliação, percebeu-se que o Procana, até o momento, não apresentou um impacto social positivo muito alto (0,09). Um dos elementos de maior destaque para explicar esse grau de impacto social é a baixa aderência da tecnologia estudada aos impactos medidos, ou seja, há uma relação fraca entre o programa avaliado e as transformações apontadas pelos entrevistados nos diferentes componentes da estrutura 7.

A análise dos impactos a partir da adoção do pacote tecnológico aponta que capacitação do trabalhador foi o aspecto que apresentou o maior impacto social, revelando melhorias no nível de escolaridade dos trabalhadores (ensino formal) e de sua participação em treinamentos profissionais. Trata-se da associação entre a adoção das novas variedades e demais recomendações do pacote tecnológico e a exigência de mão de obra mais qualificada.

Houve também destaque para alguns dos componentes de condições de emprego. O impacto social foi particularmente positivo para os componentes sazonalidade e ensino formal. Sazonalidade é um exemplo interessante, pois é nitidamente o componente da estrutura que apresenta, de acordo com os entrevistados, maior relação com o pacote tecnológico. O uso de novas variedades de cana-de-açúcar, tardias e precoces, aumenta o período de safra, diminuindo a concentração do trabalho em alguns meses específicos do ano. Essa situação, somada à mecanização, melhora, em alguns casos, a situação dos trabalhadores em termos de vínculos empregatícios, pois diminui a necessidade de trabalhadores temporários. Entretanto, não se verificou impacto social positivo para o componente tipo de vínculo, pois há claras ambigüidades nas respostas: alguns afirmam que há uma tendência de maior flexibilização do trabalho e conseqüente aumento do número de trabalhadores temporários, enquanto outros apontam uma tendência de fixação do trabalhador, como forma de tornar vantajosos os investimentos na capacitação dos trabalhadores.

O componente básico empregos agrícolas (que compõe condições de emprego) foi o único da estrutura de impactos que apresentou impacto social negativo, indicando que houve diminuição no número de postos de trabalho entre o momento de adoção do pacote tecnológico e o momento da avaliação. Entretanto, a relação entre essa diminuição dos postos de trabalho e o pacote tecnológico é pequena, sendo justificável apenas pelas características de colheitabilidade das novas variedades, que podem vir a facilitar a colheita mecânica e, conseqüentemente, diminuir as exigências em termos de mão de obra.

Em condições de trabalho, destaca-se o impacto social positivo no componente práticas preventivas, que embora guarde alguma relação com a adoção do pacote tecnológico, é principalmente decorrente do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em função de maiores exigências da legislação e das medidas de segurança de trabalho.

Ainda que o impacto social do programa avaliado não seja alto, há de se considerar um moderado impacto social positivo verificado no universo da cultura de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo decorrente de outras causas além do programa (denominado impacto geral). A grande tendência verificada nesse universo é marcada pela mecanização, que influencia fortemente a melhoria na capacitação do trabalhador (pelas maiores exigências em termos de qualificação da mão de obra para operar máquinas e equipamentos), nas condições de trabalho (por incorporar a adoção de práticas preventivas e reduzir riscos de acidentes e doenças) e nas condições de emprego (aumentando a renda dos trabalhadores, diminuindo a sazonalidade do trabalho e a rotatividade dos trabalhadores). Todavia, há de se destacar o impacto social negativo da mecanização pela diminuição dos postos de trabalho, já que a colheita mecânica é obviamente menos exigente em termos de mão de obra que a colheita manual.

Além da mecanização, o impacto social positivo nesse universo da lavoura de cana se deve à melhoria das condições locais das regiões produtoras, e conseqüentemente, da qualidade de vida dos trabalhadores.

Resumidamente, pode-se afirmar que o processo de mecanização se confirma como tendência tecnológica nas lavouras de cana do Estado tanto em função da legislação quanto pela pressão decorrente dos impactos ambientais resultantes das queimadas. O Procana, por sua vez, reforça essa tendência geral, notadamente por influenciar positivamente a capacitação dos trabalhadores e as melhorias nas condições de emprego.

A Figura 2 apresenta um gráfico do impacto social do Procana e impacto social geral, com destaque para o impacto nos quatro aspectos que compõem o primeiro nível da estrutura de impactos. As Figuras 3 e 4 detalham os aspectos capacitação do trabalhador e condições de emprego em seus componentes básicos.

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